Cronologia de Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1865 – 1918)

Cronologia de Elvira Leopardi Pastore (1876 – 1972) e Vincenzo Pastore (1865 – 1918)

 

 

1865 – Em 5 de agosto, nascimento de Vincenzo Pastore, em Casamassima, na região de Puglia, na Itália, filho de Francesco Pastore e Costanza Massara.

 

 

1876 – Nascimento de Elvira Teresa Angela Leopardi (1876-1972), futura mulher de Vincenzo Pastore, em Potenza, na região de Basilicata.

 

1894 / 1895 – Pastore chegou ao Brasil, deembarcando no porto de Santos. Foi para São Paulo que recebia um grande fluxo de imigração de italianos em busca de novas oportunidades de trabalho. Nesta época a cidade crescia muito: em 1890 tinha 65 mil habitantes e apenas três anos depois, em 1893, esse número duplicou. Na virada dos século XIX para o XX, já havia 240 mil moradores na cidade, sendo que cerca de 40% eram italianos. Vincenzo iniciou suas atividades de fotógrafo e pela qualidade de seu trabalho conseguiu prestígio rapidamente.

c. 1896 - Retornou à Itália.

1897- Em Potenza, na região de Basilicata, na Itália, Vincenzo casou-se com Elvira Leopardi Pastore (1876-1972), em 6 de setembro de 1897. Tiveram 10 filhos: Costanza (1899-?), Beatriz (1902-?), Maria Lucia (1903-1988), Francisco (1905-1985), Pio Donato (1906-?), Leonor, às vezes chamada de Eleonora ( 1908-1990), Olga (1909-?), Carmelita (1910 -?), Dante (1912-?) e Redento (1915-1918).

1898 – Vincenzo possuia um estabelecimento fotográfico, em Potenza, e a edição do jornal Il Lucano de 14 de outubro descrevia as habilidades de Vincenzo como fotógrafo.

 

 

1899 -  Vincenzo voltou para São Paulo, desta vez já casado com Elvira, e instalou seu estabelecimento fotográfico na Rua da Assembleia, nº 12 (depois Rua Rodrigo Silva), onde o casal também passou a residir.

 

 

Elvira trabalhava no laboratório do estúdio e era a responsável pelos serviços de fotopintura e acabamento. Era ela, também, que registrava em um caderno de anotações, intitulado “A arte de fotografar e revelar”, o trabalho realizado no laboratório e as técnicas de fotopintura. Segundo relatos dos filhos mais velhos do casal, eles trabalhavam muitas horas juntos, às vezes, até de madrugada, para atender os prazos de entrega. Era dessa parceria que vinha a sobrevivência da família.

Vincenzo recebeu uma carta protocolada do município de Potenza, transcrevendo carta do prefeito agradecendo pelo retrato do rei, que seria colocado na sala do Conselho Provincial.

A primogênita do casal, Constanza, nasceu em 7 de novembro.

1900 – Em nota no Estado de São Paulo, edições de 22 e 23 de outubro de 1900, anunciava: “Dá de presente aos seus clientes seis photographias / novo formato Elena, em elegantíssimos cartõezinhos ornados, só 4$500 e por poucos dias“.

Desde essa época Pastore dominava o uso da goma-bicromatada, fotos em miniatura e platinotipias, e técnicas de fotopintura a óleo.

1901 – Na época, também atuavam como fotógrafos, em São Paulo, Guilherme Gaensly (1843 – 1928), Guilherme Wessel (1862 – 1940), Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930) e Valério Vieira (1862 – 1941), dentre outros.

 

 

1904 – Um fotógrafo ainda não identificado produziu uma fotografia de Pastore com seus filhos e Elvira nos fundos da casa da Rua da Assembleia.

 

 

1905 – Vincenzo esteve na Europa para comprar material fotográfico. No anúncio, seu ateliê foi identificado como “a casa especial dos retratos Mimosos” (O Estado de São Paulo, 1º de setembro de 1905, página 3, terceira coluna).

 

O Estado de São Paulo, 1º de setembro de 1905

O Estado de São Paulo, 1º de setembro de 1905

 

Vincenzo recebeu uma carta do Consulado Geral da Itália em São Paulo, transmitindo os agradecimentos do Ministro da Casa Real pelo envio de fotos de índios bororos.

A Photographia Pastore anunciou que as pessoas que tirassem uma dúzia de Retratos Mimosos no dia 19 de novembro ganhariam uma cópia de um retrato mimoso colorido a aquarela (O Estado de São Paulo, 16 de novembro de 1905, página 4, terceira coluna). Os Retratos Mimosos foram inventados por Pastore e eram fotografias em formato retangular, prensadas em cartão com desenhos art noveau. Deram muito lucro a Pastore.

 

O Estado de São Paulo, 16 de novembro de 1905

O Estado de São Paulo, 16 de novembro de 1905

 

 

1906 - Vincenzo recebeu uma carta de Giacomo della Chiesa (1854 – 1922), futuro papa Bento XV, agradecendo o envio de fotografias de índios bororós para o papa Pio X.

1907 – Inauguração do novo estúdio do casal, na Rua Direita nº 24-A. Ocupava o segundo andar de um sobrado que abrigava no térreo a loja Au Bon Marché. No primeiro andar, ficava a casa da família e o laboratório fotográfico. Era um estabelecimento maior, mais elegante e contava com equipamentos modernos. Durante o evento, Pastore serviu champagne aos convidados e uma banda, a Ettore Fieramosca, se apresentou.

 

 

José Victor de Mauro, a quem tinha ensinado fotografia e que era casado com uma das irmãs de Elvira, Adelina, ficou trabalhando no estúdio da Rua da Assembleia. Em 1910, o estabelecimento passou a chamar-se Photographia de Mauro.

1908 – Vincenzo solicitou ao ministro da Justiça sua naturalização (O Commercio de São Paulo, 14 de janeiro de 1908, quarta coluna).

Vincenzo participou da Exposição Nacional, realizada no Rio de Janeiro, em comemoração ao centenário da abertura dos portos no Brasil, com um conjunto de fotopinturas e trabalhos de grandes dimensões.

 

 

Vincenzo realizou também um concurso de beleza infantil, do dia 10 de maio a 10 de julho, em seu ateliê fotográfico de São Paulo. Cento e quarenta crianças foram fotografadas e a final da disputa aconteceu no salão /Steinway com a presença do cônsul da Itália. A cantora lírica Matilde Schiavinati se apresentou na festa. Produziu um álbum de retratos de meninas que participaram do concurso que foi enviado ao rei da Itália (O Paiz, edição de 8 de maio de 1908, última nota da primeira coluna).

O estabelecimento fotográfico passou a funcionar na Rua Barão de Itapetininga.

1908 /1909 / 1910 - Seu ateliê fotográfico foi anunciado com seu nome grafado erradamente: ao invés de Pastore, Tartore (Almanak Laemmert, 1908, 1909 e 1910).

1911 – Vincenzo ganhou a medalha de bronze na Espozione Internazionale delle industrie e dell lavoro, em Turim, na Itália.

1914 – O casal viajou com a família para a Europa. Embarcaram, em Santos, no navio Duca delle Abruzzi (Correio Paulistano, 10 de fevereiro de 1914, na terceira coluna, sob o título “Hóspedes e Viajantes”).

 

 

Em novembro, o casal inaugurou com uma exposição o estabelecimento Fotografia Italo-Americana – ai Due Mondi, na Via Sparano, nº 117, em Bari, capital da Puglia, na Itália. Era a realização de um sonho e para tal os Pastore usaram todo o dinheiro economizado durante os anos de trabalho em São Paulo. A iniciativa foi acolhida com entusiasmo pelo público (Corriere Delle Puglie, 13 de dezembro de 1914). Segundo o Risveglio Commerciale – Bari, de 21 de novembro de 1914, a exposição com fotografias de temas variados mostravam os mais perfeitos e distintos processos da arte. Foi um acontecimento.

Sobre a inauguração, Vincenzo escreveu para o Corriere della Puglie, de 17 de novembro de 1914 o artigo Dopo l´ inaugurazione della Fotografia Italo-americana. Seguem alguns trechos:

“Agradeço de coração a todos os cidadãos, ao eleito grupo de senhores e jovens senhoras que com complacência visitaram a exposição no meu estabelecimento chamado pelo bispo Lamberti “templo da arte”, obrigado a todos. Mais uma vez obrigado a toda a população que com a sua ampla intervenção coroou a esplêndida festa bem sucedida…Durante minha estadia em Bari me pareceu muito difícil de conseguir abrir um estabelecimento fotográfico e já o meu pensamento era tomado pelo ceticismo. Mas o sucesso de ontem superou todas as minhas expectativas, a onda de louvor varreu todo o meu ceticismo, uma vez que é capaz de mostrar como o público desta cidade ama, aprecia e cultiva a arte”.

 

 

O nome do estúdio italiano indicava sua condição de imigrante bem sucedido, que pertencia a dois mundos. Foi anunciado como uma sucursal do estúdio paulistano, o que não era verdade, já que este havia sido fechado. A rua onde se situava o estabelecimento italiano, a Via Sparano, era a principal via de ligação entre a estação de trem e a Cidade Velha, que concentrava o maior número de habitantes de Bari.

 

 

“Bari inteira soube dar sua modesta homenagem de afeto e simpatia ao seu compatriota, um trabalhador que, depois de ter trazido o seu trabalho realizado longe de sua terra natal, depois de ter aperfeiçoado e obtido a aprovação da industriosa São Paulo, retorna à sua terra, coberto de louros e de um nome invejável”.

Corriere Della Puglia, 22 de novembro de 1914

 

 

 

 

Em São Pauo, na vitrina da Casa Rocha, de calçados, exposição de uma fotografia de seu filho Dante dentro de um sapato. Vincenzo havia mandado confeccionar o sapato gigante para provocar o desejo de algum cliente de ter alguma criança retratada da mesma forma. Além disso, a exposição do retrato na vitrine foi uma propaganda da qualidade dos sapatos produzidos na loja.

 

 

Na capa da revista A Vida Moderna, de 3 de dezembro de 1914, publicação de uma fotografia de Anna Cândida Bueno, produzida por Pastore. Sobre a capa:

“Do belo trabalho de arte fotográfica que ilustra a capa deste número incumbiu-se o sr. Pastore, que tem o seu “Atelier” à rua Direita n 24-A. Os trabalhos desse finíssimo artista recomendam-se pela beleza do seu efeito, pelos contrastes de luz e por essa “intenção”, que à maior parte dos fotógrafos passa despercebida. O sr. pastore faz da arte fotográfica uma arte de imaginação, pela porção de idealidade pessoal que lhe mistura. No trabalho que nos ofereceu para este número é tudo digno de atenção: a “pose”, a atitude melancólica, os efeitos de luz sobre os cabelos. A graça original do modelo nada perdeu, vista através da reprodução fotográfica”.

1915 – Devido à Primeira Guerra Mundial, os Pastore encerraram as atividades na Itália e voltaram para São Paulo, tendo desembarcado no porto de Santos. Segundo Elvira, que ficou bastante desapontada e surpresa com o retorno ao Brasil, foi por um golpe de sorte que conseguiram se restabelecer no mesmo endereço, Rua Direita 24 A.

 

 

Foi publicada uma carta de despedida de Vincenzo, no Corriere delle Puglie, de 27 de novembro de 1915:

 

 

 

1916 - Sob os títulos Bellezas PaulistanasMelancholiaQuem é a moça dos óculos pretos? e Oração, foram publicadas fotografias de autoria de Vincenzo Pastore, na revista A Cigarra, nas edições  de 31 de março 30 de abril  , 17 de agosto14 de setembro e 26 de outubro.

No dia 17 de junho, foi publicada no O Estado de São Paulo, a seguinte nota:

O Sr. Vincenzo Pastore, proprietario da Photographia Pastore, a rua Direita, recebeu communicação official, do sr. Giannetto Cavasola, ministro da Agricultura da Italia, e do prefeito da provincia de Bari, de que, a 4 de maio passado, foi nomeado pelo duque de Genova, principe regente, cavalheiro da Ordem da Corôa da Italia. O sr. Pastore é muito conhecido nesta capital, onde conta com muitas amizades. Em 1914, o sr. Pastore fez, em Bari, uma grande exposição italo-brasileira de photographias, que mereceu francos elogios da imprensa. Os seus esforços acabam de ser merecidamente recompensados“. Em 18 de dezembro, o prêmio foi concedido.

 

 

No anúncio da edição da revista A Cigarra, foi noticiada a publicação de uma fotografia de Pastore (O Estado de São Paulo, 14 de setembro de 1916, página 9, quarta coluna).

1917 - Vincenzo esteve presente a uma recepção do Consulado da Itália em São Paulo em comemoração à data da promulgação do Estatuto italiano (Correio Paulistano, 4 de junho de 1917, quarta coluna).

1918 – Em 15 de janeiro, Pastore faleceu, no Hospital Humberto I, em São Paulo, devido a complicações após uma cirurgia de hérnia. Era alérgico e foi anestesiado com clorofórmio. Foi enterrado no Cemitério do Araçá e estiveram presentes na cerimônia Roque Vieira, representando seu pai, o fotógrafo Valério Vieira, os fotógrafos Guilherme e Conrado Wessel e Miguel Rizzo, dentre outros (Correio Paulistano, 19 de janeiro de 1918, na terceira coluna).

 

 

Em seu diário, após ficar viúva, Elvira escreveu aos filhos:

“O dia em que vocês mancharem, mesmo que só com uma mancha pouco perceptível, o nome que aquele anjo lhes deixou, eu os renegarei, eu não lhes darei mais a minha bênção, porque não serão mais dignos dela. Deus e a Voirgem do Carmo os ajudem a afastar essa desgraça e os abençoe”.

Elvira tentou continuar com o estúdio, mas não foi possível. Para sustentar os 10 filhos, ela vendeu tudo, até os negativos de vidro e foi lecionar italiano no Colégio Dante Alighieri.

Elvira passou a reunir, selecionar e organizar recordações da vida de Vincenzo que pudessem preservar a memória do marido. Havia um caderno pessoal, outro reunindo recortes de matérias de jornais do Brasil e da Itália e o Álbum de recordações Vicente e Elvira Pastore com documentos pessoais, boletins, cartas e fotografias.

1944 – O caderno de recortes e o pessoal de Elvira, além do Álbum de Recordações Vicente e Elvira ficaram com o filho caçula do casal, Dante.

1972 - Falecimento de Elvira Leopardi Pastore.

1996 – O músico Flavio Varani, neto de Vincenzo e Elvira, filho de Leonor, às vezes chamada de Eleonora, conheceu o então diretor do IMS, Antonio Franceschi que, ao saber da existência de um acervo de fotos da cidade de São Paulo do início do século XX realizado por Pastore e guardado por Flavio em uma caixa de charutos para conservá-las, revelou interesse em conhecê-las. Foi então que Flavio, na época professor de piano na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, doou 137  fotografias inéditas de autoria de Vincenzo ao Instituto Moreira Salles. Segundo Flavio, essas 137 fotos, que na época em que foram produzidas não tinha valor comercial, foram reveladas e reproduzidas por sua mãe em restos de papel fotográfico.

1997 - No aniversário de São Paulo, realização de uma exposição de fotos de Pastore no Espaço Higienópolis, do Instituto Moreira Salles, em São Paulo.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

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