O fotógrafo Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 28/6/1897)

 

Juan Gutierrez de Padilla foi um dos mais importantes fotógrafos paisagistas dos oitocentos, no Brasil. Foi, ao lado de Marc Ferrez (1843 – 1923) e George Leuzinger (1813 – 1892), ambos do século XIX, e de Augusto Malta (1864 – 1957), já no século XX, um dos maiores cronistas visuais do Rio de Janeiro. Foi um dos fotógrafos principais da transição da cidade imperial para a cidade republicana. Entre 1892 e 1896, produziu a maior parte de suas fotografias de paisagens do Rio de Janeiro, que eram vendidas para estrangeiros que visitavam a cidade. Registrou a Revolta da Armada, entre 1893 e 1894, e, em 1895, produziu as fotografias do álbum  Recordação das festas nacionais, em homenagem aos cinco anos da proclamação da República brasileira.

 

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Verso do cartão-suporte da Photographia União

 

Em 1889, já trabalhava na Photographia União, localizada na rua da Carioca, nº114 . Nesse mesmo ano, em 3 de agosto, recebeu o título de “Fotógrafo da Casa Imperial. Em 1º de janeiro de 1892,  foi inaugurado o edifício da Companhia Photographica Brazileira, na rua Gonçalves Dias, 40, sob a direção técnica de Juan Gutierrez (Jornal do Commercio, 2 de janeiro de 1892, na sétima coluna sob o título “Companhia Photographica” ). Noticiou-se que, pela primeira vez, fotografias perfeitas eram produzidas no Rio de Janeiro e que isso se devia ao talento e ao trabalho de Gutierrez (O Combate, 27 de fevereiro de 1892, na quinta coluna). Em 17 de junho, a sociedade da Companhia Photographica Brazileira foi dissolvida e o maior credor do empreendimento, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink, recebeu os imóveis sociais e demais ativos da empresa. Em 29 de setembro, Gutierrez solicitou à Junta Comercial do Rio de Janeiro permissão para a abertura de uma nova firma, chamada J. Gutierrez, no mesmo endereço da anterior.

 

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Verso do cartão-suporte do ateliê fotográfico J. Gutierrez, sucessor da Companhia Photographica do Brazil

 

Gutierrez foi beneficiado pelos avanços técnicos da fotografia: utilizou as chapas secas de gelatina e prata que permitiam a tomada de instantâneos e eram de manejo mais fácil, além de mais sensíveis que as chapas de colódio úmido. Suas fotografias revelam uma visão única da topografia carioca e, também, de sua natureza. O periódico A Cigarra, de 29 de agosto de 1895 elogiou a arte do fotógrafo: “Que homem este Gutierrez! Tenacidade, talento, amor e trabalho!”.

 

 

Gutierrez registrou a Revolta da Armada ( 1893 – 1894), tornando-se um dos pioneiros da fotografia dos conflitos armados no Brasil. Em 1896, eclodiu o conflito de Canudos e foi por seu entusiamo republicano que, após a derrota da expedição comandada pelo coronel Moreira César (1850 – 1897), decidiu incorporar-se como ajudante de ordens do general João da Silva Barbosa. Foi ferido mortalmente, em 28 de junho de 1897. Sua trágica morte o tornou, talvez, o primeiro repórter fotográfico morto durante um trabalho de campo, no Brasil, apesar de, até hoje, não se conhecer nenhum registro fotográfico que ele tenha feito do conflito.

 

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Juan Gutierrez. Bateria Fonseca Ramos, Revolta da Armada, 1893. NIterói, Rio de Janeiro / Acervo FBN

 

Gutierrez tinha um temperamento boêmio e entre seus amigos estavam alguns dos mais importantes artistas e escritores do Rio de Janeiro, como Olavo Bilac (1865 – 1918) e José do Patrocínio (1854 – 1905). Foi descrito por Artur Azevedo (1855 – 1908) como …Cavalheiroso, insinuante, folgazão e liberal, era uma das figuras mais sympathicas da sociedade fluminense… (A Estação, 31 de julho de 1897, sob o título “Chroniqueta”).

Acessando o link para as fotografias de Juan Gutierrez de Padilla disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de Juan Gutierrez de Padilla (c. 1860 – 1897)

 

c. 1860 – O espanhol Juan Gutierrez de Padilla nasceu, provavelmente, nas Antilhas, na época, uma colônia espanhola. Porém, outras fontes afirmam que ele teria nascido em Cuba ou na África.

1885 / 1887- Período provável de sua chegada ao Brasil, vindo da cidade do Porto, Portugal.

1889 – Trabalhava na Photographia União, localizada na rua da Carioca, nº 114.

Em 3 de agosto, recebeu o título de “Fotógrafo da Casa Imperial”.

Participou do movimento pela Proclamação da República como tenente da Guarda Nacional.

Gutierrez naturalizou-se brasileiro, aproveitando o decreto de Deodoro da Fonseca (1827 – 1892), o primeiro presidente do Brasil, que concedeu aos estrangeiros que residiam no país na data de 15 de novembro, quando a República foi proclamada, a nacionalidade brasileira.

1890 – Foi concedida licença para que Gutierrez usasse as armas da República no seu estabelecimento, a Photographia União (Diário de Notícias, 18 de julho de 1890, na quinta coluna, sob o título “Armas da República”).

Em 29 de setembro, foi constituída uma sociedade anônima denominada Companhia Photographica Brazileira, com 31 acionistas. Gutierrez foi eleito diretor técnico do negócio. De um total de cinco mil ações, era proprietário de 100 ações do empreendimento (Jornal do Commercio, 30 de setembro de 1890, na primeira coluna).

Agregou às atividades do estabelecimento, o comércio de produtos e equipamentos fotográficos. Foi anunciada a incorporação da Companhia Photographica Brazileira pelo Banco Constructor (Diário do Commercio, 25 de setembro de 1890).

Foi publicada a ata da instalação da Companhia Photographica Brazileira (Gazeta da Tarde, 24 de outubro de 1894, na primeira coluna).

1891 – Gutierrez anunciou a venda da Photographia União (Jornal do Commercio, 17 de dezembro de 1891, na quarta coluna, sob o título “Photographia à venda“).

1892 – Em 1º de janeiro, foi inaugurado o edifício da Companhia Photographica Brazileira, na rua Gonçalves Dias, 40, sob a direção técnica de Juan Gutierrez (Jornal do Commercio, 2 de janeiro de 1892, na sétima coluna sob o título “Companhia Photographica” ).

Foi noticiada a inauguração das oficinas de fototipia da Companhia Photographica Brazileira. De acordo com a notícia, pela primeira vez fotografias perfeitas eram produzidas no Rio de Janeiro e isso se devia ao talento e ao trabalho de Gutierrez (O Combate, 27 de fevereiro de 1892, na quinta coluna).

Em 17 de junho, a sociedade da Companhia Photographica Brazileira foi dissolvida e o maior credor da empresa, o conselheiro Francisco de Paula Mayrink, recebeu os imóveis sociais e demais ativos do empreendimento.

Em 29 de setembro, Gutierrez solicitou à Junta Comercial do Rio de Janeiro permissão para a abertura de uma nova firma, chamada J. Gutierrez, no mesmo endereço da anterior.

1893 - Foi fundado o semanário O Álbum e Gutierrez tornou-se responsável pelos trabalhos fotográficos. Artur Azevedo (1855 – 1908) era o diretor literário da publicação. Na edição de maio, Castro Soromenho dedicou-lhe o poema “Desegaño”, no qual confessava seu amor pelo fotógrafo. Imediatamente o poeta foi impedido de frequentar a redação de O Álbum e, em 12 de junho, foi definitivamente afastado do periódico.

Em 6 de setembro, início da Revolta da Armada, comandada pelo almirante Custódio de Mello (1840 – 1902), amplamente fotografada por Gutierrez.

1894 - Em 13 de março, fim da Revolta da Armada.

Foi noticiada a exposição, no ateliê de Gutierrez, de um quadro fotográfico retratando o marechal Eneas Galvão (1832 – 1895) rodeado por seus ajudantes de ordem. O quadro seria ofertado ao marechal, que foi ministro da Guerra durante o governo de Floriano Peixoto (1839 – 1895) (O Paiz, 23 de maio de 1894, na segunda coluna).

O primeiro número da publicação quinzenal Illustração Sul-Americana trazia diversos retratos de autoria de Gutierrez: do marechal Floriano Peixoto (1839 – 1895), de Affonso Pena (1847 – 1909), do presidente da República Prudente de Moraes (1841 – 1902), do capitão-tenente José Carlos de Carvalho e do jornalista Artur Azevedo (1855 – 1908) (O Paiz, de 21 de julho de 1894, nas sexta e sétima colunas).

Em 17 de setembro, foi inaugurada a Confeitaria Colombo, ao lado do ateliê de Gutierrez, onde ele, além de trabalhar, residia. Logo a confeitaria tornou-se um dos pontos mais concorridos da cidade, contribuindo para o aumento do movimento em torno da casa fotográfica de Gutierrez.

Em novembro, Gutierrez foi o fotógrafo do álbum Recordação das festas nacionais, em homenagem aos cinco anos da proclamação da República brasileira. Registrou grandes manifestações populares em vários pontos da cidade: banquetes, desfiles militares , além de cerimônias cívicas e inaugurações de monumentos. Esse trabalho pode ser considerado um exemplo precursor da linguagem da fotografia jornalística.

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Foi publicada uma propaganda dos cigarros Bouquet: “em cada carteira contem o retrato de uma das notabilidades brazileiras ou estrangeiras, perfeição, creditadas pela casa J. Gutierrez & C., sucessora da Companhia Photographica. A colecção completa comprehenderá 200 RETRATOS” (O Paiz, 14 de novembro de 1894).

1895 – O periódico A Cigarra, de 29 de agosto de 1895 elogiou a arte do fotógrafo: Que homem este Gutierrez! Tenacidade, talento, amor e trabalho!1896 – Foi publicado um elogio às fotografias produzidas por Gutierrez  pela técnica da platinotipia: “…nada há mais perfeito do que o trabalho de Gutierrez…” (O Paiz, 3 de junho de 1896, na última coluna, sob o título “Commercio, Industria e Arte).

Eclodiu o conflito em Canudos e, após a derrota da expedição comandada pelo coronel Moreira César (1850 – 1897), Gutierrez decidiu incorporar-se como ajudante de ordens do general João da Silva Barbosa.

1897 – Antes de partir para Canudos, Gutierrez lavrou seu testamento e nomeou como testamenteiros e inventariantes Manoel Rodrigues Monteiro de Azevedo, Francisco de Paula Mayrink, José Carlos de Carvalho e José do Patrocínio (1853 – 1905). Suas beneficiárias foram sua mãe, Francisca Vicente Vandrel e sua amiga, a viúva Orlandina Aurora Rosani.

Juan Gutierrez foi promovido de tenente a capitão da Guarda Nacional (O Paiz, 19 de fevereiro de 1897, na sexta coluna).

Desembarcou em Salvador, em 2 de abril, e seguiu para  Canudos.

Sua ida para Canudos foi um dos assuntos da coluna “Semanaes”, de Anselmo Ribas (A Notícia, 10 e 11 de julho de 1897).

Em 28 de junho, foi mortalmente ferido (Jornal do Commercio, 13 de julho de 1897, na terceira coluna sob o título “Expedição de Canudos” e O Paiz, 7 de setembro de 1897, na primeira coluna).

Sua morte foi também noticiada no O Paiz, de 14 de julho de 1897, na primeira página, com um artigo de Luiz Murat (1861 – 1929) em sua homenagem.  No livro Os Sertões, Euclides da Cunha (1866 – 1909) referiu-se a ele como um Oficial honorário, um artista que fora até lá atraído pela estética sombria das batalhas.

Foi publicado o que um dos amigos mais próximos de Gutierrez, o tenente Frederico Luiz da Costa, escreveu a respeito dele (O Paiz, de 23 de julho de 1897, na primeira coluna).

Foram realizadas na Igreja de São Francisco de Paula, as missas em sufrágio da alma de Juan Gutierrez. Foi celebrada pelo monsenhor Amorim, ajudado pelo cônego Polinca e pelos padres Teixeira, Colaço, Próspero, Guimarães e Pitta. Uma multidão lotou a igreja, onde a marcha fúnebre foi executada por uma banda militar. No dia anterior, na mesma igreja, havia sido celebrada uma missa na intenção de Gutierrez por Antônio Costa e Orlandina Aurora Rosani, que recebeu um terço dos bens do fotógrafo (O Paiz, 19 de agosto de 1897, na quarta coluna e 20 de agosto de 1897, na sexta coluna).

Fim da Guerra de Canudos, em 5 de outubro de 1897.

1898 – O ateliê fotográfico de Juan Gutierrez encontrava-se em processo de liquidação (O Paiz, 3 de janeiro de 1898, na última coluna). Havia uma disputa em torno do estabelecimento envolvendo Frederico Luiz da Costa, Alfredo Franco e Luis Musso ( O Paiz, 12 de fevereiro de 1898, na quarta coluna).

A Associação dos Empregados do Comércio do Rio de Janeiro comprou o prédio da Gonçalves Dias, nº 40, onde havia funcionado o ateliê fotográfico de Gutierrez (O Paiz, 15 de junho de 1898, na quinta coluna).

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

BITTENCOURT, José Neves. Em Portugal, Denise (org). O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez. Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1997. CD-ROM.

ERMAKOFF, George. Juan Gutierrez. Rio de Janeiro: Editora Capivara, 2001.

FERNANDES JUNIOR, Rubens;LAGO, Pedro Corrêa do.O século XIX na Fotografia Brasileira.Coleção Pedro Corrêa do Lago. São Paulo: Fundação Armando Alvares Penteado, 2000.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: IMS, 2002.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos Pioneiros no Rio de Janeiro: V. Frond, G. Leuzinger, M. Ferrez e J. Gutierrez / por Pedro Vasquez. – Rio de Janeiro: Dazibao, 1990.

 

Link para o artigo O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez, publicado na Brasiliana Fotográfica em 1º de março de 2019.

Notícia da viagem do fotógrafo Albert Frisch (31/05/1840 – 30/05/1918) à Amazônia

 

Christoph Albert Frisch (1840 – 1918) foi o fotógrafo responsável pela impressionante e pioneira série de 98 fotografias realizadas em 1867 na Amazônia: foram os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Ele seguiu, comissionado pelo editor e fotógrafo Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país, para quem trabalhava, com os engenheiros alemães Joseph e Franz Keller (1835 – 1890), pai e filho, respectivamente. Este último casou-se, em 1867, com Sabine (1842 -1915), filha de Leuzinger ( 1813 – 1892). Partiram em 15 de novembro de 1867, a bordo do paquete Paraná. Frisch levou um escravizado, e a esposa de Franz e a filha de Joseph também estavam no navio (Diário do Povo, de 15 de novembro de 1867, primeira coluna).

Acessando o link para as fotografias de Christoph Albert Frisch disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos.

Seu retorno ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul, está registrado no Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, quarta coluna.

As imagens produzidas por Frisch durante a viagem à Amzônia, copiadas em papel albuminado, foram comercializadas com sucesso pela Casa Leuzinger a partir do catálogo Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

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Foi Frisch o autor das primeiras fotografias dos tipos indígenas brasileiros em seu próprio habitat conhecidas até hoje e, em sua produção fotográfica, reforçava a ideia de uma Amazônia selvagem e exótica. Ele anexava às imagens informações tais como relações de parentesco e status social dos líderes indígenas fotografados. Na época, esses registros eram muito valorizados por estudiosos de etnografia europeus e por viajantes estrangeiros em geral.

Segundo Pedro Karp Vasquez (1954 – ), Frisch tinha uma grande habilidade técnica, que usou para contornar problemas impossíveis de serem solucionados com o equipamento de que dispunha na época: obter exposição e focos simultaneamente perfeitos tanto do retratado no primeiro plano quanto da paisagem ribeirinha ao fundo. Segundo Karp, empregando “… um astucioso estratagema para realizar os retratos de índios na região do Alto Solimões…”,  Frisch fotografava seus modelos diante de um fundo neutro e produzia separadamente algumas vistas para compor o segundo plano. Para produzir as cópias fotográficas, combinava os dois negativos, alcançando assim o resultado desejado.

 

 

Como mencionado anteriormente, até hoje as fotografias dos índios da região norte do Brasil produzidas por Frisch são consideradas as primeiras que se conhece, apesar de antes dele, em 1843,  o fotógrafo norte-americano Charles DeForest Fredricks (1823 – 1894) ter viajado pelos rios Orenoco e Amazonas. Nessa expedição, alguns daguerreótipos teriam sido produzidos, porém perdidos. Segundo Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, “… houve ainda o trabalho de fotografia antropométrica, em sua maioria de mestiços da região amazônica, realizado em 1865 – 1866 por Walter Hunnewell em Manaus, a pedido de Louis Agassiz, da Expedição Thayer, hoje arquivados num museu da Universidade de Harvard. O casal Agassiz publicou sua obra A Journey in Brazil em 1868 e dela constam reproduções xilográficas de algumas fotografias de Leuzinger, duas fotos de índios feitas pelo ‘Dr. Gustavo, of Manaos’, mas nenhuma de Frisch”.

Até o final do século XX, o alemão Albert Frisch, que nasceu em Augsburgo, em 31 de maio de 1840, e faleceu em Berlim, em 30 de maio de 1918, era um personagem misterioso na história da fotografia. Segundo o site do Instituto Moreira Salles, “…o estudo dos documentos reunidos pela família Leuzinger, doados ao IMS em 2000, e a posterior localização de Klaus Frisch, neto do fotógrafo, pelo pesquisador Frank Stephan Kohl, permitiram reconstituir a trajetória de Frisch”. Antes de vir para o Rio de Janeiro, em torno de 1864, havia estado em Buenos Aires, na Argentina, e em Asunção, no Paraguai. Voltou definitivamente para a Alemanha, após passagens pela França e pelos Estados Unidos, em 1872.

 

Cronologia de Christoph Albert Frisch (1840 – 1918)

 

1840Christoph Albert Frisch nasceu em Augsburgo, na Baviera, na região sul da Alemanha, em 31 de maio, filho de Johanes Nepomuk Frisch e Auguste Korber. Seu pai possuia uma tecelagem e vários imóveis e era sócio de Eberhard Rugendas, possivelmente parente do desenhista Moritz Rugendas (1802 – 1858), também nascido em Augsburgo, que esteve no Brasil e produziu uma importante obra iconográfica do país.

Nos anos 1840, as empresas de seu pai foram à falência.

1849 – Devido à morte de sua mãe, foi criado, assim como seus irmãos homens, em um orfanato na Francônia. As irmãs foram entregues pelo pai a uma tia materna.

Final da década de 1850 – Foi trabalhar como confeiteiro.

Frisch partiu para Munique, capital da Bavária, onde começou a trabalhar no comércio de arte, na loja de Friedrich Gypen.

1861 – Com o apoio de seu empregador, trabalhou como aprendiz na litografia do impressor e editor Adolphe Goupil (1803 – 1893), em Paris.

Partiu para Buenos Aires, capital da Argentina, onde chegou por volta de 13 de dezembro. Tentou, sem sucesso, se estabelecer como comerciante de estampas de imagens religiosas, inspirado pela grande quantidade de imagens religiosas que goupil exportava para a América do Sul.

 

 

Trabalhou, então, na região dos Pampas, como professor particular e gerente de um criador de gado alsaciano.

1862 – Frisch retornou a Buenos Aires onde, aos 23 anos, começou sua carreira de fotógrafo, quando o alemão W. Raabe, que ele havia conhecido em uma taverna, o recomendou para seu empregador, o norte-americano Arthur Therry, dono de um renomado estúdio fotográfico, na calle Florida, 70,onde a alta sociedade argentina era retratada. As fotografias produzidas por Frisch nesse período não são conhecidas, mas segundo ele, teria retratado as sobrinhas do ditador argentino Juan Manuel Rozas (1793 – 1877).

1863 – Poucos meses depois, Frisch foi para o Paraguai abrir um estúdio fotográfico, em Assunção, a pedido do próprio presidente do país, Solano Lopez (1827- 1870), que havia estado em Buenos Aires, no ano anterior, com sua esposa, a irlandesa Elisa Lynch (1833 – 1866), e seus dois filhos. Na ocasião, havia visitado o estúdio de Terry, onde conheceu Frisch.

c. 1864 – Provavelmente, devido à Guerra do Paraguai, Frisch foi para o Rio de Janeiro.

1865 - Começou a trabalhar no recém-inaugurado setor de fotografia da Casa Leuzinger, no Rio de Janeiro, cujo proprietário era o editor e fotógrafo suíço Georges Leuzinger (1813 – 1892), considerado um dos mais importantes fotógrafos e difusores para o mundo da fotografia sobre o Brasil no século XIX, além de pioneiro das artes gráficas no país.

1866 - Encontrava-se na Europa.

1867 – Viajou ao Pará, comissionado por Leuzinger para acompanhar uma expedição liderada pelo engenheiro alemão Joseph Keller e por seu filho, o fotógrafo, desenhista e pintor Franz Keller (1835 – 1890) (Diário do Povo, 15 de novembro de 1867, na primeira coluna).  Este último era casado com Sabine Christine (1842 – 1915), filha de Georges Leuzinger ( 1813 – 1892). Transitaram pela região dos rios Madeira e Mamoré, onde o governo imperial pretendia construir uma estrada de ferro.

 

 

Albert Frisch acompanhou os engenheiros somente até Manaus … percorreu 400 léguas pelo rio Amazonas e seus afluentes durante 5 meses…, num barco acompanhado por dois remadores, desde Tabatinga até Manaus. Produziu, na ocasião, uma pioneira série de 98 fotografias com os primeiros registros que chegaram até nós de índios brasileiros da região, além de aspectos de fauna e flora e de barqueiros de origem boliviana, que atuavam como comerciantes itinerantes nos rios amazônicos. Segundo o livro de Ernesto Senna, O velho commercio do Rio de Janeiro, a expedição fotográfica de Frisch à Amazônia foi fruto de uma solicitação feita pelo suíço Louis Agassiz (1807 – 1873) a Leuzinger.

Satisfazendo ao pedido de Agassiz, fez Leuzinger tirar vistas até Tabatinga, na fronteira do Amazonas com a República do Peru, vistas que serviram não só para os trabalhos científicos daqule sábio, como também para ilustrações europeias. Quando o engenheiro Keller foi em comissão explorar os rios Madeira e Mamoré, Georges Leuzinger mandou um fotógrafo da casa acompanhar a expedição, que trouxe depois daquelas incomparáveis regiões graande cópia de clichês, da flora, da fauna, de paisagens, e fotograafias de silvícolas e de suas tabas, aldeamentos, instruentos, armas, etc. Estas coleções, de graande valor para estudos etnográficos, eram muito interessantes sob qualquer ponto de vista e muito procuradas por viajantes estrangeiros”.

Agassiz havia, entre 1865 e 1866, comandado a Comissão Thayer no Brasil, que percorreu boa parte do território brasileiro entre o Rio de Janeiro e a Amazônia, viagem que deu origem ao livro A journey in Brazil, editado em Boston, em 1868. A comissão foi financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883), ex-aluno de Agassiz no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard.

Vale lembrar que Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), o futuro chefe da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), integrada pelo fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923), participou da Comissão ou Expedição Thayer – foi a primeira vez que esteve no Brasil.

1868 – Frisch retornou ao sul do Brasil, a bordo do vapor Cruzeiro do Sul (Jornal Pedro II, de 24 de novembro de 1868, na quarta coluna).

1869 – As imagens produzidas por Frisch durante a expedição pela Amazônia começaram a ser comercializadas a partir de um catálogo publicado pela Casa Leuzinger, Resultat d’une expédition phographique sur le Solimões ou Alto Amazonas et Rio Negro.

 

 

c. 1870 – Foi para Montevidéu e depois para Paris, onde trabalhou na litografia de Lemercier & Cie. Foi expulso do país, devido à guerra entra França e Alemanha (1870-1871), e perdeu tudo.

Retornou à Alemanha e passou a trabalhar com o fotógrafo alemão Joseph Albert (1825 – 1886), que aperfeiçoou a técnica da colotipia, e com quem aprendeu as mais novas tecnologias de impressão fotomecânica da época. Verveer Den Haag, fotógrafo da corte da Holanda, e o mestre da litogravura, o francês Lemercier (1803 – 1887), também eram aprendizes de Joseph Albert.

 

 

1871 - Chegou, em 14 de março, a Nova York, onde instalou o processo de colotipia na empresa Bierstadt & Co. Trabalhando foi envenenado por cromo, tendo que ficar um tempo afastado da colotipia para cuidar da saúde.

1872 – Voltou para a Alemanha, e foi funcionário numa fábrica de água mineral em Bad Homburg vor der Hohe.

1873 – Em Bad Homburg vor der Hohe, abriu a empresa Frisch & Co, que trabalhava com albertotipia, colotipia e fotografia.

1874 – Durante esse ano, Frisch trabalhou por um curto período com o fotógrafo Johannes Nöhring (1834 – 1913), de Lübeck, na empresa Nöhring & Frisch.

1875 – Frisch mudou-se para Berlim e abriu o Kunstanstalt Albert Frisch, especializado na produção de reproduções fotomecânicas de alta qualidade. Depois de sua morte, seu filho, também Albert, continuou o negócio.

1918 – Faleceu em Berlim, em 30 de maio.

1925 – Lançamento de um livro em comemoração dos 50 anos da Casa Frisch, em Berlim, com textos escritos pelo filho do fotógrafo, Albert Frisch Junior.

1930 - Edição de um álbum raríssimo com 109 reproduções de fotografias, sendo 106 imagens de Albert Frisch Senior.

As 106 fotografias reunidas neste álbum são reproduções dos originais, feitos por Albert Frisch sênio (nascido em 13 de maiode 1840 em Augsburg) no Brasil nos anos 60. Elas restaram de um número muito maior de fotografias que foram tiradas por Albert Frisch sênior depois que ingressou na empresa Keller & Leuzinger, Rio de Janeiro. Elas foram feias durante muitos anos em diversas excursões na região do rio Amazonas e em outras regiões do Brasil.”

1942 - Impressão de uma história da família Frisch escrita por Eberhard, filho de Frisch. Nele há um esboço de uma autobiografia redigida pelo próprio Frisch, que revela que ele havia escrito uma autobiografia completa, destuída por ele mesmo no início da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Durante a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), o acervo da Casa Frisch, em Berlim, foi totalmente destruído.

2019 – Em outubro de 2019, o Instituto Moreira Salles, que já abrigava em seu acervo aproximadamente 40 imagens de Frisch, algumas delas pertencentes à série da Amazônia, arrematou, num leilão da Sotheby’s, em Nova York, um conjunto completo das 98 imagens, tal como editadas e comercializadas por Geroges Leuzinger*.

 

*Esse parágrafo foi acrescentado em dezembro de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Link para o artigo Os Miranhas e as fotografias de Albert Frish, de Maria Luísa Lucas, publicado no site do Instituto Moreira Salles, em 17 de dezembro de 2019

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. As primeiras fotografias da Amazônia. BN Digital, 2013.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

FRANCESCHI, Antonio Fernando de. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger. Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia in Cadernos de Fotografia: Georges Leuzinger: um pioneiro do século XIX(1813-1892). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

GÂMBERA, José Leonardo Homem de Mello. Fotografia na Amazônia Brasileira: considerações sobre o pioneirismo de Christoph Albert Frisch (1840-1918). Revista de Programa da Pós-Graduação em Arquitetur ae Urbanismo da FAUUSP,dez de 2013

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional 

KOHL, Frank Stephan. Albert Frisch and the first images of the Amazon to go around the world  in Explorers and Entrepreneurs behind the Camera The Stories behind the pictures and photographs from the image archive of the Ibero-American Institute. Berlim: Ibero-American Instituto, 2015.

KOHL, Frank Stephan. Um jovem mestre da fotografia na Casa Leuzinger: Christoph Albert Frisch e sua expedição pela Amazônia. In: Cadernos de fotografia brasileira, 3. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2006.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002

MARCOLIN, Neldson. Retratos na Selva, Revista Pesquisa Fapesp, setembro de 2014.

MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de. Estou aqui. Sempre estive. Sempre estarei. Indígenas do Brasil. Suas imagens (1505/1955). São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.

SENNA, Ernesto. O Velho Comércio do Rio de Janeiro. 2ª edição. Rio de Janeiro: G Ermakoff, 2006.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

Site O Índio na Fotografia Brasileira

TACCA, Fernando de. O índio na fotografia brasileira: incursões sobre a imagem e o meio. História, ciências, saúde – Manguinhos – Vol. 18, nº 1, p.191-223. Rio de Janeiro., 2011

TURAZZI, Maria Inez. Poses e Trejeitos: a fotografia na era do espetáculo (1839 – 1889). Rio de Janeiro: Funarte/Rocco, 1995.

VASQUEZ, Pedro Karp. A. Frisch, ladrão de almas na Amazônia Imperial. Piracema – arte e cultura. Rio de Janeiro, nº1, ano 1, p.90-95, 1993

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX / Deutsche Fotografen des 19. Jahrhunderts in Brasilien. São Paulo: Metalivros, 2000

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003

 

 

Os teatros do Brasil

Na semana em que se comemora o Dia Mundial do Teatro, em 27 de março, a Brasiliana Fotográfica oferece a seus leitores fotografias de teatros brasileiros do século XIX e das primeiras décadas do século XX. São fotografias realizadas por Augusto Malta (1864 – 1957), A. Ribeiro (18? – ?), Augusto Stahl (1828 – 1877), Felipe Augusto Fidanza (1847 – 1903), George Huebner (1862 – 1935), Guilherme Gaensly (1843-1928)Marc Ferrez (1843 – 1923), Moritz Lamberg (18? – ?) e também por fotógrafos ainda não identificados.

 

 

 

O Instituto Internacional do Teatro (IIT) criou a data em 1961 e, desde o ano seguinte, o Dia Internacional do Teatro é celebrado (Jornal do Brasil, 27 de março de 1962). A comemoração conta com a realização de diversas manifestações teatrais e também com a difusão de uma mensagem, sempre redigida por uma personalidade de renome da cena teatral, convidada pelo IIT. A instituição foi fundada em Praga, em 1948, pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e por personalidades do mundo teatral, durante o I Congresso Mundial do Teatro. O encontro contou com representantes da Áustria, da Bélgica, do Brasil, do Chile, da China, da Tchecoslováquia, da França, da Itália, da Polônia, do Reino Unido, da Suíça e dos Estados Unidos.

 

Acessando o link para as fotografias de teatros brasileiros disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas

 

Série O Rio de Janeiro desaparecido I Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XXpublicado em 26 de fevereiro de 2016.

A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017

Cinema no Brasil – a primeira sessão e um pouco da história do Cinema Odeon, publicado em 8 de julho de 2021

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” XII – O Teatro Lírico (Theatro Lyrico), publicado em 16 de setembro de 2021

O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021

O Teatro Amazonas (Theatro Amazonas), em Manaus, a “Paris dos Trópicos”, publicado em 28 de dezembro de 2021

O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023

Dia do Cinema Brasileiro, publicado em 19 de junho de 2023

Série O Rio de Janeiro desaparecido XXV – O Theatro Phenix, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 5 de setembro de 2023

O Theatro da Paz, em Belém do Pará, inaugurado em 15 de fevereiro de 1878, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal, publicado em 15 de fevereiro de 2024

 

A fundação do Recife

A Brasiliana Fotográfica homenageia a mais antiga capital dos estados brasileiros. Terra antes habitada por tapuias e depois por tupis, Recife foi fundada em 12 de março de 1537. O português Duarte Coelho Pereira (c. 1480-1554), que havia iniciado a povoação de Pernambuco em 1536 – um ano após receber a doação da Capitania de Pernambuco do rei dom João III, de Portugal – referiu-se à cidade como “Ribeira de Mar dos Arrecifes dos Navios” em Carta de Foral então concedida à Câmara de Olinda.

O portal fez uma seleção de registros de ruas, pontes, teatros, bairros e igrejas recifenses produzidos por Augusto Stahl (1828 – 1877), Francisco du Bocage (1860-1919)Guilherme Gaensly (1843 – 1928) , João Ferreira Villela (18?-1901), Marc Ferrez (1843 – 1923) e Moritz Lamberg (18?-19?).

Acessando o link para as fotografias do Recife disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar e verificar todos os dados referentes a elas.

A cidade enfrentou um período de ocupação holandesa (1630-1645) cuja herança ainda hoje se faz presente. Sob o comando da Companhia das Índias Ocidentais, representada pelo conde Mauricio de Nassau (1604-1679), Recife tornou-se a capital do Brasil holandês. Amante das artes, Nassau tinha na sua equipe grandes artistas, como Franz Post (1612-1680) e Albert Eckhout (1610-1666), pioneiros na documentação visual da paisagem brasileira e do cotidiano dos seus habitantes.

Imediatamente após o anúncio do primeiro processo fotográfico patenteado – o daguerreótipo, na França – um navio-escola saído daquele país, trazendo entre seus tripulantes o padre Louis Comte com seu exemplar dessa nova e revolucionária invenção, tocou o continente americano através do porto do Recife.

E mais à frente, quando as imagens originalmente obtidas em fotografia começaram a ser transcritas na imprensa ilustrada, Recife estava na vanguarda, mais uma vez. A partir de meados do século XIX, vários fotógrafos estabeleceram-se ou passaram pelo Recife, o que tornou a cidade referência inescapável na história da fotografia no Brasil.

A Veneza brasileira, localizada às bordas do rio Capibaribe junto ao oceano, com sua geografia, seus mangues, suas pontes e construções marcantes, visceralmente conectada a Olinda, segue sendo um dos cartões postais do Brasil.

 

Brasaorecife

Brasão do Recife

 

 

A fundação do Rio de Janeiro

A fundação do Rio de Janeiro

Cidade Maravilhosa

 

E o Rio de Janeiro completa mais um ano… Agora são 451 anos desde sua fundação. Sua beleza e vocação exibicionista fez da cidade personagem de muitas fotografias desde o século XIX. A Brasiliana Fotográfica presta uma homenagem à cidade maravilhosa com uma seleção de 10 imagens de paisagens cariocas. São registros de Marc Ferrez (1843 – 1923) e Augusto Malta (1864 – 1957), os mais importantes fotógrafos do Rio de Janeiro no século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Também convidamos os leitores para uma visita aos posts sobre os dois fotógrafos, anteriormente publicados pela Brasiliana Fotográfica: Ferrez e Malta.

 

 

Cerca de metade da produção fotográfica de Marc Ferrez foi realizada no Rio de Janeiro e em seus arredores, onde fotografou, além do patrimônio construído, a exuberância das paisagens naturais. O alagoano Augusto Malta começou a fotografar em 1900, quando trocou sua bicicleta, que usava para entregar os tecidos que comercializava, por uma máquina fotográfica. Foi, em 1903, contratado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como fotógrafo oficial, cargo criado para ele. Passou a documentar a radical mudança urbanística promovida pelo então prefeito da cidade, Francisco Pereira Passos (1836-1913), período que ficou conhecido como o “bota-Abaixo”. Essas transformações foram definidas por Alberto Figueiredo Pimentel (1869-1914), autor da seção “Binóculo”, da Gazeta de Notícias, com a máxima “O Rio civiliza-se”, que se tornou o slogan da reforma urbana carioca. Augusto Malta trabalhou na Prefeitura até 1936, quando se aposentou.

Uma curiosidade:  Cidade Maravilhosa – La Ville Merveilleuse -, é o nome do livro onde os poemas Amor ao Rio, de autoria da francesa Jane Catulle-Mendès (1867 – 1955), foram publicados em 1913. Ela havia passado uma temporada, de setembro a dezembro de 1911, no Rio de Janeiro, quando se encantou pela cidade (O Paiz20 de setembro, quarta coluna; e 6 de dezembro, primeira coluna de 1911).

 

 

Acessando o link para as fotografias do Rio de Janeiro de autoria de Augusto Malta e Marc Ferrez selecionadas para esse post e disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em comemoração ao aniversário do Rio de Janeiro

 

Uma homenagem aos 452 anos do Rio de Janeiro: o Corcovado e o Pão de Açúcar, publicado em 1º de março de 2017, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez, publicado em 1º de março de 2019, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional ; e de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A Praça Paris no aniversário do Rio de Janeiro, publicado em 1° de março de 2023, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro nos cartões-postais da Papelaria e Typographia Botelho, publicado em 1° de março de 2024, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Obras para o abastecimento de água no Rio de Janeiro por Marc Ferrez

De 1877 até o final da década de 1880, o fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923) foi o responsável pela produção da documentação  fotográfica das obras destinadas a melhorar o abastecimento de água no Rio de Janeiro (Gazeta de Notícias, de 28 de junho de 1889, na segunda coluna, sob o título “Águas do rio S. Pedro”).

Quase metade de toda a produção fotográfica de Ferrez foi realizada na cidade do Rio de Janeiro e em seu entorno. A outra parte registrou as regiões do Brasil que ele regularmente percorreu em seus diversos trabalhos comissionados, tanto como fotógrafo da Comissão Geológica do Império, em meados dos anos 1870, quanto como fotógrafo das construções ferroviárias no Brasil, especialmente entre 1880 e 1890, quando produziu um grande panorama da paisagem brasileira de sua época.

Sempre atento às inovações tecnológicas, Marc Ferrez aumentou suas possibilidades de fotografar paisagens com a câmera Brandon, equipamento de fotografia panorâmica de varredura, tendo sido o único fotógrafo da década de 1880 a fazer esse tipo de registro em grande formato no Brasil. Fato que o levou, mais tarde, a suas magistrais fotografias de arquitetura produzidas durante a construção da avenida Central, no Rio de Janeiro, e também a seu envolvimento com a introdução do cinema e da fotografia estereoscópica em cores no Brasil, no início do século XX.

 

Em suas fotografias da cidade, além do espaço construído, registrou a exuberância da natureza que a envolvia. Particularmente na documentação das obras de abastecimento de água, Ferrez percorreu os arredores da cidade, onde documentou os trabalhos técnicos de captação e distribuição, ao mesmo tempo em que construiu, com estas mesmas imagens, significativa parte de sua visão poética e autoral sobre a cidade onde vivia, estruturada em torno das áreas de fronteira entre o natural e o construído, que até hoje caracterizam o Rio de Janeiro.

Este trabalho comissionado de Marc Ferrez resultou em oito álbuns com os registros fotográficos das obras de abastecimento de água. Três deles foram presenteados a dom Pedro II, em 1889, último ano do regime imperial no Brasil. Outros três foram dados ao engenheiro Francisco de Paula Bicalho (1847-1919), diretor das Águas da Corte.

Porém, apesar dessas obras, em 1889, uma grave crise hídrica atingiu o Rio de Janeiro. Já em fevereiro, a Revista Illustrada denunciava a situação (Revista Illustrada, de 2 de fevereiro, sob o título “Medidas Sanitárias”, e de 9 de fevereiro de 1889). Uma grande polêmica em torno do tema se instalou entre os jornais, principalmente entre o governista Cidade do Rio, de José do Patrocínio (Cidade do Rio, de 9 de março de 1889, na segunda coluna sob o título “Cousas do Dia”), e o de críticos do regime imperial como o Diário de Notícias, dirigido por Rui Barbosa (1849 – 1923) (Diário de Notícias, de 10 de março de 1889, sob o título “O Terror”). Em 12 de março cerca de duas mil pessoas foram às ruas para protestar pedindo por água, mesmo dia em que os engenheiros José Américo dos Santos e de Luís Carlos Barbosa de Oliveira propuseram acabar com o problema em 40 dias (Gazeta de Notícias, de 13 de março de 1889, na segunda coluna).

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez sobre as obras de abastecimento de água no Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar e verificar todos os dados referentes a elas.

Finalmente, sob o título “Água em seis dias”, foi publicada uma carta assinada pelo jovem engenheiro e professor da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, Paulo de Frontin (1860 – 1933) (Diário de Notícias, 16 de março de 1889, na segunda coluna). Ele propunha aumentar o abastecimento de água da cidade em 15 milhões de litros diários. Dom Pedro II pediu que o ministro da Agricultura, Rodrigo Silva, analisasse a proposta. O engenheiro foi contratado e teve êxito: no dia 23 de março a cidade já contava com mais cerca de 17 milhões de litros diários de água (Diário de Notícias, de 24 de março, na quinta coluna; e de 25 de março, na sexta coluna, ambas de 1889 e sob o título “Commissão Frontin”).

Em uma charge, publicada por Angelo Agostini (1843 – 1910) na Revista Illustrada, de 30 de março de 1889, o episódio foi resumido: as eficientes obras hídricas de Frontin arrastaram com torrentes de água a ineficácia do governo no assunto.

 

Revista Illustrada, 30 de março de 1889

Revista Illustrada, de 30 de março de 1889, páginas 4 e 5.

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ELIAS, Rodrigo; SCARRONE, Marcello. “Quando o Império morreu de sede”. Revista de História . Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 2015.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

O Brasil de Marc Ferrez – São Paulo : Instituto Moreira Salles, 2005.

Rio / Marc Ferrez – São Paulo : IMS; Göttingen: Steidl, 2015

Site do Instituto Moreira Salles

O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) e o “Brasil Pitoresco”

O fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821-1881) chegou ao Brasil, em outubro de 1856 (Correio Mercantil, de 9 de outubro de 1856, quinta coluna, sob o título “Entrarão hontem nesse porto”). Em 1857, tornou-se proprietário de um estúdio fotográfico no Rio de Janeiro, na rua da Assembléia, nº 34 (Diário do Rio de Janeiro, de 11 de maio de 1857, na terceira coluna), que foi posto à venda, em 1860 ( Jornal do Commercio, 19 de setembro de 1860, primeira coluna).

Frond foi o fotógrafo das imagens do Brasil Pitoresco (1861), primeiro livro de fotografia realizado na América Latina e, segundo Pedro Vasquez (1954 -), o mais ambicioso trabalho fotográfico realizado no país, durante o século XIX. Foi um importante marco para o fotografia e para as artes gráficas no Brasil, tendo sido o primeiro grande álbum iconográfico cujas imagens, 75 litografias, foram baseadas em fotografias e não mais em desenhos (Diário do Rio de Janeiro, 16 de julho de 1860, terceira coluna; Diário do Rio de Janeiro, 20 de julho, segunda coluna).

No Brasil Pitoresco foram publicadas fotografias produzidas por Frond, entre 1858 e 1860, que se tornaram reproduções litográficas executadas em Paris, na Maison Lemercier, por artistas como Charpentier, Aubrun e Cicéri, dentre outros. O livro-álbum de Frond, segundo Boris Kossoy (1941 – ), reforçava a ideologia do exotismo marcante nos relatos e crônicas dos viajantes europeus que percorreram o Brasil no século XIX e integrava, de forma suave, a presença dos escravos às paisagens e às edificações “através de composições idealizadas e estetizantes”. Segundo Lygia Segala, a obra traz a tensão entre a eficácia política e seu sucesso editorial, o reconhecimento profissional e o retorno financeiro, a arte engajada e o souvenir tropical.

Além disso, no Brasil Pitoresco foram popularizadas as imagens do Pão de Açúcar, dos Arcos da Carioca e do Outeiro da Glória, locais que se tornaram marcos da fotografia de paisagem no Rio de Janeiro.

 

Por ser republicano, Frond havia sido exilado da França em 1852, após manifestar-se contra o golpe de estado de Luís Napoleão Bonaparte, futuro Napoleão III (1808 – 1873), então presidente da Segunda República Francesa, em 2 de dezembro de 1851 . Na época, Frond era subtenente e integrava o Batalhão de Bombeiros de Paris. Foi um dos personagens da pintura de Gustave Courbet (1819-1877), Le départ des pompiers courant à un incendie (1851). “O segundo tenente, Jean-Victor Frond, representado no grupo de bombeiros, ficou do lado dos republicanos. Traduzido em um conselho de guerra, ele foi deportado para a Argélia(Site do Petit Palais).

 

 

O texto do Brasil Pitoresco foi escrito pelo jornalista e político francês Charles Ribeyrolles (1812-1860), republicano como Frond. Ele também havia sido exilado da França por Napoleão III. Chegou ao Brasil, em julho de 1858 ( Correio Mercantil , de 8 de julho de 1858, terceira coluna), e, cerca de dois anos depois, faleceu, em Niterói (Diário do Rio de Janeiro, de 3 de junho de 1860, na terceira coluna).

 

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Retrato de Charles Ribeyrolles, c. 1865. Paris, França. Panthéon des illustrations françaises au XIXe siècle, de Victor Frond.

 

Frond produziu, em 1860, quando acompanhou a viagem do naturalista e explorador suíço Johan Jacob von Tschudi (1818 – 1889), registros fotográficos do Espírito Santo, tanto de Vitória como das colônias agrícolas de imigrantes. Tschudi havia sido nomeado embaixador da Confederação Helvética no Brasil e estudou os problemas dos imigrantes suíços em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. De suas viagens a essas províncias, resultou o livro Viagens na América do Sul, obra publicada, em Leipzig, pela Editora Brockhaus, entre os anos de 1866 e 1869. A tradução de seu relatório foi publicada pelo Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, incluindo as fotografias de Frond, devidamente identificadas.

 

 

 

Em meados da década de 1860, Frond já havia retornado à França. Faleceu em 16 de janeiro de 1861, em Varrèdes.

 

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Acessando o link para as fotografias relativas a Carlos Chagas e à doença de Chagas disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Cronologia de Jean Victor Frond (1821 – 1881)

 

1821 – Jean Victor Frond nasceu, em 1º de novembro, em Montfaucon, na França, filho de Jean Frond (1779 – 1841) e Marie Figeac (1791 – 1841). Provavelmente, Frond estudou no Seminário Diocesano de sua cidade natal.

1839 - Apresentou-se para o serviço militar, no 57º Regimento da Infantaria de Ligne.

1841 - Em 18 de abril, passou a integrar a Infantaria da Marinha, cuja responsabilidade era proteger portos e arsenais franceses, além de defender as colônias e os países sob protetorado da França.

1841 a 1846 – Participou de operações de campanha na Martinica. Uma curiosidade: em sua ficha no 2º Regimento de Infantaria da Marinha, foi descrito como um homem de estatura mediana (1,64m), cabelos e olhos castanhos, testa larga, nariz grande, boca miuda, queixo vincado, sem cicatrizes.

1850 – Deixou a Infantaria da Marinha, onde havia galgado as patentes de suboficial e oficial inferior, e entrou para o Batalhão do Corpo dos Bombeiros. Foi morar em Paris.

1851Foi publicado, na França, o livro De l´insuffisance des secours contre l´incendie et des moyens d´organiser ce service public dand toute la France, de autoria do subtenente Jean Victor Frond, que integrava o Batalhão de Bombeiros de Paris, mais precisamente, a 4ª Companhia, na rua Poissy. Já havia conquistado uma certa liderança na caserna.

Em 2 de dezembro, aconteceu um golpe de Estado na França, liderado por Luís Napoleão Bonaparte, futuro Napoleão III (1808 – 1873), então presidente da Segunda República Francesa. A Assembleia Nacional Francesa foi dissolvida e o império foi restabelecido, no ano seguinte.

Em 3 de dezembro, o republicano Frond manifestou-se contra o golpe. Foi ordenado que ele cumprisse uma licença obrigatória e que ele entregasse sua espada. Abandonou a caserna e tentou participar dos movimentos de resistência republicana. Foi decretada sua prisão.

Em 9 de dezembro, foi preso e levado para o Hotel de Conselho de Guerra, na rua du Cherche Midi.

Foi transferido para uma prisão militar.

1852 – Em 21 de janeiro, foi posto em liberdade, mas nessa mesma noite foi novamente detido, dessa vez pela Prefeitura de Polícia.

Foi transferido para o forte de Ivry e depois para o forte de Bicêtre.

Acusado de homem muito perigoso e de demagogo da pior espécie, foi condenado à transportação para a colônia penal na Argélia.

Entre março e abril, várias cartas foram enviadas à comissão responsável pelo processo contra Frond e também para o príncipe-presidente com pedidos de clemência e de comutação de pena.

Em 15 de maio, Frond foi levado para o Havre, e, em seguida, para o porto de Brest, de onde foi transportado para a colônia penal na Argélia.

Frond fugiu da Argélia. Passou por Lisboa e chegou em Southampton, na Inglaterra.

Em Londres, conheceu Charles Ribeyrolles (1812 – 1860), jornalista e militante político republicano francês, amigo do escritor Victor Hugo (1802 -1885). Ribeyrolles havia sido expulso da França por Napoleão III. Ele veio a ser o escritor do Brasil Pitoresco.

1853 – Frond foi um dos nomes da lista parcial de anistia de Luís Bonaparte.

Escreveu panfletos em defesa da causa republicana.

1854 – Frond foi indicado para uma missão em Portugal e na Espanha para obter recursos materiais e estabelecer alianças políticas favoráveis à causa republicana francesa.

Em Lisboa, tornou-se fotógrafo.

1856 –  Frond chegou ao Rio de Janeiro (Correio Mercantil, de 9 de outubro de 1856, na quinta coluna, sob o título “Entrarão hontem nesse porto”).

1857 - Foi apresentado como o oficial que organizou em grande parte o serviço de incêndios em Paris e foram comentados seus conhecimentos como fotógrafo (Correio Mercantil  de 27 de agosto de 1857, na quarta coluna, embaixo).

Produziu retratos da família real e começaram a circular no Rio de Janeiro os primeiros fascículos do álbum Galeria dos brasileiros ilustres – Os Contemporâneoscom os retratos de d. Pedro II, da imperatriz Teresa Cristina e das princesas, litografados por Sébastien Auguste Sisson (1824-1898).

Foi anunciada a inauguração do estabelecimento fotográfico de Frond, na rua da Assembleia, 34, com a participação do alemão Adam Ignace Fertig (1810-?), pintor retratista  (Diário do Rio de Janeiro, de 8 de maio de 1857 e Diário do Rio de Janeiro, de 11 de maio de 1857, na terceira coluna).

Foi publicada uma crítica da exposição com a qual o ateliê de Frond havia sido inaugurado, no dia 15  de maio (Diário do Rio de Janeiro, de 24 de maio de 1857, no “Folhetim”, quinta coluna).

Em 25 de maio, casou-se com Julie Charlotte Lacombe (1840-?), na Chancelaria do Consulado francês do Rio de Janeiro, tendo como testemunhas Fertig e Joseph Lacombe, irmão da noiva. Tiveram dois filhos no Brasil , Charles, em 1859, e Julie, em 1860; e duas filhas quando já estavam de volta na França, Henriette, em 1862, e Blanche, em 1866.

Frond expõs seus planos de fotografar as mais importantes províncias do Brasil e seus locais históricos. Para isso, havia fundado uma associação integrada pelo imperador Pedro II e por muitas pessoas distintas, nacionais e estrangeiras (Correio Mercantil,  de 3  de novembro de 1857, na terceira coluna, embaixo, na coluna “Páginas Menores”).

No Correio Mercantil , de 9 de dezembro de 1857, na segunda coluna, Frond explicou o projeto do Brasil Pitoresco.

 

 

Foi publicada uma propaganda do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil , de 10 de dezembro de 1857, na quarta coluna, embaixo).

 

 

 

Entre 1857 e 1860, foi o fotógrafo que mais recebeu recursos da Mordomia Imperial: 12:027$000 réis.

1858 - Os retratos produzidos por Frond e retocados pelo sr. Fertig, pintor de miniaturas que trabalha em sua oficina fotográfica, foram elogiados (Correio Mercantil, de 3 de janeiro de 1858, na terceira coluna).

Foi publicada uma carta de Frond para os sub-escritores do Brasil Pitoresco explicando que não mais iria para Europa, onde buscaria material e pessoal para a execução da obra. Sua viagem havia sido impedida pelo governo de Bonaparte (Napoleão III), que via nele um conspirador. Aproveitou para agradecer a hospitalidade brasileira (Correio Mercantil , de 16 de março de 1858, na segunda coluna, sob o título “Publicações a pedidos”).

No novo número da Galeria dos Brasileiros Ilustres, foi publicada uma litografia de Sébastien Auguste Sisson (1824 – 1898), baseada numa fotografia do imperador Pedro II produzida por Frond (Correio Mercantil , de 27 de maio de 1858, na primeira coluna).

Em julho, chegou ao Rio de Janeiro o jornalista e militante político republicano francês Charles Ribeyrolles (Correio Mercantil , de 8 de julho de 1858, terceira coluna). Ribeyrolles havia sido expulso da França por Napoleão III e vivido na Inglaterra com o escritor Victor Hugo (1802-1885), o socialista Louis Blanc (1811 -1882) e o político Ledru Rollin (1807-1874), dentre outros. Foi o redator do Brasil Pitoresco. Tornou-se amigo dos escritores Machado de Assis (1839-1908) e Manuel Antônio de Almeida (1831-1861).

Frond viajou para Vassouras para começar os trabalhos do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil , de 17 de julho de 1858, na terceira coluna).

Na coluna “Folhetim”, foi publicado um extrato do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil,  de 4 de outubro de 1858).

1859 - O escritor Machado de Assis (1839 – 1908) foi o único brasileiro presente em uma reunião na casa de Frond para celebrar o nascimento de seu primeiro filho com Julie Charlotte Lacombe, Charles Victor Marius Frond, nascido em 4 de janeiro. Ribeyrolles escreveu um poema intitulado Souvenirs d’Exil para saudar o menino, traduzido imediatamente por Machado. Estavam, na casa de Frond seus amigos Boulangier, Joseph Lacombe, Dr. H. Chomet, A. Lemâel, Leonce Aubé, Vieu, Pailleux, Salaberry, Massy e B. L. Garnier. Meses mais tarde, Machado de Assis publicou, no Correio Mercantil, seus primeiros versos em francês, prestando nova homenagem ao pequeno Charles Frond, no poema intitulado A Ch. F., filho de um proscrito (Correio Mercantil, 21 de julho de 1859, quarta coluna).

 

Foi anunciada a venda do primeiro volume do Brasil Pitoresco, informando que o segundo volume já estava no prelo (Correio Mercantil,  de 4 de fevereiro de 1859, na primeira coluna).

Foi publicada uma crítica ao Brasil Pitoresco, assinada por H.M, provavelmente o jornalista Homem de Mello (Correio Mercantil , de 7 de abril de 1859, na coluna “Páginas Menores”).

Foi anunciada a iminente publicação do segundo volume do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil , de 5 de junho de 1859, na quarta coluna).

Foi publicada uma crítica ao segundo volume do Brasil Pitoresco, com um comentário sobre as dificuldades enfrentadas por Frond (Correio Mercantil , de 22 de agosto de 1859, na primeira coluna).

Foi anunciada a exposição das fotografias de Frond que integravam o Brasil Pitoresco, na casa do sr Bernasconi (Correio Mercantil , de 10 de setembro de 1859, na primeira coluna).

Anúncio em francês do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil, de 27 de outubro de 1859, na terceira coluna).

Frond e Ribeyrolles se desentendem com o redator do Echo du Brésil, Alteve Aumont, que, segundo Frond, havia o acusado de aceitar “favores administrativos” e o chamado de “demagogo” (Correio Mercantil, de 31 de outubro, na terceira coluna sob o título “Publicações a pedido”; de 1º de novembro, na segunda coluna, embaixo; de 7 de novembro, na primeira coluna sob o título “Publicações a pedido”; e de 9 de novembro, na primeira coluna).

Foi noticiada a iminente partida de Frond e Ribeyrolles para Campos, a fim de continuarem o trabalho para o Brasil Pitoresco. Também foi anunciado que as fotografias que ficaram expostas na casa de Bernasconi & Moncada já haviam sido enviadas para Paris, onde seriam litografadas (Correio Mercantil, de 4 de novembro de 1859, na quinta coluna).

Ribeyrolles e Frond embarcaram para São João da Barra (Correio Mercantil de 27 de novembro de 1859, na última coluna).

1860 – Ribeyrolles e Frond embarcaram para Campos (Correio Mercantil de 24 de janeiro de 1860, na última coluna).

Foi publicada uma litografia de dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina, de autoria de Carlos Linde (c. 1830 – 1873), baseada em fotografias de Frond (Correio Mercantil de 10 de fevereiro de 1860, na última coluna).

Frond embarcou para Santos (Correio Mercantil ,de 12 de maio de 1860, na última coluna), onde, contratado pelo Barão de Mauá, fotografou a cidade, na ocasião da inauguração dos trabalhos da linha férrea entre São Paulo e Jundiaí (Correio Mercantil, de 18 de maio de 1860, na primeira coluna).

Em 1º de junho, morte de Charles Ribeyrolles, em Niterói, de peritonite ou de febre amarela (Diário do Rio de Janeiro, de 3 de junho de 1860, na terceira coluna e Courrier du Brésil, de 8 de junho de 1860).

Foi noticiada a publicação do 21º fascículo da Galeria dos Brasileiros Illustres, editado por Sébastien Auguste Sisson (1824-1893), com um quadro das princesas Isabel e Leopoldina a cavalo, copiado de uma fotografia de Frond (Correio Mercantil, de 5 de junho de 1860, na terceira coluna).

Na edição de 8 de junho do Courrier du Brésil, foram divulgadas por Victor Frond duas cartas escritas pelo escritor francês Victor Hugo (1802-1885) a Charles Ribeyrolles sobre o Brasil Pitoresco.

Frond integrou uma comissão que objetivava construir um monumento em cima do túmulo de Charles Ribeyrolles (Correio Mercantil, de 24 de junho de 1860, na quarta coluna).

Por não concordar com várias decisões, Frond saiu da comissão e ofereceu 50 exemplares do Brasil Pitoresco para ajudar na construção do monumento (Jornal do Commercio, de 28 de junho de 1860, na penúltima e na última colunas e de 29 de junho de 1860, na sétima coluna).

Reprodução de uma crítica feita no jornal francês Monitor às primeiras gravuras do Brasil Pitoresco, vistas nas oficinas de Lemercier, em Paris (Correio Mercantil, de 20 de julho de 1860, na primeira coluna).

Chegaram de Paris 7 quadros, baseados nas fotografias de Frond, executados nas oficinas de Lemercier, em Paris. Seriam ofertados aos assinantes do Brasil Pitoresco (Correio Mercantil, de 14 de agosto de 1860, na segunda coluna).

A comissão para a construção de um monumento em cima do túmulo de Charles Ribeyrolles reuniu-se na casa de Frond e aprovou o projeto do escultor Dubois (Correio Mercantil, de 3 de setembro de 1860, na primeira coluna).

Foi anunciada a venda dos três volumes do Brasil Pitoresco, acompanhado de um álbum de 75 gravuras (Correio Mercantil, de 19 de setembro de 1860).

Foi anunciada a venda da oficina fotográfica de Victor Frond, que partiria para a Europa (Correio Mercantil, de 20 de setembro de 1860).

Foi noticiada a chegada de mais 10 vistas que integrariam o Brasil Pitoresco. Lista das obras com seus respectivos litógrafos (Correio Mercantil, de 4 de novembro de 1860, na quinta coluna).

Nascimento de Julie Louise Marie Jeanne Frond, em 8 de novembro de 1860, primeira filha de Frond e Julie Charlotte Lacombe.

1861 – O desenhista e caricaturista alemão Henrique Fleuiss (1824 – 1882), radicado no Brasil, publicou uma charge sobre o Brasil Pitoresco (Semana Ilustrada, de 17 de março de 1861).

 

 

Frond enviou um exemplar do Brasil Pitoresco para o Instituto Histórico (Jornal do Commercio, de 2 de agosto de 1861, na sexta coluna).

Victor Frond requereu um passaporte (Jornal do Commercio, de 5 de setembro de 1861, na quarta coluna, sob o título “Repartição da Polícia”).

Um raio atingiu a casa de  Frond sem causar muitos danos (Diário do Rio de Janeiro, de 12 de novembro de 1861, na terceira coluna).

Foi noticiada com entusiasmo a chegada das últimas 24 vistas para o Brasil Pitoresco – vieram da França no paquete Navarre (Diário do Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1861, na primeira coluna).

Frond fez parte do juri especial de Belas Artes da Exposição Nacional (Jornal do Commercio, de 9 de dezembro de 1861, na quinta coluna). O convite foi feito para amenizar o constrangimento da recusa da direção do evento em expor as litografias do Brasil Pitoresco durante a exposição, com a justificativa que haviam sido produzidas fora do Brasil. A Exposição Nacional foi inaugurada em 2 de dezembro, data do aniversário de Pedro II e terminou em 15 de janeiro de 1862.

1862 - Apresentou com Cesar Garnier, no ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, um projeto de embelezamento do Campo da Aclamação (Jornal do Commercio, de 12 de março de 1862, na sexta coluna).

O álbum encadernado pela Casa Lombaerts, cujo conteúdo era o Brasil Pitoresco, foi premiado na Exposição Nacional com medalha de prata. Foi doado a Pedro II como lembrança do evento. Está na Biblioteca do Museu Imperial em Petrópolis (Jornal do Commercio, 15 de março de 1862, na segunda coluna).

Foi publicada uma propaganda da venda de exemplares do Brasil Pitoresco, cuja renda seria revertida para a construção do monumento em homenagem a Charles Ribeyrolles (Jornal do Commercio, de 26 de abril de 1862, na última coluna).

Foram publicadas críticas ao projeto de embelezamento do Campo da Aclamação apresentado por Frond e Garnier (Semana Ilustrada, de 18 de maio de 1862 e de 25 de maio de 1862).

Sua esposa, Julie Frond, seus dois filhos e um cunhado partiram para a França (Diário do Rio de Janeiro, de 2 de junho de 1862, na última coluna).

Em fins de agosto, beneficiado pela anistia incondicional de 1859, Frond já se encontrava em Paris, na França, como editor da Maison Lemercier, na rua de Seine, 57.

Em Paris, em 7 de setembro, nascimento de Henriette Camille Lucie Laurent, primeira filha do casal Frond que nasceu na França.

1863 – Numa carta de 25 de maio, o pintor Gustave Courbet (1819-1877) recomendou os serviços de fotógrafo de Frond para o filósofo Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865).

1864 – Entre 1864 e 1869, os álbuns Panthéon des illustrations françaises au dix-neuvième siècle,  primeiro projeto de Frond ligado à Maison Lemercier, foram vendidos por subscrição. A publicação seguiu os moldes da Galeria dos brasileiros ilustres.

1866 - Frond negociou a venda de quadros de Courbet para o superintendente das Belas Artes dos Museus Imperiais, o conde Alfred Émilien Nieuwerkerke (1811-1892).

Em 12 de fevereiro, em Paris, nascimento da última filha do casal Frond, Blanche Adrienne Léontine Frond.

1868 – Foi publicado o livro de Victor Frond, Histoire de la marine française – au XIXe siècle : portraits, biographies, autographes, editado por Abel Pilon.

1870 – Frond foi reintegrado, pelo decreto de 21 de dezembro de 1870, ao 124º Regimento de Infantaria de Linha como capitão.

1871 - Foi publicada sua obra, Atas e história do concílio ecumênico de Roma. Em 8 volumes, reunia textos, retratos, manuscritos e assinaturas. Foi editada por Abel Pilon e pela Maison Lemercier.

Pelo decreto de 7 de fevereiro de 1871, foi nomeado Cavaleiro da Legião de Honra e passou a receber uma pensão de 250 francos. Recebeu a condecoração em 18 de dezembro do mesmo ano.

Em novembro, foi para a reserva com uma pensão de 1.770 francos. Até meados da década, quando ficou muito doente, exerceu atividades administrativas no Palácio do Eliseu.

1872 – Em 30 de janeiro, recebeu do papa Pio IX, (1792 – 1878) o título de Comendador da Ordem de Pio IX.

1877 -  Instalou-se com a família em Varrèddes, cidade francesa do Departamento Seine-et-Marne.

1878 – Uma versão afim do seu relato autobiográfico foi publicada no Cahiers complémentaire II —déposition des témoins, da Histoire d’un crime, do escritor Victor Hugo.

Em 17 de setembro, sua doença foi diagnosticada: ele sofria de esclerose cérebro-raquidiana.

1881 - Em 16 de janeiro de 1881, Victor Frond faleceu em Varrèddes.

Em 24 de março, foi realizado seu inventário e seus bens inventariados chegaram ao valor de 3.183 francos.

Foi autorizado pela Lei de Reparação Nacional, de 10 de julho de 1881, um pedido de indenização que Frond havia feito ao governo francês, em 1880, através de um texto manuscrito autobiográfico. Nele Frond se colocava como vítima do golpe de Estado de Luís Napoleão Bonaparte. Na época do pedido de indenização, ele e Julie tinham quatro filhos. Segundo Lygia Segala, é possível que o texto autobiográfico original tenha sido esboçado no contexto de resistência londrino, sendo depois readaptado às exigências do processo já mencionado.

O Brasil Pitoresco integrou a Primeira Exposição de História do Brasil realizada na Biblioteca Nacional e inaugurada em 2 de dezembro de 1881. A obra foi saudada pelo diretor da instituição, Ramiz Galvão (1846 – 1938), como grande ressurreição do passado e uma previsão do futuro.

1941 - Na coleção dirigida pelo bibliotecário municipal de São Paulo, Rubens Borba de Moraes (1899 – 1986), denominada Biblioteca Histórica Brasileira, da Livraria Martins de São Paulo, foi lançada a primeira reedição do Brasil Pitoresco, com dois volumes. Foi prefaciada por Affonso d’Escragnolle Taunay (1876 – 1958) com tradução e notas de Gastão Penalva (1887-1944). Integrava uma lista de livros raros.

1980 - Foi lançada a segunda reedição do Brasil Pitoresco, na Coleção Reconquista do Brasil, dirigida por Mário Guimarães Ferri (1918 – 1985). A reedição foi feita por uma parceira entre a Editora Itatiaia e a Universidade de São Paulo.

Para realizar essa cronologia biográfica, a Brasiliana Fotográfica consultou inúmeras fontes, principalmente jornais e a tese de doutorado Victor Frond – Luzes sobre um Brasil pitoresco, de Lygia Segala.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes: 

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. A Tecnologia da Fotografia no Século XIX. Rio de Janeiro: Anais Biblioteca Nacional, v. 117, páginas 9 a 29, 1997.

CANELLAS, Leticia Gregório. Franceses ‘quarante-huitards’ no império dos trópicos (1848-1862). Dissertação de Mestrado apresentada ao Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas sob a orientação da Prof. Dr. Cláudio Henrique de Moraes Batalha. Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação defendida e aprovada pela Comissão Julgadora em 28/02/2007.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J. Pioneer photographers of Brazil: 1840 – 1920. New York: The Center for Inter-American Relations, 1976. 143 p., il. p&b.

FRANCESCHETTO, Cilmar. Victor Frond – 1860: uma aventura fotográfica pelo itinerário de D. Pedro II na Província do Espírito Santo. IHGES, Vitória (ES), 2015.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

IMS. Jean Victor Frond. Gabinete Fotográfico – Rio de Janeiro: IMS, 2004.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Coleção Princesa Isabel: fotografia do século XIX. Rio de Janeiro: Capivara, 2008.432p.:il., retrs.

LAGO, Pedro Corrêa do. Brasiliana Itaú: uma grande coleção dedicada ao Brasil / curadoria da coleção: Pedro Corrêa do Lago, Ruy Souza e Silva. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

RIBEYROLLES, Charles; FROND, Jean Victor. Brasil Pitoresco. São Paulo: Livraria Martins, 1941.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

SEGALA, Lygia. Ensaio das luzes sobre um Brasil pitoresco: o projeto fotográfico de Victor Frond. Tese de doutorado – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional. Rio de Janeiro : Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1998.

SEGALA, Lygia. O retrato, a letra e a história: notas a partir da trajetória social e do enredo biográfico de um fotógrafo oitocentista. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol 14 nº 41.

SILVA, Maria Antonia Couto. Um monumento ao Brasil: considerações acerca da recepção do livro Brasil Pitoresco, de Victor Frond e Charles Ribeyrolles (1859-1861). Tese de Doutorado em História da Arte – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Campinas : UNICAMP, 2011.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site de Livros raros da Marinha

Site do Arquivo Público do Estado do Espírito Santo

TSCHUDI, Johann Jakob von, 1818-1889. Viagem à província do Espírito Santo: imigração e colonização suíça 1860 / Johan Jacob von Tschudi; posfácio com fotografias inéditas de Victor Frond; [ coordenação editoral e posfácio de Cilmar Franceschetto}. – Vitória : Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2004. 173 p.: il. – (Coleção Canaã; v.5).

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos Pioneiros no Rio de Janeiro: V. Frond, G. Leuzinger, M. Ferrez e J. Gutierrez / por Pedro Vasquez. – Rio de Janeiro: Dazibao, 1990.

Dia Nacional do Fotógrafo

A Brasiliana Fotográfica faz uma homenagem ao Dia Nacional do Fotógrafo, destacando uma imagem de d. Pedro II, o primeiro brasileiro a possuir um daguerreótipo e, provavelmente, o primeiro fotógrafo nascido no Brasil. Seu interesse foi decisivo para a divulgação e o desenvolvimento da fotografia no país. O registro foi produzido pelo pintor e fotógrafo português Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), um dos mais  prestigiados e famosos retratistas do Brasil no século XIX.

Menos de um ano após o anúncio oficial da invenção, em 19 de agosto de 1839, na França, d. Pedro, aos 14 anos – antes de ser sagrado imperador – adquiriu o equipamento, em março de 1840, cerca de três meses depois que o abade francês Louis Comte (1798 – 1868) apresentou-lhe a novidade, no Rio de Janeiro – como se lê no Jornal do Commercio (Jornal do Commercio, 17 de janeiro de 1840, primeira coluna; e 20 de janeiro de 1840. terceira coluna).

A realização dos primeiros daguerreótipos no Brasil aconteceu, em 16 de janeiro de 1840 apenas 4 meses depois da produção do primeiro daguerreótipo feito nas Américas, até hoje conhecido. A imagem, de autoria de D.W. Seaver, retratou a igreja de São Paulo, em Nova York, em 16 de setembro de 1839. Foi exibida na drugstore do dr. James Chilton, situada na Broadway, 263. Pouco tempo depois, Samuel Morse (1791 – 1872), o inventor do telégrafo, e John William Draper (1811 – 1882), professor da Universidade de Nova York, produziram daguerreótipos da Igreja Unitária, em diferentes ocasiões, em Nova York. Todas essas imagens produzidas em Nova York estão desaparecidas, o que torna ainda mais importante a existência dos daguerreótipos pioneiros do Brasil.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Cartões de visita – cartes de visite

André Adolphe-Eugène Disdéri. Autorretrato, c. 1860. Paris, França. Acervo da Reunion des Musées Nationaux.

A troca de cartes de visite – cartões de visita fotográficos – foi um dos grandes modismos da segunda metade do século XIX e deu origem a outro modismo: os álbuns de fotografia. E foi a febre do retrato fotográfico, por sua vez, que solidificou a fotografia no Brasil e no mundo. Os cartes de visite eram trocados entre amigos,familiares e colecionadores, que com eles se confraternizavam. Conferiam ao fotografado um certo status social e, muitas vezes, continham dedicatórias e eram datados. A fotografia tornava-se, assim, parte da vida do homem moderno.

“Os cartes de visite, como todos sabem, tornaram-se a moeda social, os dólares da civilização”. A frase do escritor norte-americano Oliver Wendell Holmes (1809-1894) foi escrita, em 1863, e evidencia a popularidade desse formato de fotografia em todo o mundo.

André Adolphe-Eugène Disdéri (1819-1889), em 27 de novembro de 1854, patenteou sua invenção com o nome de carte de visite: uma câmara fotográfica com quatro lentes para obter oito retratos em apenas uma chapa de vidro; as primeiras 4 fotos eram expostas, a chapa se deslocava e permitia a exposição das outras 4 fotos.

Os cartes de visite apresentavam uma fotografia de cerca de 9,5 x 6 cm montada sobre um cartão rígido de cerca de 10 x 6,5 cm. A copiagem era feita geralmente com a técnica de impressão em albumina. O invento permitiu a produção em massa de fotografias.

O apogeu da popularidade dos cartes de visite começou, em 1859, quando, no dia em que partia para a Itália, em 10 de maio, Napoleão III parou no estúdio de Disdéri, em Paris, para ser retratado. No dia seguinte, já havia filas na porta do ateliê fotográfico. O entusiasmo em torno desses retratos era enorme e o sucesso do luxuoso ateliê de Disdéri, reputado, na década de 1860, como o fotógrafo mais rico do mundo, foi descrito por um viajante alemão como o verdadeiro templo da fotografia. Ainda, segundo esse relato, Disdéri vendia “todos os dias de 3 a 4.000 francos de retratos e empregava 90 pessoas que realizavam mais de duas mil fotografias por dia”.

Câmara de múltiplas objetivas introduzida por Disdéri para a produção de fotografias no formato carte de visite. Fonte: Imaging Resource

Em Nova York, os cartes de visite começaram a circular, provavelmente, no verão de 1859, introduzidos pelo fotógrafo Charles DeForest Fredricks (1823-1894). A Guerra Civil norte-americana (1861 – 1865) deu grande impulso aos cartes de visite – os soldados e suas família se faziam retratar antes de serem separados pelo conflito. Na Inglaterra, a venda de cartes de visite era muit0 grande e a própria Rainha Vitória (1819 – 1901) formou mais de 100 álbums de retratos de membros da família real e de pessoas socialmente importantes.

O declínio do formato carte de visite aconteceu a partir da década de 1870, quando começou a ser suplantado pelo cartão cabinet (gabinete), que surgiu na Inglaterra, em 1866. Era um pouco maior: apresentava fotografias de cerca de 9,5 x 14cm montadas sobre cartões rígidos de cerca de 11 x 16,5 cm.

No Brasil, um panorama sobre a expansão do retrato de estúdio pode ser obtido através do Dicionário Histórico-Fotográfico Brasileiro, de Boris Kossoy, e editado pelo Instituto Moreira Salles, em 2002. Segundo o autor:

“Foram investigados a modesta expansão da atividade no período da daguerreotipia (entre 1840 e 1858,  aproximadamente) e o caráter itinerante dos pioneiros, estrangeiros na sua grande maioria, que para este lado do mundo se aventuravam em razão, inclusive, da forte concorrência em seus países de origem  e que, após reunir algum pecúlio, embarcavam de volta. Foi demonstrado também o progressivo desenvolvimento da atividade a partir da década de 1860 em virtude , por um lado, da introdução de novos processos e de técnicas fotográficas baseadas no princípio do negativo-positivo, que, barateando os custos de produção do retrato fotográfico, o tornaria acessível a um público maior. Por outro lado, assiste-se a um progresso econômico: multiplicam-se as ligações ferroviárias, a imigração européia é incentivada, transformam-se as feições dos mais importantes centros urbanos, há, enfim, um efetivo crescimento de uma classe média nas maiores cidades, particularmente no Rio de Janeiro, sede da Corte e, mais tarde, da República. A clientela, nesta altura, já teria um perfil diferente daquele dos primeiros tempos da daguerreotipia, quando o retratado era, via de regra, um representante da elite agrária ou da nobreza oficial.

Nas últimas décadas do século avolumava-se o número de estabelecimentos fotográficos em virtude da nova clientela constituída de comerciantes urbanos, professores, profissionais liberais, funcionários da administração, entre outros elementos de uma classe que almejava ter sua imagem perpetuada pela fotografia”(pg.11-12).

Importante contribuição para o desenvolvimento da fotografia brasileira no século XIX, o título de Photographo da Casa Imperial, foi agraciado por dom Pedro II a diversos fotógrafos, muitos deles de estúdios fotográficos de renome no período como Buvelot & Prat, Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), Stahl & Wahnschaffe, José Ferreira Guimarães e  Henschel & Benque.

 

Acessando o link para as fotografias de cartes de visite disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY. Boris. Fotografia & História. 2. ed. rev. – São Paulo: Ateliê Editorial, 2001.

MAUAD, Ana Maria. Através das Imagens: Fotografia e História InterfacesTempo, Rio de Janeiro, vol. 1, nº 2, 1996.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do The American Museum of Photography

 

Imagens do Espírito Santo por Albert Richard Dietze (Alemanha, 1838 – Brasil, 1906)

Em 30 de junho de 1877, o alemão Albert Richard Dietze (1838-1906), considerado um dos maiores fotógrafos paisagistas que atuou no Brasil no século XIX, enviou para a imperatriz Teresa Cristina (1822-1889) uma série de 53 fotografias copiadas em papel albuminado numeradas, assinadas e datadas. Eram aspectos de Guarapari, de Vitória, da Colônia Santa Leopoldina, de Muquissaba, de Cachoeiro de Itapemirim e de outros locais, além de registros fotográficos de colonos, povoações, fazendas, sítios, casas, estabelecimentos comerciais, igrejas, escola, estação telegráfica e também de seu estúdio fotográfico. No verso dessas fotografias, Dietze solicitava a ajuda da monarca no sentido de publicar o folheto A Colônia de Santa Leopoldina, no Império do Brasil, Província do Espírito Santo, cujo objetivo era divulgar o Brasil no exterior para atrair imigrantes. Porém seu apelo não foi atendido pela imperatriz. Algumas fotografias da autoria de Dietze, intituladas Vues de l´interieur de la province de Espirito Santo, foram apresentadas na Exposição Universal de Paris de 1889 e integraram o Album de Vues du Brésil, editado por iniciativa de José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco (1845-1912).

 

 

Dietze é o autor do mais importante conjunto de imagens do Espírito Santo da segunda metade do século XIX. Suas paisagens mostram a terra trabalhada pelos colonos assim como as construções e modificações provenientes de sua ocupação. É também um dos pioneiros da cartografia no país: em 1889, organizou e editou uma série de cartões postais com fotografias de sua autoria. Além de registrar paisagens, fotografou escravos, músicos de bandas de congos e índios botocudos, o que o tornou, segundo a escritora Almerinda da Silva Lopes, ao que tudo indica, o primeiro fotógrafo a captar esse gênero de imagens capixabas.

Antes de Dietze, o fotógrafo francês Jean Victor Frond (1821 – 1881) havia produzido, em 1860,  registros fotográficos do Espírito Santo, tanto de Vitória como das colônias agrícolas de imigrantes. Acompanhou a viagem do naturalista e explorador suíço Johan Jacob von Tschudi (1818 – 1889), que, em 1860, foi nomeado embaixador da Confederação Helvética no Brasil. Tschudi estudou os problemas dos imigrantes suíços em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. De suas viagens a essas províncias, resultou o livro Viagens na América do Sul, obra publicada, em Leipzig, pela Editora Brockhaus, entre os anos de 1866 e 1869.

 

Acessando o link para as fotografias de Albert Richard Dietze disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Breve Perfil  de Albert Richard Dietze (1838-1906)

 

concertina

Albert Richard Dietze. Alberto Richard Dietze tocando concertina, c. 1879 / Acervo de Dolores Bucher

 

Nascido em Kaja, na Saxônia, em 29 de dezembro de 1838, Dietze chegou ao Brasil, em 1862. Era fotógrafo, músico e já havia cursado Agronomia em seu país. Também já havia, em 1º de outubro de 1858, se alistado para servir no 12º Regimento de soldados do rei, em Magdebourg. Veio para o Brasil, atraído, provavelmente, pelas facilidades concedidas pelo governo imperial brasileiro para imigrantes como, por exemplo, adquirir lotes de terras devolutas nas incipientes colônias de imigração do país. Passou alguns meses em Santa Catarina e depois veio para o Rio de Janeiro, onde durante cerca de quatorze meses trabalhou com o francês Auguste François Marie Glaziou (1833-1906), no Jardim Botânico da cidade. Posteriormente, abriu um estabelecimento denominado Photographia Allemã, e passou a fotografar imigrantes ilustres, aproveitando sua experiência na Alemanha como retratista de membros da elite, inclusive, segundo a pesquisadora e crítica de arte Almerinda da Silva Lopes, do próprio imperador alemão Guilherme I (1797 – 1888).

Passou a viajar pelo interior do Rio de Janeiro e pelo Espírito Santo, onde se estabeleceu, em 1869, inicialmente, em Vitória, possivelmente logo após ter sido nomeado agente consular da Alemanha. Em 1870, sua chegada em Cachoeira do Itapemirim foi noticiada (O Estandarte, de 20 de março de 1870, na terceira coluna. Foi identificado como Ricardo A. Dietz). No O Estandarte, de 3 de abril de 1870, ofereceu seus serviços de fotógrafo, e no O Estandarte, de 27 de abril de 1870, anunciou sua iminente partida e cobrou dívidas de seus clientes. No mesmo ano, leiloou várias fotos de sua autoria para ajudar feridos, irmãos, viúvas e órfãos de alemães que haviam morrido na guerra contra os franceses (O Espirito-santense, de 24 de novembro de 1870, sob o título “Aos Alemmães”).

Entre 1869 e 1878, registrou fotograficamente o início da colonização do Espírito Santo por seus compatriotas. Durante a década de 1870, fixou-se em Santa Leopoldina. Promoveu uma exposição com um “Viantoscopo”, em Vitória (Espirito-santense, de 22 de maio de 1873), e, em 12 de outubro de 1873, casou-se com Frederica Cristina Henrietta Sacht (? – 28/3/1908), com quem teve 9 filhos: Anna, Ricardo, Alberto, Maria, Gustavo, Charlotte, Otto, Pauline e Emma.

Anunciou, alguns anos depois, a abertura de seu estabelecimento fotográfico, na rua General Osório, 22, em Vitória (O Espirito-santense, 7 de março de 1876, sob o título “Photographo”). Posteriormente, diversificou suas atividades e tornou-se também comerciante de secos e molhados, brinquedos e instrumentos musicais importados da Alemanha, além de produtor e exportador de café.

Como um dos líderes de sua comunidade, foi nomeado para integrar a comissão que viria a elaborar o estatuto de uma associação auxiliar entre os colonos de Santa Leopoldina (Correio Paulista, de 17 de janeiro de 1877). Participou ativamente dos acontecimentos da cidade. Em 1º de outubro de 1885, cidadãos protestaram contra a decisão de Dietze em relação a uma mudança no trânsito (A Provincia do Espirito Santo, de 1º de outubro de 1885, primeira coluna sob o título “Santa Leopoldina”). Ele respondeu no mesmo jornal em 13 de outubro de 1885.

Envolveu-se também em assuntos relativos à educação, tendo criado e mantido uma escola para o ensino de português e alemão (O Espirito-santense,de 13 de fevereiro de 1886, na quarta coluna). Convidou um professor alemão para lecionar para os filhos dos colonos (O Espirito-santense, de 23 de janeiro de 1886, sob o título “Professor Allemão” e de 7 de abril do mesmo ano, na primeira coluna). Também foi o fundador e diretor de uma orquestra familiar e participou ativamente da vida social de Santa Leopoldina.

Dietze recebeu um prêmio, o grande diploma do mérito, em Berlim, em 1883 (O Horizonte, de 12 de maio de 1883, na primeira coluna sob o título “Exposição Brazileira em Berlim”). Enviou para a Sociedade de Geografia de Lisboa no Rio de Janeiro fotografias de paisagens e de um grupo de índios botocudos (A Provincia do Espirito Santo, de 15 de dezembro de 1883, sob o título “Offerta”, na quarta coluna). Em 30 de março de 1884, escreveu na primeira página do jornal A Provincia do Espirito Santo, sob o título “À Praça”, defendendo-se de ataques contra sua honestidade e fazendo cobranças. É noticiado que ele estava organizando um álbum fotográfico com vistas do Espírito Santo e foi mencionado o prêmio que ele havia recebido em Berlim (O Espirito-santense, de 7 de outubro de 1888). 

Ao que parece, Dietze nunca deixou de se dedicar à fotografia e à sua comunidade: fotografou e deu uma festa por ocasião da inauguração de uma ponte em Santa Leopoldina(O Estado do Espirito Santo, 24 de julho de 1897, na última coluna)anunciou a venda de fotografias e de cartões postais (O Cachoeirano, de 4 de novembro de 1900, na primeira coluna); e Estado do Espirito Santo, de 6 de junho de 1901, agradeceu a oferta de cartões postais feitas por Dietze ao periódico.

Faleceu, em Santa Leopoldina, em 24 de agosto de 1906, de parada cardíaca.

 

 

Acesse aqui a Cronologia de Albert Richard Dietze (1838-1906)

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. A coleção do imperador. Fotografia brasileira e estrangeira no século XIX, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, 1997

DREHER, Martin N. O suíço Johan Jacob von Tschudi (1818-1889) e suas leituras da América do Sul, 1980.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LOPES, Almerinda Silva. Alberto Richard Dietze: um artista-fotógrafo alemão no Brasil do século XIX. Vitória: Gráfica e Editoria A1.

VASQUEZ, Pedro. Fotógrafos alemães no Brasil do século XIX. São Paulo: Metalivros, 2000.

TRIBUNA DE VITÓRIA. Mestre de fotografia no estado, 15 de março de 2015.

TSCHUDI, Johann Jakob von, 1818-1889. Viagem à província do Espírito Santo: imigração e colonização suíça 1860 / Johan Jacob von Tschudi; posfácio com fotografias inéditas de Victor Frond; [ coordenação editoral e posfácio de Cilmar Franceschetto}. – Vitória : Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, 2004. 173 p.: il. – (Coleção Canaã; v.5)

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos. A fotografia e as exposições na era do espetáculo (1839-1889), Fundação Nacional de Arte & Rocco, Rio de Janeiro, 1995