Dia Nacional do Fotógrafo

A Brasiliana Fotográfica faz uma homenagem ao Dia Nacional do Fotógrafo, destacando uma imagem de d. Pedro II, o primeiro brasileiro a possuir um daguerreótipo e, provavelmente, o primeiro fotógrafo nascido no Brasil. Seu interesse foi decisivo para a divulgação e o desenvolvimento da fotografia no país. O registro foi produzido pelo pintor e fotógrafo português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), um dos mais  prestigiados e famosos retratistas do Brasil no século XIX.

Menos de um ano após o anúncio oficial da invenção, em 19 de agosto de 1839, na França, d. Pedro, aos 14 anos – antes de ser sagrado imperador – adquiriu o equipamento, em março de 1840, cerca de três meses depois que o abade francês Louis Comte (1798 – 1868) apresentou-lhe a novidade, no Rio de Janeiro – como se lê no Jornal do Commercio (Jornal do Commercio, 17 de janeiro de 1840, primeira coluna; e 20 de janeiro de 1840. terceira coluna).

A realização dos primeiros daguerreótipos no Brasil aconteceu, em 16 de janeiro de 1840 apenas 4 meses depois da produção do primeiro daguerreótipo feito nas Américas, até hoje conhecido. A imagem, de autoria de D.W. Seaver, retratou a igreja de São Paulo, em Nova York, em 16 de setembro de 1839. Foi exibida na drugstore do dr. James Chilton, situada na Broadway, 263. Pouco tempo depois, Samuel Morse (1791 – 1872), o inventor do telégrafo, e John William Draper (1811 – 1882), professor da Universidade de Nova York, produziram daguerreótipos da Igreja Unitária, em diferentes ocasiões, em Nova York. Todas essas imagens produzidas em Nova York estão desaparecidas, o que torna ainda mais importante a existência dos daguerreótipos pioneiros do Brasil.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Cartões de visita – cartes de visite

André Adolphe-Eugène Disdéri. Autorretrato, c. 1860. Paris, França. Acervo da Reunion des Musées Nationaux.

A troca de cartes de visite – cartões de visita fotográficos – foi um dos grandes modismos da segunda metade do século XIX e deu origem a outro modismo: os álbuns de fotografia. E foi a febre do retrato fotográfico, por sua vez, que solidificou a fotografia no Brasil e no mundo. Os cartes de visite eram trocados entre amigos,familiares e colecionadores, que com eles se confraternizavam. Conferiam ao fotografado um certo status social e, muitas vezes, continham dedicatórias e eram datados. A fotografia tornava-se, assim, parte da vida do homem moderno.

“Os cartes de visite, como todos sabem, tornaram-se a moeda social, os dólares da civilização”. A frase do escritor norte-americano Oliver Wendell Holmes (1809-1894) foi escrita, em 1863, e evidencia a popularidade desse formato de fotografia em todo o mundo.

André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889), em 27 de novembro de 1854, patenteou sua invenção com o nome de carte de visite: uma câmara fotográfica com quatro lentes para obter oito retratos em apenas uma chapa de vidro; as primeiras 4 fotos eram expostas, a chapa se deslocava e permitia a exposição das outras 4 fotos.

Os cartes de visite apresentavam uma fotografia de cerca de 9,5 x 6 cm montada sobre um cartão rígido de cerca de 10 x 6,5 cm. A copiagem era feita geralmente com a técnica de impressão em albumina. O invento permitiu a produção em massa de fotografias.

O apogeu da popularidade dos cartes de visite começou, em 1859, quando, no dia em que partia para a Itália, em 10 de maio, Napoleão III parou no estúdio de Disdéri, em Paris, para ser retratado. No dia seguinte, já havia filas na porta do ateliê fotográfico. O entusiasmo em torno desses retratos era enorme e o sucesso do luxuoso ateliê de Disdéri, reputado, na década de 1860, como o fotógrafo mais rico do mundo, foi descrito por um viajante alemão como o verdadeiro templo da fotografia. Ainda, segundo esse relato, Disdéri vendia “todos os dias de 3 a 4.000 francos de retratos e empregava 90 pessoas que realizavam mais de duas mil fotografias por dia”.

Câmara de múltiplas objetivas introduzida por Disdéri para a produção de fotografias no formato carte de visite. Fonte: Imaging Resource

Em Nova York, os cartes de visite começaram a circular, provavelmente, no verão de 1859, introduzidos pelo fotógrafo Charles DeForest Fredricks (1823-1894). A Guerra Civil norte-americana (1861 – 1865) deu grande impulso aos cartes de visite – os soldados e suas família se faziam retratar antes de serem separados pelo conflito. Na Inglaterra, a venda de cartes de visite era muit0 grande e a própria Rainha Vitória (1819 – 1901) formou mais de 100 álbums de retratos de membros da família real e de pessoas socialmente importantes.

O declínio do formato carte de visite aconteceu a partir da década de 1870, quando começou a ser suplantado pelo cartão cabinet (gabinete), que surgiu na Inglaterra, em 1866. Era um pouco maior: apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm.

No Brasil, um panorama sobre a expansão do retrato de estúdio pode ser obtido através do Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, de Boris Kossoy, e editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2002. Segundo o autor:

“Foram investigados a modesta expansão da atividade no período da daguerreotipia (entre 1840 e 1858,  aproximadamente) e o caráter itinerante dos pioneiros, estrangeiros na sua grande maioria, que para este lado do mundo se aventuravam em razão, inclusive, da forte concorrência em seus países de origem  e que, após reunir algum pecúlio, embarcavam de volta. Foi demonstrado também o progressivo desenvolvimento da atividade a partir da década de 1860 em virtude , por um lado, da introdução de novos processos e de técnicas fotográficas baseadas no princípio do negativo-positivo, que, barateando os custos de produção do retrato fotográfico, o tornaria acessível a um público maior. Por outro lado, assiste-se a um progresso econômico: multiplicam-se as ligações ferroviárias, a imigração européia é incentivada, transformam-se as feições dos mais importantes centros urbanos, há, enfim, um efetivo crescimento de uma classe média nas maiores cidades, particularmente no Rio de Janeiro, sede da Corte e, mais tarde, da República. A clientela, nesta altura, já teria um perfil diferente daquele dos primeiros tempos da daguerreotipia, quando o retratado era, via de regra, um representante da elite agrária ou da nobreza oficial.

Nas últimas décadas do século avolumava-se o número de estabelecimentos fotográficos em virtude da nova clientela constituída de comerciantes urbanos, professores, profissionais liberais, funcionários da administração, entre outros elementos de uma classe que almejava ter sua imagem perpetuada pela fotografia”(pg.11-12).

Importante contribuição para o desenvolvimento da fotografia brasileira no século XIX, o título de Photographo da Casa Imperial, foi agraciado por dom Pedro II a diversos fotógrafos, muitos deles de estúdios fotográficos de renome no período como Buvelot & Prat, Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), Stahl & Wahnschaffe, José Ferreira Guimarães e  Henschel & Benque.

 

Acessando o link para as fotografias de cartes de visite disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY. Boris. Fotografia & História. 2. ed. rev. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

MAUAD, Ana Maria. Através das Imagens: Fotografia e História InterfacesTempo, Rio de Janeiro, vol. 1, nº 2, 1996.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do The American Museum of Photography

 

Igrejas no Brasil

A Brasiliana Fotográfica oferece a seus leitores uma seleção de fotografias de igrejas católicas em algumas das principais cidades do Brasil. Durante a maior parte da história do país, as igrejas foram um dos maiores símbolos das nossas riquezas e muitas cidades brasileiras cresceram em torno delas. No tempo em que as missas não eram celebradas em português, mas em latim, ser brasileiro era quase sinônimo de ser católico.

 

 

No primeiro censo, em 1872, o catolicismo, religião oficial do país, era seguida por 99,7% da população. O último censo do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia, de 2010, divulgado em 29 de junho de 2012, revelou que o Brasil continua sendo o maior país católico do mundo, mesmo com a redução no número de fiéis ao longo das últimas décadas. Nas estatísticas, há 123 milhões de católicos no país, que representam 64,6% da população. O estado do Piauí tem o maior percentual de católicos e o Rio de Janeiro, o menor.

As igrejas são, independentemente do significado religioso, importantes marcos da construção do patrimônio histórico e cultural do Brasil.

Link para as fotografias de igrejas disponíveis na Brasiliana Fotográfica

Início do verão – as praias do Brasil

Segundo o Observatório Nacional, o verão 2016 começou hoje, dia 22 de dezembro de 2015, às 2h48m (horário de Brasília), quando ocorreu o solstício de verão. A Brasiliana Fotográfica homenageia a mais brasileira das estações com uma seleção de várias praias e vistas de nosso litoral. São registros fotográficos de Alagoas, da Bahia, de Pernambuco, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul  e de São Paulo. A fotografia mais antiga é do Forte de São Francisco da Barra, de Augusto Stahl (1828 – 1877), produzida por volta de 1855, no litoral de Pernambuco. Outros fotógrafos presentes nessa seleção de imagens do litoral brasileiro são Abilio Coutinho, A. Ribeiro, Augusto Malta (1864 – 1957)Augusto Stahl (1828 – 1877)Georges Leuzinger (1813 – 1892)Guilherme Gaensly (1843 – 1928) , J. Schleier (1827 – 1903), Marc Ferrez (1843 – 1923), Moritz Lamberg (18? – ?), Revert Henrique Klumb (c.1826 – c.1886), Thiele, Rodolfo Lindemann (c. 1852 – 19?) e S.H. Holand.

 

Além disso, está disponibilizado o link para uma edição especial da revista Cruzeiro, de 15 de dezembro de 1928 sobre as “Praias de Banho” no Rio de Janeiro, em Paquetá e em Niterói.

Nesta edição, O Cruzeiro  divulgou os resultados do primeiro concurso de fotografia promovido pela revista (páginas 33 e 34), cujo tema foi “a vida das praias”.

Há ainda artigos sobre o verão, fotografias e caricaturas de banhistas em diversas praias como Copacabana, Flamengo e Urca; e anúncios de roupas para banho de mar. Uma das matérias da revista é sobre estrelas de cinema internacionais fotografadas com roupas de praia.

 

 

 

Acessando o link para as fotografias de praias e vistas do litoral brasilero disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Colaborou nessa pesquisa o historiador Vinicius Martins, da BN Digital.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica

Panorama circular do Rio de Janeiro, visível do Morro de Santo Antônio

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Este Panorama circular da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Brasil, visível do Morro de Santo Antônio foi publicado em 1917 pela Empresa de Propaganda Brasileira que, com justeza, denominou-o um ‘indicador’. Sua execução gráfica ficou a cargo das oficinas do Jornal do Brasil, uma das primeiras a equipar-se, desde a virada do século, para a realização de trabalhos de reprodução fotomecânica pelo processo de autotipia, também conhecido como similigravura, meio-tom ou meia-tinta: a partir de uma fotografia, preparava-se um clichê onde os tons contínuos da imagem eram reduzidos a uma trama de retícula – minúsculos pontos, de dimensões variadas que, impressos, nos dão a impressão de estarmos vendo “uma fotografia de verdade”.

Pois até os fins do século 19, a idéia de ‘fotografia’ estava, mesmo, vinculada a um objeto, um artefato fotográfico, uma fotografia original, produzida em laboratório. Mas a partir do advento da retícula, a fotografia se desvinculou do original, do artefato, tornando-se apenas uma imagem, multiplicada aos milhares em poucas horas, e rapidamente disseminada. Tornou-se onipresente, enfim.

Desta primeira edição do panorama, teriam sido produzidos oito mil exemplares. Trata-se de um painel fotográfico circular com uma visão de 360° do centro do Rio de Janeiro, tomada a partir do Morro de Santo Antônio. Foram feitas oito fotos e de cada uma delas aproveitou-se o campo abrangido pelo ângulo de 30 graus. Assim, temos doze seções na imagem, nitidamente marcadas por uma linha vertical.

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Esquema para montagem do panorama circular do Rio de Janeiro, acompanhado de instruções escritas, no verso do mesmo.

Esta é uma versão moderna das antigas rotundas, pintadas a mão, que tanto sucesso fizeram no passado. Os pintores Pedro Américo e Vítor Meireles foram mestres nesta técnica. O panorama giratório Baía e cidade do Rio de Janeiro de Vítor Meireles, apresentado em 1890 à população carioca, tinha 115 metros de comprimento e foi exibido inicialmente em uma rotunda na Praça 15. Dele só restaram alguns estudos em papel, que hoje integram o acervo do Museu Nacional de Belas Artes.

Voltemos ao nosso panorama. Segundo informa o texto impresso no verso, esta peça gráfica serviria de guia “aos visitantes do grande panorama, ora em via de execução.” Se este empreendimento (do grande panorama) foi levado a cabo, desconhecemos. Quem sabe algum leitor de nosso portal Brasiliana Fotográfica não disporá dessas informações, tão valiosas?

 

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No anúncio da loja de produtos fotográficos de Felix Ottersbach, estão listados alguns dos produtos então utilizados, no momento em que ampliava-se um novo mercado, voltado aos amadores da fotografia.

 

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A descoberta dos raios X deu-se nos fins do século 19 e a sua utilização, no campo da medicina, foi quase imediata. A radiografia, entre outras aplicações, desenvolveu-se com rapidez.

 

No trabalho apresentado em congresso e depois publicado na Revista do IHGB em 1984, Lygia Cunha discorreu sobre os “Panoramas e Cosmoramas. Distrações populares no Segundo Reinado.” A mais recente publicação deste ensaio deu-se no ano de 2010, em coletânea de estudos seus, integrantes do vol. 34 da Coleção Rodolfo Garcia, da Biblioteca Nacional, pp. 205-211:

Ali, a autora reproduz um anúncio dos antigos panoramas que foram exibidos em terras cariocas: “Panorama da rua do Teatro, n. 30. Faz-se ciente ao respeitável público que, durante os 9 dias da coroação, apresentará novas vistas, e igualmente o grande comboio que teve lugar em Paris pela morte do Grande Napoleão. Entrada 160 rs.” Jornal do Commercio, 18 e 19 de julho de 1841, p. 4 (segunda coluna, quase no meio da página).

Como se vê, o fascínio do ser humano pelas ‘experiências imersivas’ faz parte de sua natureza e sempre o acompanhou, do homem das cavernas aos apreciadores de videogames e filmes 3-D. Convidamos, então, os visitantes de nosso portal para desfrutar da potente ferramenta de zoom que têm à sua disposição, percorrendo este panorama quase centenário. Estamos comemorando o aniversário dos 450 anos da cidade; momento mais que oportuno para este passeio.

 

Panorama circular

Empresa de Propaganda Brazileira : Panorama circular da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, Brasil, visível do Morro de Santo-Antonio. Acervo FBN

 

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade

Curador, pela Biblioteca Nacional, do portal Brasiliana Fotográfica

 

Dom Pedro II ( RJ, 2/12/1825 – Paris, 5/12/1891), um entusiasta da fotografia

 

Dom Pedro II ( RJ, 2/12/1825 – Paris, 5/12/1891), um entusiasta da fotografia*

Dom Pedro II foi um entusiasta da fotografia, seja como mecenas seja colecionador. Foi o primeiro brasileiro a possuir um daguerreótipo, e, provavelmente, o primeiro fotógrafo nascido no Brasil. Devido ao seu interesse no assunto, implantou e ajudou decisivamente o desenvolvimento da fotografia no país. Sua filha, a princesa Isabel (1846-1921), foi, inclusive, aluna do fotógrafo alemão Revert Henrique Klumb (c. 1826- c. 1886). Ao ser banido do país, em 1889, pelos republicanos, Pedro II doou à Biblioteca Nacional a coleção de cerca de 25 mil fotografias, que então denominou, juntamente com a coleção de livros, de Coleção Dona Theresa Christina Maria.  Segundo Pedro Vasquez, essa coleção é, até hoje, “o mais diversificado e precioso acervo dos primórdios da fotografia brasileira jamais reunido por um particular, e tampouco por uma instituição pública”.

A velocidade com que a notícia do invento do daguerreótipo chegou ao Brasil é curiosa: em 7 de janeiro de 1839, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851); cerca de 4 meses depois, foi publicado no Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”, na segunda coluna, um artigo sobre o assunto – apenas 10 dias após de ter sido o tema de uma carta do inventor norte-americano Samuel F. B. Morse (1791 – 1872), escrita em Paris em 9 de março de 1839, para o editor do New York Observer, que a publicou em 20 de abril de 1839.

Acessando o link para as fotografias de dom Pedro II disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

O interesse de dom Pedro II pela fotografia teve quase a mesma idade do próprio daguerreótipo: menos de um ano após o anúncio oficial da invenção, feito por François Arago, em 19 de agosto de 1839, na França, ele, aos 14 anos, adquiriu o equipamento, em março de 1840, mesmo ano em que o abade francês Louis Comte (1798 – 1868) apresentou-lhe o invento, no Rio de Janeiro (Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, na primeira coluna; e de 20 de janeiro de 1840, na terceira coluna).

Por sediar o Império, o Rio de Janeiro foi a capital da fotografia no Brasil. O imperador foi retratado por diversos fotógrafos, dentre eles Marc Ferrez (1843-1923) e Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), tendo conhecido praticamente o trabalho de todos eles. A fotografia passou a ser o instrumento de divulgação da imagem de dom Pedro II, “moderna como queria que fosse o reino”, segundo comenta Lilia Moritz Schwarcz no livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, e tornou-se também mais um símbolo de civilização e status.

Foi um dos primeiros monarcas a oferecer seu real patrocínio a um fotógrafo, quando, em 1851, permitiu que Buvelot & Prat, que haviam realizado uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos – usassem as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento fotográfico.

Dom Pedro II governou o Brasil de 23 de julho de 1840 a 15 de novembro de 1889 e, segundo José Murilo de Carvalho, o fez “com os valores de um republicano, com a minúcia de um burocrata e com a paixão de um patriota. Foi respeitado por quase todos, não foi amado por quase ninguém”. Em seus quase 50 anos de governo – só superados pelas rainhas Vitória (1819 – 1901) e Elizabeth II (1926 -), ambas da Inglaterra – o tráfico de escravizados e a escravidão foram abolidos, a unidade do Brasil foi consolidada, as principais capitais brasileiras se modernizaram, a ciência e a cultura se desenvolveram. Sinais, sobretudo estes últimos, de um reinado que, não obstante o conservadorismo escravista dominante, perseguiu sempre uma pauta liberal, humanista e civilizatória.

Em seu diário de 1862, Pedro II declarou: “Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, a ocupar posição política, preferia a de presidente da República ou ministro a imperador”. De fato, no século XIX, muito do que se fez no Brasil nos campos das letras e das ciências deveu-se a ele, um dos monarcas mais eruditos de sua época.

Lista dos Fotógrafos Imperiais, na ordem cronológica em que foram agraciados com este título, segundo Guilherme Auler (1914-1965), sob o pseudônimo de Ricardo Martim, em dois artigos publicados na Tribuna de Petrópolis, em 1º e 8 de abril de 1956, segundo o livro O Brasil na fotografia oitocentista, de Pedro Vasquez:

Buvelot & Prat, título concedido em 8 de março de 1851 (província do Rio de Janeiro)

Joaquim Insley Pacheco, título concedido em 22 de dezembro de 1855 (província do Rio de Janeiro)

João Ferreira Villela, título concedido em 18 de setembro de 1860 (província de Pernambuco)

Revert Henrique Klumb, título concedido em 24 de agosto de 1861 (província do Rio de Janeiro)

Stahl & Wahnschaffe, título concedido em 21 de abril de 1862 (província do Rio de Janeiro)

Diogo Luiz Cipriano, título concedido em 20 de setembro de 1864 (província do Rio de Janeiro)

Antonio da Silva Lopes Cardoso, título concedido em 30 de novembro de 1864 (província da Bahia)

Thomas King, título concedido em 18 de maio de 1866 (província do Rio Grande do Sul)

José Ferreira Guimarães, título concedido em 13 de setembro de 1866 (província do Rio de Janeiro)

José Tomás Sabino, título concedido em 13 de agosto de 1873 (província do Pará)

Henschel & Benque, título concedido em 7 de dezembro de 1874 (província do Rio de Janeiro)

Antonio Henrique da Silva Heitor, título concedido em 2 de março de 1885 (província do Rio de Janeiro)

Fernando Skarke, título concedido em 14 de dezembro de 1886 (província de São Paulo)**

Juan Gutierrez de Padilla, título concedido em 3 de agosto de 1889 (província do Rio de Janeiro)

Ignácio Mendo, título concedido em 6 de agosto de 1889 (província da Bahia)

Apesar de não estarem na lista de Auler, os fotógrafos Mangeon & Van Nyvel, radicados no Rio de Janeiro e Luiz Terragno (c.1831 – 1891), do Rio Grande do Sul, também anunciavam esse título e as armas imperiais no verso de suas fotografias. Já Marc Ferrez foi o único com a distinção de Fotógrafo da Marinha Imperial. Seis fotógrafos estrangeiros também foram agraciados com o título de fotógrafos imperiais: o francês Alphonse Liebert, o português Joaquim Coelho da Rocha, o austríaco Guilherme Perimutter, os tchecos Franz Piedrich e Charles Molock; e o italiano Francesco Pesce.

Pedro Hees e Pedro Satyro da Silveira foram incluídos nessa lista desse artigo, em março de 2019. A inclusão foi baseada no trabalho Photographos da Casa Imperial: A Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, de Danielle Ribeiro de Castro.

 

 

Cronologia de dom Pedro II 

Alphonse Léon Nöel; Victor Frond. Dom Pedro II, 1861. Paris, França / Acervo FBN

 

1825 – Em 2 de dezembro, nascimento de Pedro II, às 2h30 da manhã, no Paço de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, filho mais novo do imperador dom Pedro I do Brasil (1798 – 1834) e da imperatriz dona Maria Leopoldina de Áustria (1797 – 1826) (Diário do Rio de Janeiro, de 5 de dezembro de 1825).

Foi batizado, em 9 de dezembro, e seu nome completo era Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon (Império do Brasil: Diário Fluminense, de 10 de dezembro de 1825).

1826 – Em agosto, foi oficialmente reconhecido como herdeiro do trono brasileiro com o título de príncipe imperial .

Sua mãe, a imperatriz Leopoldina, faleceu em 11 de dezembro de 1826, poucos dias após dar a luz a um menino natimorto (Diário do Rio de Janeiro, de 15 de dezembro de 1826).

1829 – O imperador Pedro I casou-se com a duquesa Amélia de Leuchtenberg (1812 – 1873), com quem, apesar de ter convivido pouco, o príncipe Pedro estabeleceu um relacionamento afetuoso (Imperio do Brasil: Diário Fluminense, de 8 de outubro de 1829, sob o título “Baviera”).

1831 – Em 7 de abril, o imperador Pedro I abdicou (Aurora Fluminense, de 11 de abril de 1831). O príncipe imperial Pedro tornou-se “Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil“, sendo aclamado por uma multidão. Dom Pedro I deixou seu filho aos cuidados do tutor José Bonifácio de Andrada (1763 – 1838), de dona Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (? – 1855), tornada condessa de Belmonte, em 5 de maio de 1844, aia de Pedro II desde seu nascimento, a quem ele chamava de Dadama; e de Rafael, que era um empregado do paço em quem Pedro I possuía grande confiança.

No mesmo dia da abdicação, foi eleita, no Senado, a Regência Provisória, formada pelos senadores Nicolau do Campos Vergueiro (1788 – 1859), por José Joaquim de Campos (1768 – 1836), o Marquês de Caravelas, e pelo senador Francisco de Lima e Silva (1785 – 1853), pai de Luís Alves de Lima e Silva (1803 – 1880), o Duque de Caxias.

Dom Pedro I partiu para a Europa com Dona Amélia, em 13 de abril (Diário do Rio de Janeiro, de 14 de abril de 1831). Links para as cartas de despedida de dona Amélia, disponível no Correio IMS, e de Pedro I, ambas para dom Pedro II.

Em 17 de  junho, a Regência Trina Permanente foi eleita pela Assembleia Geral. Era composta pelo deputado da Bahia, José da Costa Carvalho (1796 – 1860), o Marquês de Monte Alegre; do Maranhão, João Bráulio Moniz (1796 – 1835), e pelo senador Francisco de Lima e Silva (1785 – 1853), do Rio de Janeiro (Aurora Fluminense, de 20 de junho de 1831, na primeira coluna, sob o título “Rio de Janeiro”).

1833 - Em 15 de dezembro, José Bonifácio foi substituído pelo marquês de Itanhaém, Manuel Inácio de Andrada Souto Pinto Coelho (1782 – 1867), que passou a ser, por decreto, tutor de dom Pedro II (Jornal do Commercio, 17 de dezembro de 1833, na segunda coluna, sob o título “Rio de Janeiro”).

1834 - Em 12 de agosto foi aprovado o Ato Adicional, que estipulou o fim da Regência Trina e alterou a Constituição de 1824, autorizando cada uma das províncias a criar uma Assembleia Legislativa. A situação política do país se acalmou.

Em 24 de setembro, morreu, em Portugal, dom Pedro I (Diário do Rio de Janeiro, 4 de dezembro de 1834).

1835 - Em 7 de janeiro, teve início a Cabanagem no Pará.

Em abril, realizaram-se as eleições para a primeira Regência Una. Venceu o padre Diogo Antônio Feijó (1784 – 1843), um dos líderes progressistas e antigo ministro da Regência Trina Permanente.

Em 20 de setembro, iniciou-se a revolta Farroupilha, no Rio Grande do Sul.

Diogo Antônio Feijó (1784 – 1843) assumiu a Regência Una em outubro (Aurora Fluminense, de 12 de outubro de 1835).

1837 - Para tentar acabar com o avanço da Cabanagem e da Farroupilha, movimentos revoltosos contra o governo, Feijó pediu a aprovação, pela Câmara dos Deputados, do aumento dos efetivos militares do governo. Seu pedido foi negado e ele renunciou. O presidente da Câmara dos Deputados e líder da facção regressista, o marquês de Olinda, Pedro Araújo Lima (1793 – 1870), assumiu provisioriamente a regência (Jornal do Commercio, de 25 de setembro de 1837, na primeira coluna).

Em novembro, teve início a Sabinada, na Bahia.

Em 2 de dezembro, por decreto, foi fundado o Colégio Pedro II.

1838 – O senador Pedro Araújo Lima (1793 – 1870) foi eleito o novo regente, cujo mandato se prolongaria até 1842.

Foi criado, em 21 de outubro, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (Jornal do Commercio, de 18 de outubro de 1838, na primeira coluna).

Em 13 de dezembro, teve início a Balaiada no Maranhão.

1839 – O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro recebeu o patronato do imperador dom Pedro II , que além de seu protetor, tornou-se um ativo membro, tendo presidido centenas de sessões.

1840 – O abade francês Louis Comte (1798 – 1868), capelão da corveta L´Oriental-Hydrographe, fez na hospedaria Pharoux, a primeira apresentação do daguerreótipo no Brasil e na América Latina, realizando um ensaio fotográfico (Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, na primeira coluna). Dias depois, apresentou o invento a dom Pedro II (Jornal do Commercio, de 20 de janeiro de 1840, na terceira coluna). Em março do mesmo ano, com menos de 15 anos, dom Pedro II adquiriu o equipamento, através do negociante Felício Luzaghy.

O Brasil encontrava-se em uma situação delicada com as revoltas e dom Pedro II só poderia ser declarado maior com 18 anos de idade. Além disso, a Regência sempre motivaria conflitos políticos. Em abril, o senador do Partido Liberal, José Martiniano de Alencar (1794 – 1860), pai do romancista José de Alencar, propôs a criação da Sociedade Promotora da Maioridade, que passou a se chamar Clube da Maioridade. Seu presidente, Antônio Carlos de Andrada (1773 – 1845), levou a campanha para as ruas, conseguindo a adesão do povo.

Em 23 de julho, dom Pedro II foi emancipado pela Assembleia Geral Legislativa do Brasil (Diário do Rio de Janeiro, de 27 de julho de 1840, sob o título “Rio de Janeiro”).

1841 – Em 18 de julho, realização da sagração e da coroação de dom Pedro II, imperador do Brasil (Diário do Rio de Janeiro, de 19 de julho de 1941Jornal do Commercio, de 18 e 19 de julho de 1941, na segunda coluna e de 20 de julho, com ilustração de dom Pedro II coroado e da varanda da coroação). A cidade do Rio de Janeiro foi embelezada para a cerimônia e as festas se estenderam até o dia 24 de julho, quando foi realizado um grande baile de gala no Paço da cidade.

Terminou a revolta da Balaiada.

1842 / 1843 – Entre dezembro de 1842 e princípio de 1843, d.Pedro II foi apresentado ao fotógrafo norte-americano Augustus Morand, que ficou no Rio de Janeiro até abril de 1843, tendo produzido daguerreótipos do monarca, da família imperial e vistas dos arredores do Palácio Real de São Cristóvão.

1843 – Em 30 de maio, dom Pedro II e dona Teresa Cristina (1822 – 1889), princesa das Duas Sicílias, casaram-se por procuração, em Nápoles. Como eles eram primos, tiveram que obter licença de Roma. Em 3 de setembro, ela chegou ao Rio de Janeiro. Eles se encontraram pela primeira vez, a bordo da fragata Constituição (Jornal do Commercio, de 4 de setembro, na última colunae de 5 de setembro de 1843, na primeira coluna, ambas sob o título “Jornal do Commercio”)Dom Pedro II ficou muito decepcionado com a aparência de sua esposa .

1845 – Em 23 de fevereiro, nasceu o primeiro filho do casal, dom Afonso (Diário de Rio de Janeiro, de 24 de fevereiro de 1845, sob o título “O Diário”).

Em 1º de março, fim da Farroupilha.

Em 6 de agosto, dom Pedro II viajou para o sul do Brasil e visitou as províncias de Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo.

1846 – Nasceu a primeira filha do casal real, a princesa Isabel, em 29 de julho (Diário do Rio de Janeiro, edição de 30 de julho de 1846, sob o título “Parte official”).

1847 – Morreu dom Afonso, em 11 de junho (Diário do Rio de Janeiro, de 12 de junho de 1847) e nasceu a princesa Leopoldina, segunda filha do casal, em 13 de julho (Diário do Rio de Janeiro, de 14 de julho de 1847, sob o título “O Diário”). Dom Pedro II percorreu a província do Rio de Janeiro.

1848 – Nasceu dom Pedro Afonso, segundo filho do casal, em 19 de julho (Diário do Rio de Janeiro, de 20 de julho de 1848).

Teve início a Revolução Praieira, em Pernambuco. De caráter liberal e federalista, ganhou o nome de Praieira, pois a sede do jornal Diário Novo, comandado pelos revoltosos, ficava na rua da Praia.

1849 – O primo de d. Pedro II, Henrique Guilherme Adalberto da Prússia (1811-1873), em seu diário sobre a visita que havia feito ao Brasil, comentou que d. Pedro II fazia experimentos com o daguerreótipo.

1850 – Morreu dom Pedro Afonso, em 10 de janeiro (Diário do Rio de Janeiro, de 11 de janeiro de 1850). O túmulo dos únicos filhos homens de Dom Pedro II e Dona Teresa Cristina, os Príncipes Imperiais Afonso Pedro de Bragança (1845 – 1847) e Pedro Afonso de Bragança (1848 – 1850) estão no Mausoleu do Convento de Santo Antônio, no Rio de Janeiro.

Foram promulgados o Código Comercial, baseado nos Códigos de Comércio de Portugal, França e Espanha; e a Lei de Terras,  que foi regulamentada em 1854. Esta lei estabelecia a compra como a única forma de acesso à terra e abolia, em definitivo, o regime de sesmarias.

Fim da Revolução Praieira (O Brasil, de 16 de abril de 1850, sob o título “Notícias Provinciaes”, na primeira coluna).

Em 4 de setembro, a Lei Eusébio de Queiroz pôs fim ao tráfico negreiro (Diário do Rio de Janeiro, de 5 de setembro de 1850).

O governo brasileiro rompeu relações com a Confederação Argentina, governada por Juan Manuel de Rosas (1793 – 1877).

1851 – Brasil, Uruguai e as províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes firmaram, em Montevidéu, uma aliança ofensiva e defensiva contra Rosas, que declarou guerra ao Império brasileiro.

Tornou-se um dos primeiros monarcas a oferecer seu real patrocínio a um fotógrafo, juntamente com a rainha Victoria da Inglaterra (1819 – 1901), quando, em 8 de março de 1851, permitiu que Buvelot & Prat, que haviam realizado uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos – usassem as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento fotográfico.

1852 – Em fevereiro, Rosas foi derrotado pelo general Justo José de Urquiza (1801-1870) com o apoio do Brasil, na Batalha de Monte Caseros (Correio da Tarde, de 24 de fevereiro de 1952).

Início da telegrafia elétrica no Brasil. Telegramas foram trocados entre o imperador, que se encontrava na Quinta de São Cristóvão, e o ministro da Justiça, Eusébio de Queiroz (1812 – 1868), e o professor Guilherme Schüch de Capanema (1824 – 1908), que estavam no Quartel General, no Campo da Aclamação, atual Campo de Santana.

1854 – No Rio de Janeiro, instalação da iluminação à gás (Jornal do Commercio, de 25 de março de 1854, na penúltima coluna).

Inauguração da estrada de ferro que ligava a Corte à Petrópolis (Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1854, na última coluna).

1855 - Em 17 de outubro, morte de Mariana Carlota de Verna Magalhães Coutinho (1779 – 1855), a Dadama, aia e governanta de dom Pedro II, vitimada pela cólera-morbo (Diário do Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1855, na segunda coluna).

1856 – Dom Pedro II conheceu a tutora de suas filhas, a condessa de Barral, Luisa Margarida Portugal de Barros (1816 – 1891), por quem se apaixonou e se correspondeu intensamente ao longo de 26 anos de relacionamento. Cartas trocadas entre os dois estão disponíveis no Correio IMS: em 12 de junho de 1876, em 15 de março de 1877, em 29 de março de 1877 e em 7 de junho de 1880.

1857 – Foi criada a Imperial Academia de Música e a Ópera Nacional (Jornal do Commercio, de 7 de junho de 1857, sob o título “Publicações a pedido”).

1859 – Publicação de um esboço biográfico de dom Pedro II, de autoria, segundo a historiadora Cristiane Garcia Teixeira, doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, de Machado de Assis (1839 – 1908) (O Espelho, 6 de novembro de 1859Uol, 17 de setembro de 2020).

Dom Pedro II viajou para as províncias do Espírito Santo, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Paraíba. Quando visitou Recife, em outubro, o fotógrafo João Ferreira Villela (18? -?) ofereceu a ele seis molduras douradas com imagens obtidas sobre chapas metálicas: do Pavilhão construído a mando da Câmara Municipal para a recepção do imperador, do porto de desembarque do imperador com quiosque, dois barracões, chafariz e cais do Colégio; da continuação da citada vista com o mastro norte do pavilhão da Câmara e mosqueiro com todas as embarcações ali fundeadas; de uma marinha, do Templo dos Ingleses, na rua da Aurora; e do fim da rua da Cruz com o princípio do arsenal de Marinha. S. Majestade, com a bondade que todos conhecem, dignou-se receber o mimo, declarar que conhecia todas as vistas e achava bom o trabalho. Encomendou a Villela vistas de locais no interior de Pernambuco que havia conhecido. Ficou combinado que seriam remetidas para o Rio de Janeiro. É mais uma prova do quanto nosso adorado monarca aprecia e anima as artes assim como do valor e importância que dá ao que é nosso (Diário de Pernambuco, 26 de dezembro de 1859, quarta coluna).

1861 - Início da Questão Christie, incidente diplomático envolvendo o Brasil Império e a Inglaterra.

1863 - Brasil e Inglaterra romperam relações diplomáticas.

1864 – Em 15 de outubro, casamento da princesa Isabel com o conde d´Eu (Diário do Rio de Janeiro, edição de 16 de outubro de 1864) e, em 15 de dezembro, casamento da princesa Leopoldina com o duque de Saxe (Diário do Rio de Janeiro, de 16 de dezembro de 1864). O conde d´Eu e o duque se Saxe eram primos.

O Paraguai declarou guerra ao Brasil, em dezembro.

1865 – Em 1º de maio, foi assinado o Tratado da Tríplice Aliança – Argentina, Brasil e Uruguai – contra o Paraguai.

Em 10 de julho, dom Pedro II partiu para o Rio Grande do Sul, devido à Guerra do Paraguai (Correio Mercantil, 20 de julho de 1865, primeira coluna). Foi publicado o poema O Embarque de Sua Majestade Imperial para o Rio Grande do Sul, de Sanches de Frias (1845 – 1922) (Correio Mercantil, 19 de julho de 1865, quinta coluna).

No Rio Grande do Sul, foi fotografado pelo italiano Luiz Terragno (c. 1831 – 1891).

Em 23 de setembro, as relações diplomáticas entre o Brasil e a Inglaterra foram reatadas (Jornal do Commercio, de 5 de outubro de 1865, na sétima coluna, sob o título “27 de setembro”).

1870 - Solano López morreu e a Guerra do Paraguai terminou (O Paiz, suplemento de 14 de abril de 1870).

1871  – Em 7 de fevereiro de 1871, a filha de dom Pedro II, a princesa Leopoldina de Saxe-Coburgo faleceu, em Viena (Diário de Notícias, de 7 de março de 1871).

Em 28 de de setembro de 1871, foi promulgada a Lei do Ventre Livre (Diário do Rio de Janeiro, edição de 30 de setembro de 1871).

1871 / 1872 – Em 25 de maio de 1871, dom Pedro II viajou pela primeira vez para a Europa e para o Oriente Médio. A princesa Isabel tornou-se, pela primeira vez, regente provisória. Em Lisboa, seu primeiro destino, dom Pedro visitou dona Amélia (1812 – 1873), viúva de dom Pedro I (1798 – 1834), no palácio das Janelas Verdes. Conheceu diversos intelectuais portugueses, entre eles, Alexandre Herculano (1810 – 1877). Depois foi à Espanha, à França, onde encontrou a condessa de Barral (1816 – 1891) e o filósofo Arthur de Gobineau (1816 -1882); à Inglaterra, à Bélgica, à Alemanha, onde conheceu o compositor Richard Wagner (1813 – 1883); à Áustria, à Itália, ao Egito, à Creta e à Suíça. Em 31 de março de 1872, retornou ao Rio de Janeiro (Diário do Rio de Janeiro, 1º de abril de 1872), trazendo o duque de Saxe, viúvo de de sua filha Leopoldina, e seus dois netos, Pedro Augusto (1866 – 1934) e Augusto Leopoldo (1867 – 1922), que seriam educados no Brasil.

1874 – Em 22 de junho, foi efetivada a ligação do Brasil a Portugal por telégrafo.

Teve início a revolta do Quebra-Quilos, quando várias cidades do nordeste se rebelaram contra o decreto que impunha a implantação de um novo sistema métrico. No ano seguinte, com a forte repressão promovida pelo governo imperial, a região foi pacificada.

1876 – Em março, dom Pedro II viajou para os Estados Unidos e para a Europa. Embarcou no Rio de Janeiro, no navio americano Hevelius, sob o comando do capitão Markwell (Diário do Rio de Janeiro, 26 de março de 1876, na terceira coluna). Acompanhando a comitiva real, estava o repórter J. O´Kelly, do jornal New York Herald. Chegou em Nova York, em 15 de abril (Diário do Rio de Janeiro, 20 de bril de 1876, segunda coluna). Visitou outras cidades como Boston, Chicago, Pittsburg e Washington. Em Boston, esteve com o missionário e pastor James Cooley Fletcher (1823-1901), foi com Daniel Parrish Kidder autor da obra “O Brasil e os brasileiros” (1857 ). Atuou no Brasil nas décadas de 1850 e 1860. Foi fotografado por Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) (O Novo Mundo, periódico illustrado do Progresso da Edade (Nova Iorque, EUA), janeiro de 1879). O imperador inaugurou a Exposição da Filadélfia, que abriu ao lado do presidente Ulysses S. Grant (1822 – 1885), em 10 de maio, em meio a uma multidão de cerca de 200 mil pessoas. A cerimônia de abertura terminou no pavilhão de máquinas e equipamentos com Grant e Dom Pedro II acionando o motor a vapor Corliss Steam Engine (Diário do Rio de Janeiro, 12 de maio de 1876, primeira coluna).  Na exposição, esteve com os cientistas Thomas Edison (1847 – 1931) e Grahan Bell (1847 – 1922), que apresentou ao imperador sua invenção – o telefone. Foi também à Niagara Falls. Em 12 julho, partiu para a Europa no vapor Russia, da Cunard Line: foi a Londres e Bruxelas, onde encontrou o famoso médico francês Jean-Marie Charcot (1825 – 1893). Deixou a imperatriz Teresa Cristina em Gastein, na Áustria, para tratamento de saúde e partiu para a Grécia. No Oriente, a imperatriz e a condessa de Barral o encontraram. Foi à Roma, Viena e Paris, onde conheceu os intelectuais Jean Louis Quatrefages (1810 – 1892), Ernest Renan (1823 – 1892), Louis Pasteur (1822 – 1895) e Victor Hugo (1802 – 1885). Retornou em setembro.

1877 – Por ordem de dom Pedro II, foram instaladas linhas telefônicas entre as residências dos ministros e o palácio da Quinta da Boa Vista.

New York Herald relembrou a visita de Pedro II aos Estados Unidos, e apresentou a seguinte proposta: “Para nossa chapa Centenária, indicamos Dom Pedro II e Charles Francis Adams, para presidente e vice-presidente. Estamos cansados de gente comum, e sentimo-nos dispostos a apoiar gente de estilo”. O advogado, político, diplomata e escritor americano Charles Frances Adams ( 1807 – 1886) era neto do presidente John Adams e filho do presidente John Quincy Adams. Dom Pedro II recebeu, na Filadélfia, mais de 4.000 votos espontâneos.

1878 – Dom Pedro II viajou para a província de São Paulo.

1879 – Inauguração da iluminação elétrica na Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II.

Em 28 de dezembro de 1879, início no Rio de Janeiro da Revolta do Vintém, contra a cobrança de um tributo instituído pelo ministro da fazenda, o visconde de Ouro Preto, Afonso Celso de Assis Figueiredo (1836 – 1912), de vinte réis, ou seja, um vintém, nas passagens dos bondes. O ministério, desmoralizado, caiu no ano seguinte e o imposto foi revogado.

1880 – Criação da Telephone Company of Brazil, primeira companhia telefônica nacional.

Dom Pedro II viajou ao Paraná, onde participou do lançamento da pedra fundamental da estrada de ferro Paranaguá – Curitiba, a ferrovia do Paraná (Dezenove de Dezembro, 9 de junho de 1880).

1881 – Em 9 de janeiro, aprovação da Lei Saraiva, que estabeleceu o voto direto e proibiu o voto dos analfabetos.

Dom Pedro II viajou para Minas Gerais.

1882 –  Caso do “Roubo das jóias da Coroa”: na madrugada de 17 para 18 de março de 1882, um ladrão invadiu o Palácio de São Cristóvão, residência da família imperial, e roubou  todas as jóias da imperatriz Teresa Cristina e da princesa Isabel. O tesouro foi avaliado em 400 contos de réis – verdadeira fortuna na época (Gazeta de Notícias, de 19 de março de 1882, na primeira coluna). As jóias foram encontradas dias depois na casa de um ex-empregado do palácio, Manuel de Paiva (Gazeta de Notícias, de 22 de março de 1882, na segunda coluna).

1883 – A cidade de Campos (RJ) tornou-se o primeiro município da América do Sul a receber iluminação elétrica pública.

Início da Questão Militar, uma série de conflitos entre autoridades da monarquia e os oficiais do Exército brasileiro, que fortaleceu a campanha republicana.

1885 – Promulgação da Lei dos Sexagenários, em 28 de setembro.

1886 – Dom Pedro II, dona Teresa Cristina e a comitiva imperial viajaram para a província de São Paulo entre outubro e novembro (Correio Paulistano19 de outubro e  20 de novembro de 1886).

1887 / 1888 – Em 30 de junho de 1887, dom Pedro II viajou pela terceira vez para a Europa. Seu primeiro destino foi Portugal. De lá, seguiu para Paris. Aconselhado por médicos, seguiu para Baden-Baden, e retornou a Paris, onde visitou intelectuais, entre eles, Louis Pasteur. Fez um cruzeiro pela Riviera italiana e foi para a estação de cura de Aix-les-Bains, na França. Também visitou, atendendo a um desejo de sua esposa, dona Teresa Cristina Maria, as ruínas de Pompeia (Gazeta de Notícias, 17 de junho de 1888, quarta coluna). Em 22 de agosto de 1888, retornou ao Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, 23 de agosto de 1888, primeira coluna).

1888 – Foi abolida a escravidão no Brasil, em 13 de maio de 1888 (O Paiz, de 14 de maio de 1888).

1889 – O imperador Pedro II sofreu um atentado (O Paiz, 16 de julho de 1889, sexta coluna).

Em 9 de novembro, foi realizado o baile da Ilha Fiscal (Gazeta de Notícias, de 11 de novembro de 1889), que passou à história como o último baile da monarquia no Brasil. Reza a lenda que dom Pedro II, durante a festividade, teria tropeçado em um tapete e teria comentado: “O monarca tropeçou, mas a monarquia não caiu“. Ironia do destino?

Em 15 de novembro, foi proclamada a República (Gazeta de Notícias, 16 de novembro de 1889). Quando foi deposto, dom Pedro II tinha governado por 49 anos, três meses e 22 dias. Só foi superado pela rainhas Vitória (1819-1901) e Elizabeth II (1926-), ambas da Inglaterra.

Em 17 de novembro, a família real partiu para o exílio, na Europa, a bordo do Alagoas (Gazeta de Notícias, edição de 18 de novembro de 1889, sob o título “O Embarque do Imperador”, na segunda coluna).

Chegaram em Lisboa em 7 de dezembro. Visitaram Coimbra e o Porto, onde a imperatriz Teresa Cristina faleceu, em 28 de dezembro.

1890 / 1891 – Pedro II passou esses anos entre Cannes, Vichy, Versalhes e Baden-Baden.

1891 – Em 14 de janeiro, faleceu a Condessa de Barral, em Paris (Diário de Notícias, 16 de janeiro de 1891).

Em 24 de outubro, dom Pedro II chegou em Paris, onde se hospedou no Hotel Bedford, número 17 da rua de l’Arcade.

Em 5 de dezembro, faleceu, de pneumonia (O Paiz, de 6 de dezembro de 1891, e Gazeta de Notícias, de 6 de dezembro de 1891).

 

Registro de morte de dom Pedro II

Registro de morte de dom Pedro II

Tradução do registro de morte do imperador:

Nós, abaixo assinados, Professores da Faculdade de Medicina e doutores em medicina, certificamos que Dom Pedro II d’Alcantara morreu em 5 de Dezembro de 1891 à meia noite e 35 (da manhã) no hotel Bedford, 17 rue de l’Arcade, em Paris, em conseqüência de uma pneumonia aguda do pulmão esquerdo.

Paris, 5 de dezembro de 1891

J.M Charcot
C. de Motta Maia Bouchard

Link para o registro da morte de Pedro II.

 

 

 

 

Quando seu corpo estava sendo preparado para o velório, foi encontrado um pacote lacrado nos aposentos do imperador com a mensagem: “É terra de meu país. Desejo que seja posta no meu caixão, se eu morrer fora de minha pátria”. Em seu leito de morte, um livro, simbolizando que sua mente descanava sobre o conhecimento, foi colocado sob sua cabeça.

 

 

Ao final da tarde do dia 5, centenas de coroas de flores, uma delas enviada pela rainha Vitória , e mais de cinco mil telegramas já haviam chegado ao Hotel Bedford. O caixão foi coberto pela bandeira imperial e o presidente francês, Sadi Carnot (1837 – 1894), determinou honras militares, fatos que irritaram o governo brasileiro.

Segundo o historiador José Murilo de Carvalho, a morte do imperador teve grande repercussão no Brasil “apesar dos esforços do governo para a abafar. Houve manifestações de pesar em todo o país: comércio fechado, bandeiras a meio pau, toques de finados, tarjas pretas nas roupas, ofícios religiosos“.

Ao final da tarde do dia 5, centenas de coroas de flores, uma delas enviada pela rainha Vitória , e mais de cinco mil telegramas já haviam chegado ao Hotel Bedford. O caixão foi coberto pela bandeira imperial e o presidente francês, Sadi Carnot (1837 – 1894), determinou honras militares, fatos que irritaram o governo brasileiro. Na noite do dia 8, seu corpo, já embalsamado, foi levado, em cortejo oficial no mesmo carro usado nos funerais do ex-presidente Adolphe Thiers (1797 – 1877), para a igreja da Madeleine. No dia seguinte,  houve exéquias solenes com a presença de autoridades francesas e de outros países, além de personalidades como sua filha, a princesa Isabel; o escritor português Eça de Queirós (1845 – 1900) e o diplomata Joaquim Nabuco (1849 – 1910), na época correspondente do Jornal do Brasil na França, que escreveu:

Mais do que isso, infinitamente, D. Pedro II preferia ser enterrado entre nós, e por certo que o tocante simbolismo de fazerem o seu corpo descansar no ataúde sobre uma camada de terra do Brasil interpreta o seu mais ardente desejo. Ao brilhante cortejo de Paris ele teria preferido o modesto acompanhamento dos mais obscuros de seus patrícios, e daria bem a presença de um dos primeiros exércitos do mundo em troca de alguns soldados e marinheiros que lhe recordassem as gloriosas campanhas nas quais seu coração se enchera de todas as emoções nacionais. Mas foi a sua sorte morrer longe da Pátria. É uma consolação, para todos os brasileiros que veneram o seu nome, ver que ele, na sua posição de banido, recebeu da gloriosa nação francesa as supremas honras que ela pode tributar. No dia de hoje o coração brasileiro pulsa no peito da França.”

Jornal do Brasil, 9 de dezembro de 1891, terceira coluna

Da igreja partiu um imenso cortejo – calcula-se que cerca de 200 mil pessoas o acompanhou – e, ao som da Marcha Fúnebre de Frédéric Chopin (1810 – 1849), o corpo foi levado para a estação de Austerlitz, seguindo de trem para Portugal. No dia 12, foram realizados os funerais em São Vicente de Fora, nos arredores de Lisboa. O corpo de dom Pedro II foi colocado no jazigo da família Bragança, entre o de sua esposa, Teresa Cristina (1822 – 1889), e de sua madrasta, dona Amélia de Leuchtenberg (1812 – 1873).

 

Le Petit Journal, 26 de dezembro de 1891

Os funerais do imperador do Brasil / Le Petit Journal, 26 de dezembro de 1891

 

No New York Times, de 5 de dezembro, vários elogios foram feitos a dom Pedro II: havia sido o mais ilustrado monarca do século e havia tornado o Brasil tão livre quanto uma monarquia pode ser. A imprensa brasileira também manifestou-se, em sua maioria, elogiosamente a ele. A exceção foi o Diário de Notícias, e alguns clubes republicanos que protestaram contra as homenagens, vendo nelas, segundo o historiador José Murilo de Carvalho, “manobras monarquistas. Foram vozes isoladas“.

Mesmo os republicanos como Quintino Bocaiuva (1836 – 1912) e José Veríssimo (1857 – 1916), seus adversários políticos, salientaram suas qualidades, dentre elas a simplicidade, o patriotismo, o espírito de justiça e liberdade.

Sobre Pedro II, Quintino Bocaiuva declarou: “A república, que na hora do seu trinfo foi magnânima; hoje, no momento em que desaparece dentre os vivos o Sr. D. Pedro de Alcântara, só pode ter e só deve ter para com a sua memórioa o respeito devido a um brasileiro ilstre que, ao menos pelo seu carater e virtudes pessoais, não desonrou o Brasil e desempenhou, como pode, ou como soube, com boa intenção e ânimo reto, as altas funções de que foi investido como chefe supremo da nação brasileira ” (O Paiz, 6 de dezembro de 1891, penúltima coluna).

Segundo Veríssimo em sua coluna “Às Segundas-feiras”, intitulada Pedro II, durante o governo do monarca: “Todos pensávamos como queríamos e dizíamos o que pensávamos. Eu não sei que maior elogio se possa fazer a um estadista” (Jornal do Brasil, 8 de dezembro de 1891, última coluna).

1920 – O projeto do deputado mineiro Francisco Valadares (18? – 1933) requerendo a revogação do banimento da família imperial do Brasil, que havia sido apresentado em dezembro de 1919 e arquivado, recebeu em 1920 um parecer favorável da Comissão de Constituição e Justiça e foi rapidamente aprovado no Congresso. Em 3 de setembro de 1920, no Palácio do Catete, o presidente Epitácio Pessoa (1865 – 1942) assinou, com uma caneta de ouro adquirida a partir da arrecadação de dinheiro mediante subscrição pública promovida pelo jornal A Rua, o decreto que revogava o banimento da família imperial. A cerimônia foi realizada com a presença de comissões de instituições importantes como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, a Academia Brasileira de Letras e a Associação Brasileira de Imprensa. O decreto também autorizava o Poder Executivo, mediante concordância da família do ex-imperador e do governo de Portugal, a trasladar para o Brasil os despojos mortais de dom Pedro II e de dona Teresa Christina (A Rua, 4 de setembro de 1920, primeira coluna).

1921 - Chegaram no Rio de Janeiro os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina, que estavam no Mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa. Viajaram no encouraçado São Paulo, que havia transportado do Brasil à Europa os reis da Bélgica. O conde d´Eu (1842 – 1922), seu filho, o príncipe Dom Pedro (1875 – 1940), e o barão de Muritiba (1839 – 1922) acompanharam a viagem dos despojos (O Paiz, de 9 de janeiro de 1921; Careta, 15 de janeiro de 1921). A princesa Isabel não chegou a se beneficiar da revogação do banimento da família real do Brasil porque faleceu em 14 de novembro de 1921. Os corpos de dom Pedro II e de dona Teresa Cristina ficaram na Catedral Metropolitana.

 

 

 

1925 – Os  restos mortais dos monarcas foram para a Catedral de Petrópolis.

Foi publicada em O Jornal, primeiro órgão de comunicação dos Diários Associados, uma edição comemorativa pelo centenário de nascimento de d. Pedro II, com um artigo escrito pelo proprietário do grupo, Assis Chateaubriand, intitulado “Professor de elites – A obra mais interessante de Pedro II consistiu na formação das elites no Brasil” (O Jornal, 2 de dezembro de 1925).

1939 – Em 5 de dezembro, foram para o Mausoléu Imperial, uma capela localizada à direita da entrada da Catedral de Petrópolis, numa cerimônia na qual estava presente o presidente da República, Getulio Vargas (1882 – 1954). O túmulo foi esculpido em mármore de Carrara pelo francês Jean Magrou (1869 – 1945) e pelo brasileiro Hildegardo Leão Veloso (1899 – 1966) (Jornal do Brasil, de 6 de dezembro de 1939).

Para a elaboração dessa cronologia, além da pesquisa em inúmeros jornais da Hemeroteca da Biblioteca Nacional, a Brasiliana Fotográfica também se valeu, principalmente, dos livros Pedro II: ser ou não ser, de José Murilo de Carvalho, e As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, de Lilia Moritz Schwarcz.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

*Esse artigo foi atualizado em 17 de setembro de 2020.

**Essa data foi modificada em 27 de outubro de 2020, baseada no documento original enviado para a pesquisadora Andrea Wanderley pelo bisneto do fotógrafo, Luiz Pitombo.

 

Fontes:

BARMAN, Roderick J. Imperador cidadão: e a Construção do Brasil. São Paulo : Editora UNESP, 2012.

BESOUCHET, Lídia. Exílio e morte do Imperador. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975

CARVALHO, José Murilo. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

DIAS, Fabiana Rodrigues. Polifonia e consenso nas páginas da Revista do IHGB: a questão da mão de obra no processo de consolidação na nação, na revista História da Historiografia, de setembro de 2010.

FLETCHER, James Cooley ; KIDDER, Daniel Parrish. O Brasil e os brasileiros. Brasil: Companhia Editora Nacional, 1941.

HARING, Bertita. O Trono do Amazonas – a história dos Braganças no Brasil – José Olympio, RJ, 1944.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KHATLAB, Roberto. As viagens de D. Pedro II: Oriente médio e áfrica do norte, 1871 e 1876. São Paulo : Benvirá, 2015.

PAGANO, Sebastião. Eduardo Prado e Sua Época – O Cetro, SP, 1960.

REZUTTI, Paulo. D. Pedro II – A história não contada: O último imperador do Novo Mundo revelado por cartas e documentos inéditos. Portugal : Editora Leya, 2019.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SEGALLA, Lygia: Victor Frond – Luzes sobre um Brasil pitoresco, 2007.

SILVA, Mauro Costa; MOREIRA, Ildeu de Castro. A introdução da telegrafia elétrica no Brasil (1852-1870), publicado na Revista da SBHC, Rio de Janeiro, v. 5, n. 1, p. 47-62, jan | jul 2007

Site Câmara dos Deputados

Site Ministério das Relações Exteriores

Site Museu Imperial

Site MultiRio

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

WILLIAMS, Mary Wilhelmine. Dom Pedro the Magnanimous – the second emperor of Brazil. Oxon, Inglaterra: Frank Cass & Company Limited, 1966.

Zumbi dos Palmares (Alagoas,1655 – Alagoas, 20 de novembro de 1695)

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Zumbi (1927), pintura de Antonio Parreiras (1860 – 1937) / Acervo do Museu Antonio Parreiras, Niterói

A Brasiliana Fotográfica homenageia Zumbi dos Palmares (1655-1695), considerado um dos símbolos da luta contra a escravidão no Brasil, com a publicação de uma galeria de tipos negros fotografados, em torno de 1869, na Bahia e em Pernambuco, por Alberto Henschel (1827-1882). Esses registros fotográficos integram o acervo do Leibniz-Institut für Laenderkul (1), primeira instituição internacional a se tornar parceira da Brasiliana Fotográfica.

O quadro retratando Zumbi (ao lado) é de Antonio Parreiras (1860-1937). Tanto o fotógrafo Alberto Henschel como o pintor já foram temas da Brasiliana Fotográfica.

O dia da morte de Zumbi, 20 de novembro, é comemorado em todo o Brasil como o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. A data foi criada, em 2003, e instituída oficialmente em âmbito nacional com a lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. É feriado oficial em mais de mil cidades brasileiras.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou, em 21 de dezembro de 2023, o Projeto de Lei nº 3268/2021, que declara o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra feriado em todo o país. O texto do PL foi publicado no Diário Oficial da União do dia seguinte.

Zumbi nasceu, em 1655, em uma das aldeias do Quilombo dos Palmares, uma comunidade formada por escravos fugitivos. O quilombo, o maior do período colonial brasileiro, localizava-se na região da Serra da Barriga, na Capitania de Pernambuco, atual região de União dos Palmares, em Alagoas. Foi capturado, no quilombo, ainda criança, pelos soldados da expedição comandada por Brás da Rocha Cardoso, e entregue ao padre português Antônio Melo, do distrito de Porto Calvo, Alagoas. Foi batizado, aprendeu português e latim, e recebeu o nome de Francisco.

Aos 15 anos, fugiu e voltou para o Quilombo dos Palmares. Posteriormente, tornou-se o líder da comunidade, substituindo seu tio, Ganga Zumba (c. 1630 – 1678). A capital de Palmares foi destruída, em 1694, e Zumbi foi ferido. Traído por um dos seus principais comandantes, Antônio Soares, foi morto em 20 de novembro de 1695, na serra de Dois Irmãos, local de seu esconderijo. Foi esquartejado e sua cabeça foi cortada e exposta na praça do Carmo, em Recife.

Há uma grande bibliografia sobre Zumbi e o Quilombo dos Palmares. Nem sempre os estudos apontam para a mesma direção.

 

Acessando o link para as fotografias de tipos negros fotografados por Alberto Henschel disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

(1) O conjunto de 460 imagens do Brasil produzidas até 1900 pertencentes ao acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde foi, mediante convênio, incorporado ao acervo do Instituto Moreira Salles por meio da digitalização das fotos em alta resolução. A instituição, sediada na cidade de Leipzig,  reúne o mais importante acervo de fotografia brasileira do século XIX  na Alemanha, em especial pelas imagens reunidas na coleção Stübel.

O geólogo alemão Moritz Alphons Stübel (1835 – 1904) viajou, entre 1868 e 1877, pela América do Sul com o também geólogo Wilhelm Reiss (1838 – 1908), que retornou um ano antes para a Alemanha. Stübel formou uma importante coleção de fotografias, composta originalmente por quase duas mil imagens. A “Collection Alphons Stübel”, a maior coleção de fotografias sul-americanas do século XIX, até agora conhecida, da Alemanha – e provavelmente da Europa – está preservada no Leibniz-Institut für Länderkunde.

 

Colaboraram para esta pesquisa a designer Mariana Newlands e a socióloga Roberta Zanatta, da equipe do IMS.

*Este parágrafo foi acrescentado em 22 de dezembro de 2023.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Bibliografia:

CARNEIRO, Edison. O Quilombo dos Palmares, Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 3a ed., 1966

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo Caminho. 3ª ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002

FONSECA JR, Eduardo. Zumbi dos PalmaresA História do Brasil que não foi contada. Rio de Janeiro: Soc. Yorubana Teológica de Cultura Afro-Brasileira, 1988)

FREITAS, Décio. Palmares, a guerra dos escravos. Porto Alegre: Movimento, 1973

GOMES, Flavio dos Santos. De olho em Zumbi dos Palmares: História, símbolos e memória social. São Paulo: Claro Enigma, 2011

MOURA, Clovis. Dicionário da Escravidão Negra no Brasil / Clovis Moura; assessora de pesquisa Soraya Silva Moura – São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2004

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX, São Paulo: Metalivros, 2000

 

Outras fontes:

Artigo de  Frank Stephan Kohl: “Collection Alphons Stübel”: um tesouro escondido

Artigo de Fernando Correia da Silva: Zumbi dos Palmares: libertador dos escravos: 1655-1695.

Entrevista Zumbi, um herói cercado de mistério, na Revista História, de novembro de 2009

Portal Brasil

Site Calendarr

Site da Fundação Joaquim Nabuco

Site do Instituto Moreira Salles

Site do Leibniz-Institut für Laenderkunder

 

 

Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

Em 30 de junho de 1877, o alemão Albert Richard Dietze (1838-1906), considerado um dos maiores fotógrafos paisagistas que atuou no Brasil no século XIX, enviou para a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889) uma série de 53 fotografias copiadas em papel albuminado numeradas, assinadas e datadas. Eram aspectos de Guarapari, de Vitória, da Colônia Santa Leopoldina, de Muquissaba, de Cachoeiro de Itapemirim e de outros locais, além de registros fotográficos de colonos, povoações, fazendas, sítios, casas, estabelecimentos comerciais, igrejas, escola, estação telegráfica e também de seu estúdio fotográfico. No verso dessas fotografias, Dietze solicitava a ajuda da monarca no sentido de publicar o folheto A Colônia de Santa Leopoldina, no Império do Brasil, Província do Espírito Santo, cujo objetivo era divulgar o Brasil no exterior para atrair imigrantes. Porém seu apelo não foi atendido pela imperatriz. Algumas fotografias da autoria de Dietze, intituladas Vues de l´interieur de la province de Espirito Santo, foram apresentadas na Exposição Universal de Paris de 1889 e integraram o Album de Vues du Brésil, editado por iniciativa de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco (1845-1912).

 

 

Dietze é o autor do mais importante conjunto de imagens do Espírito Santo da segunda metade do século XIX. Suas paisagens mostram a terra trabalhada pelos colonos assim como as construções e modificações provenientes de sua ocupação. É também um dos pioneiros da cartografia no país: em 1889, organizou e editou uma série de cartões postais com fotografias de sua autoria. Além de registrar paisagens, fotografou escravos, músicos de bandas de congos e índios botocudos, o que o tornou, segundo a escritora Almerinda da Silva Lopes, ao que tudo indica, o primeiro fotógrafo a captar esse gênero de imagens capixabas.

Antes de Dietze, o fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) havia produzido, em 1860,  registros fotográficos do Espírito Santo, tanto de Vitória como das colônias agrícolas de imigrantes. Acompanhou a viagem do naturalista e explorador suíço Johan Jacob von Tschudi (1818 – 1889), que, em 1860, foi nomeado embaixador da Confederação Helvética no Brasil. Tschudi estudou os problemas dos imigrantes suíços em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. De suas viagens a essas províncias, resultou o livro Viagens na América do Sul, obra publicada, em Leipzig, pela Editora Brockhaus, entre os anos de 1866 e 1869.

 

Acessando o link para as fotografias de Albert Richard Dietze disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Breve Perfil  de Albert Richard Dietze (1838-1906)

 

concertina

Albert Richard Dietze. Alberto Richard Dietze tocando concertina, c. 1879 / Acervo de Dolores Bucher

 

Nascido em Kaja, na Saxônia, em 29 de dezembro de 1838, Dietze chegou ao Brasil, em 1862. Era fotógrafo, músico e já havia cursado Agronomia em seu país. Também já havia, em 1º de outubro de 1858, se alistado para servir no 12º Regimento de soldados do rei, em Magdebourg. Veio para o Brasil, atraído, provavelmente, pelas facilidades concedidas pelo governo imperial brasileiro para imigrantes como, por exemplo, adquirir lotes de terras devolutas nas incipientes colônias de imigração do país. Passou alguns meses em Santa Catarina e depois veio para o Rio de Janeiro, onde durante cerca de quatorze meses trabalhou com o francês Auguste François Marie Glaziou (1833-1906), no Jardim Botânico da cidade. Posteriormente, abriu um estabelecimento denominado Photographia Allemã, e passou a fotografar imigrantes ilustres, aproveitando sua experiência na Alemanha como retratista de membros da elite, inclusive, segundo a pesquisadora e crítica de arte Almerinda da Silva Lopes, do próprio imperador alemão Guilherme I (1797 – 1888).

Passou a viajar pelo interior do Rio de Janeiro e pelo Espírito Santo, onde se estabeleceu, em 1869, inicialmente, em Vitória, possivelmente logo após ter sido nomeado agente consular da Alemanha. Em 1870, sua chegada em Cachoeira do Itapemirim foi noticiada (O Estandarte, de 20 de março de 1870, na terceira coluna. Foi identificado como Ricardo A. Dietz). No O Estandarte, de 3 de abril de 1870, ofereceu seus serviços de fotógrafo, e no O Estandarte, de 27 de abril de 1870, anunciou sua iminente partida e cobrou dívidas de seus clientes. No mesmo ano, leiloou várias fotos de sua autoria para ajudar feridos, irmãos, viúvas e órfãos de alemães que haviam morrido na guerra contra os franceses (O Espirito-santense, de 24 de novembro de 1870, sob o título “Aos Alemmães”).

Entre 1869 e 1878, registrou fotograficamente o início da colonização do Espírito Santo por seus compatriotas. Durante a década de 1870, fixou-se em Santa Leopoldina. Promoveu uma exposição com um “Viantoscopo”, em Vitória (Espirito-santense, de 22 de maio de 1873), e, em 12 de outubro de 1873, casou-se com Frederica Cristina Henrietta Sacht (? – 28/3/1908), com quem teve 9 filhos: Anna, Ricardo, Alberto, Maria, Gustavo, Charlotte, Otto, Pauline e Emma.

Anunciou, alguns anos depois, a abertura de seu estabelecimento fotográfico, na rua General Osório, 22, em Vitória (O Espirito-santense, 7 de março de 1876, sob o título “Photographo”). Posteriormente, diversificou suas atividades e tornou-se também comerciante de secos e molhados, brinquedos e instrumentos musicais importados da Alemanha, além de produtor e exportador de café.

Como um dos líderes de sua comunidade, foi nomeado para integrar a comissão que viria a elaborar o estatuto de uma associação auxiliar entre os colonos de Santa Leopoldina (Correio Paulista, de 17 de janeiro de 1877). Participou ativamente dos acontecimentos da cidade. Em 1º de outubro de 1885, cidadãos protestaram contra a decisão de Dietze em relação a uma mudança no trânsito (A Provincia do Espirito Santo, de 1º de outubro de 1885, primeira coluna sob o título “Santa Leopoldina”). Ele respondeu no mesmo jornal em 13 de outubro de 1885.

Envolveu-se também em assuntos relativos à educação, tendo criado e mantido uma escola para o ensino de português e alemão (O Espirito-santense,de 13 de fevereiro de 1886, na quarta coluna). Convidou um professor alemão para lecionar para os filhos dos colonos (O Espirito-santense, de 23 de janeiro de 1886, sob o título “Professor Allemão” e de 7 de abril do mesmo ano, na primeira coluna). Também foi o fundador e diretor de uma orquestra familiar e participou ativamente da vida social de Santa Leopoldina.

Dietze recebeu um prêmio, o grande diploma do mérito, em Berlim, em 1883 (O Horizonte, de 12 de maio de 1883, na primeira coluna sob o título “Exposição Brazileira em Berlim”). Enviou para a Sociedade de Geografia de Lisboa no Rio de Janeiro fotografias de paisagens e de um grupo de índios botocudos (A Provincia do Espirito Santo, de 15 de dezembro de 1883, sob o título “Offerta”, na quarta coluna). Em 30 de março de 1884, escreveu na primeira página do jornal A Provincia do Espirito Santo, sob o título “À Praça”, defendendo-se de ataques contra sua honestidade e fazendo cobranças. É noticiado que ele estava organizando um álbum fotográfico com vistas do Espírito Santo e foi mencionado o prêmio que ele havia recebido em Berlim (O Espirito-santense, de 7 de outubro de 1888). 

Ao que parece, Dietze nunca deixou de se dedicar à fotografia e à sua comunidade: fotografou e deu uma festa por ocasião da inauguração de uma ponte em Santa Leopoldina(O Estado do Espirito Santo, 24 de julho de 1897, na última coluna)anunciou a venda de fotografias e de cartões postais (O Cachoeirano, de 4 de novembro de 1900, na primeira coluna); e Estado do Espirito Santo, de 6 de junho de 1901, agradeceu a oferta de cartões postais feitas por Dietze ao periódico.

Faleceu, em Santa Leopoldina, em 24 de agosto de 1906, de parada cardíaca.

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Albert Richard Dietze (1838-1906)

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. A coleção do imperador. Fotografia brasileira e estrangeira no século XIX, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1997

DREHER, Martin N. O suíço Johan Jacob von Tschudi (1818-1889) e suas leituras da América do Sul, 1980.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LOPES, Almerinda Silva. Alberto Richard Dietze: um artista-fotógrafo alemão no Brasil do século XIX. Vitória: Gráfica e Editoria A1.

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000.

TRIBUNA DE VITÓRIA. Mestre de fotografia no estado, 15 de março de 2015.

TSCHUDI, Johann Jakob von, 1818-1889. Viagem à província do Espírito Santo: imigração e colonização suíça 1860 / Johan Jacob von Tschudi; posfácio com fotografias inéditas de Victor Frond; [ coordenação editoral e posfácio de Cilmar Franceschetto}. – Vitória : Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2004. 173 p.: il. – (Coleção Canaã; v.5)

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos. A fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839-1889), Fundação Nacional de Arte & Rocco, Rio de Janeiro, 1995

Hotéis do século XIX e do início do século XX no Brasil

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Carlos Bippus. Hotel Central, c. 1920. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

 

A Brasiliana Fotográfica oferece a seus leitores uma seleção de hotéis no Brasil do século XIX e das primeiras décadas do século XX. O fotógrafo Revert Henrique Klumb (c.1826 – c.1886) registrou o Hotel Pharoux e o Hotel Waltz, no centro do Rio de Janeiro, o Etablissement de Mr. Bennett, na Tijuca, além dos hotéis Anglais, Beresford e Bragança, em Petrópolis. Há também três fotografias de autoria de Augusto Malta (1864 – 1957) de hotéis cariocas: do Rio Palácio Hotel, do Hotel Glória e do Copacabana Palace. Ainda no Rio de Janeiro, há uma imagem do Hotel Central, produzida por Carlos Bippus (18? – 19?). Em São Paulo, Guilherme Gaensly (1843 – 1928)  fotografou o Largo São Bento, onde havia o Hotel Rebechino e o Grande Hotel Paulista. Em Nova Friburgo, Henschel & Benque fotografaram o Hotel Leuenroth e, em Blumenau, o Hotel Holetz foi registrado por um fotógrafo até aqui não identificado.

 

Acessando o link para as fotografias de hotéis disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre hotéis

 

O Hotel Glória – antes e depois, publicado em 21 de dezembro de 2017, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Copacabana Palace, símbolo do glamour carioca, publicado em 13 de agosto de 2020, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

O Hotel Pharoux por Revert Henrique Klumb, publicado em 15 de junho de 2022, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXIV – O luxuoso Palace Hotel, na Avenida Rio Branco, uma referência da vanguarda artística no Rio de Janeiro, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicada em 4 de julho de 2023.

O centenário do Copacabana Palace, quintessência do “glamour” carioca, e seu criador, o arquiteto francês Joseph Gire, publicado em 13 de agosto de 2023, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

 

“Complemento indispensável…

 

 

 

 

…a toda biblioteca bem organizada”. Assim o bibliotecário João de Saldanha da Gama (desde 1822, designava-se assim a autoridade maior da Biblioteca Nacional) qualificou a antiga Seção de Estampas da instituição, em seu prefácio ao Catálogo da Exposição Permanente dos Cimélios da Biblioteca Nacional, publicado sob a sua direção em 1885.

Nesse catálogo, a parte referente às estampas ficou a cargo de José Zephyrino de Menezes Brum, chefe daquela seção desde 1876, quando foi posto em execução um plano de reforma da instituição a partir do qual “a Seção de Estampas […] começa a ter existência e história próprias […].”

Estamos no ano de 1885 e a Biblioteca Nacional já estava instalada no endereço da rua do Passeio desde 1858, quando se concluiu a mudança,“sem estrago nem perda”, desde seu primeiro endereço, no edifício do antigo Hospital do Carmo. Em 1881, abrira-se a grandiosa e inesquecível Exposição de História do Brasil, produzida sob a batuta do dirigente anterior, o barão de Ramiz Galvão e o pensamento curatorial de outro barão, Homem de Mello.

 

 

Desenvolvia-se então, no acervo de imagens, um trabalho apaixonado, apesar de todas as dificuldades impostas pela conjuntura – atividades estas, em certa sintonia com as que ocorriam nas bibliotecas nacionais da França e da Áustria e no Museu Britânico. Menezes Brum lamentava que “as acanhadas proporções do edifício em que funciona a Biblioteca Nacional não permitiram que a Seção de Estampas fosse melhor acomodada, pois que lhe couberam em partilha apenas duas pequenas salas do 3o andar, mal mobiliadas e insuficientes para as suas necessidades e serviços.” E “as riquezas da nossa coleção iconográfica continuavam desconhecidas, tanta era a quantidade que delas havia”, ele observava.

Mas a exposição permanente das estampas, um sonho antigo de Ramiz Galvão, haveria de acontecer, sob a direção geral de Saldanha da Gama. O chefe das estampas era um obstinado: “era preciso escolher, escolher sempre, examinar, comparar, tornar a comparar, até que as jóias, por seu pequeno número, e por mais preciosas, se pudessem acomodar nas caixas que lhes estavam destinadas.”

 

 

Depois de pronta a exposição permanente, o fotógrafo Antonio Luiz Ferreira, o mesmo que realizou as memoráveis fotografias das manifestações populares havidas após a assinatura da Lei Áurea – como aquela em que Machado de Assis aparece na missa celebrada no campo de São Cristóvão – foi contratado para documentar o edifício sede da Biblioteca Nacional, onde a instituição permaneceu até 1910.

O resultado está em dois álbuns; um, com as cópias em papel albuminado e outro, com as cópias produzidas em platina, que apresentam melhores atributos de estabilidade e permanência e figuram nesta galeria. As capas estão sofridas – ainda que o miolo, sua essência, resista bravamente – e refletem uma história. Muito nos revelam as suas imagens, admirável exemplo da fotografia de arquitetura praticada na época e – por que não dizê-lo – da fotografia museográfica, gênero proposto por Fox Talbot e inaugurado possivelmente no British Museum, por Roger Fenton.

O dia 29 de outubro é data a ser sempre lembrada. Hoje, quando a nossa Biblioteca Nacional comemora 205 anos de existência, essa instituição e o Instituto Moreira Salles, criadores deste portal, trabalham no sentido de acolher as primeiras das novas instituições que passarão a integrar a Brasiliana Fotográfica – cujo modelo de gestão pretende-se inclusivo, democrático e em dia com as principais questões referentes aos acervos de fotografia brasileira.

Menezes Brum concluiu assim o seu texto sobre as estampas no catálogo da célebre exposição: “Praza a Deus que curiosos e entendidos acolham este tentame da Biblioteca Nacional com benevolência e tirem dele o gozo e proveito que da sua realização possam advir.” Pois assim seguimos neste esforço coletivo para fazer da Brasiliana Fotográfica um espaço que suscite o aprendizado, a reflexão e o debate. E que seja, também, um espelho da Nação Brasileira.

Rio de Janeiro, 29 de outubro de 2015.

Joaquim Marçal Ferreira de Andrade
Curador, pela Biblioteca Nacional, do portal Brasiliana Fotográfica

 

 

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