Novos acervos: Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha

A Marinha do Brasil e os primórdios da fotografia aérea

A Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM) tem o propósito de preservar e divulgar o patrimônio histórico e cultural da Marinha, contribuindo para a conservação de sua memória e para o desenvolvimento da consciência marítima brasileira. Além disso, cabe ainda à DPHDM a administração do Arquivo da Marinha, localizado na Praça Barão de Ladário s/n°, Ilha das Cobras, dentro do complexo do Comando do 1º Distrito Naval.

O Arquivo da Marinha é integrante do Sistema Nacional de Arquivos (SINAR) e reconhecido como Instituição Arquivística Pública, com o acervo tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC). No acervo fotográfico, há imagens do século XIX até os dias atuais. A partir deste mês, passa a integrar o portal Brasiliana Fotográfica, compartilhando valiosas imagens.

Centro da Cidade: Praça Mauá e arredores

A imagem capturada na primeira metade da década de 1920 mostra a atual avenida Rio Branco em toda a sua extensão, da Praça Mauá (em primeiro plano) até a então Praia de Santa Luzia. Ao longo da avenida aparece a arborização, entre as pistas, que resistiu desde a sua inauguração até 1948. Na parte central da imagem, à direita da Avenida Rio Branco, está o Morro da Conceição com seu casario que persiste, até hoje. No lado oposto, junto ao mar, o Armazém do Sal, edificação construída pelos monges beneditinos em meados do século XVIII e hoje preservada como a sede do Comando do Primeiro Distrito Naval.

No canto superior esquerdo está a Igreja da Candelária, ainda cercada de sobrados, antes da abertura da Avenida Presidente Vargas, na primeira metade da década de 1940. Neste mesmo canto, na margem da imagem, vê-se o que parece uma mancha, mas é parte da aeronave da Aviação Naval da Marinha do Brasil onde o fotógrafo Jorge Kfuri registrou diversos locais da então Capital Federal.

Kfuri, como um dos primeiros especialistas na fotografia aérea, até então a serviço do jornal A Noite, foi contratado pela Marinha do Brasil para adestrar as tripulações das aeronaves da Aviação Naval no seu ofício – quando recebeu a patente honorária de Segundo-Tenente.

Acessando o link para as fotografias do acervo da Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

Novos acervos: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

No mês de seu aniversário de um ano, a Brasiliana Fotográfica está apresentando ao longo de abril os acervos das novas instituições que se integraram ao portal. Dessa vez, apresentamos o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro com um artigo de sua diretora, Beatriz Kushnir.

 

Esforços de resgate: a recuperação da informação de parte das fotografias furtadas do arquivo Malta

Beatriz Kushnir*

O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) aceitou com entusiamo o convite para integrar a iniciativa pioneira desenvolvida pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que resultou no portal Brasiliana Fotográfica. Para tal, selecionamos, neste primeiro momento, 112 imagens, que foram gentilmente digitalizadas pelo IMS. Setenta já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica e as demais poderão ser acessadas até o fim de abril.

Esse conjunto espelha alguns critérios de escolha. Um deles é o estético: os eventos e locais registrados, como o Largo da Carioca, as ressacas na Praia de Copacabana, a Ilha de Paquetá e as obras em Bonsucesso. Outro é a autoria: as imagens são dos Malta – Augusto e seus filhos Aristógiton e Uriel. Este segundo critério de escolha refere-se ao olhar que as capturam, apontando para o seu contratante: o Poder Público.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Enquanto fotógrafo oficial da então Prefeitura do Distrito Federal, Augusto Malta (1864 – 1957) exerceu a função entre 1903 e 25 de agosto de 1936, sendo nomeado para um cargo até então não existente, pelo prefeito Francisco Pereira Passos (30/12/1902 – 14/11/1906). Suas atividades ficaram subordinadas à Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura.  Aristógiton Malta veio auxiliar o pai a partir de 1925 e substituiu-o quando ele se aposentou, convocando o irmão Uriel Malta, a partir de 1937, para ajudá-lo.

Durante a gestão do interventor Adolpho Bergamini (24/09/ 1930 a 21/09/1931), mais precisamente a partir de 13 de abril de 1931, conforme o Decreto nº 3.489, a Diretoria Geral de Obras e Viação transformou-se na Diretoria Geral de Engenharia, de modo que Augusto Malta foi igualmente  incumbido de organizar todo o arquivo fotográfico, incluindo os serviços por ele executados. Isto acarretou a transferência do acervo para o então Arquivo Geral do Distrito Federal(1).

A escolha destas 112 fotografias levou em consideração ainda outro componente, certamente o principal aqui: elas foram pinçadas de um universo de 1.500 negativos identificados a partir de 2013 e cujas imagens podem corresponder a uma parcela dos originais furtados em junho de 2006. Isto só foi possível a partir de diversas iniciativas de mapeamento, controle, tratamento técnico e arquivístico do extenso acervo custodiado, do qual destacamos os negativos do Fundo Secretaria Geral de Educação e Cultura, ora em tratamento.

Infelizmente, o AGCRJ foi vítima daquele furto, em junho de 2006. Assim como ocorreu em diversas outras instituições do país,  segundo a Polícia Federal, é possível que a subtração de imagens já ocorresse há muito mais tempo. A ausência de instrumentos de controle do acervo em depósito, como constatei ao assumir a Direção-Geral desta instituição, em abril de 2005, e as iniciativas para empreendê-los – como o Portal Augusto Malta, no ar desde 2008 -, podem apontar para o que tenha ocorrido. Se não existia controle e o estávamos construindo, uma última investida ousada foi realizada para retirar itens “desejados” no âmbito privado. Tema sempre doloroso para as instituições, os furtos devem ser publicizados e enfrentados para serem solucionados (2).

Em sua maioria, as fotografias aqui selecionadas são oriundas de negativos, alguns de segunda geração, e que nos permitiram reaver parte das informações furtadas, tendo por marco final o ano de 2006. O empenho para localizar vestígios do que se perdeu, permitiu esses primeiros achados. E a partir deles, se desencadeou a prospecção em outros conjuntos documentais em depósito no AGCRJ. Neste sentido, a mensagem que a Instituição quer afirmar é a demonstração do compromisso do Arquivo da Cidade em reconquistar os registros ora considerados perdidos, em virtude da ação privatizadora e destruidora de acervos públicos e, por consequência, da memória da eterna cidade-capital  do Brasil.

Assim, este conjunto incial de imagens do AGCRJ que você poderá consultar no portal Brasiliana Fotográfica é a demonstração de uma equipe engajada em dar um sinal positivo a esta instituição, após uma fatalidade. Imagens que se acreditavam perdidas, porque furtadas, podem ser novamente admiradas e consultadas por retornarem ao lugar de patrimônio de todos nós!

Notas:

(1) Refiro-me a seguinte obra: ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Administração Pública Municipal: a estrutura e os titulares: da Comissão de Intendência à Prefeitura do Rio (1889-2012). Idealização de Beatriz Kushnir e Coordenação de Sandra Horta. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal da Casa Civil/ Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2014, p. 45. Publicação eletrônica em e-book: <http://www.rio.rj.gov.br/ebooks/revista/>.

(2) KUSHNIR, Beatriz. “Da manchete à notinha de canto: os furtos do patrimônio público, a privatização dos acervos do cidadão”. Museologia e Patrimônio, vol.II, nº1, jan.-jun./2009, pp. 9-21. Disponível em http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/42/22>.

 * Beatriz Kushnir é a Diretora-Geral do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
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Augusto Malta. Praia do Russell, 1904. Rio de Janeiro / Acervo do AGCRJ

Novos acervos: Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig

A Brasiliana Fotográfica completa um ano e, ao longo do mês de abril, vai divulgar os novos acervos que passam a integrar o portal. O primeiro deles reúne um conjunto de 460 imagens do Brasil produzidas até 1900, que pertence ao acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde.  Mediante convênio, o conjunto foi incorporado ao acervo do Instituto Moreira Salles por meio da digitalização das fotos em alta resolução. Já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica 216 fotografias do conjunto, as restantes estarão no portal até o final do ano. O Leibniz-Institut für Länderkunde, sediado na cidade de Leipzig, reúne o mais importante acervo de fotografia brasileira do século XIX  na Alemanha, em especial pelas imagens reunidas na coleção Stübel.

 

 

São imagens da fauna, da flora, de paisagens, de cidades, de índios, de igrejas, de escravos e de vários outros temas produzidas por diversos fotógrafos, dentre eles Alberto FrischAlberto Henschel, Carlos Dhein, Felipe Augusto Fidanza, Franz Keller, Georges Leuzinger, Joaquim Insley Pacheco, Marc Ferrez e também de fotógrafos ainda não identificados.

 

 

O geólogo alemão Moritz Alphons Stübel (1835 – 1904) viajou, entre 1868 e 1877, pela América do Sul com o também geólogo Wilhelm Reiss (1838 – 1908), que retornou um ano antes para a Alemanha. Stübel formou uma importante coleção de fotografias, composta originalmente por quase duas mil imagens. A Collection Alphons Stübel, a maior coleção de fotografias sul-americanas do século XIX, até agora conhecida, da Alemanha – e provavelmente da Europa – está preservada no Leibniz-Institut für Länderkunde.

 

 

Acessando o link para as fotografias do acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Uma breve história do Leibniz-Institut für Länderkunde

 

O Leibniz-Institut für Länderkunde foi fundado em sua forma atual em 1992, mas seu início remonta ao ano de 1896, quando o Museu de Etnologia de Leipzig fez uma exposição da coleção do geólogo Alphons Stübel. Em 1907, esse museu tornou-se o Museu Regional de Geografia. A partir de 1930, o museu também passou a ser um instituto de pesquisa. Sob a direção do geógrafo e cartógrafo Edgar Lehman, o Instituto Alemão Regional de Geografia passou a ser o Instituto de Pesquisa de Geografia da República Democrática da Alemanha. Em 1976, passou a se chamar Instituto de Geografia e Geoecologia. Foi extinto e reinaugurado em 1º de janeiro de 1992 como o Instituto Leibniz Regional de Geografia.