Marc Ferrez e o cinema

No Dia do Cinema Brasileiro, a Brasiliana Fotográfica destaca o grande envolvimento de Marc Ferrez (1843 – 1923) com a indústria do cinema. Além de ter sido um fotógrafo extraordinário, esteve sempre ligado à modernidade e inovações de seu tempo, tendo chefiado, nas primeiras décadas do século XX, associado à Pathé francesa, a mais importante empresa de exibição, distribuição e produção de filmes do Rio de Janeiro.

 

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“Seu sonho foi sempre o cinematógrafo, estudou com afinco a primeira lanterna mágica e as diferentes fontes de luz. Muitos anos antes do Sr. Staffa abrir o Parisiense na Avenida Central, Marc Ferrez , à noite, quando não havia luz elétrica, em companhia do seu amigo, o Dr. Morize, atual diretor do Observatório, em sua casa na rua São José, 88, fazia experiências de luz oxi-etherica, luz oxydrica, de gás incandescente de petróleo com mechas concentradas fazendo também na ocasião as primeiras experiências com cinematógrafo com um aparelho Lumière e fitas de 10 e 20 metros como “A Chegada de Trem”, “O Jardineiro regando”, “Briga de galos”… Fabricava o oxigênio durante o dia e conservava-o em sacos enormes.

Depois, com a luz oxi-etherica e aparelho Gaumont bem primitivos vendia e ensinava a exibidores ambulantes que iam para o interior. O repertório era dos mais primitivos e todas as fitas de Lumière”

A Scena Muda, 25 de janeiro de 1923

 

 

Marc Ferrez foi um brilhante cronista visual das paisagens e dos costumes cariocas da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Sua vasta e abrangente obra iconográfica se equipara a dos maiores nomes da fotografia do mundo. Estabeleceu-se como fotógrafo com a firma Marc Ferrez & Cia, em 1867, na rua São José, nº 96, e logo se tornou o mais importante profissional da área no Rio de Janeiro. Cerca de metade da produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade e em seus arredores, onde registrou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais.

 

 

Breve histórico da chegada do cinema no Brasil

 

A primeira sessão pública de cinema no Brasil foi realizada, na Rua do Ouvidor, 57, em 8 de julho de 1896, às 14h, no Rio de Janeiro, em uma sala especialmente preparada para as projeções do omniógrafo. O invento foi descrito pelo Jornal do Commércio como um “aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo da sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio de uma série enorme de fotografias” (Jornal do Commercio, 9 de julho de 1896).

O Dia do Cinema Brasileiro é comemorado em 19 de junho, quando, em 1898, chegou ao Rio de Janeiro, vindo da Europa, o navio Paquebot Brésil. A bordo, encontrava-se o cinegrafista italiano Affonso Segreto (1875 – 1919), que retornava de uma viagem para comprar equipamentos de filmagens e conhecer novas técnicas cinematográficas em Nova York e em Paris, onde fez um curso na Pathé Films.

 

 

Antes de desembarcar no Rio de Janeiro, Affonso filmou com uma câmara Lumière a entrada da enseada da Baía de Guanabara, as fortalezas e os navios ancorados (Gazeta de Notícias, 20 de junho de 1898, segunda coluna). Teria sido a primeira fita de cinema realizada no Brasil. O acontecimento deu origem ao Dia do Cinema Brasileiro. Mas há uma polêmica em torno do pioneirismo de Segreto. Alguns estudiosos consideram o primeiro filme brasileiro Chegada em Petrópolis devido a uma notícia divulgada pela Gazeta de Petrópolis convidando para uma sessão do filme no dia 1º de maio de 1897, no Theatro Cassino de Petrópolis, organizada pelo napolitano Vittorio di Maio (1852 – 1926). Posteriormente, di Maio vendeu seu projetor e acervo para Paschoal Segreto. Também é de 1897 a vista Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara, do pernambucano José Roberto Cunha Sales (1840- 1903), porém sua nacionalidade brasileira é contestada por historiadores que acreditam que o cinegrafista recortou o filme de uma vista estrangeira. Ancoradouro de pescadores na Baía de Guanabara está acervado no Arquivo Nacional.

 

 

 

Breve cronologia do envolvimento de Marc Ferrez com o cinema

 

 

c. 1897 – Em torno desse ano, Ferrez realizava experiências no campo da imagem com o engenheiro e astrônomo francês naturalizado brasileiro Henrique Morize (1860 – 1930), que foi diretor do Observatório Nacional entre 1908 e 1929 e o primeiro presidente da Academia Brasileira de Ciências, de 1916 a 1926; e com o capitão Augusto Tasso Fragoso (1869 – 1945), positivista convicto e futuro general (Palcos e Telas, 8 de abril de 1920A Scena Muda, 25 de janeiro de 1923).

1902 – No Clube Militar, Ferrez e Morize realizaram uma projeção por lanterna de fotografias de canhões e projéteis durante uma conferência ministrada pelo capitão Augusto Tasso Fragoso.

 

 

1904 – O filho de Marc, Julio Ferrez (1881 – 1946), era estudante da Academia de Belas Artes. Pai e filho fizeram, durante a conferência de encerramento do curso de História da Arte do Pedagogium, uma projeção de algumas imagens de obras de arte por meio de lanterna. Algumas das obras projetadas foram a Batalha  do Avaí, de Pedro Américo (1843 – 1905), e Primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles (1832 – 1903).

1905 – Com seu filho Julio, Marc obteve a representação da firma francesa Pathé Frères no Brasil. A firma era a maior e melhor fábrica de aparelhos e filmes cinematográficos da Europa.

 

 

 

No catálogo ilustrado da Casa Ferrez intitulado Machinas e accessórios para photographia, productos chimicos, etc,  a invenção do cinematógrafo era definida como sendo “a reprodução exata de todos os movimentos e cenas animadas que se desenrolam sob nossas vistas”. Ainda na publicação Ferrez analisou a potencialidade do cinema como negócio: 

“…não há ramo algum de exibição suscetível de dar maiores lucros do que a cinematografia e, mediante pequeno emprego de capital, pode-se montar uma empresa para a exploração das cidades e centros do interior dos nossos estados”.

Em junho, Ferrez realizou uma projeção cinematográfica nas festas em homenagem a São Luiz Gonzaga, no Colégio Diocesano São José.

No final do ano , a Casa Marc Ferrez & Filhos passou a ser a fornecedora exclusiva do cinematógrafo ao ar livre Passeio Público, que existiu entre em 28 de outubro de 1905 e 2 de novembro de 1906, e pertencia ao português Arnaldo Gomes de Souza e ao italiano Vittorio di Maio (1852 – 1926). Passou também a distribuir filmes para outros cinematógrafos ambulantes do Rio de Janeiro.

 

 

1906 - Foi publicado um anúncio da Photographia Cinematographica, de Marc Ferrez, anunciando “um imenso sortimento de material para profissionais e amadores a “preços vantajosos”. Também anunciava a “remessa de catálogos” (Jornal do Recife, 29 de março de 1906, na última coluna).

1907 – Julio Ferrez firmou um contrato com a Maison Pathé-Frères, de Paris, para o fornecimento de filmes e de equipamentos para montagem de salas de cinema (Jornal do Brasil, 15 de agosto de 1907, na terceira coluna).

 

 

Ferrez, que havia conhecido em Paris as fotografias animadas dos irmãos Lumière, decidiu investir na novidade. Apoiado pelos filhos, inaugurou , em 18 de setembro 1907, o Cinematographo Pathé, na então novíssima Avenida Central, nos prédios de número 147 e 149, que arrendou em sociedade com Arnaldo Gomes de Souza.Em sua propaganda de estreia, anunciava “projeções animadas perfeitas, interessantes e maravilhosas” (Jornal do Brasil, 18 de setembro de 1907, no pé da página; Gazeta de Notícias, 18 de setembro de 1907, nas sexta e sétima colunas).

 

 

 

Foi o terceiro cinema do Rio de Janeiro. O primeiro cinema carioca foi o Chic, inaugurado em 1º de agosto de 1907, na Avenida Central, 173 – funcionou até 1908. Em 9 de agosto, foi aberto o segundo, o Cinematographo Central Pariziensede Jacomo Rosario Staffa (c. 1867 – 1927), na Avenida Central nº 179, e funcionou durante 47 anos, até 7 de fevereiro de 1954.

A firma de Arnaldo e Ferrez chamava-se Arnaldo & Cia, omitindo a participação de Ferrez, porque Charles Pathé (1863 – 1957), um dos proprietários da Pathé Frères, proibia que seus distribuidores e representantes possuíssem cinematógrafos. A sociedade foi desfeita em 1911.

 

 

 

 

Os filmes nas primeiras décadas do cinema eram curtos e um dos artifícios usados para atrair o público para as salas de cinema era a exibição de uma programação complementar. A projeção em lanterna de imagens fotográficas, acompanhadas de cartelas com avisos era um deles.

 

 

Em primeiro de outubro de 1907, foi criada a firma Marc Ferrez & Filhos. Ferrez era dono de 60% das ações, cabendo a Luciano e a Julio 20% do negócio. A empresa Marc Ferrez & C não deixou de existir. Em seu nome eram feitas as importações de material fotográfico enquanto a nova empresa era responsável pelas importações de material para cinema.

 

 

1908 – Ferrez embarcou para a Europa no navio Chili. Estavam também a bordo os artistas premiados da Academia de Belas Artes Timotheo da Costa (1882 – 1922) e Carlos Chambelland (1884 – 1950) (Jornal do Brasil, 9 de janeiro de 1908, segunda coluna), tendo visitado a fábrica da Pathé e negociado a forma de distribuição exclusiva da empresa no Brasil. Retornou em 30 de março a bordo do paquete francês Cordillere (Jornal do Brasil, 31 de março de 1908, na sexta coluna).

Em abril, foi assinado um contrato entre Marc Ferrez & Filhos e a Associação Geral de Auxílios Mútuos da Estrada de Ferro Central do Brasil. Eram fornecidas fitas para o cinematógrafo beneficente da Associação, cujos programas diários consistiam da apresentação de música ao vivo, dirigida pelo maestro Mussuringo, com a exibição de fitas como Da Barra a Juiz de Fora e Margem do Rio das Velhas, produzidas por Ferrez (Correio da Manhã, 8 de abril de 1908, quinta coluna).

Também em abril, foi assinado um contrato de fornecimento de filmes a Paschoal Segreto (1868 – 1920), o ministro das diversões, pela firma Marc Ferrez & Filhos. Segreto receberia as mesmas fitas do cinema Pathé e poderia exibi-las em todos os seus estabelecimentos, exceto no Pavilhão Internacional, vizinho ao Cinema Pathé, na Avenida Central. Porém, Ferrez começou a distribuir filmes para outros cinematógrafos e Segreto entrou na Justiça alegando quebra de contrato.

Ferrez e Arnaldo Gomes de Souza produziram o filme, Nhô Anastácio chegou de viagem, dirigido por Julio Ferrez, lançado em junho. É considerada a primeira comédia cinematográfica brasileira e foi estrelada por Antônio Cataldi, José Gonçalves Leonardo e Ismênia Matteo. Ferrez produziu o curta-metragem A mala sinistra, lançado em outubro de 1908, também dirigido por seu filho Julio, sobre o assassinato do empresário Elias Farhar, ocorrido em São Paulo, cerca de um mês antes, que ficou conhecido como o Crime da Mala. O sócio de Farhar, Michel Trad , o matou e escondeu o corpo em uma mala.

 

 

A sociedade de Ferrez com Arnaldo Gomes de Souza foi denunciada pelo concorrente de Ferrez, o calabrês Jácomo Rosário Staffa (c. 1867 – 1927), proprietário do Grande Cinematographo Pariziense. Lembramos aqui que Charles Pathé (1863 – 1957), um dos proprietários da Pathé Frères, proibia que seus distribuidores e representantes possuíssem cinematógrafos e Ferrez era um de seus representantes. Staffa também denunciou os altos preços das fitas. Em carta datada de 29 de agosto, Charles Pathé exigia explicações. Com habilidade, Pathé superou as divergências tendo mantido a representação da Pathé Frères e o fornecimento de filmes para Staffa.

O primeiro aniversário do Cinema Pathé foi comemorado com uma reforma, uma programação “divertida” e uma ceia (Fon-Fon26 de setembro de 1908).

Ao longo de 1908, foi publicado várias vezes um anúncio da venda de cinematógrafos na sucursal da firma Marc Ferrez & Filhos em São Paulo, o Bijou-Theatre, do empresário espanhol Francisco Serrador (1872-1941) (O Commercio de São Paulo, 15 de fevereiro de 1908, na primeira coluna).

 

 

1910 –  A Pathé Frères anuncia em propaganda da Marc Ferrez & Filhos a cinematografia do invisível e também se aponta como a única fábrica que apresenta vista em cores de modo constante.

 

 

 

 

Às terças-feiras, “dia da moda” nos cinematógrafos, o Cinema Pathé era frequentado pelas senhoras da sociedade carioca (Gazeta de Notícias, 19 de fevereiro de 1910).

José Ignácio Guedes Pereira Filho comunicou que havia firmado um contrato com a firma Marc Ferrez & Filhos para fornecimento durante um ano de fitas cinematográficas da Pathé Frères (A Província, 27 de março de 1910, na primeira coluna).

A firma Marc Ferrez & Filhos negou que a empresa do Iris Cinema recebia diretamente da Pathé Frères de Paris material cinematográfico para venda, já que os Ferrez eram seus representantes exclusivos e que em São Paulo sua sucursal era o Bijou-Theatre, do empresário Francisco Serrador (Correio Paulistano, 2 de maio de 1910, na segunda coluna, sob o título “Secção Livre”).

Para celebrar os três anos do Cinema Pathé, toda a renda do estabelecimento do dia do aniversário foi oferecida para a construção do couraçado Riachuelo e a festa foi dedicada ao almirante Alexandrino (1848 – 1926) (ABC, 17 de setembro de 1910). Lembramos aqui que desde 1870, nos versos dos cartões de montagem e fotografias de Ferrez estava inscrito “Marc Ferrez. Fotógrafo da Marinha Imperial e das construções navais do Rio de Janeiro”. Provavelmente a nomeação de Ferrez como fotógrafo oficial da Marinha relacionava-se com o lançamento do Plano para a Organização da Força Naval do Império que previa a renovação da frota com embarcações de diversos tipos, o que aconteceu nas décadas de 1870 e 1880.

 

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Interior do Cinema Pathé

 

1911 - Em junho, Ferrez e seus filhos se associam a Amadeu Peixoto de Macedo, Antônio Guimarães, Hamilton de Souza, Joaquim de Mello Franco e Oscar Pragana, e criam a firma Julio, Pragana & Cia, que passa a administrar o cinema Chantecler, no Rio de Janeiro. A sociedade tem curta duração.

Os proprietários de cinemas, liderados por Marc Ferrez, seu sócio, Arnaldo Gomes de Souza; e Zambelli, dono do Odeon, criam uma comissão para defender os interesses da classe diante do estabelecimento de novos impostos para as salas de cinema do Distrito Federal.

Foi sancionado, em 30 de dezembro, pelo presidente da República, Hermes da Fonseca (1855 – 1923), o aumento dos impostos para a importação de filmes proposto pelo Congresso Nacional. O aumento inviabilizou os acordos entre Ferrez e a Pathé.

1912 – Ferrez partiu para a França para renegociar com a Pathé e um novo acordo foi assinado em 20 de fevereiro.

Em julho, a Marc Ferrez & Filhos subscreveu o maior lote de ações lançado pela Companhia Cinematográfica Brasileira (CCB), de Francisco Serrador, fundada em 1911. Os Ferrez passaram a ser a sucursal da CCB no Rio de Janeiro. Além disso, venderam seu estoque de filmes à empresa e passaram a ser seus únicos fornecedores de filmes.

Ferrez introduziu no Brasil os autocromos, processo fotográfico colorido desenvolvido pelos irmãos Lumière.

 

 

A Casa Marc Ferrez & Filhos passou a funcionar na rua São José 112 e o Cinema Pathé transferiu-se para o número 116 da avenida Central.

 

 

1913 – Na Europa, como representante do CCB assina um contrato de distribuição de filmes com a Gaumont.

1915 – A guerra afetou o fornecimento de filmes europeu para o Brasil. Os Ferrez se desentenderam com Francisco Serrador e deixaram a Companhia Cinematográfica Brasileira. Eles também perderam a representação da Gaumont.

A Casa Marc Ferrez & Filhos mudou-se para a Rua da Quitanda, 67 (Almanak Laemmert , 1916).

1916 – Anúncio da “Casa Marc Ferrez & Filhos – Emilio Brondi & C., importadores de máquinas cinematográficas”, além de outros produtos (A Noite, 13 de janeiro de 1916, na penúltima coluna).

Em fevereiro, Julio e Luciano Ferrez encerraram a disputa com Francisco Serrador, assinando a escritura de rescisão de contrato com a Companhia Cinematográfica Brasileira.

Em uma reportagem sobre a falência dos cinemas no Rio de Janeiro, o Cinema Pathé, de Marc Ferrez, foi mencionado como deficitário “(A Notícia, 29 de fevereiro de 1916, sob o título “A falência dos cinemas”). A Casa Marc Ferrez & Filhos negou a crise dos cinemas (A Província, 27 de março de 1916).

Os Ferrez defendem o cinema europeu acreditando que os filmes norte-americanos não fariam sucesso no Brasil, ponto de vista que vai, com o tempo, se provar errado.

O negócio do cinema foi fortemente impactado pela Primeira Guerra Mundial

Marc Ferrez segue na França trabalhando como representante da empresa familiar. As decisões sobre os negócios são de seus filhos. Ele atua como conselheiro. “Meu papel é passivo. Ver os filmes, fazer as encomendas, executar suas ordens de filmes suplementares e me ocupar dos pagamentos” (Carta de Ferrez a seus filhos, enviadas de Paris, 11 de dezembro de 1916).

1917 – A fábrica da Pathé, instalada em Vincennes, passa a abrigar também os escritórios da empresa, para onde Marc viaja todas as quartas-feiras para ver os filmes.

Devido ao ingresso dos Estados Unidos na guerra, o tráfego pelo Oceano Atlântico torna-se perigoso e os navios não anunciam suas datas de partida, prejudicando o envio dos filmes e de materiais para o Brasil.

Seus filhos, Julio e Luciano, fundaram a Companhia Cinematográfica Brasileira, mais tarde denominada Casa Marc Ferrez Cinemas e Eletricidade Ltda.

 

 

1919 – Julio Ferrez foi um dos fundadores da União dos Importadores Cinematográficos no Brasil (O Imparcial, 8 de dezembro de 1919, na segunda coluna). Foi o primeiro tesoureiro da associação, cujo primeiro presidente foi o empresário Francisco Serrador.

 

 

Os Ferrez tornaram-se sócios da Pathé Exchange, de Nova York.

Em 15 de dezembro de 1919 , Marc Ferrez participou da cerimônia de recepção, na recém criada categoria Aplicação das ciências à indústria da Academia Francesa de Ciências, de seu amigo Louis Lumière (1864 – 1948) que, com o irmão Auguste Lumière (1862 – 1954), havia inventado o cinematógrafo, em 1895 (Academia Francesa de Ciências e Palcos e Telas, 8 de abril de 1920).

Na edição de 8 de abril de 1920 da revista Palcos e Telas Marc, Julio e Luciano Ferrez foram biografados na seção “Grandes figuras da cinematografia”.  Nessa matéria, o envenenamento por um escravo foi apontado como a causa de morte dos pais de Marc Ferrez.

 

 

1920 - Participou, em fevereiro, no Palais d´Orsay, em Paris, do banquete oferecido pelas câmaras sindicais e associações de fotógrafos e cinematografistas a Louis Lumière. A homenagem teve cerca de 500 convidados, dentre eles Andre Honnorat (1868 – 1950), ministro da Instrução Pública e das Belas Artes; e de representantes do governo francês. Celebrava, além do ingresso de Lumière na categoria Aplicação das ciências à indústria da Academia Francesa de Ciências – criada no ano anterior -, os 25 anos do invento do cinema. Um dos oradores da noite foi Romain Coolus, presidente da Sociedade dos Autores Dramáticos, que em seu discurso afirmou que a invenção de Lumière trouxe para os humildes uma alegria inédita (Ciné pour tous, 28 de fevereiro de 1920, pág. 2; O Jornal, 28 de março de 1920, penúltima coluna).

 

 

 

Ferrez voltou para o Brasil.

Anunciam-se como representantes da Pathé Exchange Inc. de Nova York. Comercializam filmes Kodak.

1921 - De volta a Paris, Marc continua assistindo e indicando os filmes que considera com mais potencial comercial para o Brasil.

Foram publicados dados estatísticos da indústria cinematográfica no Brasil no primeiro semestre de 1921. Em número de filmes, a firma Marc Ferrez  & Filhos representava 3,9% (Para Todos, 13 de agosto de 1921). Na mesma revista, em 8 de julho de 1922, foram publicados os dados estatísticos do primeiro semestre de 1922.

Em outubro, inauguração da sede própria da empresa Marc Ferrez & Filhos na Rua da Quitanda, 21. Os filmes são armazenados no pátio, em um depósito de cimento armado, à prova de incêndios.

 

A empresa dos Ferrez continua produzindo filmes de atualidades que são exibidos em seus cinemas e também vendidos a distribuidores estrangeiros. Estes filmes são encomendados ao cineasta Alberto Botelho (1885-1973), parceiro e amigo de Julio Ferrez.

 

1922 – Em março, Marc recebeu, em Paris, a visita de seu amigo, o cientista Henrique Morize, em viagem para Europa em missão oficial do Observatório Nacional.

Em matéria publicada em O Malho, 27 de maio de 1922 sobre a indústria cinematográfica, Marc Ferrez & Filhos foram citados como uma firma que fez fortuna atuando no setor.

A Casa Marc Ferrez firmou contratos com importantes empresas cinematográficas dos Estados Unidos (O Jornal, 17 de junho de 1922, na quarta coluna).

Marc Ferrez embarcou no navio Lutetia, em Bordeaux, de volta ao Brasil, em 31 de julho, e chegou ao Rio de Janeiro, em 14 de agosto. O navio fez escala em Boulogne-sur-mer, Vigo e Lisboa. Também viajaram no Lutecia o inventor Alberto Santos Dumont (1873 – 1932), o presidente do Jockey Clube, Linneu de Paula Machado (1880 – 1942); Arnaldo Guinle (1884 – 1963), presidente do Fluminense S.C.; o médico Paulo de Figueiredo Parreiras Horta (1884 – 1961) e os Oito Batutas, grupo musical formado, entre outros, por Pixinguinha (1897 – 1973) e Donga (1890 – 1974) (O Paiz, 15 de agosto de 1922, página 3 e página 4).

1923 - Marc Ferrez faleceu em 12 de janeiro de 1923, no Rio de Janeiro. No periódico A Scena Muda, 25 de janeiro de 1923, foi publicado um perfil de Ferrez, no qual sua morte foi atribuída a uma enfermidade que ele havia contraído devido ao uso do colódio. Na mesma matéria, foram mencionadas as experiências que fazia com seu amigo, o engenheiro e astrônomo Dr. Henrique Morize, em sua casa na rua São José, 88, com “luz oxi-etherica, luz oxydrica, de gás incandescente de petróleo com mechas concentradas fazendo também na ocasião as primeiras experiências com cinematógrafo com um aparelho Lumière e fitas de 10 e 20 metros…”. Na matéria da Para Todos de janeiro de 1923, o caráter de Ferrez foi exaltado: “A perfeita correção do velho comerciante, sua intransigente  honradez, a lisura dos seus processos o tornaram sempre uma figura de destaque nos meios cinematográficos”.

1928 – Após a morte do fotógrafo, a Casa Marc Ferrez inaugurou, na Cinelândia, o Pathé Palace, em de abril de 1928, com a exibição de uma extensa programação, que incluía o filme Paga para amar (O Paizde 18 de março, na primeira colunade 23 de março, na terceira coluna; e de 9 e 10 de abril de 1928).

 

Acesse aqui a Agenda Pathé Frères, um dos Cadernos de Marc Ferrez.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Cadernos de Marc Ferrez – Site do Instituto Moreira Salles

CERON, Ileana Pradilla Ceron. Marc Ferrez – uma cronologia da vida e da obra. São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2018.

FERREZ, Gilberto. O Rio Antigo do fotógrafo Marc Ferrez: paisagens e tipos humanos do Rio de Janeiro, 1865-1918. Rio de Janeiro: João Fortes Engenharia/Editora Ex-Libris, 1984.

FERREZ, Gilberto. Os irmãos Ferrez da Missão Artística Francesa. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1968.

GONZAGA, Alice. Palácios e Poeiras: 100 anos de cinema no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Record, 1996.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

Rio / Marc Ferrez – São Paulo : IMS; Göttingen: Steidl, 2015

Site Filmow

Site IMDB

SOUZA, José Inácio de Melo. Imagens do Passado: São Paulo e Rio de Janeiro nos primórdios do cinema. São Paulo. Senac, 2004

TURAZZI, Maria Inez. Cronologia. In O Brasil de Marc Ferrez – São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2005.

TURAZZI, Maria Inez. Literatura fotográfica e estudos biográficos: algumas reflexões em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez. In: Boletim do Centro de Pesquisa de Arte e Fotografia da Escola de Comunicação e Artes da USP. São Paulo, n°2, 2007.

WANDERLEY, Andrea C. T. O brilhante cronista visual Marc Ferrez (RJ, 07/12/1843 – RJ, 12/01/1923) in Brasiliana Fotográfica, 7 de dezembro de 2016.

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