Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra

A Brasiliana Fotográfica celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra com uma seleção de imagens de mulheres produzidas por Alberto Henschel (1827 – 1882), Antônio Lopes Cardoso (18? – ?), Augusto Stahl (1828 – 1877), Carneiro & Gaspar (Joaquim Feliciano Alves Carneiro (18? – 1887) e Gaspar Antonio da Silva Guimarães (18? – 1874) ), Felipe Augusto Fidanza (1844 – 1903), João Goston (18? – ?), Marc Ferrez (1843 – 1923)José Christiano Junior (1832 – 1902) e por fotógrafos ainda não identificados.

Foi no encontro de Mulheres Negras Latino-Americanas e Caribenhas, realizado em Santo Domingo, na República Dominicana, em 1992, cujo objetivo era propor a união entre essas mulheres e denunciar o machismo e o racismo, que nasceu o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha, reconhecido pela ONU no mesmo ano. Também durante o encontro foi estabelecida a criação da Rede de Mulheres Afro-latino-americanas, Afro-caribenhas e da Diáspora.

 

 

Acessando o link para a seleção de fotografias que foram selecionadas para homenagear o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha e o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

No Brasil, cerca de 22 anos depois, em 2 de junho de 2014, a Lei 12.987/2014, estabeleceu o dia 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A partir da figura da matriarca quilombola Tereza de Benguela, a data tem o propósito de dar visibilidade ao papel da mulher negra na história brasileira. Tereza de Benguela viveu no século XVIII e foi escravizada pelo capitão Timóteo Pereira Gomes. Foi casada com José Piolho, que era o chefe do Quilombo Quariterê ou Quilombo do Piolho, na fronteira de Mato Grosso com a Bolívia, até ser assassinado por soldados do Estado. A partir de sua morte, a Rainha Tereza, como era chamada, assumiu a chefia do quilombo, que liderou por cerca de 20 anos, resistindo contra o governo escravocrata.

Segundo os anais de Vila Bela da Santíssima Trindade, Tereza:

Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entravam os deputados, sendo o de maior autoridade, tido por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais. Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executavam à risca, sem apelação nem agravo.

 

 

 

O GLOBO, 23 de julho de 2014

O GLOBO, 23 de julho de 2014

 

Antes de ser homenageada com a criação da data, Tereza de Benguela já havia sido, no carnaval de 1994, tema do enredo Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal. da Escola de Samba Unidos do Viradouro.

 

Amor, amor, amor…
Sou a viola de cocho dolente
Vim da Pérsia, no Oriente
Para chegar ao Pantanal
Pela Mongólia eu passei
Atravessei a Europa medieval
Nos meus acordes vou contar
A saga de Tereza de Benguela
Uma rainha africana
Escravizada em Vila Bela
O ciclo do ouro iniciava
No cativeiro, sofrimento e agonia
A rebeldia, acendeu a chama da liberdade
No Quilombo, o sonho de felicidade

Ilê Ayê, Ara Ayê Ilu Ayê
Um grito forte ecoou (bis)
A esperança, no quariterê
O negro abraçou

No seio de Mato Grosso, a festança começava
Com o parlamento, a rainha negra governava
Índios, caboclos e mestiços, numa civilização
O sangue latino vem na miscigenação

A invasão gananciosa, um ideal aniquilava
A rainha enlouqueceu, foi sacrificada
Quando a maldição, a opressão exterminou
No infinito uma estrela cintilou

Vai clarear, oi vai clarear
Um Sol dourado de Quimera (bis)
A luz de Tereza não apagará
E a Viradouro brilhará na nova era

 

 

Voltou a ser homenageada por uma escola de samba, a Barroca Zona Sul, de São Paulo, desta vez em 2020, com o enredo Benguela… A Barroca Clama a Ti, Tereza.

 

Axé, Tereza
Divina alteza, meu tambor foi te chamar
Sua luz nessa avenida
Incorpora a chama, Yabá
Da magia irmanada por Odé
Não sucumbe a fé, traz a luta de Angola
E a corrente arrastou pro sofrimento
Um sentimento, valentia quilombola
Reluz o ouro que brota em seu chão
Desperta ambição, mas há de raiar o dia
Do Guaporé, ser voz de preservação

Em plena floresta, auê, auê!
Resistência na aldeia, Quariterê!
Na mata, sou mestiço, guardião
O meu grito de guerra é por libertação!

O nosso canto não é apenas um lamento
A coragem vem da alma de quem ergueu o parlamento
Do castigo na senzala à miséria da favela
O povo não se cala, ó Tereza de Benguela!
Vem plantar a paz por essa terra
A emoção que se liberta
E a pele negra faz a gente refletir
Nossa força, nossa luta
De tantas Terezas por aí!

No caminho do amanhã, Obatalá!
É a luz que vem do céu, clareia!
Vem de Benguela o clamor de liberdade
Barroca pede tolerância e igualdade!

 

Uma curiosidade: assim como a ilutração acima foi adotada para representar Tereza de Benguela, a fotografia abaixo, produzida por Alberto Henschel, em torno de 1870, é frequentemente associada a Luiza Mahin, que viveu no século XIX e foi mãe do poeta, advogado e abolicionista Luís Gama, e liderança da Revolta dos Malês, um dos maiores levantes de escravizados promovidos no Brasil, em Salvador, em 1835. Para saber mais sobre essa história, acesse o artigo A mulher negra de turbante, de Alberto Henschel, de autoria de Aline Montenegro Magalhães e Maria do Carmo Rainho, publicada na Brasiliana Fotográfica, em 13 de maio de 2020.

 

 

Acesse aqui a pesquisa Visível e Invisível: A Vitimização de Mulheres no Brasil, realizado pelo Datafolha a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e divulgada em 2 de março de 2023.

 

Montagem feita pelo fotógrafo Januário Garcia (1943 - 2021) com fotos de sua autoria  para o Dia de 2015

Montagem feita por Januário Garcia (1943 – 2021) com fotos de sua autoria para o Dia Internacional da Mulher Negra Latina Americana e Caribenha de 2015

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

BANDEIRA, Maria de Lourdes. Território Negro Em Espaço Branco. São Paulo : Brasiliense, 1988.

LACERDA, Thays de Campos. Tereza de Benguela: identidade e representatividade negra. Revista de Estudos Acadêmicos de Letras.

NUNES, Dimalice. Teresa de Benguela: a heroica rainha do Quilombo Quariterê. Aventura da História, 20 de novembro de 2019.

O GLOBO

Portal Geledés

Site Fiocruz

Site ONU Mulheres

Site Senado Federal

Site Sipad

Site Universidade Federal do Recôncavo Baiano