Um “aparelho que projeta sobre uma tela colocada ao fundo da sala diversos espetáculos e cenas animadas, por meio de uma série enorme de fotografias“. Assim o Jornal do Commercio descreveu o omniógrafo, após a primeira sessão pública de cinema no Brasil, que aconteceu às 14h, do dia 8 de julho de 1896, no Rio de Janeiro, em uma sala especialmente preparada para as projeções do aparelho, na rua do Ouvidor (Jornal do Commercio, 9 de julho de 1896, quarta coluna). A exibição ocorreu poucos meses após a projeção inaugural dos filmes dos irmãos Auguste (1862 – 1954) e Louis-Jean Lumière (1864 – 1948), em Paris, no dia 28 de dezembro de 1895, no Grand Café do Boulevard des Capucines.
Diversos fotógrafos não ficaram indiferentes à nova invenção. Alguns exemplos já abordados pela Brasiliana Fotográfica são Benjamin Abrahão Calil Botto (1901 – 1938), Jorge Kfuri (1893 – 1965), João Stamato (1886 – 1951), Marc Ferrez (1843 – 1923) e seus filhos e Walter Garbe (18? – 19?).
Nesse artigo, a Brasiliana Fotográfica homenageia a sétima arte e destaca a imagem do Cinema Odeon produzida pelo fotógrafo alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), que foi, de 1903 a 1936, o fotógrafo oficial da prefeitura do Rio de Janeiro. Acessando a fotografia no acervo do portal, o leitor poderá magnificá-la, verificar todos os dados referentes a ela e explorar todos os seus detalhes, como, por exemplo, os pedestres, os carros, a iluminação pública, a presença de uma agência da Sul-América Seguros no prédio, a arquitetura da fachada e ônibus que aparecem no registro. Basta clicar aqui ou na própria imagem. A preservaçao digital de imagens possibilita, a partir de recursos tecnológicos como o zoom, que as fotografias tenham outra visibilidade e possam ser acessadas em sua qualidade plena.
A sala de cinema Odeon já existia na década de 10, na então avenida Central, atual Rio Branco, nº 137, esquina com a rua Sete de Setembro, quando, entre 1909 e 1913, o pianista Ernesto Nazareth (1863 – 1934) tocava na sala de espera, tendo merecido um elogio do também pianista e compositor Henrique Oswald (1852 – 1931) que o ouviu no Cinema Odeon: “É admirável esse moço. Que música ele faz! Eu mesmo seria incapaz de interpretá-la com aquela mestria, aquele prodígio de ritmo. E aqui, perdido nesta indiferença…”. Nazareth havia dedicado o tango Batuque (1901) a Oswald.
Nazareth retornou ao cinema, entre 1913 e 1918, como pianista da orquestra de Eduardo Andreozzi. Villa-Lobos era, na ocasião, o violoncelista. Darius Milhaud (1892 – 1974), que passou uma temporada no Brasil, tambem o ouviu tocar no Odeon e, posteriormente, escreveu sobre ele em sua autobiografia Notes san musique. Foi também no Odeon que o pianista polonês Arthur Rubinstein (1887-1982) o ouviu tocar, tendo ficado impressionado com sua performance. Sua composição, o tango Odeon, publicado em 1909 pela Casa Mozart (E. Bevilacqua & Cia.) foi dedicado “à distinta empresa Zambelli & Cia.”, proprietária do Cinema Odeon. A primeira gravação foi realizada por ele com Pedro Alcântara (1866 – 1929) ao flautim, em 1912. Não foi, na época, uma peça de especial destaque, mas tornou-se um de seus maiores sucessos na segunda metade do século XX.
Voltando ao Cinema Odeon, o atual prédio, fotografado por Malta, foi inaugurado em 3 de abril em 1926, na Praça Floriano, nº 7, no auge da presença de salas de cinema na Cinelândia, no centro do Rio (Jornal do Commercio, 2 de abril de 1926, quarta coluna; O Paiz, 4 de abril de 1926, segunda coluna). Passou por reformas em fins do século XX e, sob a administração do Grupo Estação, foi fechado em 2014, devido a dívidas. Reaberto, em 2015, como Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro – Cine Odeon passou a ser, além de sala de cinema, um espaço para cursos, palestras e espetáculos. O Cine Odeon mantém viva a tradição dos cinemas de rua do Rio de Janeiro.
Link para o site Ernesto Nazareth 150 anos, do Instituto Moreira Salles.
Andrea C. T. Wanderley
Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica
Fontes:
Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional
Site Ernesto Nazareth 150 Anos – Instituto Moreira Salles
Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica sobre teatros e cinemas
Série O Rio de Janeiro desaparecido I - Salas de cinema do Rio de Janeiro do início do século XX, publicado em 26 de fevereiro de 2016.
Os teatros do Brasil, publicado em 21 de março de 2016
A inauguração do Theatro Municipal do Rio de Janeiro, publicado em 14 de julho de 2017
O Theatro de Santa Isabel, publicado em 28 de outubro de 2021
O Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, no Dia Mundial do Teatro, publicado em 27 de março de 2023