Uma homenagem aos professores

No Dia do Professor, a Brasiliana Fotográfica homenageia esses profissionais tão importantes para a formação da sociedade, destacando artigos já publicados no portal sobre mulheres que foram professoras no Brasil ou no exterior, dentre elas a compositora Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935), a advogada Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a escritora Mariana Coelho (1857 – 1954) e a cientista francesa Marie Curie (1867 – 1934).

 

 

A data escolhida para celebrar os professores refere-se ao dia 15 de outubro de 1827, quando dom Pedro I (1798 – 1934), então imperador do Brasil, decretou uma Lei Imperial, criando as Escolas de Primeiras Letras. A partir desta norma, todas as cidades deveriam ter suas escolas de primeiro grau. O decreto também estabelecia o salário e a forma de contratação dos professores, além das matérias básicas a serem ensinadas (Império do Brasil, 1827, segunda coluna; Portal da Presidência da República – Casa Civil). O Dia do Professor tornou-se feriado escolar nacional através do Decreto Federal nº 52.682, de 14 de outubro de 1963 (Portal da Câmara dos Deputados). Viva os professores e as professoras! Viva a educação!

 

Artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre mulheres que foram professoras

 

 

A cientista Marie Curie (1867 – 1934) no Museu Nacional, Rio de Janeiro, 1926 – 05/07/2018 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus!” II – Natércia da Cunha Silveira (1905 – 1993), o jequitibá da floresta – 20/08/2020 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus!” V – Feminista do Amazonas: Maria de Miranda Leão (1887 – 1976), 29/11/2020 – Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional.

Série “Feministas, graças a Deus!” VI – Júlia Augusta de Medeiros (1896 – 1972) fotografada por Louis Piereck (1880 – 1931) – 09/12/2020 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus” VII – Almerinda Farias Gama (1899 – 1999), uma das pioneiras do feminismo no Brasil – 23/02/2021 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus!” IX – Mariana Coelho (1857 – 1954), a “Beauvoir tupiniquim” – 15/06/2021 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

E a primeira-dama Nair de Teffé leva a música de Chiquinha Gonzaga para o Palácio do Catete, em 1914 – 05/05/2021 – Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

Série “Feministas, graças a Deus!” X – Maria Luiza Dória Bittencourt (1910 – 2001), a primeira deputada da Bahia – 25/03/2022 – Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Dia do Compositor Brasileiro, uma data a ser festejada

A Brasiliana Fotográfica comemora o Dia do Compositor Brasileiro, criado em 7 de outubro de 1948, por iniciativa do cantor e compositor Herivelto Martins (1912 – 1992), com um artigo do jornalista André Luis Câmara. Quando criou esta data comemorativa, Herivelto estava em franca batalha pelo reconhecimento dos autores de música e letra, responsáveis por uma das expressões artísticas mais importantes e reconhecidas do país – a canção. O leitor poderá apreciar, ao longo da publicação, fotografias de Chiquinha Gonzaga, grande compositora, pianista e maestrina, além de um dos primeiros nomes na história da música popular brasileira a lutar pelos direitos autorais dos compositores, e do grande músico Pixinguinha, dentre outras.

 

O Dia do Compositor Brasileiro, uma data a ser festejada

André Luis Câmara*

Desde 1948, a data de 7 de outubro marca a comemoração do Dia do Compositor Brasileiro. Foi uma iniciativa de Herivelto Martins, autor de clássicos da música popular, como “Segredo” e “Cabelos brancos, ambos com Marino Pinto; “A Lapa”, com Benedito Lacerda; “Praza Onze”, com Grande Otelo; “Atiraste uma pedra”, com David Nasser, ou “Ave Maria no morro”. (Clique nos links, ao longo do texto, para acessar gravações da Discografia Brasileira do Instituto Moreira Salles).

Sempre envolvido na luta pelo direito autoral, Herivelto Martins esteve à frente da União Brasileira de Compositores (UBC), criada em 1942, e acompanhou muitos colegas que deixaram essa entidade para fundar, em 1946, a Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (Sbacem), da qual integrou o Conselho Deliberativo. Além disso, se tornou o primeiro presidente do Sindicato Nacional dos Compositores Musicais (Sindcom), em 1952.

 

 

Quando propôs que houvesse o Dia do Compositor Brasileiro, ele estava, portanto, em franca batalha pelo reconhecimento dos autores de música e letra, responsáveis por uma das expressões artísticas mais importantes e reconhecidas do país – a canção -, seja em ritmo de samba, samba-canção, modinha, marchinha, marcha-rancho, choro, bossa nova, baião, valsa, bolero, toada, balada, e por aí em diante.

 

Chiquinha Gonzaga abre alas

 

 

Se, entre profissionais da composição, e mesmo do canto, houve uma presença predominantemente masculina, pelo menos até a primeira metade do século XX, algumas mulheres conseguiram se contrapor a um universo machista, e se destacaram no panorama da música popular brasileira, a começar por Chiquinha Gonzaga.  Composta para o desfile do cordão Rosa de Ouro, em 1899, “Abre alas” se tornou um clássico do Carnaval. É inclusive, para o jornalista e letrista Nelson Motta, uma das “101 canções que tocaram o Brasil” (MOTTA: 2016).

 

Acessando o link das fotografias de Chiquinha Gonzaga disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

Essa marcha-rancho seria gravada como um dobrado, em versão instrumental, em 1910, pela Banda da Casa Faulhaber. No ano seguinte, a gravação seria feita pela Banda da Casa Edison, registro lançado somente em 1913, e em cujo selo do disco Odeon R 120174/ 120323 aparece como parceiro de Chiquinha Gonzaga o instrumentista Santos Bocot, que foi professor do compositor e maestro Anacleto de Medeiros.

Da lavra da compositora, podem ainda ser destacadas diversas outras canções, entre as centenas que compôs, como “Corta-jaca” ou “Lua branca”.

 

 

Chiquinha Gonzaga não é somente lembrada como grande compositora, pianista e maestrina, é também um dos primeiros nomes na História da música popular brasileira a lutar pelos direitos autorais dos compositores e uma das fundadoras da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (Sbat), em 1917. No entanto, nessa entidade havia uma hierarquização que levaria, anos mais tarde, não só a descontentamentos, como à união de compositores em novas sociedades arrecadadoras. A primeira delas seria a Associação Brasileira de Compositores e Autores (ABCA), em 1938. Em seguida, viriam as já citadas UBC e Sbacem.

 

O “pequeno direito”

 

Embora a Sbat contasse com um setor para tratar especificamente dos compositores, priorizava os autores teatrais. Estes recebiam o “grande direito”; aqueles, o “pequeno”. É que, nesse sistema, os compositores foram inicialmente incluídos como autores de música para teatro, atividade muita em voga no meio artístico da época, quando fazia grande sucesso o chamado “teatro de revista”.

Em espetáculos assim é que foi lançado o primeiro samba-canção, em 1928, “Linda flor”, com melodia de Henrique Vogeler e letra de Cândido Costa. No ano seguinte, recebeu nova letra de Freire Júnior e o título de “Meiga flor”. Meses depois, estreava na revista Miss Brasil, de Luiz Peixoto e Marques Porto, autores que lhe colocaram nova letra e o nome de “Iaiá”, para ser interpretado pela vedete Araci Cortes.

 

 

Foi com a terceira e definitiva letra que esse samba-canção ganhou fama, sendo gravado pela própria Araci Cortes, em disco Parlophon nº12926, lançado em 1929. No selo fonográfico aparecia “canção brasileira”, com o título “Linda flor (Iaiá)”. Pouco mais tarde, ganharia popularidade com o nome derradeiro: “Ai, Ioiô”.

O lançamento desse disco já acontece após o advento da gravação elétrica, feita com microfone, a partir de 1927. Até então, o processo de gravação de discos era mecânico. Grosso modo, funcionava assim: o cantor, acompanhado dos músicos, emitia sua voz
por um cone do qual se captava o som, e uma agulha imprimia a gravação em um disco de zinco recoberto com cera. Dessa matriz se faziam as cópias.

A gravação fonográfica no Brasil foi iniciada pela Casa Edison. Fundada em 1900 porFrederico Figner, comerciante de origem tcheca, durante os dois primeiros anos vendia fonogramas reproduzidos em cilindros para fonógrafo, aparelho sonoro ali também à
venda, e que fora inventado por Thomas Edison, em 1877. A partir de 1902, esse estabelecimento, que funcionava na Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, passou a gravar e a comercializar discos, ao mesmo tempo em que vendia o aparelho próprio para a reprodução do novo som: o gramofone. Tanto os discos quanto o gramofone são invenções do alemão Emil Berliner datadas de 1887. Os discos, de 78 rotações por minuto (rpm), vinham com duas músicas, uma de cada lado. [1]

 

 

O primeiro compositor a ser gravado em disco no Brasil foi Xisto Bahia. Seu lundu “Isto é bom” foi lançado pela Casa Edison, em 1902, com o selo Zon-o-phone nº 10001, na voz do cantor Baiano.

 

 

 

Este seria também o intérprete da primeira gravação do samba “Pelo telefone”, lançada em janeiro de 1917, um marco da discografia nacional, cuja autoria atribuída exclusivamente a Donga e Mauro de Almeida é até hoje controversa.

 

 

Discos em evidência

 

A gravação de discos, tanto no período mecânico, quanto no do sistema elétrico, colocava em evidência não somente os cantores, mas também os compositores, muito embora, até fins dos anos 1920, um dos principais veículos de comercialização das canções fosse ainda a venda de partituras para piano (encontrado geralmente em casas abastadas) e os jornais de modinha (destinados a um público mais abrangente). Os discos passavam a ser cada vez mais procurados, antes ainda do auge da Era do Rádio.

Um dos compositores que mais fez sucesso nas décadas de 1910 e 1920 foi Sinhô, que se tornou conhecido como “rei do samba”. Em outubro de 1919, durante a fase mecânica de gravação, Francisco Alves gravou para o Carnaval de 1920 a marcha “Pé de Anjo”.

Quase dez anos depois, o mesmo Sinhô fez sucesso já no sistema elétrico de gravação quando, por seu intermédio, o cantor Mário Reis estreou, em 1928, com três discos 78 lançados em sequência, que traziam sambas de sua autoria. O que se tornou mais popular foi o Odeon 10278. De um lado, estava “Jura”; do outro, “Gosto que me enrosco”.[1]

 

 

 

Juntos, Francisco Alves e Mários Reis formaram uma das mais famosas duplas de cantores de samba, gravando 12 discos 78, entre o fim de 1930 e o início de 1933. Aos dois coube lançar sucessos dos chamados Bambas do Estácio, como “Se você jurar”, de Ismael Silva e Nílton Bastos. A dupla também cantou, em primeira mão, sambas de Noel Rosa, como “Fita amarela”.

 

 

 

Com o crescente interesse do público pelo disco, principalmente depois da profissionalização do rádio, em 1932, quando a propaganda comercial radiofônica foi liberada,[2] a situação dos compositores que recebiam o “pequeno direito” instituído pela Sbat ficou cada vez mais incontornável.

Um dos dirigentes dessa sociedade, o pianista e grande melodista Custódio Mesquita, parceiro de Mário Lago no clássico fox-canção “Nada além”, nunca conseguiu se livrar das contrariedades a que um cargo assim leva um artista. Como conta o historiador Orlando de Barros:

“No período em que Custódio esteve na Sbat – quase toda sua vida profissional – ocorreram três momentos particularmente tumultuados. O primeiro se estendeu de cerca de 1930 até 1935, chegando ao auge em 1933, e consistiu na disputa pelo direito de execução das canções e peças de teatro no rádio emergente. O segundo, desde o fim de 1936 a 1937, decorreu do descontentamento da distribuição dos direitos de execução musical pela Sbat aos seus criadores. O terceiro, em pleno Estado Novo, se agudizou entre 1939 e 1942, ainda resultante das reclamações dos compositores populares, suscitando, dessa vez, o surgimento de outras entidades arrecadadoras” (BARROS: 2001, p. 288).

 

Tempos de streaming

 

Mesmo depois do surgimento de uma variedade de entidades arrecadadoras e da criação do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad), o direito autoral, na época atual do streaming, continua a ser uma luta para quem compõe canções. Essa atividade, ao longo do século XX, e no século XXI, passou a ser exercida mais fortemente por mulheres, a exemplo de cantoras e compositoras como Maysa e Dolores Duran, que criaram na década de 1950 diversos sucessos, entre eles “Ouça” e “A noite do meu bem”, respectivamente.

Passados 74 anos desde que foi criada, a data de 7 de outubro nos lembra da importância desses e dessas que nos emprestam “sua testa/ construindo coisas pra se cantar”, como diz Caetano Veloso em “Festa imodesta”, lançada por Chico Buarque em 1974. Compositores e compositoras permanecem a brilhar, ao lado de Chiquinha Gonzaga e de outros ícones da música popular brasileira, como o imortal Pixinguinha, que com João de Barro, o Braguinha, é autor de “Carinhoso”, choro que tão bem expressa o lugar significativo que a canção ocupa na memória coletiva.

 

 

Acessando o link das fotografias de Pixinguinha disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

Parabéns aos compositores e compositoras, e um viva a Herivelto Martins. Feliz Dia do Compositor Brasileiro!

 

[1] Em fins da década de 1950, a indústria do disco lançaria no Brasil o compacto simples, chamado de single nos países de língua inglesa, e que também apresentava uma faixa de cada lado, mas em 33 rotações por minuto. Era um disco em formato menor, com 7 polegadas, enquanto o 78 tinha 12.

[2] Além dos três discos 78 com sambas de Sinhô, Mário Reis, em 1928, lança outros dois: um com sambas de Caninha e J.F. Freitas; outro, com sambas de Alfredo Dermeval e Ary Barroso.

[3] Decreto nº 21.111, de 1º de março de 1932, assinado por Getúlio Vargas, então chefe do chamado Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil, aprova regulamento para os serviços de radiocomunicação no território nacional. Como deputado federal pelo Rio Grande do Sul, Vargas havia sido autor da lei do direito autoral, um dos motivos pelos quais contava com boa receptividade entre artistas. O Decreto nº 5.492, de 16/07/1928, conhecido como Lei Getúlio Vargas, durante o governo de Washington Luiz, regulou a organização das empresas de diversão e a locação de serviços teatrais, além de dispor sobre questões relacionadas ao cinema, ao rádio e à indústria do disco.

 

*André Luís Câmara é jornalista, pesquisador, poeta, mestre e doutor em Letras pela PUC-Rio, bolsista do projeto Memória e História do Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa (AMLB-FCRB).

 

Fontes:

BARROS, Orlando de. Custódio Mesquita: um compositor romântico no tempo de Vargas (1930-45). Rio de Janeiro: Eduerj, 2001.

DICIONÁRIO Cravo Albin da música popular brasileira: https://dicionariompb.com.br/ Acesso em: 03/08/2022.

DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga: história de uma vida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2009.

DISCOGRAFIA Brasileira do Instituto Moreira Salles: https://discografiabrasileira.com.br/ Acesso em 03/08/2022.

FRANCESCHI, Humberto M. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002.

MELLO, Zuza Homem; SEVERIANO, Jairo. A canção no tempo: 85 anos de música brasileira. V.1. São Paulo: Editora 34, 1997.

MOTTA, Nelson. 101 canções que tocaram o Brasil. São Paulo: Estação Brasil, 2016.

SEVERIANO, Jairo. Uma história da música popular brasileira: das origens à modernidade. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2013.

TINHORÃO, José Ramos. Música popular – do gramofone ao rádio e TV. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2014.

 

A Brasiliana Fotográfica agradece a colaboração de Isadora Cirne, assistente cultural do Departamento de Música do Instituto Moreira Salles.

Acesse aqui os artigos E a primeira-dama Nair de Teffé leva a música de Chiquinha Gonzaga para o Palácio do Catete, em 1914 e Série “1922 – Hoje, há 100 anos” I – Os Batutas embarcam para Paris, em 29 de janeiro – Uma história de música e de racismo, ambos de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicados na Brasiliana Fotográfica em 5 de março de 2021 e em 29 de janeiro de 2022, respectivamente.

Nota da editora:

Segundo a União Brasileira dos Compositores:

“Em 1983, o deputado Cunha Bueno apresentou o projeto de Lei 581/83, com o objetivo de oficializar o 7 de outubro de Herivelto como “o Dia do Compositor, a ser celebrado (…) em todo o território nacional”. De acordo com o documento, o dia foi festejado até 1980 apenas no Rio de Janeiro e, no ano seguinte, passou a ser celebrado também em São Paulo. A proposta do projeto era a de elevar essa comemoração a todo o país.

O projeto foi arquivado em 1989, por conta da Resolução 6/89, da Câmara dos Deputados, que definiu a extinção das proposições anteriores à redemocratização e ainda em tramitação. Mas a celebração informal se manteve — afinal, nunca é demais homenagear aqueles que criam a nossa música, uma das manifestações culturais mais fortemente associadas ao Brasil”.

Andrea C. T. Wanderley

E a primeira-dama Nair de Teffé leva a música de Chiquinha Gonzaga para o Palácio do Catete, em 1914

Nair de Teffé e Chiquinha Gonzaga: duas mulheres à frente de seu tempo e a história do Corta-jaca no Palácio do Catete, em 1914

 

 

Em uma recepção oferecida no Palácio do Catete pelo presidente da República, o gaúcho Hermes da Fonseca (1855 – 1923), e pela primeira-dama, Nair de Teffé (1886 – 1981), em 26 de outubro de 1914, foi executado dentro da programação musical da elegante soirée o tango Gaúcho, mais conhecido como Corta-jaca, da revolucionária, transgressora e prodigiosa maestrina, a carioca e afrodescendente Chiquinha Gonzaga (1847 – 1935), cuja mãe era filha de uma escravizada alforriada e, o pai, um militar de família tradicional. Pela primeira vez esse estilo de música era apresentado nos salões chiques da capital da República, tendo como convidados o corpo diplomático e a elite carioca. A própria Nair de Teffé, uma mulher à frente de seu tempo, culta, talentosa, boêmia e festeira tocou a composição ao violão, instrumento ainda marginalizado na época.

 

 

De origem aristocrática, filha dos barões de Teffé, Nair foi uma pioneira. É considerada uma das primeiras mulheres caricaturistas do mundo, conhecida pelo pseudônimo Rian, e colaborava com publicações como Fon-Fon, Gazeta de Notícias e o Malho. Foi educada na França e falava seis idiomas. Era atriz e criou a Troupe Rian, que encenava peças teatrais para angariar fundos para a construção da Catedral de Petrópolis e também para beneficiar obras sociais. Casou-se com Hermes da Fonseca, em 8 de dezembro de 1913, após ele ficar viúvo, em novembro de 1912, de sua primeira esposa, Orsina da Fonseca (1858 – 1912) (Fon-Fon, 31 de julho de 1909Jornal do Brasil, 1º de dezembro de 1912; Jornal do Brasil, 9 de dezembro de 1913; O Malho, 13 de dezembro de 1913).

 

 

Acessando o link para as fotografias de Nair de Teffé e de Hermes da Fonseca disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Voltando ao sarau…Ocorreu, como já mencionado, em 26 de outubro de 1914, menos de um mês antes da transmissão do cargo de presidente de Hermes da Fonseca para Venceslau Brás (1868 – 1966), em dia 15 de novembro de 1914. Grandes pianistas se apresentaram, dentre eles Arthur Napoleão (1843 – 1925), interpretando Les étincelles, de sua autoria; e Leopoldo Duque-Estrada (18? – 19?) com a Grande fantasia triunfal sobre o Hino Nacional Brasileiro, de Gottschalk (1829 – 1869). Mas foi a execução do Corta-jaca pela primeira-dama que marcou o evento. Finalmente uma música eminentemente popular era apresentada na sede do governo! (A Rua, 6 de novembro de 1914, primeira coluna).

 

 

 

Foi um escândalo e provocou reações na sociedade. O senador Rui Barbosa (1849 – 1923), que havia perdido a eleição presidencial para Hermes da Fonseca, em 1910, foi um dos que se manifestou contra o episódio, que ficou para a história como uma espécie de alforria da música popular brasileira.

 

 

A mais baixa, a mais chula, a mais grosseira de todas as danças selvagens, a irmã gêmea do batuque, do cateretê e do samba. Mas nas recepções presidenciais o corta-jaca é executado com todas as honras de música de Wagner, e não se quer que a consciência deste país se revolte, que as nossas faces se enrubesçam e que a mocidade se ria!

Trecho do discurso proferido no Senado por Rui Barbosa

sobre o Corta-jaca no Catete, em 7 de novembro de 1914

 

 

Acessando o link para as fotografias de Chiquinha Gonzaga disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

 

Gaúcho é um dos maiores sucessos de Chiquinha e integra a opereta burlesca Zizinha Maxixe, que estreou em 20 de agosto de 1895, no Teatro Éden Lavradio, no Rio de Janeiro, sob a direção da atriz Pepa Ruiz (1859 – 1923) (Gazeta de Notícias, 21 de agosto de 1895, terceira coluna).

 

 

Em um dos  manuscritos de Chiquinha, sob a guarda do Instituto Moreira Salles, pode-se ver o momento exato em que sua famosa música, segundo a escritora e biógrafa da maestrina, Edinha Diniz, camuflada de cateretê, dançada como maxixe e publicada como tango, nasceu. Ao final da partitura, a maestrina escreveu: “Arre!! São 3 e um quarto da manhã! Estou cansada, vou dormir… Felizmente acabei – os galos cantam”. Caiu nas graças do público, popularizando-se com o nome de Corta-jaca, intitulando, a partir daí, um gênero musical e apelidando, posteriormente, o governo do presidente Hermes da Fonseca (1910 a 1914).

 

 

A opereta não fez sucesso e só foi encenada três vezes (Jornal Illustrado, 31 de agosto de 1895, terceira coluna). Porém O Gaúcho foi editado em abril de 1899 sob o selo da Casa Vieira Machado, importante estabelecimento de publicação de partituras musicais, no Rio de Janeiro.

 

 

A música foi incluída na revista Cá e lá, de 1904 (O Paiz, 23 de junho de 1904, quarta coluna), e cantada pela população carioca em “chopps berrantes” por toda a cidade.

 

 

Devido ao sucesso, o tcheco Frederico (Fred) Figner (1866 – 1947), fundador da primeira empresa fonográfica do Brasil, a Casa Edison, e primeiro produtor fonográfico do país, gravou duas versões da canção em seu estúdio, na efervescente rua do Ouvidor, no centro da cidade.

 

 

O Corta-jaca tornou-se um clássico do grande repertório da música instrumental brasileira, merecendo gravações, entre outros, de Abel Ferreira, Altamiro Carrilho, Antonio Adolfo, Artur Moreira Lima, Clara Sverner, Conjunto Regional do Donga, Eudóxia de Barros, Guio de Morais, Itamar Assieré, Leandro Braga, Marcus Viana, Maria Teresa Madeira, Marcelo Verzoni, Paulo Moura, Radamés Gnatalli, Rosária Gatti, Talitha Peres, Turíbio Santos, inúmeras bandas e algumas versões cantadas (Site Chiquinha Gonzaga).

 

 

Ouça aqui o Gaúcho, composição de Chiquinha Gonzaga, conhecido como Corta-jaca, executado pela pianista Fernanda Canaud e pelo violonista Marco de Pinna, em 2014

 

 

Para saber mais sobre a vida e a obra da maestrina Chiquinha Gonzaga, acesse: https://ims.com.br/por-dentro-acervos/resgate-de-chiquinha-gonzaga/

 

Transcrição do artigo Chiquinha Gonzaga, de autoria do importante historiador da cultura brasileira, Mário de Andrade, publicado em O Estado de São Paulo, em 19 de fevereiro de 1940

CHIQUINHA GONZAGA 

Mario de Andrade

Na evolução da música popular urbana do Brasil teve grande importância o trabalho de uma mulher, já muito esquecida em nossos dias, Francisca Gonzaga. Esse esquecimento, aliás, é mais ou menos justificável, porque nada existe de mais transitório, em música, que esta espécie de composição. Compôr música de dansa, compôr música para revistas de anno e coisas assim é uma espécie de arte de consumo, tão necessária e tão consumível como o leite, os legumes, perfume e sapatos. O sapato gasta-se, o perfume se evola, o alimento é digerido. E o samba, o maxixe, a rumba, depois de cumprido o seu rápido destino de provocar várias e metaphoricas… calorias, é esquecido e substituído por outro. E como o artista só vive na função da obra que elle mesmo criou, o compositor de dansa, de canções de rádio, de revistas de anno, também é usado, gastado, e em seguida esquecido e substituído por outro.

Francisca Gonzaga, a Chiquinha Gonzaga de todos os cariocas do fim da Monarquia, também foi algum tempo um daqueles “pianeiros” a que me referi num artigo anterior, tocadores de música de dansa nos assustados ou nas já desapparecidas salas-de-espera dos cinemas. Mas só o foi por pouco tempo, levada pelas suas necessidades econômicas. Logo reagiu e subiu, chegando mesmo a dirigir orchestra de theatro de operetas. Em 1885 no Theatro Lyrico, numa festa em sua homenagem, ella regeu a opereta “A filha do Guedes”, um dos seus maiores sucessos, de que ninguém se lembra mais. Foi a primeira regente mulher que já tivemos, prophetisadora, por muito tempo não seguida, das Dinorah de Carvalho e Joanidia Sodré dos nossos dias.

Mas esta foi apenas uma aventura a mais na vida desta mulher ativa, de existência fortemente movimentada. Nascida de família de militares, trazendo a têmpera dos Lima e Silva, aos treze annos Chiquinha Gonzaga casava-se com o marido que lhe impunham. Mas, como no verso de Alberto de Oliveira: “Não gostava de música o marido”. Depois de uma curta vida de casada, Chiquinha se revoltou, fugiu, foi viver independente no seu canto, repudiada por todos, parentes e amigos, que não podiam se conformar com aquella ofensa à moral pública. E a sua vida foi difficil, ella pobre, com filhos a criar, uma honestidade a defender sozinha na fatal obrigação de frequentar ambientes bohemios e moralmente flacidos. Foi professora de piano, constituiu um chôro para execução de dansas em casas de família, em que se fazia acompanhar do filhinho mais velho, tocador de cavaquinho, com dez anos de edade.

Conta Mariza Lyra, que recentemente evocou a vida de Chiquinha Gonzaga num livro muito útil, que naquelles tempos cariocas do Segundo Império, um processo commum de se vender música de dansa era mandar negros e escravos offerecer de porta em porta a mercadoria. Foi também assim que Chiquinha Gonzaga principiou a vender suas composições.

O seu primeiro grande sucesso foi a polka “Attrahente”, hoje uma preciosidade bibliographica raríssima; publicada pelo editor de música Narciso, já então associado, em sua casa commercial, a Arthur Napoleão e Leopoldo Miguez. A capa trazia o retrato de Chiquinha Gonzaga, desenhada por Bordalo Pinheiro. Peça brilhante, ainda pouco nacionalmente característica, não representa a verdadeira Chiquinha Gonzaga, que só oito anos mais tarde, em 1885, com a opereta “A corte na Roça”, se apresentava bem mais brasileira em sua invenção melódica.

Aliás, para se impôr como compositora de theatro, Chiquinha Gonzaga teve muito que lutar. Era mulher, e embora já celebrada nas suas peças de dansa, ninguém a imaginava com o folcgo sufficiente para uma peça theatral. Conseguiu arrancar um libreto de Arthur Azevedo, mas a sua partitura foi rejeitada. Compôs em seguida, sobre texto de sua própria autoria, uma “Festa de S. João”, que também não conseguiu ver executada. Só a terceira tentativa vingou – essa “Corte na Roça” que a Companhia Souza Bastos representou em janeiro de 1885.

Foi o sucesso, a celebridade mais alargada, e Francisca Gonzaga fixou-se como compositora de theatro leve, em que havia de continuar, por toda a sua vida activa. Ninguém está esquecido, imagino, de uma peça deliciosa que ainda hoje pode se sustentar, sem graves symptomas de velhice, a “Jurity”, com texto de Viriato Corrêa. Será talvez o que mais perdurável compoz Chiquinha Gonzaga. Aliás a combinação Chiquinha Gonzaga-Viriato Corrêa foi das mais felizes do nosso theatro popular.  Além da “Jurity”, “Maria e a Sertaneja” são das obras mais finas, no seu gênero, entre nós.

A invenção Chiquinha Gonzaga é discreta e raramente banal. Ella pertence a um tempo em que mesmo a composição popularesca, mesmo a música de dansa e das revistas de anno ainda não se degradaram cynicamente, procurando favorecer apenas os instinctos e sensualidades mais reles do público urbano, como hoje. Basta comparar uma canção, uma modinha, uma polka de Francisca Gonzaga corn a infinita maioria das canções dc rádio, os sambas, as marchinhas de Carnaval deste século, para reconhecer o que affirmo. Não se trata apenas de differenças condicionadas pelo tempo, conservando na differenciação o mesmo nível desavergonhadarnente baixo. Trata-se de um verdadeiro rebaixamento de nível, num interesse degradado em servir o público com o que lhe for mais fácil, mais immediatamente gostoso, para vencer mais rápido numa concorrência mais numerosa e brutal.

O interesse maior de Chiquinha Gonzaga está nisso: a sua música, assim como ela soube resvalar pela boemia carioca sem se tisnar, é agradavel, é simples sem attingir o banal, é fácil sem atingir a boçalidade. Os seus maiores succesos públicos, a “Lua Branca”, que ainda hoje cantam por ahi como modinha anonyma, a “Casa de Caboclo”, o lundu “P’ra Cera do Santissimo”, o famoso “Oh Abre Alas!” carnavalesco, e especialmente o “Corta-Jaca”, guardam na sua felicidade de invenção uma espécie de pudor, um recato melódico que não se presta nunca aos desmandos da sensualidade musical.

No livro de Mariza Lira, tão cheio de indicações históricas interessantes, vem aliás uma pequena inexactidão que convem rectificar. Foi costume entre nós, imprimir musicas de sentido político em lenços grandes, se não me engano trazidos ao pescoço. Informa Mariza Lira que “P’ra Cera do Santissimo” andou impressa em lenços de seda, tal a popularidade do lundu’. E adianta mais que um destes lenços esteve exposto na exposição de inconographia musical brasileira, realizada pelo Departamento de Cultura durante o Congresso da Língua Nacional Cantada. A inexactidão é que o lenço exposto, nessa occasião, não reproduzia a peça de Chiquinha Gonzaga, mas sim o “Chô Arauna”, e vinha provavelmente das últimas lutas ou primeiras celebrações do Treze de Maio.

Num outro passo do seu livro ainda, Mariza Lira dá como de acceitação definitiva a versão sobre a origem da palavra “maxixe”, para designar a nossa dansa urbana que antecedeu o samba carioca actual. Conta-se que essa designação derivou de um indivíduo que numa sociedade carnavalesca do Rio, chamada os Estudantes de Heidelberg, dansou de maneira tão especial e convidativa que todos começaram a imital-o. Esse indivíduo tinha o appelido de Maxixe; e como todos principiassem  a “dansar como o Maxixe”, em breve o nome do homem passou a designar a própria dansa. Ora, quem deu esta versão fui eu, que a ouvi do compositor Villa Lobos que por sua vez a teria ouvido de um velho, carnavalesco em seu tempo de mocidade, frequentador dos Estaudantes de Heldelberg e testemunha do facto. A versão é muito plausível, nada tem de extraordinária. Mas eu a dei com as devidas reservas, pois me parece que a coisa carece de maior confirmação. 

O que eu apenas fixei é que o maxixe, como dansa carioca, appareceu na década que vae de 1870 a 1880, e isso coincide de facto com a existência dos Estudantes de Heldelberg. Não conheço texto algum de 1870 em que a palavra apareça. Em 1880 ella ja principia frequentando regularmente as revistas e jornaes do Rio. Mas as minhas pesquisas pararam nisto, eu levado por outros interesses mais profundos.

O livro de Mariza Lira nos conta pela primeira vez vários passos interessantes da vida de Francisca Gonzaga. A autora do “Corta-Jaca” foi realmente uma mulher enérgica, cheia de iniciativas. Republicana apaixonada, tomou parte nas lutas de 1893, publicando músicas de sentido político. Chegou a ter ordem de prisão, por isso, as copias de sua cançoneta “Aperte o Botão” foram apprehendidas e inutilisadas. 

De outra feita, lhe doendo a sepultura miserável que guardava restos mortaes do autor do Hino Nacional, apesar de já nos seus 75 anos de idade, Chiquinha Gonzaga tomou a peito dar a Francisco Manuel morada mais digna. Serviu-se da Sociedade Brasileira de Autores Theatrais; lutou e conseguiu o seu intento. Na mocidade, discutindo com a pobreza, inventava as suas próprias vestes, em que havia sempre alguma originalidade lhe realçando a bonita carinha. Na cabeça, não podendo comprar os chapéus da moda, inventou trazer um toucado feito com um simples lenço de seda. Tão encantadora ficava assim e era tão diffícil de comprehender como arranjava o lenço, que uma vez, em plena rua do Ouvidor, uma senhora não se conteve, arrancou-lhe o lenço da cabeça, para descobrir o truque. Chiquinha indignada voltou-se e insultou a invejosa, chamando-lhe “Feia!”.

Francisca Gonzaga compôs 77 obras theatrais e tunas duas mil peças avulsas. Quem quizer conhecer a evolução das nossas dansas urbanas terá sempre que estudar muito attentamente as obras della. Vivendo no Segundo Império e nos primeiros decennios da República, Francisca Gonzaga teve contra si a phase musical muito ingrata em que compoz; phase de transicção, com suas habaneras, polkas, quadrilhas, tangos e maxixes, em que as características raciaes ainda lutam muito com os elementos de importação. E, ainda mais que Ernesto Nazaré, ella representa essa fase. A gente surprehende nas suas obras os elementos dessa luta como em nenhum outro compositor nacional. Parece que a sua fragilidade feminina captou com maior acceitação e também maior agudeza o sentido dos muitos caminhos em que se extraviava a nossa música de então.

 

 

A Brasililiana Fotográfica agradece a colaboração de Bia Paes Leme, coordenadora de Música do Instituto Moreira Salles, e a de Euler Gouvêa, músico e assistente da Coordenadoria de Música do Instituto Moreira Salles, para a publicação desse artigo.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

DINIZ, Edinha. Chiquinha Gonzaga, uma história de vida. São Paulo : Companhia das Letras, 2009.

FRANCESCHI, Humberto. A Casa Edison e seu tempo. Rio de Janeiro: Sarapuí, 2002.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

NASCIMENTO, Rafael. Catete em ré menor: tensões da música na Primeira RepúblicaUniversidade Estadual de Campinas : Revista do Instituto de Estudos Brasileirosnúm. 672017. Instituto de Estudos Brasileiros.

PASCHOALOTTO, Ivanete; SIMILI, Ivana. Nair de Teffé: Uma narrativa biográfica para as mulheres dos séculos XIX e XX. Diálogos & Saberes, Mandaguari, 2011.

SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro, 1917-1933. Rio de Janeiro ;  Jorge Zahar Editor, 2001.

Site Instituto Moreira Salles

Site Multirio

Site Musica Brasilis

A Confeitaria Colombo, um elo entre o Rio de Janeiro antigo e o atual

A Confeitaria Colombo, que hoje destacamos com a publicação de fotografias do Acervo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, é uma espécie de elo entre o Rio de Janeiro de antigamente e o atual, além de ser também um marco na história da gastronomia e da vida social carioca. Fundada pelos portugueses Manoel Lebrão e Joaquim Borges de Meirelles, em 17 de setembro de 1894, na movimentada rua Gonçalves Dias, no centro da cidade (Diário de Notícias, 18 de setembro de 1894, sexta coluna), onde permanece até hoje, é um símbolo da Belle Epoque carioca. Considerada uma casa verdadeiramente parisiense, a Colombo era vizinha dos ateliês dos fotógrafos Juan Gutierrez e José Ferreira Guimarães e de vários outros importantes estabelecimentos comerciais (Revista Illustrada, janeiro de 1895).

Acessando o link para as fotografias da Confeitaria Colombo disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Em pouco tempo a confeitaria tornou-se um dos pontos mais concorridos da cidade, tendo sido frequentada por escritores como Olavo Bilac (1865 – 1918) e Machado de Assis (1839 – 1908), por jornalistas como Emilio de Menezes (1866 – 1918), por artistas como Villa-Lobos (1887 – 1959) e Chiquinha Gonzaga  (1847-1935), e por políticos como os presidentes Washington Luís (1869 – 1957) e Juscelino Kubitschek (1902 – 1976). Algumas mesas trazem os nomes de alguns de seus clientes, como a em homenagem ao empresário e político Assis Chateubriand (1892 – 1968), fundador dos Diários Associados. Em estilo art nouveau, a confeitaria tem em sua decoração vitrais franceses, espelhos importados da Bélgica, cadeiras feitas de palhinha e jacarandá por Antonio Borsoi (1880 – 1953), mesas em opalina azul com os pés de ferro, posteriormente substituídas por tampos de mármore, continua sendo um reduto de elegância e sinônimo de tradição no Rio de Janeiro. Em 1922, foram inaugurados o salão de chá em estilo Luís XVI, no segundo andar, uma clarabóia vinda da França e um dos primeiros elevadores instalados na cidade.

 

 

Estabelecimento perfeito no gênero, o primeiro da América do Sul, e quiçá da Europa” (Illustração Brasileira, 7 de julho de 1922).

 

 

Foi tombada, em 9 de fevereiro de 1983, como patrimônio material, pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural; e, em 31 de outubro de 2017, como patrimônio imaterial, pelo Instituto Rio Patrimônio da Humanidade. Ao longo de sua história foi um lugar de convergência, de comunhão entre os vários Rios.

 

 

 

 

 

 

Na matriz da Colombo, na Gonçalves Dias, há o Espaço Memória, onde são mostradas imagens do Rio Antigo, além de fotografias da memorabilia que fez parte da história da confeitaria como projetos, louças, cristais originais e embalagens antigas. Atualmente, a confeitaria tem filiais no Forte de Copacabana, no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro e no Centro Cultural Banco do Brasil.
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Ouça aqui a marchicha de carnaval “Sassaricando” (1951), interpertada por Virginia Lane, que menciona a Confeitaria Colombo.

 

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Requerimento feito por Manoel Lebrão à Prefeitura do Rio de Janeiro para reconstruir o prédio da Colombo datado de 10 de janeiro de 1912 / Acervo AGCRJ

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

Acervo Digital de O Globo

BIANCHI, Silvia Soler. Entre o café e a prosa : memórias da Confeitaria Colombo no início do século XX. Rio de Janeiro : Terceira Margem, 2008.

DUNLOP, Charles. Rio Antigo, vol 2. Rio de Janeiro : Cia. Editora e Comercial F. Lemos, 1956.

FREIRE, Renato; RODRIGUES, Antônio Edmilson Martins. Confeitaria Colombo: Sabores de uma cidade. Rio de Janeiro : Edições de Janeiro, 2014.

LAZINHA, Luiz Carlos. A “Colombo” na vida do Rio. Rio de Janeiro : Gráfica Olímpica Editora, 1970.

Site Confeitaria Colombo

Site Inepac