Uma homenagem da Casa Granado ao casal imperial sob as lentes de Marc Ferrez

 

A Brasiliana Fotográfica destaca um registro da fachada da Farmácia Granado produzido por Marc Ferrez (1843 – 1921). No topo da imagem há um quadro a óleo retratando dom Pedro II (1825 – 1891) e a imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), com o neto primogênito, Pedro Augusto de Saxe-Coburgo e Bragança (1866 – 1934). Foi encomendado pela farmácia ao artista alemão Frederico Steckel (c. 1834 -1921), em homenagem ao “feliz regresso” do casal ao Brasil, em 22 de agosto de 1888 (Gazeta de Notícias, 23 de agosto de 1888, primeira coluna). Em 1880, dom Pedro II havia concedido à drogaria o título de Farmácia Oficial da Família Imperial Brasileira. A Granado, uma das únicas marcas brasileiras que existe desde o reinado de dom Pedro II, completa 150 anos e é o tema da exposição “A história da botica mais tradicional do Brasil”, aberta em 15 de janeiro último, no Museu Histórico Nacional, uma das instituições parceiras do portal. Ficará em cartaz até 3 de maio de 2020.

 

A farmácia dos senhores Granado, conhecido estabelecimento da rua Primeiro de Março, número 12, encomendou ao artista Frederico Antônio Steckel uma decoração especial. A pintura a óleo, reprodução de uma fotografia tirada depois do restabelecimento de D. Pedro, exibia em tamanho natural os avós e o neto: “o favorito”. No alto da grossa moldura, as armas imperiais. Em seda carmesim, tremulavam sobre o quadro os dizeres em letras douradas: “Feliz Regresso de Suas Majestades  Imperiais”. A novidade era a iluminação a gás que fazia brilhar as estrelas do Cruzeiro e as colunas do quadro. Embasbacados, os passantes se amontoavam na vitrine.”(1)

 

 

Acessando o link para a fotografia Pharmacia Drogaria Granado and Ca, produzida em 1888 por Marc Ferrez disponível na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar a imagem e verificar todos os dados referentes a ela.

 

Frederico Steckel, autor da decoração da fachada da Granado

Frederico Steckel, autor da decoração da fachada fotografada por Ferrrez /Acervo de Fernando Argeu Murta

 

 

O casal imperial havia viajado em 30 de junho de 1887 para a Europa. Estiveram inicialmente em Portugal e, de lá, seguiram para Paris. Aconselhado por médicos, dom Pedro II foi para Baden-Baden, e retornou a Paris, onde visitou intelectuais, entre eles, Louis Pasteur. Fez um cruzeiro pela Riviera italiana e foi para a estação de cura de Aix-les-Bains, na França. Também visitou, atendendo a um desejo de sua esposa, as ruínas de Pompeia (Gazeta de Notícias, 17 de junho de 1888, quarta coluna).

A Casa Granado foi fundada por José de Barros Franco e pelo português José Antônio Coxito Granado com o nome “Botica de Barros Franco” e ficava na então denominada rua Direita, uma das mais movimentadas do centro do Rio de Janeiro, atual rua Primeiro de Março, onde permanece até hoje. Em 1876, Barros Franco retirou-se da sociedade e Pedro Gonçalves Bastos tornou-se sócio até 1878 (A Reforma, 16 de setembro de 1876, primeira coluna; Gazeta de Notícias, 19 de maio de 1878, penúltima coluna). A loja tornou-se ponto de encontro de personalidades ilustres como o prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) e Rui Barbosa (1849 – 1923). Em 1903, João Bernardo Granado, irmão de Coxito, criou um dos produtos mais populares da botica: o polvilho antisséptico, cuja fórmula teve registro aprovado pelo cientista Oswaldo Cruz. Em 1915, lançamento de outro produto pioneiro: o sabonete de glicerina.

 

(1) PRIORI, Mary del. O Príncipe Maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de agosto de 2019

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

 

 

Fontes:

CARVALHO, José Murilo. Pedro II: ser ou não ser. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

GIANETTI, Ricardo. Frederico Steckel: pintor-decorador do Império e da República. IV Colóquio Internacional. A Casa Senhorial: Anatomia dos Interiores, Universidade de Pelotas no Rio Grande do Sul, 2017

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

PRIORI, Mary del. O Príncipe Maldito. Rio de Janeiro: Objetiva, 2017.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Site da Granado

ilustração

A chegada do daguerreótipo no Brasil – os primeiros registros no Rio de Janeiro

Hoje são comemorados os 180 anos da produção, pelo abade francês Louis Comte (1798 – 1868), das primeiras daguerreotipias no Rio de Janeiro, em 16 de janeiro de 1840. O daguerreótipo, processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851) e anunciado em Paris em 19 de agosto de 1839 por François Arago (1786 – 1853), secretário da Academia de Ciências da França, chegou ao Brasil no L’Oriental-Hydrographe, navio-escola da Marinha Mercante da França que, sob o comando  do  capitão Augustin  Lucas (1804-1854?), partiu do porto de Paimboeuf, nas proximidades da cidade francesa de Nantes, em 25 de setembro de 1839, com cerca de 80 pessoas a bordo, entre tripulação e passageiros.

Antes de chegar ao Rio de Janeiro, o navio havia atracado em algumas cidades de Portugal, em Tenerife e na Ilha da Goreia (Senegal) e, já no Brasil, no Recife e em Salvador. Essa viagem é o tema do novo livro da historiadora Maria Inez Turazzi, O Oriental-Hydrographe e a fotografia; a primeira expedição ao redor do mundo com uma ‘arte ao alcance de todos’ (1839-1840). Segundo ela, a presença do daguerreótipo a bordo assim como a de outros instrumentos inovadores, não foi casual ou improvisada, porém fruto de uma complexa rede de interesses diplomáticos, transações comerciais e intercâmbios científicos. É possível afirmar que a viagem de circunavegação do Oriental-Hydrographe teve início com a expectativa de consagrá-la como a primeira do gênero a utilizar a fotografia como meio de registro da experiênciaO daguerreótipo revolucionou em pouco tempo e para sempre a forma do registro do mundo e de seus habitantes, inundando nosso planeta de imagens fotográficas. Em 1864, em uma crônica reproduzida nesse artigo, o escritor Machado de Assis (1839 – 1908), que nasceu no mesmo ano do anúncio do daguerreótipo perguntou “Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?”. 

 

  A invenção do daguerreótipo e sua chegada no Brasil

 

Câmara de daguerreótipo Succe Frères, de 1939 / Westlicht Photography Museum, em Viena, na Áustria

Câmara de daguerreótipo Succe Frères, de 1939 / Westlicht Photography Museum, em Viena, na Áustria

 

Em 7 de janeiro de 1839, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago (1786 – 1853), secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso à invenção. Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente. Um daguerreótipo consiste em uma imagem única e positiva, formada diretamente sobre placa de cobre, revestida com prata e, em seguida, polida e sensibilizada por vapores de iodo. Depois de exposta na câmera escura, a imagem é revelada por vapores de mercúrio e fixada por uma solução salina.

 

A descoberta que comunico ao público está entre as poucas que, por seus princípios, seus resultados e a promissora influência que deverá exercer sobre as artes, se situam naturalmente entre as mais úteis e extraordinárias invenções…“.

Louis Daguerre, 1838

 

A velocidade com que a notícia do invento do daguerreótipo chegou ao Brasil é curiosa: cerca de quatro meses depois do anúncio da descoberta, foi publicado no Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”, na segunda coluna, um artigo sobre o assunto – apenas 10 dias após de ter sido o tema de uma carta do inventor norte-americano Samuel F. B. Morse (1791 – 1872), escrita em Paris em 9 de março de 1839, para o editor do New York Observer, que a publicou em 20 de abril de 1839.

A introdução da daguerreotipia no Brasil se deu com a chegada do navio L’Oriental-Hydrographe, navio-escola da Marinha Mercante da França, em fins de 1839, sob o comando  do  capitão Augustin  Lucas (1804-1854?), que havia estado no ateliê de Daguerre em 1839. A viagem de circunavegação pensada como uma escola flutuante começou a ser planejada em 1838, quando seu projeto, pedagógico e mercantil, foi apresentado ao ministro da Marinha francesa, Claude Rosamel (1774 – 1848).

Segundo a historiadora Maria Inez Turazzi, a presença do daguerreótipo a bordo assim como a de outros instrumentos inovadores, não foi casual ou improvisada, porém fruto de uma complexa rede de interesses diplomáticos, transações comerciais e intercâmbios científicos. É possível afirmar que a viagem de circunavegação do Oriental-Hydrographe teve início com a expectativa de consagrá-la como a primeira do gênero a utilizar a fotografia como meio de registro da experiência

O Estatuto de admissão ao navio Hydrographe que fará a volta ao mundo sob o comando do capitão Lucas informava que os alunos a bordo seriam divididos em quatro seções, de acordo com o grau de instrução que tivessem recebido a partir de um exame realizado por professores de diferentes disciplinas antes do embarque. Esses professores pertenceriam aos quadros da universidade e estariam associados à expedição. Os alunos fariam estudos iguais aos dos colégio reais e aprenderiam línguas estrangeiras e conhecimentos específicos de marinha e comércio durante a viagem.

L’Oriental, um navio de três mastros, partiu do porto de Paimboeuf, nas proximidades da cidade francesa de Nantes, em 25 de setembro de 1839, com cerca de 80 pessoas a bordo, entre tripulação e passageiros. A previsão de duração da viagem era de dois anos e meio. Durante o mês de outubro, atracou em Lisboa, no dia 7, e na Ilha da Madeira, no dia 23. Posteriormente, fez escalas em Tenerife e na Ilha da Goreia (Senegal), de onde veio para o Brasil. Chegou no Recife, em 30 de novembro (Diário de Pernambuco, 2 de dezembro de 1839, última coluna), tendo zarpado no dia 4 de dezembro rumo a Salvador, onde chegou no dia 7 (Correio Mercantil (BA), 10 de dezembro de 1839, segunda coluna), permanecendo até 17 de dezembro (Correio Mercantil (BA), 18 de dezembro de 1839, última coluna) – entre essas duas cidades brasileiras ocorreu a única morte registrada da viagem, a de um estudante belga.

O navio chegou no Rio de Janeiro, em 23 de dezembro de 1839, quando foi identificado como um colégio boiante, um navio-escola que promovia uma expedição didática- científica (Jornal do Commercio, 25 de dezembro de 1839, terceira coluna e Jornal do Commercio, 28 de dezembro de 1839, terceira coluna). No navio havia marinheiros capazes e professores hábeis, reunidos pelo capitão para iniciar os alunos a bordo nas primeiras noções da marinha e do comércio.  Dentre eles estava Francisco Sauvage, inventor do phisionotypo, um novo modo de suprir a escultura,  (Correio Mercantil (BA), 13 de dezembro de 1839, terceira coluna) e o abade francês Louis Comte (1798 – 1868), que viria a  ser o responsável pelas primeiras demonstrações da daguerreotipia no Brasil (Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, primeira coluna). O médico em chefe da expedição deu consultas para moléstias de olhos no Hotel Europa, que ficava na rua do Carmo, esquina com a rua Ouvidor (Jornal do Commercio, 28 de dezembro de 1839, terceira coluna). Em 26 de janeiro, o L´Oriental partiu para Montevidéu, no Uruguai (Jornal do Commercio, 27 de janeiro de 1840, última coluna) e de lá seguiu para Valparaíso, no Chile, onde naufragou quando deixava a cidade, em 23 de junho de 1840.Tudo foi recuperado e não houve vítimas (Jornal do Commercio, 14 de agosto de 1840, primeira coluna). O abade Comte permaneceu em Montevidéu ensinando daguerreotipia até 1847. Posteriormente, alugando armazéns na área portuária, acumulou uma fortuna e voltou para a França, onde faleceu, em 22 de setembro de 1868. Está enterrado no cemitério de Sampans, na França.

 

 

No Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, era anunciada a chegada do daguerreótipo no Rio de Janeiro

 

O abade Comte, encarregado pela assistência intelectual e espiritual e pelo ensino de religião, música e canto durante a viagem, produziu alguns daguerreótipos, em 16 de janeiro de 1840, e, alguns dias depois, apresentou o invento a dom Pedro II (Jornal do Commercio,  20 de janeiro de 1840, terceira coluna). Foi com o próprio Daguerre que o abade havia aprendido a daguerreotipia. Em março do mesmo ano, d. Pedro II adquiriu um daguerreótipo, provavelmente o primeiro da América do Sul.

 

 

Louis Compte. Chafariz do Largo do Paço, Rio de Janeiro, 16/1/1840, daguerreótipo, 9 [8,3] x 7 cm [1/6 placa]. Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ

Louis Compte. Chafariz do Largo do Paço, Rio de Janeiro, 16/1/1840, daguerreótipo, 9 [8,3] x 7 cm [1/6 placa]. Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ

 

Louis Comte. L. Compte, Vista parcial do Mercado da Praia do Peixe, Rio de Janeiro, 16/1/1840, daguerreótipo, 7 x 9 [8,3] cm [1/6 placa]. Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ Reprodução

Louis Comte. Vista parcial do Mercado da Praia do Peixe, Rio de Janeiro, 16/1/1840, daguerreótipo, 7 x 9 [8,3] cm [1/6 placa]. Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ – Reprodução

 

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Sobre esse daguerreótipo há uma discussão de autoria e data: teria sido produzido por Comte em janeiro de 1840 ou por Morand entre 1842 e 1843? Daguerreótipo, 7 x 9 [8,3] cm [1/6 placa]. Acervo Grão Pará, Petrópolis, RJ – Reprodução

 

Por sediar o Império, o Rio de Janeiro foi a capital da fotografia no Brasil. O imperador, grande entusiasta da nova invenção, foi retratado por diversos fotógrafos, dentre eles Marc Ferrez (1843-1923) e Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), tendo conhecido praticamente o trabalho de todos eles. A fotografia passou a ser o instrumento de divulgação da imagem de dom Pedro II, moderna como queria que fosse o reino, segundo comenta Lilia Moritz Schwarcz no livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, e tornou-se também mais um símbolo de civilização e status. Foi um dos primeiros monarcas a oferecer seu real patrocínio a um fotógrafo, juntamente com a rainha Victoria da Inglaterra (1819 – 1901), quando, em 1851, permitiu que Buvelot & Prat, que haviam realizado uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos – usassem as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento fotográfico.

 

Lista dos Fotógrafos Imperiais, na ordem cronológica em que foram agraciados com este título, segundo Guilherme Auler (1914-1965), sob o pseudônimo de Ricardo Martim, em dois artigos publicados na Tribuna de Petrópolis, em 1º e 8 de abril de 1956, segundo o livro O Brasil na fotografia oitocentista, de Pedro Vasquez. Pedro Hees e Pedro Satyro da Silveira foram incluídos na lista de agraciados e a inclusão foi baseada no trabalho Photographos da Casa Imperial: A Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, de Danielle Ribeiro de Castro

 

Buvelot & Prat, título concedido em 8 de março de 1851 (província do Rio de Janeiro)

Joaquim Insley Pacheco, título concedido em 22 de dezembro de 1855 (província do Rio de Janeiro)

João Ferreira Villela, título concedido em 18 de setembro de 1860 (província de Pernambuco)

Revert Henrique Klumb, título concedido em 24 de agosto de 1861 (província do Rio de Janeiro)

Stahl & Wahnschaffe, título concedido em 21 de abril de 1862 (província do Rio de Janeiro)

Diogo Luiz Cipriano, título concedido em 20 de setembro de 1864 (província do Rio de Janeiro)

Antonio da Silva Lopes Cardoso, título concedido em 30 de novembro de 1864 (província da Bahia)

Thomas King, título concedido em 18 de maio de 1866 (província do Rio Grande do Sul)

José Ferreira Guimarães, título concedido em 13 de setembro de 1866 (província do Rio de Janeiro)

Fernando Skarke, título concedido em 14 de dezembro de 1866 (província de São Paulo)

Pedro Satyro da Silveira, título concedido na década de 1870  (província do Rio de Janeiro)

José Tomás Sabino, título concedido em 13 de agosto de 1873 (província do Pará)

Henschel & Benque, título concedido em 7 de dezembro de 1874 (província do Rio de Janeiro)

Pedro Hees , título concedido em 1876 (província do Rio de Janeiro)

Antonio Henrique da Silva Heitor, título concedido em 2 de março de 1885 (província do Rio de Janeiro)

Juan Gutierrez de Padilla, título concedido em 3 de agosto de 1889 (província do Rio de Janeiro)

Ignácio Mendo, título concedido em 6 de agosto de 1889 (província da Bahia)

 

 

 

“Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?

 

Uma curiosidade: o escritor Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no mesmo ano em que nasceu a fotografia: 1839. Aos 24 anos dele e do invento, escreveu sobre o assunto em sua coluna do Diário do Rio de Janeiro de 7 de agosto de 1864. Comentou sobre suas visitas à casa do Pacheco (o fotógrafo português Joaquim Insley Pacheco), que ficava na rua do Ouvidor, nº 102, exaltando poder ver no mesmo álbum fotográfico os rostos mais belos do Rio de Janeiro, falo dos rostos femininos. Contou também a história da chegada do daguerreótipo na cidade e, em seguida, elogiou o trabalho realizado pelo artista  J.T. da Costa Guimarães, uma miniatura de Diane de Poitiers, exposto no estabelecimento de Insley Pacheco. Finalmente, revelou que havia chegado há pouco tempo no referido ateliê um aparelho fotográfico destinado a reproduzir em ponto grande as fotografias de cartão. Termina seu passeio perguntando-se “Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?

 

 

Leia também o artigo A grande viagem da fotografia, de Nani Rubin, publicado no site do Instituto Moreira Salles, em 13 de janeiro de 2020.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARRÉ, Adrien. La singulière histoire de l’Oriental-Hydrographe. Bulletin du Comité Nantais de Documentation Historique de la Marine, Nantes, p. 17-35, 1970. 2.

CASTRO, Danielle Ribeiro. Photographos da Casa Imperial: a Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, 2013

Dictionary of Canadian Biography

Estatuto de admissão ao navio Hydrographe que fará a volta ao mundo sob o comando do capitão Lucas. Registro autenticado – Bertinot e Roquebert – Rua Richelieu n. 28, Paris. Em 2 de abril de 1839. Arquivo Nacional da França, Paris. Transcrição e revisão de Maria Inez Turazzi; digitação de Márcia Trigueiro; tradução de Maria Elizabeth Brêa Monteiro. Publicado em TURAZZI, Maria Inez. A viagem do Oriental-Hydrographe (1839 – 1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo; Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.23, nº 1, p.45-62, jan-jun 20

GURAN, Milton (organizador), TURAZZI, Maria Inez; VASQUEZ, Pedro Karp. Os daguerreótipos de Louis Comte no Rio de Janeiro – As primeiras fotografias feitas na América do Sul. Rio de Janeiro: Luz Tropical, 2016.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. O mistério dos daguerreótipos do Largo do Paço in Revista da USP, n. 120, janeiro-março, 2019, pp.127-152.

PALMQUIST,Peter E; KAILBOURN,Thomas R. Pioneer Photographers of the Far West: A Biographical Dictionary, 1840-1865. Stanford: Universidade de Stanford, 2000.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

TURAZZI, Maria Inez. A viagem do Oriental-Hydrographe (1839 – 1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo; Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.23, nº 1, p.45-62, jan-jun 2010.

TURAZZI, Maria Inez. Máquina viajante. Fotografia, uma viagem sem volta, janeiro de 2010.

TURAZZI, Maria Inez. O Oriental-Hydrographe e a fotografia; a primeira expedição ao redor do mundo com uma ‘arte ao alcance de todos’ (1839-1840). Montevidéu: Centro de Fotografía de Montevideo, 2019. 380 p. il.VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.WOOD, Rupert Derek. A viagem do Capitão Lucas e do daguerreótipo a Sidney.  NZ Journal of Photography, 3-7, agosto 1994. 

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfia

Os portões se abriram em 10 de maio de 1876, tendo à frente o presidente americano Ulysses S. Grant (1822 – 1885) e o imperador do Brasil; a música era do alemão Richard Wagner (1813 – 1883), composta especialmente para a exposição“. Assim foi inaugurada a Exposição Internacional da Filadélfia. É um pouco dessa história, com a disponibilização de fotografias do evento, que a historiadora Claudia B. Heynemann, do Arquivo Nacional, uma das instituições parceiras da Brasiliana Fotográfica, traz para os leitores do portal no artigo “Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfia”. Nas exposições universais ou internacionais, das quais o Brasil participou de 5 durante o século XIX – Londres (1862), Paris (1867 e 1889), Viena (1873) e Filadélfia (1876) -, eram expostos os símbolos do progresso das sociedades industrializadas. Eram “espetáculos da modernidade” onde eram divulgadas as novidades da arte, da cultura, da ciência e da técnica. Foi na Exposição Internacional da Filadélfia que foram apresentados panoramas do Rio de Janeiro e fotografias realizadas para a Comissão Geológica do Império, de autoria do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923).

 

 

Café Brasil: o Império na Exposição Internacional de Filadélfia

Claudia B. Heynemann*

 

 

A partir de 1862, em Londres, o Brasil participou oficialmente de cinco exposições internacionais ou universais no século XIX. As exposições, intituladas internacionais para um cenário de países unidos, mas competitivos ou universais, na perspectiva francesa da fraternidade, consagraram-se como eventos característicos nos quais eram expostos os trunfos das sociedades industrializadas e seu progresso.

Acessando o link para as fotografias da exposição brasileira na Exposição Internacional de Filadélfia de 1876 disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas. 

Na cartografia que se estabelecia, predominava entre as prateleiras das economias dos países recém-independentes a exibição de seus recursos naturais e de produtos que formavam a pauta primária da exportação. Por vezes tratado como o espelho de seu descompasso, opondo mundo civilizado ao primitivo, sociedades urbanas versus a selva e a floresta, o Brasil de d. Pedro II estava atento às exposições e, embora trouxesse maquinário de ferrovias, peças relacionadas ao telégrafo e artefatos bélicos, entre outros itens saídos de suas fábricas, continuava a ser lembrado por sua agricultura, sua fauna e flora (1). Nesse espetáculo se reencenava o domínio da técnica, os ideais da “civilização”, o imperialismo e a submissão dos povos “exóticos” e ainda mais se impunha uma
visualidade e uma apreensão do mundo calcadas em uma rede de aproximações, contrastes, circuitos, fluxos; nos enunciados e na taxionomia que preside o sistema das exposições (2).

A delegação brasileira em Filadélfia se sobressai na série de exposições internacionais nas quais o Império se fez representar. Finda há poucos anos a Guerra do Paraguai, que
havia exposto a fraqueza do Estado, o governo responde prontamente ao convite para a primeira exposição internacional na América, que assinalava o centenário da Independência do país sede. Os americanos também tinham na memória recente a guerra civil, cujas feridas se agravavam com a depressão industrial de 1873 e a feira podia, no mínimo, desviar as atenções das denúncias de corrupção que vinham da capital, das falências e da insatisfação dos trabalhadores com o sistema industrial:

Contudo, mais do que apenas fornecer um escape das incertezas políticas e econômicas dos anos de Reconstrução, a feira foi uma resposta calculada a essas condições. Seus organizadores procuraram desafiar dúvidas e restabelecer a confiança na vitalidade do sistema de governo da America assim como na estrutura econômica e social do país. No momento em que os portões se abriram a feira funcionou como “uma escola para a nação”, um modelo da “Meca americana”(3)

 

Os portões se abriram em 10 de maio de 1876, tendo à frente o presidente americano Grant e o imperador do Brasil; a música era de Wagner, composta especialmente para a exposição. Enormes pavilhões em madeira, ferro e vidro tomavam aquele espaço que acabou por se mostrar excepcionalmente bom, mais uma expectativa negativa que seria revertida na época. Logo no primeiro dia passaram pelos pavilhões 186.672 visitantes aos quais se somariam outros até chegar à cifra de quase 10 milhões de pessoas do público total, equivalente a quase 1/5 da população americana, superando o número de expectadores de todas as exposições anteriores. O ápice da solenidade de inauguração foi a demonstração da máquina Corliss, um gerador de energia que provia as exibições no “Machinery Hall”, o salão de máquinas. Acionado pelo imperador brasileiro e pelo presidente americano conseguiu deixar em suspenso o poeta Walt Whitman que, sensível aos efeitos do progresso, permaneceu em silêncio por longos minutos diante daquela que era a maior máquina já vista(4).

América, Américas

A América do Norte era parte do Novo Mundo, mas se colocava ao lado das grandes potências europeias no desenvolvimento industrial, no domínio da técnica, impondo-se
simultaneamente como celeiro da humanidade. Em resposta à tese da inferioridade da América, do continente imaturo, na senda aberta por Buffon e trilhada por outros naturalistas, a disputa do Novo Mundo iria se modificar ao longo do século XIX. Por um lado, as ciências naturais começavam a se emancipar da rigidez das ideias climáticas, por outro, o desenvolvimento social e político dos Estados Unidos e a vitalidade dos países hispano-americanos contradiziam as habituais caracterizações da América, especialmente dos Estados Unidos, mesmo que a aversão europeia
permanecesse e migrasse das considerações sobre a natureza física para as sociedades (5). Contudo, enquanto o romantismo norte-americano emprestaria um caráter original à sua natureza e literatura, era recente o massacre dos indígenas e a escravidão praticada nos estados do sul. Indígenas e negros seriam exibidos como elementos exóticos e à parte da sociedade em Filadélfia, de onde igualmente se propagaria a voz dos homens de negócios, dos líderes políticos, das corporações, num elogio do progresso tecnológico e da nacionalidade. Eram realidades percebidas como indissociáveis, segundo a fórmula de que “escravizar os negros e dominar os índios, arrebatando-lhes a terra, não era apenas um direito, mas um dever dos brancos, civilizados e superiores, de instaurarem uma ordem social mais ‘avançada’” (6).

No campo das relações internacionais, sobretudo da política norte-americana para seus vizinhos ao sul, a partir da formulação da Doutrina Monroe de 1823 e ao longo do século XIX, não houve grandes variações. Pautaram-se de modo contínuo “por três principais preocupações: a segurança nacional, os interesses financeiros e a política doméstica”( 7).  Marcadas pela distância e pela barreira da língua, os contatos entre os dois países foram rotineiros, com um volume modesto de transações, não obstante o Brasil figurar como o maior parceiro comercial dos americanos na região. E se o Império tinha pouca importância estratégica para os Estados Unidos, por sua vez o Brasil relacionava-se prioritariamente com a Europa, situação que começaria a se transformar a partir de 1875 com a melhora nas comunicações e o reconhecimento da relevância que a economia americana poderia ter para os interesses brasileiros:

 

A tendência a uma maior aproximação também é corroborada pela visita do imperador Dom Pedro II aos Estados Unidos em 1876, em virtude das comemorações do centenário da independência estadunidense. Embora faltasse uma motivação política real para a visita, assuntos como a expansão do comércio entre os países foram tratados(8).

 

Para os americanos, a organização de uma exposição internacional comemorativa do centenário da independência reafirmava seu lugar junto às economias centrais, enquanto a disposição dos pavilhões do Brasil e do México, instalados à frente do país anfitrião podia ser interpretada como um passo em direção aos vizinhos. Do lado brasileiro o país contava, para sua visibilidade, com três locais para ostentação de seus produtos e atividades, a começar pelo estande interno ao edifício principal do parque. Em diversas imagens dessa série constatamos que o país ocupava uma construção mourisca, vinculando-nos a uma origem sem dúvida, alheia, no entanto, aos elementos normalmente associados à ex-colônia. Imponente, portando os nomes das províncias nas divisões internas e por toda fachada externa, deixando entrever vitrines e produtos, foi criado pelo arquiteto americano Frank Furness que se valeu do estilo em voga: “empregou seus temas islâmicos favoritos no pavilhão brasileiro: o arco em ferradura e o arco ogival, ameias, superposição de colunas com seção quadrada sobre outras de seção circular para criar altura […] pastilhas de vidro coloridas e ornamentos florais” (9)

 

 

Outro edifício, de autoria de Hermann J. Schwarzmann, arquiteto-chefe da exposição ficava em meio ao parque; registrado em um ângulo lateral, tendo ao fundo árvores nuas
e à frente o brasão do Império, erguia-se em dois andares, completamente americano, “com bow-windows, estrutura em madeira, colunas esbeltas na varanda elevada e perfis
em relevo marcando “almofadas” na parede”. Como escreve Niuxa D. Drago, o ecletismo permitia a todos os países adotar a sua “identidade arquitetônica”, o que não foi seguido pelo Brasil, que mostrou opulência, e não o que se poderia chamar de uma arquitetura nacional (10).

 

 

O registro dessas construções do Brasil e de todo o evento é de autoria da empresa Centennial Photographic Company, presidida por W. Notman, fotógrafo canadense já bastante conhecido nos Estados Unidos. Ele se tornou ainda mais popular ao se juntar ao empresário da fotografia Edward Wilson na firma contratada com exclusividade pelo estado da Pensilvânia. William Notman e seus associados tinham assim o direito de anunciar e vender o catálogo de vistas da exposição, além de deter os direitos sobre todo o trabalho fotográfico feito em Fairmont Park ( 11).

Café Brasil

Na série de onze fotografias, duas especialmente dialogam entre si e são as únicas a incluir pessoas. A mais famosa foi tirada do pavilhão “Caffé do Brazil” e é, por sua vez, uma das duas ao ar livre. Exibindo frequentadores bem trajados, distribuídos em mesinhas à porta, simulam esse hábito cotidiano em ascensão, incorporado à vida social e urbana dos grandes centros da Europa e dos Estados Unidos. Enquanto em primeiro plano somos atraídos para a louça, chapéus, bengalas e poses, ao fundo, próximos à máquina de café, se distinguem um homem de cavanhaque e uma mulher. Trata-se do capitão da Guarda Nacional Luiz Ribeiro de Souza Rezende (1827-1891), filho do marquês de Valença, militar condecorado na Guerra do Paraguai com as comendas da
Ordem da Rosa e da Ordem de Cristo, acompanhado por sua esposa Maria Ambrosina da Motta Teixeira. Segundo matéria publicada quase um século depois no jornal Correio da Manhã, Rezende recebeu três contos de réis de ajuda da Comissão Brasileira para servir o “genuíno café” (além de mate e chá) no Fairmount Park. Era um modo de promover os 71 expositores de café que vinham do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará e, portanto, embora fossem inevitáveis os prejuízos face os custos de manutenção e ao fornecimento gratuito, isso, segundo o Correio, não preocupava o brasileiro, “que na propaganda era auxiliado por sua mulher, d. Maria Ambrosina da Mota Teixeira de Rezende e os dois filhos, Carlos e Amélia” (12).

 

 

O sucesso do principal produto de exportação da economia brasileira, responsável pelos superávits alcançados até em períodos de grande oscilação dos preços, devia-se em parte à oferta do café já empacotado e torrado, pronto para o consumo a partir de 1865. Em seu curso ininterrupto e devastador das matas, ao longo do século o café garantiu a obtenção de empréstimos no exterior. Outros produtos como o açúcar, o algodão e o fumo estavam no topo do quadro de exportações, sendo que, na década de 1871 a 1880, o café correspondia a 56,6% do valor, seguido de longe pelo açúcar, com 11,8%, e pelo algodão, que participava com 4,2% (13). Esse último decorou em profusão a seção brasileira no pavilhão agrícola . Em meio às muitas ramagens de algodão um quadro de produtos de exportação do Império fornece os valores em moeda estrangeira. Inclui couro, tabaco, borracha, erva-mate, diamantes e outros, em seguida aos três principais itens. Além dos produtos agrícolas, minérios, itens manufaturados como mobiliário, vestuário, material bélico (munição) dividiam espaço com quadros, gravuras, mapas e fotografias.

 

 

Entre as províncias mais empenhadas na preparação que antecedeu Filadélfia, estavam o Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul coerentemente com os principais polos econômicos e com a situação política do Brasil dos anos 1870. De modo geral foi grande o entusiasmo dos políticos e da classe senhorial com a presença brasileira no evento, quando se procurou mostrar todo o potencial do país, mesmo que as riquezas naturais ficassem em primeiro plano e que, a despeito de Brasil e Estados Unidos serem as maiores nações da América do Sul e do Norte, a discrepância entre ambas fosse inegável: “para a tropical monarquia dos Bragança, a Exposição foi muito além da expectativa dos povos europeus. Enfim, a modernidade atravessava o oceano e

comprovava-se ser possível a aventura do progresso em terras americanas. Os Estados Unidos, que também haviam sido colônias d’-mar, eram o exemplo vivo de que era possível acompanhar o trem da história”(14). Ainda para Sandra Pesavento a estrela da exposição foi Pedro II que se notabilizou pela admiração demonstrada ante o invento de Alexander Graham Bell, conquistando a simpatia de muitos, mas não de todos, como os chargistas da Harper´s Bazaar, que não pouparam o séquito de brasileiros que cercavam o imperador, desenhando-os com cabeças de burros. Finalmente, acrescenta a autora, não houve apenas entusiasmo. A Comissão Brasileira admitia em relatório que o sucesso eventualmente obtido se atribuía às riquezas naturais e não aos produtos da indústria, o que não deixava de ser uma depreciação do uso da mão de obra de escravizados no país (15).

A imagem que constrói uma narrativa com o “Caffé do Brazil” tem ao centro o tear no qual Maria Ambrozina, natural de Sabará, Minas Gerais, ensina a tecer a seda. Casada com Luís Ribeiro S. Rezende, ela participou das demonstrações que envolviam os dois negócios de interesse da família. Membro da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional – SAIN à época da escolha dos membros da Comissão das Exposições (16) , o capitão era o proprietário da Imperial Companhia Seropédica Fluminense, em Itaguaí, salva da falência por sucessivas doações de loterias concedidas pela assembleiafluminense. A compra da companhia explica o estande e a tabuleta “Estabelecimento Seropédico Bananal de Itaguaí”. Bem próxima a ela está o quadro anunciando o “Café Luís Ribeiro de Souza Rezende”, tradução da simbiose entre o café e os estabelecimentos manufatureiros que começam a prosperar ao final do século. Esse talvez seja, afinal, o registro mais importante da participação brasileira em Filadélfia, no qual, a despeito da postura ensaiada, diversos entre os presentes deixaram apenas um rastro, o vulto tremido, comum na fotografia oitocentista e alusiva ao modo de inserção do Império na grande feira.

 

 

(1) MACHADO, Marina Monteiro; MARTINS, Monica de Souza Nunes. A modernidade nas teias da floresta: o Brasil na exposição Universal da Filadélfia de 1876. Geosul, Florianópolis, v. 32, n. 65, p. 68-86, nov. 2017. ISSN 2177-5230. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/2177-5230.2017v32n65p68>. Acesso em: 4 jul. 2018.

(2) SANJAD, Nelson. Exposições internacionais: uma abordagem historiográfica a partir da América Latina. Hist. cienc. saúde-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 24, n. 3, p. 785-826, set. 2017. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702017000300785&lng=pt&nrm=iso> Acessos em 3 jul.2018

(3) RYDELL, Robert W. The Centennial Exhibition, Philadelphia, 1876: the exposition as a “moral influence”;. In: All the world's a fair: visions of empire at american international expositions, 1876-1916.Chicago: The University os Chicago Press, 1984, p. 11.

(4) Idem, p. 9.

(5) Cf. GERBI, Antonello. La disputa del Nuevo Mundo, 1750-1900. México, Fondo de Cultura Económica, 1960.

(6) PESAVENTO, Sandra Jatahy. Imagens da nação, do progresso e da tecnologia: a Exposição Universal de Filadélfia de 1876. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. Ser. v.2 p.151-167 jan./dez. 1994, p. 158.

(7) BIANCHET Jr., Antonio Battisti. As relações EUA-América Latina na segunda metade do século XIX. Um estudo através dos casos de Argentina e Brasil. Anais do V Congresso Internacional de História. UEL. Set, 2011, p. 551 Disponível em http://www.cih.uem.br/anais/2011/trabalhos/246.pdf. Acesso em 17/10/2019

(8) Idem, p. 556

(9) DRAGO, Niuxa Dias. Arquitetura e cenografia na representação do Brasil: pavilhões brasileiros de Londres a Milão. O Percevejo Online. Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, jan. / jun. 2016, p. 37. Disponível em http://www.seer.unirio.br/index.php/opercevejoonline/article/view/5758. Acesso em 16/10/2019

(10) Idem, p. 38

(11) HALL, R., DODDS, G., TRIGGS, S. The world of William Notman: the nineteenth century through a master lens. Boston : D.R. Godine, 1993, p. 44.

(12) Café e seda do Brasil em 1876 fizeram propaganda em Filadélfia. Rio de Janeiro, 30 de outubro de 1960. Correio da Manhã. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=089842_07&pasta=ano%20196&pesq=Caf%C3%A 9%20e%20seda. Acesso em 20 de outubro de 2019.

(13) FARIA, Sheila de Castro. Exportações. In: VAINFAS, Ronaldo (Dir.). Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 248

(14) PESAVENTO, Sandra Jatahy. Op. cit., p. 162

(15) Idem.

(16) O Auxiliador da Indústria Nacional: ou coleção de memorias e notícias interessantes (RJ) – 1833 a 1896 Sessão da Assemblea Geral em 31 de dezembro de 1875. Disponível em http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=302295&pagfis=24711&url=http://memoria.bn.br/docreader#. Acesso em 20 de outubro de 2019

 

Claudia B. Heynemann  é Doutora em História e Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

Fotógrafos que representaram o Brasil na Exposição Internacional da Filadélfia de 1876 

As fotografias produzidas por Marc Ferrez (1843 – 1923) para a Comissão Geológica do Império e Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) foram premiados na Exposição de 1876. Uma curiosidade: a comissão de organização da Exposição da Filadéfia modificou as regras da premiação: os ganhadores receberam um diploma, uma medalha de bronze e uma cópia certificada do parecer do júri, rompendo com o padrão de premiação hierárquica.

Além deles, representaram o Brasil Felipe Augusto Fidanza (c. 1847 -1903), um dos mais importantes fotógrafos que atuaram no norte do Brasil no século XIX e no início do século XX; José Tomás Sabino (18? – ?), cujo ateliê ficava em Belém; Luís Terragno (c. 1831 – 1891), um dos fotógrafos pioneiros do Rio Grande do Sul; e Pedro Satyro de Souza da Silveira (18? – ?), que atuou no Rio de Janeiro nas décadas de 1870 e 1880. Expuseram no Photographic Exhibition Building, prédio projetado pelo arquiteto H.J. Schwarzmann (1846 – 1891), especialmente construído para a mostra dos fotógrafos da Exposição Internacional da Filadélfia que aconteceu entre 10 de maio e 10 de novembro de 1876, tendo sido a mais popular das exposições internacionais realizadas até então, com 9.789.392 visitantes. O Brasil foi uma das onze nações que construíram edifícios para o evento. Os outros foram Canadá, França, Alemanha, Grã-Bretanha, Japão, Portugal, Espanha, Suécia, Tunísia e Turquia. Participaram também da Exposição a Argentina, Austrália, Áustria, Bélgica, Bolívia, Chile, China, Colômbia, Dinamarca, Egito, Equador, Estado Livre de Orange, Grécia, Guatemala, Holanda, Honduras, Ilhas Sanduíche, Itália, Libéria, México, Nicarágua, Noruega, Peru, Rússia, Suíça e Venezuela.

 

Links para os artigos sobre exposições nacionais ou internacionais publicados na Brasiliana Fotográfica

O pintor Victor Meirelles e a fotografia na II Exposição Nacional de 1866, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 17 de agosto de 2017.

A festa do progresso: o Brasil na Exposição Continental, Buenos Aires, 1882, de autoria de Maria do Carmo Rainho, Arquivo Nacional, publicado em 29 de março de 2018.

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” II – A Exposição Nacional de 1908 na Coleção Família Passos, de autoria de Carla Costa, Museu da República, publicado em 5 de abril de 2018.

Marc Ferrez, a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de junho de 2018.

Paris, 1889: o álbum da exposição universal, de autoria de Claudia B. Heynemann, Arquivo Nacional,publicado em 27 de julho de 2018.

Festa das Artes e da Indústria Segunda Exposição Nacional, 1866, de autoria de Claudia Beatriz Heynemann e Maria Elizabeth Brêa Monteiro, Arquivo Nacional, em 5 de abril de 2020.

A apresentação do Departamento Nacional de Saúde Pública na Exposição Internacional do Centenário da Independência, de Ricardo Augusto dos Santos, Fiocruz, publicado em 13 de abril de 2020.

A Exposição Internacional de Higiene de Dresden, de Cristiane d´Avila, Fiocruz, publicado em 5 de janeiro de 2022.

Série 1922 – Hoje, há 100 anos VIII – A abertura da Exposição Internacional do Centenário da Independência do Brasil e o centenário da primeira grande transmissão pública de rádio no país, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, publicado em 7 de setembro de 2022, na Brasiliana Fotográfica.

Três álbuns fotográficos da Exposição Nacional de 1908 no Museu Histórico Nacional: Boscagli, Malta e Musso, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, historiadora do Museu Histórico Nacional, publicado em 25 de agosto de 2023, na Brasiliana Fotográfica.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez

Para comemorar os 180 anos do daguerreótipo, invento que revolucionou em pouco tempo e para sempre a forma do registro do mundo e de seus habitantes, inundando nosso planeta de imagens fotográficas, a Brasiliana Fotográfica apresenta a seus leitores dois artigos*. Nesse segundo, o portal traz para seus leitores os dois álbuns da Comissão Geológica do Império, que pertencem ao J. Paul Getty Museum, localizado em Los Angeles, nos Estados Unidos. Foram disponibilizados em alta resolução através do Programa de Conteúdo Aberto do Getty e as fotografias foram produzidas por Marc Ferrez (1843 – 1923), que integrou a expedição, chefiada por Charles Frederick Hartt (1840 – 1878).

Segundo Sérgio Burgi, coordenador de Fotografia do Instituto Moreira Salles, já com pleno domínio de sua virtuosidade técnica, Ferrez realizou para a comissão um primoroso trabalho documental e paisagístico:

‘…Seu domínio da luz, sua precisão na escolha do ponto de vista, sempre buscam ressaltar os aspectos mais formais e abstratos da cena sendo registrada. É igualmente importante ressaltar que em diversas imagens realizadas por Ferrez, sempre o elemento humano participa de maneira discreta porém marcante, conferindo escala aos cenários naturais e urbanos, e principalmente nos convidando a percorrer a imagem em todas as suas dimensões…Os trabalhos realizados em Paulo Affonso, Pernambuco, Recôncavo Baiano, Abrolhos e sul da Bahia representam um grande esforço documental e registram, além dos aspectos mais claramente geológicos, paisagens naturais e vistas urbanas de grandes cidades e pequenas povoações daquelas regiões, além de elementos antropológicos e etnográficos, como a série dos índios botocudo… Essas imagens também foram utilizadas para ilustrar  a conferência do professor Charles Frederick Hartt durante a IV Exposição Nacional, no Rio de Janeiro… Da mesma maneira, diversas imagens fizeram parte da Exposição Universal da Filadélfia, EUA, em 1876, que contou com a presença de D. Pedro II…’

 

Links para os álbuns da Comissão Geológica do Império, que pertencem ao J. Getty Museum e estão no site da instituição: Primeiro álbum e Segundo álbum

Links para os pdfs dos álbuns da Comissão Geológica do Império, que pertencem ao J. Getty Museum:  Primeiro álbum e Segundo álbum

 

 

Um pouco da história da Comissão Geológica do Império (1875 – 1878), de seu chefe, Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), e da participação de Marc Ferrez (1843 – 1923) como fotógrafo da expedição

 

 

Em 1874, Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), realizou uma expedição científica ao Brasil, durante a qual convenceu as autoridades brasileiras da importância da elaboração de um mapa geológico do Império. Antes, Hartt havia vindo ao Brasil quatro vezes. Pela primeira vez, como membro da Expedição Thayer, entre 1865 e 1866, financiada pelo empresário e filantropo norte-americano Nathaniel Thayer, Jr. (1808-1883) e chefiada por seu ex-professor no Museu de Zoologia Comparada, em Harvard, o suíço Louis Agassiz (1807 – 1873), quando ocupou-se sobretudo em fazer um mapeamento geológico da área do Rio de Janeiro até o norte da Bahia. Em 1867, já estabelecido como conferencista no Instituto Cooper, em Nova York, voltou ao Brasil, de maneira independente, e durante três meses examinou a costa entre Pernambuco e Rio, explorando mais particularmente as vizinhanças da Bahia e as ilhas e recifes do coral dos Abrolhos. EEm 1868, tornou-se professor de História Natural no Vassar College e também da Universidade de Cornell.  Em 1870 e em 1871, chefiou as Expedições Morgan ao Amazonas, financiadas pelo político norte-americano Edwin D. Morgan (1811- 1883) .

Além de ter obtido sucesso em seu pleito junto ao Governo Imperial, Hartt conseguiu criar a Comissão Geológica do Império, pelo Aviso de 30 de abril de 1875. Como a comissão estaria ligada ao Ministério da Agricultura, o desenvolvimento das atividades agrícolas e mineradoras a partir do conhecimento que a geologia propiciaria foi um argumento decisivo para sua criação. Foi convidado para chefiá-la e foram nomeados como seus assistentes os geólogos Orville Adalbert Derby (1851 – 1915) e Richard Rathbun (1852-1918) – ambos da Universidade de Cornell -, que chegaram ao Brasil em fins de 1875; John Casper Branner (1850-1922), do Departamento de Botânica e Geologia da Universidade de Indiana; e os brasileiros Elias Fausto Pacheco Jordão (1849 – 1901), que havia se doutorado em 1874 em engenharia civil na Universidade de Cornell, e Francisco José de Freitas, assistente geral e tradutor. Integraram, também, o corpo técnico da comissão os geólogos Luther Wagoner, substituto de Pacheco Jordão, em 1876, que foi posteriormente substituído por Frank Carpenter; o naturalista Herbert Huntington Smith (1851-1919), e o fotógrafo Marc Ferrez (1843-1923). Segundo Gilberto Ferrez, foi durante as viagens que fez com a Comissão Geológica que Marc Ferrez contraiu uma doença no fígado, da qual nunca se curou.

A Comissão, criada em abril de 1875, iniciou seus trabalhos ativos em 10 de junho de 1875 e percorreu os atuais estados de Alagoas, Bahia, Fernando de Noronha, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, São Paulo, Santa Catarina, Sergipe, e parte da região amazônica nessa importante missão científica realizada no Brasil sob os auspícios do governo imperial, que gerou a primeira grande representação fotográfica de diversas regiões do território brasileiro (Illustração Brasileira, 1º de agosto de 1876). O governo decretou o fim da Comissão em 1º de julho de 1877 (Diário do Rio de Janeiro, 7 de julho de 1877, quarta coluna). Segundo Rathbun, o fato aconteceu devido a motivos econômicos e a discordâncias em torno do volume e do valor do trabalho realizado até ali pela comissão. Porém Hartt conseguiu seis meses de prorrogação nos trabalhos. No início de janeiro de 1878, com a formação do novo gabinete liberal, sob o comando do primeiro-ministro João Lins Vieira de Cansanção, o visconde de Sininbu (1810 – 1906), que também era ministro da Agricultura, sua extinção foi efetivada. Segundo Hartt, em junho de 1877,  as coleções zoológicas, geológicas e etnográficas feitas pela Comissão Geológica possuíam cerca de 500 mil espécimes.

Hartt foi contratado como naturalista-viajante do Museu Nacional do Rio de Janeiro, por volta de 1874. Em 1876, assumiu a Seção de Geologia, criada pela reforma do botânico Lasdilau de Souza Mello Netto (1838 – 1894), e reorganizou as coleções e preparou a mostra mineralógica brasileira apresentada na Exposição Universal de Filadélfia de 1876. Faleceu em 18 de março de 1878, um domingo, no Rio de Janeiro, de febre amarela, em sua casa no número 44 da rua da Princesa, atual Correia Dutra, no Flamengo (O Vulgarizador, 15 de maio de 1878) . Os professores e demais funcionários do Museu Nacional deliberaram tomar luto por oito dias (Gazeta de Notícias, 19 de março de 1878, segunda e penúltima colunaJornal do Commercio, 19 de março de 1878, quarta colunaRevista Illustrada, 30 de março de 1878; e O Vulgarizador, 15 de maio de 1878). Morreu sem sua família porque  sua mulher, Lucy Lynde Hartt, com quem havia se casado em 1869, havia voltado com os dois filhos do casal, Mary and Rollin, para Buffalo, nos Estados Unidos, em dezembro de 1876  – não suportou os períodos de solidão, os mosquitos, as doenças e os desconfortos do Rio de Janeiro. Quando partiu do Brasil, ela estava grávida de gêmeos mas a gravidez não se completou, o que trouxe grande tristeza para o casal. Hartt foi enterrado no cemitério de São Francisco Xavier mas, a pedido de sua esposa, seu corpo foi transladado para os Estados Unidos, em 1883.

Suas coleções foram colocadas sob a guarda do Museu Nacional do Rio de Janeiro, única instituição da época capaz de receber intelectual e fisicamente todo o trabalho da Comissão Geológica.

Acessando o link para as fotografias de Marc Ferrez realizadas para a Comissão Geológica do Império disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Breve cronologia da participação de Marc Ferrez nos trabalhos da Comissão Geológica do Império

 

 

1875 – Ferrez começou a trabalhar como fotógrafo da Comissão Geológica do Império, chefiada pelo norte-americano Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), que se tornaria diretor da Seção de Geologia do Museu Nacional em 1876. Percorreu os atuais estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e parte da região amazônica numa importante missão científica realizada no Brasil sob os auspícios do governo imperial, que gerou a primeira grande representação fotográfica de diversas regiões do território brasileiro.

Marc Ferrez e outros membros da Comissão Geológica do Império embarcaram no paquete Parácom destino a Pernambuco (Jornal do Commercio, 10 de julho de 1875, na segunda coluna). Ele, Elias Fausto Pacheco Jordão, Francisco José de Freitas e Charles Frederick Hartt, todos membros da Comissão, agradeceram, publicamente, ao “digno comissário” J. Feliciano Gomes, que os recebeu no navio (Jornal do Recife, 26 de julho de 1875, na quarta coluna).

Foi publicado o relatório preliminar dos trabalhos da Comissão Geológica na província de Pernambuco, de autoria de Hartt. Ferrez foi mencionado (Diário de Pernambuco, 25 de novembro de 1875, na primeira coluna).

As fotografias produzidas por Marc Ferrez para a Comissão Geológica, mostradas durante uma visita do governador, do chefe da Polícia e do Diretor de Obras de Pernambuco na residência de Hartt no Recife, foram muito elogiadas: “Rara vez um fotógrafo é tão feliz na reprodução dos quadros naturais como o Sr. Ferrez o foi neste trabalho, do qual com justiça se deve se regozijar” (Diário do Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1875, segunda coluna).

 

 

Na residência do inspetor do arsenal de Marinha, em Recife, o chefe da Comissão Geológica do Império, Charles Frederick Hartt, fez uma conferência sobre os arrecifes e outros aspectos de Pernambuco como o cabo de Santo Agostinho, praias, o rio São Francisco e a cachoeira de Paulo Afonso, ilustrados com fotografias de Marc Ferrez (Diário do Rio de Janeiro, 2 de dezembro de 1875, nas quinta e sexta coluna, sob o título “Norte do Império”).

Ferrez  apresentou na seção de Obras Públicas da IV Exposição Nacional, dois álbuns com imagens dos recifes de Pernambuco, do baixo São Francisco e da cachoeira de Paulo Afonso, além de registros de corais e madrepérolas. As imagens produzidas durante a viagem da Comissão Geológica foram projetadas por Ferrez durante uma conferência do professor Hartt (Diário do Rio de Janeiro, 27 e 28 dezembro de 1875, primeira colunaO Globo, 4 de janeiro de 1876, na penúltima coluna, e Diário do Rio de Janeiro, 3 de fevereiro de 1876, quarta coluna).

1876 -  Apresentou na Exposição Universal da Filadélfia, aberta em 10 de maio, panoramas do Rio de Janeiro e fotografias realizadas para a Comissão Geográfica do Império, que foram premiadas. O New York Commercial Advertiser, de 29 de maio de 1876, publicou um artigo que informava que “riquíssimas fotografias da exploração geológica a cargo do professor Hartt” haviam sido apresentadas pelo Brasil na exposição. Uma curiosidade: a comissão de organização da Exposição da Filadéfia modificou as regras da premiação: os ganhadores receberiam um diploma, uma medalha de bronze e uma cópia certificada do parecer do júri, rompendo com o padrão de premiação hierárquica.

Foi publicada uma fotografia de autoria de Ferrez da cachoeira de Paulo Afonso na Revista Ilustração Brasileira, 1º de agosto de 1876, acompanhada por um texto de Charles Frederick Hartt (1840 – 1878), chefe da Comissão Geológica do Império. Na mesma edição, publicação de matéria sobre a Comissão Geológica do Império.

Ferrez havia chegado do sul da Bahia com o geólogo Richard Rathbum, também ajudante da Comissão Geológica, com diversas fotografias dos índios botocudo, dentre outras (Revista Ilustração Brasileira, 1º de novembro de 1876, na última coluna). Essas teriam sido as primeiras imagens desses índios produzidas no Brasil (Palcos e Telas, 8 de abril de 1920). Botocudo foi um termo genérico utilizado pelos colonizadores portugueses para denominar diversos grupos indígenas integrantes do tronco macro-jê (grupo não tupi), caracterizados pelo uso de botoques labiais e auriculares, habitantes originais do sul da Bahia e região do vale do rio Doce, incluindo o norte do Espírito Santo e Minas Gerais. A série de fotografias de indígenas tirada por Marc Ferrez na Bahia, durante uma segunda etapa de viagens realizadas por ele para a Comissão Geológica do Império do Brasil, no final de 1876, compõe um conjunto de  registros fotográficos pioneiros e raros dessas tribos, que se mantiveram isoladas e resistentes ao contato com os brancos, sendo violentamente perseguidas e praticamente  dizimadas nas primeiras décadas do século XX.

 

 

 

 

1877 – Publicação da fotografia do farol da Barra da Bahia, de autoria de Marc Ferrez, na capa da Revista Ilustração Brasileira, 15 de janeiro de 1877.

 

 

 

O governo decretou o fim da Comissão em 1º de julho de 1877 e em janeiro do ano seguinte sua extinção foi efetivada.

Publicação de uma matéria sobre o trabalhos da Comissão Geológica do Império e sobre o local onde estavam guardados e onde os membros da comissão cuidavam de sua classificação, estudo e do desenvolvimento, na rua da Constituição, nº 41, visitado pelo imperador Pedro II, no dia 27 de outubro. Foi mencionada a existência de um laboratório fotográfico, “grande e espaçoso…nele estão guardados algumas centenas de clichês , feitos no campo pelos Srs. Ferrez e Branner e no laboratório pelo Sr. Ratbunn (Rathbun), que hoje toma conta dessa parte do serviço da comissão” (O Vulgarizador, 3 de novembro de 1877). O imperador já havia visitado o local dos trabalhos da Comissão, em 30 de julho de 1877 (Diário do Rio de Janeiro, 31 de julho de 1877, segunda coluna).

1878 – No Almanak Laemmert de 1878, Ferrez foi identificado como fotógrafo da Marinha Imperial e da Comissão Geológica. Seu estabelecimento ficava na rua São José, 88 com depósito na rua do Ouvidor, 55.

Foi noticiada a morte de Charles Frederick Hartt, que havia sido o chefe da Comissão Geológica do Império. Ferrez foi mencionado (A Boa Nova, 24 de abril de 1878, na terceira coluna).

1879 -  Em inglês, foram publicados anúncios das fotografias de Ferrez no jornal Rio News de 5 de agosto, de 15 de setembro15 de outubro5 de novembro, mencionando que ele havia recebido uma medalha na Exposição da Filadélfia e que havia sido fotógrafo da Comissão Geológica do Império. Os anúncios seguiram sendo publicados em 1880 e 1881.

 

 

Publicações da Brasiliana Fotográfica em torno da obra do fotógrafo Marc Ferrez 

 

O Rio de Janeiro de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 30 de junho de 2015

Obras para o abastecimento no Rio de Janeiro por Marc Ferrez , de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 25 de janeiro de 2016

O brilhante cronista visual Marc Ferrez (7/12/1843 – 12/01/1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2016

Do natural ao construído: O Rio de Janeiro na fotografia de Marc Ferrez, de autoria de Sérgio Burgi, um dos curadores da Brasiliana Fotográfica, publicada em 19 de dezembro de 2016

No primeiro dia da primavera, as cores de Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 22 de setembro de 2017

Marc Ferrez , a Comissão Geológica do Império (1875 – 1878) e a Exposição Antropológica Brasileira no Museu Nacional (1882), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica,  publicada em 29 de junho de 2018

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” V – O quiosque Chopp Berrante no Passeio Público, Ferrez, Malta e Charles Dunlop, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 20 de julho de 2018

Uma homenagem aos 175 anos de Marc Ferrez (7 de dezembro de 1843 – 12 de janeiro de 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de dezembro de 2018 

Pereira Passos e Marc Ferrez: engenharia e fotografia para o desenvolvimento das ferrovias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de abril de 2019

Fotografia e ciência: eclipse solar, Marc Ferrez e Albert Einstein, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 

Celebrando o fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 4 de dezembro de 2019

Uma homenagem da Casa Granado ao imperial sob as lentes de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicada em 7 de fevereiro de 2020

Ressaca no Rio de Janeiro invade o porão da casa do fotógrafo Marc Ferrez, em 1913, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado 6 de março de 2020

Petrópolis, a Cidade Imperial, pelos fotógrafos Marc Ferrez e Revert Henrique Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 16 de março de 2020

Bambus, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2020

O Baile da Ilha Fiscal: registro raro realizado por Marc Ferrez e retrato de Aurélio de Figueiredo diante de sua obra, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 9 de novembro de 2020

O Palácio de Cristal fotografado por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 2 de fevereiro de 2021

A Estrada de Ferro do Paraná, de Paranaguá a Curitiba, pelos fotógrafos Arthur Wischral (1894 – 1982) e Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 22 de março de 2021

Dia dos Pais – Julio e Luciano, os filhos do fotógrafo Marc Ferrez, e outras famílias, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 6 de agosto de 2021

No Dia da Árvore, mangueiras fotografadas por Ferrez e Leuzinger, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 21 de setembro de 2021

Retratos de Pauline Caroline Lefebvre, sogra do fotógrafo Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 28 de abril de 2022

A Serra dos Órgãos: uma foto aérea e imagens realizadas pelos mestres Ferrez, Leuzinger e Klumb, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 30 de junho de 2022

O centenário da morte do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de janeiro de 2023

O Observatório Nacional pelas lentes de Marc Ferrez, amigo de vários cientistas, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 29 de maio de 2023

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a potente imagem da Cachoeira de Paulo Afonso, por Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 5 de junho de 2023

A Fonte Adriano Ramos Pinto por Guilherme Santos e Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 18 de julho de 2023

Os 180 anos de nascimento do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923), de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 7 de dezembro de 2023

 

Leia aqui os artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia:

 

Dia Internacional da Fotografia – 19 de agosto, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2015

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Autorretratos de fotógrafos – Uma homenagem no Dia Internacional da Fotografia, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2021

No Dia Internacional da Fotografia, fotógrafas pioneiras no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2022

Dia Internacional da Fotografia, uma retrospectiva de artigos,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2023

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

*Acesse aqui o artigo Os 180 anos do invento do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil, também publicado hoje, dia 19 de agosto de 2019.

Fontes:

 

CASTRO, Danielle Ribeiro. Photographos da Casa Imperial: a Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, 2013

Charles F. Hartt e a Comissão Geológica do Império (Youtube)

FREITAS, Marcus Vinícius. Hartt: expedições pelo Brasil Imperial 1870 – 1878, 2001. São Paulo : Metalivros

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

SANJAD, Nelson. Charles Frederick Hartt e a institucionalização das ciências naturais no Brasil, maio/agosto de 2004. Rio de Janeiro: História, Ciências, Saúde-Manguinhos, volume 11, nº2

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

Serviços Geológicos nos trópicos: a experiência brasileira

 

 

Os 180 anos do invento do daguerreótipo – Pequeno histórico e sua chegada no Brasil

Para comemorar os 180 anos do daguerreótipo, invento que revolucionou em pouco tempo e para sempre a forma do registro do mundo e de seus habitantes, inundando nosso planeta de imagens fotográficas, a Brasiliana Fotográfica apresenta a seus leitores dois artigos*. Nesse primeiro, o portal conta a história do Dia Internacional da Fotografia e também da chegada ao Brasil, em 1840, do daguerreótipo, processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). O anúncio da invenção foi feito por François Arago (1786 – 1853), secretário da Academia de Ciências da França, em 19 de agosto de 1839.  Em 1864, em uma crônica reproduzida nesse artigo, o escritor Machado de Assis (1839 – 1908) perguntou “Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?”

 

 

  Sobre o Dia Internacional da Fotografia, a invenção do daguerreótipo e sua chegada no Brasil

 

Câmara de daguerreótipo Succe Frères, de 1939 / Westlicht Photography Museum, em Viena, na Áustria

Câmara de daguerreótipo Succe Frères, de 1939 / Westlicht Photography Museum, em Viena, na Áustria

 

A data escolhida para a comemoração do Dia Internacional da Fotografia tem sua origem no ano de 1839, quando, em 7 de janeiro, na Academia de Ciências da França, foi anunciada a descoberta da daguerreotipia, um processo fotográfico desenvolvido por Joseph Nicèphore Niépce (1765-1833) e Louis Jacques Mandé Daguerre (1787-1851). Cerca de sete meses depois, em 19 de agosto, durante um encontro realizado no Instituto da França, em Paris, com a presença de membros da Academia de Ciências e da Academia de Belas-Artes, o cientista François Arago, secretário da Academia de Ciências, explicou o processo e comunicou que o governo francês havia adquirido o invento, colocando-o em domínio público e, dessa forma, fazendo com que o “mundo inteiro” tivesse acesso à invenção. Em troca, Louis Daguerre e o filho de Joseph Niépce, Isidore, passaram a receber uma pensão anual vitalícia do governo da França, de seis mil e quatro mil francos, respectivamente. Um daguerreótipo consiste em uma imagem única e positiva, formada diretamente sobre placa de cobre, revestida com prata e, em seguida, polida e sensibilizada por vapores de iodo. Depois de exposta na câmera escura, a imagem é revelada por vapores de mercúrio e fixada por uma solução salina.

 

A descoberta que comunico ao público está entre as poucas que, por seus princípios, seus resultados e a promissora influência que deverá exercer sobre as artes, se situam naturalmente entre as mais úteis e extraordinárias invenções…“.

Louis Daguerre, 1838

 

A velocidade com que a notícia do invento do daguerreótipo chegou ao Brasil é curiosa: cerca de quatro meses depois do anúncio da descoberta, foi publicado no Jornal do Commercio, de 1º de maio de 1839, sob o título “Miscellanea”, na segunda coluna, um artigo sobre o assunto – apenas 10 dias após de ter sido o tema de uma carta do inventor norte-americano Samuel F. B. Morse (1791 – 1872), escrita em Paris em 9 de março de 1839, para o editor do New York Observer, que a publicou em 20 de abril de 1839.

A introdução da daguerreotipia no Brasil se deu com a chegada do navio L’Oriental-Hydrographe, navio-escola da Marinha Mercante da França, em fins de 1839, sob o comando  do  capitão Augustin  Lucas (1804-1854?), que havia estado no ateliê de Daguerre em 1839. A viagem de circunavegação pensada como uma escola flutuante começou a ser planejada em 1838, quando seu projeto, pedagógico e mercantil, foi apresentado ao ministro da Marinha francesa, Claude Rosamel (1774 – 1848).

Segundo a historiadora Maria Inez Turazzi, a presença do daguerreótipo a bordo assim como a de outros instrumentos inovadores, não foi casual ou improvisada, porém fruto de uma complexa rede de interesses diplomáticos, transações comerciais e intercâmbios científicos. É possível afirmar que a viagem de circunavegação do Oriental-Hydrographe teve início com a expectativa de consagrá-la como a primeira do gênero a utilizar a fotografia como meio de registro da experiência

O Estatuto de admissão ao navio Hydrographe que fará a volta ao mundo sob o comando do capitão Lucas informa que os alunos a bordo seriam divididos em quatro seções, de acordo com o grau de instrução que tivessem recebido a partir de um exame realizado por professores de diferentes disciplinas antes do embarque. Esses professores pertenceriam aos quadros da universidade e estariam associados à expedição. Os alunos fariam estudos iguais aos dos colégio reais e aprenderiam línguas estrangeiras e conhecimentos específicos de marinha e comércio durante a viagem.

L’Oriental, um navio de três mastros, partiu do porto de Paimboeuf, nas proximidades da cidade francesa de Nantes, em 25 de setembro de 1839, com cerca de 80 pessoas a bordo, entre tripulação e passageiros. A previsão de duração da viagem era de dois anos e meio. Durante o mês de outubro, atracou em Lisboa, no dia 7, e na Ilha da Madeira, no dia 23. Posteriormente, fez escalas em Tenerife e na Ilha da Goreia (Senegal), de onde veio para o Brasil. Chegou no Recife, em 30 de novembro (Diário de Pernambuco, 2 de dezembro de 1839, última coluna), tendo zarpado no dia 4 de dezembro rumo a Salvador, onde chegou no dia 7 (Correio Mercantil (BA), 10 de dezembro de 1839, segunda coluna), permanecendo até 17 de dezembro (Correio Mercantil (BA), 18 de dezembro de 1839, última coluna) – entre essas duas cidades brasileiras ocorreu a única morte registrada da viagem, a de um estudante belga.

O navio chegou no Rio de Janeiro, em 23 de dezembro de 1839, quando foi identificado como um colégio boiante, um navio-escola que promovia uma expedição didática- científica (Jornal do Commercio, 25 de dezembro de 1839, terceira coluna e Jornal do Commercio, 28 de dezembro de 1839, terceira coluna). No navio havia marinheiros capazes e professores hábeis, reunidos pelo capitão para iniciar os alunos a bordo nas primeiras noções da marinha e do comércio.  Dentre eles estava Francisco Sauvage, inventor do phisionotypo, um novo modo de suprir a escultura,  (Correio Mercantil (BA), 13 de dezembro de 1839, terceira coluna) e o abade francês Louis Comte (1798 – 1868), que viria a  ser o responsável pelas primeiras demonstrações da daguerreotipia no Brasil (Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, primeira coluna). O médico em chefe da expedição deu consultas para moléstias de olhos no Hotel Europa, que ficava na rua do Carmo, esquina com a rua Ouvidor (Jornal do Commercio, 28 de dezembro de 1839, terceira coluna). Em 26 de janeiro, o L´Oriental partiu para Montevidéu, no Uruguai (Jornal do Commercio, 27 de janeiro de 1840, última coluna) e de lá seguiu para Valparaíso, no Chile, onde naufragou quando deixava a cidade, em 23 de junho de 1840.Tudo foi recuperado e não houve vítimas (Jornal do Commercio, 14 de agosto de 1840, primeira coluna). O abade Comte permaneceu em Montevidéu ensinando daguerreotipia até 1847. Posteriormente, alugando armazéns na área portuária, acumulou uma fortuna e voltou para a França, onde faleceu, em 22 de setembro de 1868. Está enterrado no cemitério de Sampans, na França.

 

 

No Jornal do Commercio, de 17 de janeiro de 1840, era anunciada a chegada do daguerreótipo no Rio de Janeiro

 

O abade Comte, encarregado pela assistência intelectual e espiritual e pelo ensino de religião, música e canto durante a viagem, produziu alguns daguerreótipos, em 16 de janeiro de 1840, e, alguns dias depois, apresentou o invento a dom Pedro II (Jornal do Commercio,  20 de janeiro de 1840, terceira coluna). Foi com o próprio Daguerre que o abade havia aprendido a daguerreotipia. Em março do mesmo ano, d. Pedro II adquiriu um daguerreótipo, provavelmente o primeiro da América do Sul.

 

 

Louis Compte. Chafariz do Largo do Paço, Rio de Janeiro, 16/1/1840, daguerreótipo, 9 [8,3] x 7 cm [1/6 placa]. Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ

Louis Compte. Daguerreótipo do Chafariz do Largo do Paço 16/1/1840, Rio de Janeiro, RJ /
Arquivo Grão Pará, Petrópolis, RJ

 

Por sediar o Império, o Rio de Janeiro foi a capital da fotografia no Brasil. O imperador, grande entusiasta da nova invenção, foi retratado por diversos fotógrafos, dentre eles Marc Ferrez (1843-1923) e Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), tendo conhecido praticamente o trabalho de todos eles. A fotografia passou a ser o instrumento de divulgação da imagem de dom Pedro II, moderna como queria que fosse o reino, segundo comenta Lilia Moritz Schwarcz no livro As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos, e tornou-se também mais um símbolo de civilização e status. Foi um dos primeiros monarcas a oferecer seu real patrocínio a um fotógrafo, juntamente com a rainha Victoria da Inglaterra (1819 – 1901), quando, em 1851, permitiu que Buvelot & Prat, que haviam realizado uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos – usassem as armas imperiais na fachada de seu estabelecimento fotográfico.

 

Lista dos Fotógrafos Imperiais, na ordem cronológica em que foram agraciados com este título, segundo Guilherme Auler (1914-1965), sob o pseudônimo de Ricardo Martim, em dois artigos publicados na Tribuna de Petrópolis, em 1º e 8 de abril de 1956, segundo o livro O Brasil na fotografia oitocentista, de Pedro Vasquez. Pedro Hees e Pedro Satyro da Silveira foram incluídos na lista de agraciados e a inclusão foi baseada no trabalho Photographos da Casa Imperial: A Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, de Danielle Ribeiro de Castro

 

Buvelot & Prat, título concedido em 8 de março de 1851 (província do Rio de Janeiro)

Joaquim Insley Pacheco, título concedido em 22 de dezembro de 1855 (província do Rio de Janeiro)

João Ferreira Villela, título concedido em 18 de setembro de 1860 (província de Pernambuco)

Revert Henrique Klumb, título concedido em 24 de agosto de 1861 (província do Rio de Janeiro)

Stahl & Wahnschaffe, título concedido em 21 de abril de 1862 (província do Rio de Janeiro)

Diogo Luiz Cipriano, título concedido em 20 de setembro de 1864 (província do Rio de Janeiro)

Antonio da Silva Lopes Cardoso, título concedido em 30 de novembro de 1864 (província da Bahia)

Thomas King, título concedido em 18 de maio de 1866 (província do Rio Grande do Sul)

José Ferreira Guimarães, título concedido em 13 de setembro de 1866 (província do Rio de Janeiro)

Fernando Skarke, título concedido em 14 de dezembro de 1866 (província de São Paulo)

Pedro Satyro da Silveira, título concedido na década de 1870  (província do Rio de Janeiro)

José Tomás Sabino, título concedido em 13 de agosto de 1873 (província do Pará)

Henschel & Benque, título concedido em 7 de dezembro de 1874 (província do Rio de Janeiro)

Pedro Hees , título concedido em 1876 (província do Rio de Janeiro)

Antonio Henrique da Silva Heitor, título concedido em 2 de março de 1885 (província do Rio de Janeiro)

Juan Gutierrez de Padilla, título concedido em 3 de agosto de 1889 (província do Rio de Janeiro)

Ignácio Mendo, título concedido em 6 de agosto de 1889 (província da Bahia)

 

 

 

 

“Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?

 

Uma curiosidade: o escritor Machado de Assis (1839 – 1908) nasceu no mesmo ano em que nasceu a fotografia: 1839. Aos 24 anos dele e do invento, escreveu sobre o assunto em sua coluna do Diário do Rio de Janeiro de 7 de agosto de 1864. Comentou sobre suas visitas à casa do Pacheco (o fotógrafo português Joaquim Insley Pacheco), que ficava na rua do Ouvidor, nº 102, exaltando poder ver no mesmo álbum fotográfico os rostos mais belos do Rio de Janeiro, falo dos rostos femininos. Contou também a história da chegada do daguerreótipo na cidade e, em seguida, elogiou o trabalho realizado pelo artista  J.T. da Costa Guimarães, uma miniatura de Diane de Poitiers, exposto no estabelecimento de Insley Pacheco. Finalmente, revelou que havia chegado há pouco tempo no referido ateliê um aparelho fotográfico destinado a reproduzir em ponto grande as fotografias de cartão. Termina seu passeio perguntando-se “Até onde chegará o aperfeiçoamento do invento de Daguerre?

 

 

 **Acesse aqui o artigo Os 180 anos do invento do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferreztambém publicado hoje, dia 19 de agosto de 2019.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

CARRÉ, Adrien. La singulière histoire de l’Oriental-Hydrographe. Bulletin du Comité Nantais de Documentation Historique de la Marine, Nantes, p. 17-35, 1970. 2.

CASTRO, Danielle Ribeiro. Photographos da Casa Imperial: a Nobreza da Fotografia no Brasil do Século XIX, 2013

Dictionary of Canadian Biography

Estatuto de admissão ao navio Hydrographe que fará a volta ao mundo sob o comando do capitão Lucas. Registro autenticado – Bertinot e Roquebert – Rua Richelieu n. 28, Paris. Em 2 de abril de 1839. Arquivo Nacional da França, Paris. Transcrição e revisão de Maria Inez Turazzi; digitação de Márcia Trigueiro; tradução de Maria Elizabeth Brêa Monteiro. Publicado em TURAZZI, Maria Inez. A viagem do Oriental-Hydrographe (1839 – 1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo; Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.23, nº 1, p.45-62, jan-jun 20

GURAN, Milton (organizador), TURAZZI, Maria Inez; VASQUEZ, Pedro Karp. Os daguerreótipos de Louis Comte no Rio de Janeiro – As primeiras fotografias feitas na América do Sul. Rio de Janeiro: Luz Tropical, 2016.

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. O mistério dos daguerreótipos do Largo do Paço in Revista da USP, n. 120, janeiro-março, 2019, pp.127-152.

PALMQUIST,Peter E; KAILBOURN,Thomas R. Pioneer Photographers of the Far West: A Biographical Dictionary, 1840-1865. Stanford: Universidade de Stanford, 2000.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do Imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

TURAZZI, Maria Inez. A viagem do Oriental-Hydrographe (1839 – 1840) e a introdução da daguerreotipia no Brasil. Acervo; Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.23, nº 1, p.45-62, jan-jun 2010.

TURAZZI, Maria Inez. Máquina viajante. Fotografia, uma viagem sem volta, janeiro de 2010.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

WOOD, Rupert Derek. A viagem do Capitão Lucas e do daguerreótipo a Sidney.  NZ Journal of Photography, 3-7, agosto 1994.

 

Leia aqui os artigos já publicados na Brasiliana Fotográfica sobre o Dia Internacional da Fotografia:

 

Dia Internacional da Fotografia – 19 de agosto, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2015

Os 180 anos da invenção do daguerreótipo – Os álbuns da Comissão Geológica do Império com fotografias de Marc Ferrez, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2019

Autorretratos de fotógrafos – Uma homenagem no Dia Internacional da Fotografia, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2021

No Dia Internacional da Fotografia, fotógrafas pioneiras no Brasil, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2022

Dia Internacional da Fotografia, uma retrospectiva de artigos,  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 19 de agosto de 2023

 

Fotografia e namoro

Fotografia e namoro

Imagens de casais enamorados como nos habituamos a ver ao longo do século XX até nossos dias não são frequentes na história da fotografia do século XIX e do início do novecentos. A Brasiliana Fotográfica convidou Elvia Bezerra, coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles, para escrever sobre uma imagem de um casal de camponeses produzida pelo fotógrafo gaúcho Luiz do Nascimento Ramos, conhecido como Lunara (1864 – 1937). O registro faz parte do álbum Vistas de Porto Alegre – Photographias artísticas – Editores Krahe & Cia. Porto Alegre, que traz outras 18 fotografias de Lunara de circa 1910. O portal também selecionou mais uma fotografia de um casal de camponeses e outras dos casais reais formados por dom Pedro II (1825 – 1891) e dona Teresa Cristina (1822 – 1889) e pela princesa Isabel (1846 – 1921) e Gastão de Orleáns, o conde d´Eu (1842 – 1922). Todas revelam, em maior ou menor grau, afeto, cumplicidade e companheirismo. Foram produzidas por Alberto Henschel (1827 – 1882), Byrne & Co, Vincenzo Pastore (1865 – 1918) e por fotógrafos ainda não identificados. E assim a Brasiliana Fotográfica celebra o Dia dos Namorados.

 

Nhô João, deixa disso!

Elvia Bezerra*

 

É sabido que Lunara, nome artístico de Luiz do Nascimento Ramos, montava e dirigia cenas para fotos que fez na periferia da capital gaúcha, nas primeiras décadas do século XX. Não se pode, no entanto, saber o que esse método de trabalho foi capaz de desencadear nos coadjuvantes da composição. Como terá o casal, aqui retratado, voltado à intimidade da sua tosca torre de Pisa? Terá a senhora repetido o “nhô João, deixa disso!”, como informa a legenda, quando ficaram a sós? Seu recato terá se mantido dentro de quatro paredes? Terão os dois sido os mesmos? Haverá o clique do fotógrafo amador, nascido em Porto Alegre, em 1864, lhes restituído o gosto antigo do namoro?

Afinal, não é preciso ser nenhum André Gorz, filósofo austro-francês que só se deu conta da dimensão de seu amor pela mulher, com quem era casado havia décadas, depois que ela passou a sofrer de doenças incuráveis: “Já faz 58 anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca”, escreveu ele em Carta a D., documento de amor em que tornou pública a importância de Dorine na sua vida, confessando, aos 82 anos, que a amava e a desejava como na juventude.

Mas não é preciso tal situação dramática para acelerar um coração que bate devagar. Um clique precedido de uma arrumação de cena romantizada pode contagiar os personagens e fazê-los namorados de novo, ainda que seja por um dia.

Certamente não foi apenas a arquitetura dessa casa pobre que chamou a atenção de Lunara na cena registrada em um dos fins de semana em que saía para fotografar– consta que exercia o ofício especialmente aos domingos. A imagem de declínio, realçado pelo teto de telha vã da construção de taipa, se prolonga na do casal maduro, sentado entre a lateral e a frente da casa. A porta, inclinada para a esquerda, segue o movimento do telhado, deixando-se ver ladeada também pela irregularidade das varas de bambu, recheadas de barro. A decadência aqui é questionável.

A assimetria dos elementos da imagem resulta em harmonia: o telhado, decaído para a esquerda, compõe o fundo em que sobressai o casal de meia-idade, naquela fase da vida em que, como no poema de Manuel Bandeira, “o fogo já era frio”. Contrariamente à ideia de fragilidade que pode passar a milenar técnica construtiva da casa de taipa, ou pau a pique, como também é conhecida, o método está entre os mais resistentes. Na foto de Lunara, a solidez da construção é comprometida por um provável erro no momento da fixação da madeira no solo, talvez a causa do tombamento para o lado esquerdo. Ainda assim, não há dúvida com relação à firmeza que a imagem inspira.

Faz todo o sentido saber que Lunara fotografava nos fins de semana. Só assim poderia fixar um momento de ternura domingueira, ao ar livre, de um casal cuja labuta diária o impediria de vivenciá-la em outro dia que não fosse este, consagrado ao descanso e à oração.

Se atendem ao pedido de posar, é o homem quem incorpora o papel do cavalheiro, em atitude de devoção à dama. A figura dele é enternecida, mas sólida: pés paralelos fincados na terra, posta-se de frente para a companheira, que, sem encará-lo, coloca-se de lado e olha na direção oposta. Digno, ele segura as mãos da mulher; ela não as entrega. Recua, numa espécie de rejeição não totalmente desprovida de dengo, quem sabe provocada pelo desconforto da manifestação de carinho a céu aberto.

A fachada da casa é dignificada pelo chapéu que encima a porta, indicando que, ao deixá-lo à entrada, é com reverência que nhô João entra na sua moradia. A simplicidade do detalhe está longe da ironia presente no conto “Capítulo dos chapéus”, de Machado de Assis, em que o bacharel Conrado Seabra é instado pela mulher, Mariana, a trocar o chapéu por um mais moderno. Machado, impiedoso, começa por dizer que “o princípio metafísico é este: ‒ o chapéu é a integração do homem, um prolongamento da cabeça, um complemento decretado ab æterno; ninguém o pode trocar sem mutilação”. Ao longo da narrativa, entretanto, sem poupar a mulher de humilhação, conclui com esta ironia arrasadora: “Mas você reflita consigo, e verá… Quem sabe? Pode ser até que nem mesmo o chapéu seja complemento do homem, mas o homem do chapéu…”

A atmosfera pacífica da foto de Lunara opõe-se à tensão do conto de Machado. Na cena franciscanamente endomingada do gaúcho, reina a serenidade; quase se ouve “o silêncio que tem voz”. E o chapéu de palha, no alto, longe de ser objeto de discórdia ou de prestígio social, como acontece no conto, reafirma seu inquestionável caráter de dignidade na frente da casa. De resto, fica aqui a deixa para que, ainda recorrendo ao sombrero, nhô João encante sua mulher com os versos de Federico García Lorca, que, em “Por tu amor me duele el aire”, eleva o adereço ao patamar do ar e do coração, todos passíveis de serem sacrificados por amor:

“¡Ay, qué trabajo
me cuesta quererte como te quiero!

Por tu amor me duele el aire,
el corazón

y el sombrero”.

 

*Elvia Bezerra é coordenadora de Literatura do Instituto Moreira Salles

 

Mais fotografias e a história do Dia dos Namorados no Brasil

 

A data dedicada aos namorados foi criada, no Brasil, pelo publicitário João Doria (1919 – 2000), e é comemorada no dia 12 de junho, véspera do Dia de Santo Antônio, que por tradição é considerado o santo casamenteiro. Dória trouxe a ideia do exterior e a apresentou aos comerciantes paulistas, iniciando, em junho de 1949, uma campanha com o slogan “não é só com beijos que se prova o amor” (Diário da Noite27 de maio de 1949, última coluna9 de junho de 1949; e Revista da Semana, 18 de junho de 1949; Il Moscone, 25 de junho de 1949).

 

 

Acessando o link para as fotografias de casais disponíveis no acervo da Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Outras publicações da Brasiliana Fotográfica no Dia dos Namorados:

Série “O Rio de Janeiro desaparecido” X – No Dia dos Namorados, um pouco da história do Pavilhão Mourisco em Botafogo, de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de junho de 2020.

No Dia dos Namorados, o álbum “Vistas de Petrópolis” e o fotógrafo alemão Pedro Hees (1841-1880),  de autoria de Andrea C. T. Wanderley, editora e pesquisadora da Brasiliana Fotográfica, publicado em 12 de junho de 2023.

O fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924)

 

No Arquivo Nacional, o estúdio de José Ferreira Guimarães

Claudia Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Rainho*

 

Uma pequena e significativa série de retratos originados no prestigiado estúdio do fotógrafo José Ferreira Guimarães, instalado na rua dos Ourives ou no endereço da rua Gonçalves Dias, integra a coleção Fotografias Avulsas e o fundo Afonso Pena no Arquivo Nacional. O conjunto, resultado acidental da trajetória do ateliê até a incorporação em um arquivo público, é de todo modo significativo em face de outras séries de fotógrafos oitocentistas com número inferior de exemplares no acervo. Significativa também é a galeria de retratados em que figuram juristas, políticos do Império, alguns identificados na década de 1880, outros que passam aos quadros republicanos, e uma representante feminina, ligada ao declínio monárquico e ao exílio da família imperial. Nesse conjunto de imagens, não figuram crianças, tampouco casais. Os retratos etnográficos, como aqueles produzidos por Marc Ferrez, Alberto Henschel e Cristiano Junior, não eram foco de atenção de Guimarães.

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de José Ferreira Guimarães que pertencem ao acervo do Arquivo Nacional e estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Em formato carte de visite, carte cabinet, as imagens deslizam entre os planos da vida pública e da esfera privada, transferidas de sua singularidade no estúdio do Guimarães até sua organização nos arquivos. Entre as funções cumpridas por esses artefatos, a representação social e os laços pessoais confundem-se em dedicatórias e cartas. Assim o retrato de Maria Amanda de Paranaguá Dória, a baronesa de Loreto, é um indexador do lugar da fotografia no âmbito da vida familiar, tal como descrito no estudo de caso desenvolvido pelos historiadores Ana Maria Mauad e Itan Cruz, no qual as cartas e os retratos trocados entre a dama de companhia da princesa Isabel e a imperatriz Tereza Cristina nos permitem identificar a presença da fotografia nas relações sentimentais do século XIX, sobretudo com o crescimento da produção da modalidade carte de visite, a partir dos anos de 1870, na corte do Rio de Janeiro. No período em que as cartas foram trocadas, fotógrafos estabelecidos nas principais capitais do país eram responsáveis por uma produção significativa de retratos em estúdio voltados para a frequência da aristocracia imperial. [1]

 

 

O retrato de Maria Amanda, que se encontra no artigo citado, pertence à coleção da Fundação Joaquim Nabuco e foi realizado no estúdio de José Ferreira Guimarães no Rio de Janeiro, muito provavelmente na mesma sessão em que o exemplar ora apresentado; diferem pelo ângulo, aqui com a cabeça voltada para o lado, no outro, com o olhar dirigido às lentes, ambos nas características molduras em formato oval e com a mesma roupa e penteado.[2] Formava-se de modo mais ou menos evidente uma trama que passava por esse álbum de família estendido, caso de Domingos Farani, outro retratado por Guimarães, que chegou ao Brasil acompanhando a mudança da futura imperatriz, a napolitana d. Teresa Cristina. Joalheiro da Casa Imperial, ele estava entre os amigos mais próximos dos Ribeiro Avelar, viscondessa e visconde de Ubá, na corte, como evidencia a troca de cartas e retratos que eram parte constitutiva dos vínculos mantidos entre esses atores. Como observa a historiadora Mariana Muaze somente [fotos das] crianças pertencentes ao grupo familiar ou filhos de amigos muitíssimos próximos como Domingos Farani, por exemplo, foram colecionadas pela viscondessa.[3] Farani, como era comum no meio, se fez retratar também no endereço de Guimarães à rua Gonçalves Dias em um busto oval que excluía o cenário do estúdio, concentrando-se na fisionomia e expressão dos indivíduos e de insígnias, como a ostentada na lapela, provavelmente relacionada ao título de comendador, e mesmo o alfinete, que ostentava o ofício de origem.

 

 

No ateliê de Guimarães entraram obrigatoriamente bacharéis e políticos do Império e da República, personagens paradigmáticos da passagem do século XIX ao XX, como Saldanha Marinho, pernambucano formado na Faculdade de Direito de Olinda em 1836 e que, entre muitos cargos, foi deputado federal pelo Rio de Janeiro, presidente de província de Minas Gerais e de São Paulo, um dos fundadores do Clube Republicano no Rio de Janeiro, signatário do Manifesto Republicano, redator de A República, firmando-se como um dos protagonistas dos momentos iniciais do novo regime.[4] Saldanha Marinho, fotografado com barba exuberante, não aparada, seguia a tendência dos homens da segunda metade do oitocentos quando o rosto barbeado era visto com suspeição, denotando pouca seriedade. Conforme Gilda de Mello e Souza, o fim do século XVII e o século XVIII talvez por causa das perucas, foram tempos de cara raspada, mas, no princípio do século XIX os bigodes e suíças se espalham pelos exércitos de Napoleão, e já em 1810 Tkackeray nos apresenta aos sensacionais moustachios de Jos Sedley. A moda, durante algum tempo privilégio dos militares e símbolo de ferocidade, difunde-se rapidamente, e em breve o homem se entrega a uma desenfreada decoração capilar.[5]

 

 

Roupas escuras, barba e bigode também compuseram o retrato de Carlos Augusto de Carvalho: formado na faculdade de Direito de São Paulo em 1873, responsável, como presidente de província no Paraná, pela eclosão da Revolta do Vintém, Carvalho iria se destacar como ministro das Relações Exteriores nos anos 1890 reivindicando a ilha de Trindade aos ingleses, contando então com o apoio de Raul Pompeia e de Joaquim Portela, que, na época, eram diretores da Biblioteca Nacional e do Arquivo Público, provendo-o de informações. Em 1904 volta à cena, arbitrando o conflito entre o Brasil e a Bolívia.[6] Nesse retrato, Carlos de Carvalho não se circunscreve ao oval delimitado: está cercado pela névoa indefinida que é também uma das marcas do período, a volta de um tom crepuscular ao qual se referiu Walter Benjamin, em um artifício utilizado para reviver a aura dos primeiros tempos da fotografia, partilhado nos ateliês fotográficos das grandes capitais, superando distâncias de diferentes ordens.

 

 

Pelo estúdio fotográfico de Guimarães também passaram militares como Henrique Pedro Carlos de Beaurepaire Rohan, o visconde de Beaurepaire, entre outros não identificados, todos com suas fardas e condecorações. Em fotos de busto ou corpo inteiro, nas poses rígidas, como se espera desses retratados, evidencia-se o desejo de registrar para a posteridade o lugar social e, sobretudo, demarcar hierarquias. A fotografia de Beaurepaire, gentil-homem da Imperial Câmara, grã-cruz da Imperial Ordem de Avis, dignitário da Imperial Ordem da Rosa e comendador da Imperial Ordem de Cristo, uniformizado, portando algumas dessas condecorações, como a Imperial Ordem da Rosa e a Ordem de Cristo, nos anos 1890, é exemplar também de alguém que, sob o regime republicano, deixava clara a sua vinculação com o governo imperial.

 

 

Ana Mauad, observa que o sucesso do retrato carte-de-visite deve-se justamente à capacidade de adaptar o cliente a moldes preestabelecidos e de possível escolha através de um catálogo de objetos e situações; o estúdio do fotógrafo passa a ser um depósito de complementos escolhidos para caracterizar diferentes papéis sociais que se quer fabricar. […] O próprio cliente se converteu, ele mesmo, num acessório de estúdio, suas poses obedeciam a padrões estabelecidos e já institucionalizados de acordo com a sua posição social.[7] Nas imagens de busto, como a de Beaurapaire ou no “retrato de homem fardado, dos anos 1880, o fotografado posiciona-se mais próximo da câmera; as expressões faciais ganham destaque, o tronco elevado revela mais claramente elementos como insígnias e condecorações. Já nos retratos de corpo inteiro, como a intitulada “fotografia homem fardado”, além das dragonas e das condecorações, da exibição do conjunto do uniforme, da pose altiva, alguns elementos chamam a atenção como a barretina com penacho apoiada em uma banqueta e a espada e seu fiador em uma das mãos. Os elementos cenográficos, comuns aos retratos de meio corpo ou corpo inteiro são acessórios; não roubam a centralidade do retratado.

Outro registro interessante produzido por Guimarães é a de Lúcio de Mendonça, em 1896. Advogado, jornalista, magistrado, escritor, idealizador da Academia Brasileira de Letras, seu retrato, a começar pelas roupas e pose, denota despojamento e uma despreocupação em perenizar a imagem de homem sofisticado. A ausência de elementos decorativos, adornos, a simplicidade mesma do paletó escuro e camisa branca estão sob medida para um republicano, um burguês que, diferente da aristocracia num passado recente, não necessitava fazer da moda um elemento de distinção. E a dedicatória à Ferreira do Araújo, fundador da Gazeta de Notícias, e por quem Lúcio possuía grande admiração, evidencia a inscrição do fotografado no círculo dos intelectuais da segunda metade do século XIX.

 

 

Além das dedicatórias, algumas das imagens aqui apresentadas, trazem, no verso, dados referentes ao estúdio de Guimarães, sua participação em exposições, seus títulos – Fotógrafo da Casa Imperial, Cavaleiro da Ordem da Rosa – seus prêmios. Como era comum a fotógrafos da sua envergadura, essas informações, ao mesmo tempo em que o distinguia dos concorrentes, o aproximava da sua clientela, homens e mulheres da boa sociedade que aumentavam seu capital simbólico justamente por se darem a ver através das suas lentes.

 

[1] MAUAD, Ana Maria, RAMOS, Itan Cruz. Fotografias de família e os itinerários da intimidade na História. Acervo, Rio de Janeiro, v. 30, n. 1, p. 155-178, jan./jun. 2017, p. 159.

[2] Outro retrato da baronesa de Loreto produzido por Insley Pacheco e igualmente parte da coleção do Arquivo Nacional, pode ser visto neste portal. Disponível em https://brasilianafotografica.bn.gov.br/brasiliana/handle/20.500.12156.1/5027

[3] MUAZE, Mariana de Aguiar F. O império do retrato: família, riqueza e representação social no Brasil oitocentista (1840-1889). Tese de doutorado. Programa de Pós graduação em História da Universidade Federal Fluminensse, 2006, p. 296.

[4] Cf. Alzira Alves de ABREU et al (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. In: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/MARINHO,%20Saldanha.pdf Acesso em: 20/11/2017.

[5] Ver SOUZA, Gilda de Mello e. O espírito das roupas: a moda no século XIX, São Paulo: Cia. das Letras, 1087, p. 75.

[6] Cf. Alzira Alves de ABREU et al (coords.). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro – Pós-1930. Rio de Janeiro: CPDOC, 2010. In: http://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-republica/CARVALHO,%20Carlos%20Augusto%20de.pdf Acesso em: 20/11/2017

[7] MAUAD, Ana. Poses e flagrantes: ensaios sobre história e fotografias. Rio de Janeiro: EDUFF, 2008, p. 129-130.

 

*Claudia Beatriz Heynemann – Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

*Maria do Carmo Rainho – Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

 

 

Breve perfil e cronologia do fotógrafo português José Ferreira Guimarães (1841 – 30/01/1924)

  Andrea C. T. Wanderley**

 

 

Um dos fotógrafos preferidos da corte brasileira, amigo do imperador d. Pedro II (1825 – 1891), o português José Ferreira Guimarães (1841 – 1924), nascido em Guimarães, chegou ao Brasil com 11 anos, a bordo de um veleiro carregado de repolhos. Foi lavador de pratos, servente em tascas na beira do porto e vendedor de armarinhos. Começou sua carreira de fotógrafo associando-se a Eduardo Isidoro Van Nyvel, no Rio de Janeiro, em 1862. Quatro anos depois, passou a anunciar-se sozinho no mesmo ateliê na Rua dos Ourives, 40. Em 13 de setembro de 1866, recebeu o título de Fotógrafo da Casa Imperial. Fez, assim como o fotógrafo Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), fortuna com seus retratos em foto-pintura – retrato ampliado pintado a óleo ou guache ou pastel por um pintor. Guimarães ia frequentemente à Europa e aos Estados Unidos para comprar equipamentos e se atualizar com o que havia de mais moderno no campo da fotografia. Além disso, inventou o Relâmpago Guimarães.

José Ferreira Guimarães foi comendador da Ordem de Cristo e da Ordem da Rosa. Foi premiado com a medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes da Academia Imperial de 1865, 1866 e 1867; e na Exposição Nacional de 1866 e de 1873.  Após uma passagem pela rua do Ourives, 38, inaugurou, em 1886, um novo ateliê que, segundo Gilberto Ferrez, era um verdadeiro palácio da fotografia. Foi a maior casa fotográfica brasileira do século XIX e ficava na rua Gonçalves Dias, nº 2, esquina com a rua da Assembleia.

Passava temporadas na Europa mas, foi durante a década de 1910, que, provavelmente, transferiu-se definitivamente para a França, onde morou em um palacete nos arredores de Paris, na rue de La Paix, 21, em Bois Colombe. A casa enorme, apelidada pela esposa de Guimarães, Virginia Prata Guimarães, de Little Castle, foi construída em um estilo acastelado, que tornou-se moda entre os paulistas endinheirados pela cafeicultura, nas primeiras décadas do século XX.

Acessando o link para as fotografias de autoria de José Ferreira Guimarães disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Nas palavras do fotógrafo Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), seu discípulo e sobrinho neto de sua esposa, José Ferreira Guimarães era um tipo humano raro e versátil, além de ter uma invejável agilidade mental e ser de uma honestidade a toda prova. Era muito bem relacionado e foi amigo íntimo do fotógrafo francês Félix Nadar(1820 – 1910) e também do peruano Léopold-Émile Reutlinger (1863 – 1937). Segundo Junqueira Duarte, Guimarães era vaidoso e tinha longas barbas branquíssimas, sempre impecavelmente aparadas, era ereto e elegante, apesar da idade, e tinha um riso de tolerância e compreensão a esconder-se por detrás de fartos bigodes.

Sobre a obra de Guimarães e a invenção do Relâmpago Guimarães, Junqueira Duarte escreveu:

…Pela qualidade e refinamento de seu trabalho e rigor profissional que manipulava sua obra, do retoque a bico de lápis à apresentação formal de seus retratos, da viragem a ouro à técnica do esmalte a fogo dos medalhões que produzia – pareciam pequenos camafeus colorido a mão – desfrutou de grande prestígio na aristocracia brasileira e fez uma vultosa fortuna…Com José Ferreira Guimarães, desaparecia um homem de inteligência privilegiada, de espírito criador incomum, a quem deve a fotografia de todos os povos uma de suas grandes invenções – o engenho produtor de luz artificial em ambiente fechado, a partir da combustão instantânea do magnésio, própria para impressionar, em fração mínima de segundo, uma chapa fotográfica. A esse aparelho que encenava em si a luz do sol, deu ele o nome sugestivo e profético de Relâmpago Guimarães, apresentado com grande êxito na famosa Exposição Universal de Paris, em 1900. Muitos anos mais tarde, meio que por volta de 1935 ou 36, aperfeiçoado, miniaturizado e industrializado pelos norte-americanos, o engenho de José Ferreira Guimarães, surgiram no comércio fotográfico as lâmpadas (ou bulbos) em todo o mundo e em breve conhecidas sob o nome de Flash, ou seja, Relâmpago.

Não creio que algum historiador da fotografia, da arte e de sua técnica, tenha mencionado em seus livros, como legítimo inventor do processo flash o nome de José Ferreira Guimarães, o pequeno emigrante português que tronou grande sua arte, criador original da enorme gaiola de vidro, munido de grosso tubo exaustor para a saída da fumaça de magnésio e de um ventilador aspirante, destinado a apressar a evacuação dos pesados rolos de fumo produzidos pela incandescência da mistura química geradora de fortíssimo lampejo azulado…

…Que de benefícios trouxe a engenhosa invenção de José Ferreira Guimarães para a Humanidade, no estudo minucioso da Dinâmica dos corpos, na ilustração de variadas pesquisas científicas realizadas com a fotografia feita em curtíssima exposição, como a documentação endoscópica, ou a do fundo do olho, para apenas citar esses dois exemplos, colhidos por entre a incessante atividade dos documentaristas na Medicina e a Cirurgia!…

 

Cronologia de José Ferreira Guimarães

 

 

1841 – Nascimento de José Ferreira Guimarães, em Guimarães, na região do Minho, em Portugal.

c. 1852 – Aos 11 anos, emigrou sozinho para o Brasil, a bordo de um veleiro carregado de repolhos.

1860 – Guimarães radicou-se no Rio de Janeiro.

1862 – Provavelmente, nesse ano iniciou sua trajetória como fotógrafo, associando-se a Eduardo Isidoro Van Nyvel (18? – ?), na rua do Ouvidor, nº 75. Anunciaram que em seu estabelecimento fotográfico, aberto há poucos dias, executava-se retratos pelos sistemas do ambrótipo e cartões de visita (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1862).

1863 – Publicação de uma propaganda do estabelecimento fotográfico de Van Nyvel e Guimarães no qual anunciaram ter recebido de Alexandre Ken, o primeiro fotógrafo do globo, o processo de cartões de visita, além de uma máquina…para fazer oito retratos em um só vidro e outra que com um único tubo tira quatro posições diferentes em um vidro (Jornal do Commercio, 10 de junho de 1863).

 

 

1864 - Van Nyvel e Guimarães mudaram-se para a rua do Ourives, nº 40 (Jornal do Commercio, 22 de março de 1864, primeira coluna).

1865 – Guimarães ganhou a medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes da Academia Imperial.

1866 – Passou a anunciar-se sozinho no mesmo endereço, rua do Ourives, nº 40. Em outubro de 1866, Van Nyvel abriu um novo estabelecimento na Rua dos Ouvires, 65 (Jornal do Commercio, 2 de outubro de 1866, terceira coluna).

Foi agraciado por d. Pedro II com o título de fotógrafo da Casa Imperial, em 13 de setembro.

Ganhou a medalha de prata na 2ª Exposição Nacional. Sobre ele, o pintor Victor Meirelles, representando o júri do quarto grupo, onde se incluía a fotografia, escreveu no relatório do evento:

‘1ª Medalha de Prata – José Ferreira Guimarães (1841 – 1924):

Cabe a honra de ser classificado em primeiro lugar, obtendo a medalha de prata, o sr. J. F. Guimarães, estabelecido na rua dos Ourives, nº 40, por seus retratos de cartões de visita, e chapas de diferentes dimensões. Os trabalhos do Sr. Guimarães sobressaem-se pela fineza, nitidez e perfeição dos objetos representados e também pelo vigor dos tons que são bem calculados e de uma cor agradável, posições escolhidas com gosto e naturalidade.’

1867 - Produziu um retrato em tamanho natural no formato de 2 x 1,35 m, a maior fotografia realizada no Brasil até então.

Ganhou a medalha de prata na Exposição Geral de Belas Artes da Academia Imperial.

Informava ter partido para a Europa (Jornal do Commercio, 25 de julho de 1867, sexta coluna).

De volta de Paris, anunciou uma exposição de retratos sobre placas de porcelana na casa do Sr. Bernasconi & Moncada (Jornal do Commercio, 15 de novembro de 1867; Correio Mercantil, 15 de novembro de 1867, quinta coluna).

 

 

1869 – Anunciou ter regressado da Europa, aonde havia ido pela terceira vez, e também a abertura de seu novo estabelecimento na rua do Ourives, nº 38, segundo andar (Jornal do Commercio, 10 de outubro de 1869, página 3, Segunda Folha).  

1872 – Fotografou a pintura Combate Naval do Riachuelo, de Victor Meirelles (1832 – 1903), empregando seu sistema de ampliação para fazer reproduções de obras de arte de grande formato. Produziu a fotografia em placa de porcelana pelo processo inalterável…Para execução dessa fotografia serviu-se o habilísssimo fotógrafo José Ferreira Guimarães de placa denominada pelos fotógrafos “negativo”…Foram tirados e distribuídos alguns “positivos” sobre papel albuminado…(Relatório da Repartição dos Negócios do Império, 1882).

1873 – Ganhou a medalha de prata na 3ª Exposição Nacional.

Teria voltado, nesse ano, a sua cidade natal, Guimarães.

1875 - Retratou Marie Caroline Lefebvre (c. 1849 – 1914), mulher do fotógrafo Marc Ferrez (1843 – 1923).

Na coluna “Folhetim da Gazeta de Notícias –  Bellas Artes”, o português Julio Huelva (1840 – 1904), pseudônimo do músico e arquiteto Alfredo Camarate, elogiou a fotografia produzida no Brasil e destacou os trabalhos dos ateliês de José Ferreira Guimarães  (1841 –1924), Joaquim  Insley Pacheco (c. 1830 – 1912) e de Albert Henchel (1827 – 1892) e Franz (Francisco) Benque (1841-1921). O autor cobrou também a presença de fotógrafos do Rio de Janeiro na Exposição Universal da Filadélfia, que se realizaria em 1876 (Gazeta de Notícias, 21 de dezembro de 1875).

Década de 1880 - Durante esta década, o fotógrafo Valério Vieira (1862 – 1941) trabalhou como assistente no estúdio do fotógrafo José Ferreira Guimarães.

1882 - No Almanack Laemmert, foi veiculado um anúncio de Guimarães: Retratos vitrificados fixados a fogo, como as porcelanas de Sèvres. Perpétua duração, constituindo por isso uma verdadeira e imorredoura relíquia de família (Almanaque Laemmert, 1882).

Segundo relatório do diretor da Academia das Belas Artes, a instituição comprou a fotografia produzida por Guimarães da primeira versão da pintura Combate Naval do Riachuelo, de Victor Meirelles, perdida durante a Exposição Internacional da Filadéfia, em 1876 (Relatório da Repartição dos Negócios do Império, 1882).

Segundo consta em um de seus cartões, foi premiado com a medalha de ouro na Exposição Continental de Buenos Aires, inaugurada em 15 de março de 1882 – a seção brasileira foi inaugurada no dia 1º de abril, ocupando uma área de 600 m2 (Diário de Pernambuco, 10 de julho de 1882, terceira coluna).

1884 – Recebeu o título de Comendador da Ordem da Rosa.

Guimarães anunciou que Waldemar Lange executava fotografias de grupos de família pelo sistema americano de John Carbutt, da Filadélfia (Jornal do Commercio, 17 de julho de 1884, na página 8). Segundo Boris Kossoy, Lange havia sido associado na Bahia ao fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928). Na época, seu ateliê ficava na rua dos Ourives, nº 38.

 

 

Participou da Exposição da Academia de Belas Artes com esmaltes, platinotipos e algumas fotografias instantâneas, obtidas pelo processo denominado gelatino bromureto de prata  (Jornal do Commercio, 26 de setembro de 1884, segunda coluna).

A fotografia produzida por Guimarães da turma do sexto ano dos doutorandos de medicina foi exposta na casa de Narciso & Arthur Napoleão. É um trabalho, como todos os deste artista, muito notável (Diario Portuguez, 20 de dezembro de 1884, segunda coluna).

1885 – Foi encomendado à casa Guimarães um retrato a óleo de Francisco de Assis Mascarenhas. Foi realizado por Victor Meirelles e exposto na galeria Moncada. Os dois artistas foram referidos, na nota do jornal, como comendadores (Jornal do Commercio, 2 de agosto de 1885, sexta coluna).

 

 

1886 – A Casa Guimarães, na rua do Ourives, nº 38, foi substituída pela Photographia Americana, passando a pertencer a Roltgen, antigo retocador da Casa Guimarães, e do sr. Silva, antigo sócio-gerente da fotografia Carneiro & Tavares (O Paiz, 31 de julho de 1886, primeira coluna).

 

 

Guimarães inaugurou um verdadeiro palácio da fotografia, a maior casa fotográfica brasileira do século XIX, na rua Gonçalves Dias, nº 2, esquina com a rua da Assembleia. A casa, de 4 andares, foi durante algum tempo o mais alto prédio do Rio de Janeiro e foi construída expressamente para sediar o estabelecimento fotográfico de Guimarães. Os três primeiros pavimentos abrigavam as diversas seções de fotografia e o último servia de moradia do fotógrafo (Revista do Iphan, 1946, p. 199 e O Rio de Janeiro, 8 de agosto de 1886, quarta coluna).

 

 

Uma menina se acidentou quando passou em frente à casa fotográfica de Guimarães e uma tábua que servia de andaime caiu sobre sua cabeça. O fotógrafo prestou assistência à acidentada e responsabilizou-se pelo ocorrido (O Paiz, 18 de agosto de 1886, na última coluna).

1877 – Guimarães participou com fotografias das obras mais importantes da estrada de D. Pedro II da Exposição Internacional de Caminhos de Ferro no Bois de Vincennes, em Paris, em comemoração ao cinquentenário das ferrovias na França. Essas fotografias e também outras, de autoria de Marc Ferrez (1843 – 1923), foram expostas no Liceu de Artes e Ofícios (O Paiz, 18 de julho de 1887, terceira coluna).

Na casa Chameaux, exposição de uma pintura a óleo, de autoria do artista francês Battu, realizado com muita suavidade a partir de uma fotografia produzida pelo distinto fotógrafo Guimarães de uma menina vestida à moda das camponesas do norte de Portugal (Jornal do Commercio, 26 de julho de 1887, sétima coluna).

1888 – No salão do jornal O Paiz, exposição de um retrato do apregoado atirador Bento Moraes, produzido por Guimarães. Moraes era a primeira figura de uma companhia de variedades que se apresentaria no Polytheama (O Paiz, 13 de março de 1888, sétima coluna).

A Casa Guimarães, na rua de Gonçalves Dias, canto da da Assembleia foi enfeitada para participar dos festejos da cidade pelo retorno do imperador Pedro II (1825 – 1891) e da imperatriz Teresa Cristina (1822 – 1889), que ficaram ausentes do Brasil por quase um ano, na terceira viagem do soberano à Europa. Haviam partido em 30 de junho de 1887 (Diário de Notícias, 23 de agosto de 1888, terceira coluna).

 

 

1890 – Antes de cometer suicídio, o português e guarda-livros José Custódio de Oliveira enviou uma carta a Guimarães (Diário de Notícias, 22 de jumho de 1890, segunda coluna).

1891 - A partir de janeiro, José Ferreira Guimarães estaria até o fim da estação, às segundas e terças-feiras, em seu ateliê de Petrópolis (Jornal do Commercio, 11 de janeiro de 1891).

1894 – A Photographia Guimarães funcionava em Petrópolis, aos domingos, segundas e terças-feiras, em um chalé ao lado do Hotel Orleans (Gazeta de Petrópolis, 7 de março de 1894, terceira coluna).

Estava exposto na casa Palais Royal um quadro com os retratos dos doutorandos de 1894, produzido pela Photographia Guimarães (Gazeta de Notícias, 7 de novembro de 1894, na penúltima coluna).

Alguns membros da comissão da República Oriental do Uruguai, em visita ao Brasil, iriam ser fotografados na Photographia Guimarães (A Notícia, 8 e 9 de novembro de 1894, terceira coluna).

1895 – Na primeira página do Jornal do Brasil, era noticiado que a Photographia Guimarães & C continuava a merecer o favor público pela excelência de seus trabalhos artísticos (Jornal do Brasil, 10 de março de 1895, quarta coluna).

 

 

1896 – Na edição 36 de A Bruxa, foi publicada uma fotografia de F. Guimarães, conhecido proprietário da Photographia Guimarães (Commercio de São Paulo, 13 de outubro de 1896, última coluna). A Bruxa foi uma revista dirigida pelo poeta Olavo Bilac  (1865-1918) e pelo ilustrador português Julião Machado (1863 – 1930), entre 1896 e 1897.

Foi noticiado que a Photographia Guimarães produziria fotografias das salas do Club dos Repórteres com convidados por um processo novo de notável sucesso na arte fotográfica cuja primeira experiência foi realizada ontem (A Notícia, 24 e 25 de outubro de 1896, segunda coluna).

Estava exposto na vitrine da casa Colussi, na rua do Ouvidor, uma fotografia do presidente Prudente de Morais (1841 – 1902), produzida pela Photographia Guimarães. De acordo com a notícia, poderia se dizer que a obra é uma nova descoberta da photographia pois que o retrato…é feito em esmalte photográphico vitrificado a fogo, tão inalterável como as pinturas da porcelana de Sèvres e de Limoges… (Jornal do Brasil, 8 de novembro de 1896, quinta coluna).

1897 – O fotógrafo Alfredo Musso, irmão de Luis Musso, trabalhava na Photographia Guimarães (Jornal do Commercio, 1º de fevereiro de 1897, penúltima coluna).

Luis Musso, sócio da Photographia Guimarães, levou de presente à redação do Jornal do Brasil uma fotografia em platinotipia de um grupo de jornalistas que haviam assistido à inauguração da luz artificial para obter fotografias instantâneas (Jornal do Brasil, 12 de março de 1897, segunda coluna). Luis Musso havia sido o primeiro operador da Companhia Photographica Brazileira, dirigida pelo fotógrafo Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), desde sua fundação, em 1892, até 31 de março de 1894 (Jornal do Commercio, 13 de fevereiro de 1898, na última coluna). Em 1905, os irmãos Musso estavam estabelecidos na rua Uruguayana sob a razão social L. Musso & C, que também se anunciava como Photographia Brazileira.

Foi encomendada à Photographia Guimarães um retrato do engenheiro e primeiro diretor da Estrada de Ferro Pedro II, Christiano Ottoni (1811 – 1896), que seria ofertado à Escola Naval por seu filho, o industrial Julio Ottoni (Jornal do Brasil, 17 de setembro, sétima coluna).

1898 – Herrero Vargas, empregado da Photographia Guimarães, retratou um grupo da Estudantina do Cassino Espanhol em excursão a Santa Teresa (Gazeta de Notícias, 28 de fevereiro de 1898, primeira coluna).

O presidente da República, Prudente de Morais (1841 – 1902), presenteou o redator-chefe da Cidade do Rio, José do Patrocínio (1854 – 1905), fotografias de sua família produzidas pela Photographia Guimarães (Cidade do Rio, 10 de novembro de 1898, terceira coluna).

Na Casa Merino, estavam expostas três fotografias em platinotipia produzidas pela Photographia Guimarães: do presidente e do vice-presidente da República, Campos Salles (1841 – 1913) e Rosa e Silva (1857 – 1929), respectivamente, e do novo ministério do governo (Jornal do Commercio, 15 de novembro de 1898, sexta coluna).

1899 – O Sr. Musso, da Photografia Guimarães, registraria o cruzador italiano Fieramosca (A Notícia, 5 e 6 de agosto de 1899, segunda coluna).

Joaquim Insley Pacheco (c. 1830 – 1912), Marc Ferrez (1843 – 1923) e José Ferreira Guimarães foram nomeados para formar a comissão de propaganda da classe de fotografia da Exposição do Quarto Centenário do Brasil, em 1900, promovida pela Sociedade Propagadora das Belas Artes (A Imprensa, 31 de outubro de 1899, quarta coluna).

1900 – Horacio Garcia Vidal trabalhava na Photographia Guimarães (Cidade do Rio, 24 de janeiro de 1900, na última coluna).

Publicada na Revista da Semana, de 22 de julho de 1900, um instantâneo do Largo da Carioca, tirado do segundo andar da afamada Photographia Guimarães.

Apresentou na Exposição Universal de Paris o Relâmpago Guimarães, uma espécie de flash que permitia tirar fotografias em ambientes obscurecidos ou no período da noite.

A luz produzida por ele é exatamente a necessária para substituir a claridade do dia, suprindo-a em todo o seu vigor, mas permitindo respeitar as nuances do modelo, por mais delicado que seja.

O acolhimento que foi feito na Europa à invenção de nosso compatriota, proprietário da afamada Photographia Guimarães, deve ser muito lisonjeiro para os fotógrafos nacionais‘ (Revista da Semana, 12 de agosto de 1900).

 

 

1901 – Guimarães era sócio de Luis Musso e Julio D. Roltgen (Almanak Laemmert, 1901).

Julio Roltgen, da Photographia Guimarães, foi o autor do registro do “batismo da Salamina”, festa realizada no club de Regatas Botafogo. A imagem foi publicada na revista quinzenal Brasil Náutico, número 4, e foi considerada a nota elegante da edição (A Notícia, 8 e 9 de maio de 1901, terceira coluna).

Um retrato do senador do Império, Cândido Mendes de Almeida (1818 – 1881), executado pela Photographia Guimarães e emoldurado pela fábrica Martins Seabra & C., foi ofertado ao Jornal do Brasil (Jornal do Brasil, 31 de maio de 1901, sétima coluna).

Foi noticiado que o Relâmpago Guimarães havia obtido a medalha de 1ª classe na Exposição Universal de Paris de 1900. A Photographia Guimarães foi referida como admirável estabelecimento da rua Gonçalves Dias, esquina do largo da Carioca e, devido ao Relâmpago Guimarães estava executando trabalhos de inigualável perfeição. Os retratos produzidos na Casa Guimarães eram verdadeiras maravilhas de arte pela naturalidade da pose e pela incomparável nitidez (Gazeta de Notícias, 4 de julho de 1901, sétima coluna).

Por encomenda do presidente da República, Campos Sales (1841 – 1913), a Photographia Guimarães produziu um quadro medindo 1 metro por 80 centímetros com as fotografias do governo provisório da República organizado em 15 de novembro de 1889. O quadro ficaria no salão de despachos do Palácio do Catete (A Notícia, 26 e 27 de novembro de 1901, segunda coluna).

1902 – Na Igreja da Candelária, foi rezada uma missa pela turma de guardas-marinha de 1879. Nove deles estiveram presentes à cerimônia e depois foram retratados na Photographia Guimarães (Gazeta de Notícias, 9 de março de 1902, sétima coluna).

Luis Musso estava na direção da Photographia Guimarães (Jornal do Brasil, 24 de julho, sexta coluna).

1903 – Em anúncio, a Photographia J.F. Guimarães & C afirmava acreditar que nada devia à praça e pedia que, caso houvesse qualquer reclamação, que fosse levada a seu proprietário até o dia 10 de dezembro de 1903 (Jornal do Brasil, 6 de dezembro de 1903, primeira coluna).

1904 – Tendo deixado de trabalhar na Photographia Guimarães, Alfredo e Luis Musso e Julio D. Beltgen anunciaram a abertura de um novo estabelecimento fotográfico, na rua Uruguaiana, nº 10 (Gazeta de Notícias, 21 de fevereiro de 1904, terceira coluna).

Recém chegado da Europa, Guimarães anunciou a reabertura de seus ateliers modelos onde o high life poderia encontrar o chic da fotografia moderna (Jornal do Brasil, 24 de fevereiro de 1904, quinta coluna e Gazeta de Notícias , 21 de fevereiro, terceira coluna).

 

 

1905 – Estava exposta na Photographia Guimarães uma fotografia de Oswaldo Cruz (1872 – 1917), diretor da Saúde Pública, com um tamanho que nunca se fez entre nós (Gazeta de Notícias, 12 de abril, sexta coluna).

A Photographia Guimarães continuava na rua Gonçalves Dias (A Notícia, 10 e 11 de junho de 1905, quarta coluna).

1906 – A Photographia Guimarães funcionava sob a direção de José Ferreira Guimarães e A. Pinto, na rua da Assembleia, 78 (A Notícia, 25 e 26 de outubro, segunda coluna). Novo anúncio, no mês seguinte, só menciona Guimarães na direção do estabelecimento fotográfico (A Notícia, 6 e 7 de novembro de 1906, quinta coluna).

1907 – A Photographia Guimarães informava não ter nem funcionários ambulantes nem filiais pelo Brasil. As encomendas deveriam ser feitas na rua da Assembleia, 78 (A Notícia, 31 de janeiro e 1º de fevereiro de 1907, segunda coluna).

A turma de formandos em Odontologia e Medicina encomendaram quadros alegóricos na Photographia Guimarães. Seriam feitos em Paris, sob a supervisão do comendador Guimarães, que mais uma vez daria provas de seu bom gosto artístico (A Notícia, 27 e 28 de julho de 1907, quarta coluna).

A Photographia Guimarães anunciou que o funcionário Augusto Cezar Osório não trabalhava mais no estabelecimento (Jornal do Brasil, 14 de setembro de 1907, sétima coluna).

Exposição, na Photographia Guimarães de uma fotografia de Oswaldo Cruz (1872 – 1917), diretor da Saúde Pública (A Notícia, 4 e 5 de novembro de 1907, terceira coluna).

1909 / 1910 / 1911 / 1912 /1913 - A Photographia Guimarães funcionava em um sobrado, na rua da Assembleia, 100 (A Notícia, 22 e 23 de maio de 1909, terceira coluna e Almanak Laemmert, 1911, terceira coluna).

1909 – Publicação na revista Careta, 21 de agosto de 1909, de duas fotografias do escritor Euclides da Cunha (1866 – 1909), produzidas na Photographia Gumarães. Pouco antes de sua morte, o escritor havia oferecido ao jornalista Ernesto Senna (1858-1913) uma fotografia sua produzida na Photographia Guimarães (Correio Paulistano, 17 de agosto de 1909, primeira coluna).

Década de 1910 – Provavelmente, durante essa década, mudou para a França, onde morou em Bois Colombe.

1911 – Publicação de um retrato do cientista Carlos Chagas (1879 – 1934), produzido na Photographia Guimarães (A Noite, 8 de agosto e 9 de agosto de 1911).

1912 – Do terceiro andar da Photographia Guimarães, o comandante Souza Aguiar dirigia o trabalho dos bombeiros para debelar um grande incêndio no coração da cidade (O Paiz, 25 de março de 1912, na última coluna).

Proprietário e empregados de estabelecimentos fotográficos requisitaram que os mesmos não mais abrissem aos domingos. Dois empregados da Photographia Guimarães participaram do abaixo-assinado endereçado aos vereadores da cidade do Rio de Janeiro (A Imprensa, 13 de abril de 1912, segunda coluna).

1913 – Foi roubada uma mercadoria – papel sensibilizado – destinada a José Ferreira Guimarães (Correio da Manhã, 23 de janeiro de 1913, segunda coluna).

Uma dúzia de retratos de Boudoir, última novidade, criação da afamada Photographia Guimarães, seria o 2º Prêmio do Grande Concurso Extraordinário D, promovido pelo semanário O Tico-Tico: Jornal das Crianças (O Tico-Tico, 4 de junho de 1913).

1914 - Pela última vez a Photographia Guimarães foi anunciada no Almanak Laemmert.

Uma dúzia de retratos da Photographia Guimarães foi o 1º prêmio do Grande Concurso Extraordinário K, promovido pelo semanário O Tico-Tico: Jornal das Crianças (O Tico-Tico, 7 de outubro de 1914).

1915 – A capa do Jornal das Moças foi ilustrada com uma imagem de Carolina Pereira dos Santos, filha de um empresário do Rio de Janeiro. O trabalho fotográfico foi da Casa Guimarães e a gravura foi realizada no ateliê de Alois Fabien (Jornal das Moças, 1º de março de 1915).

1916 – Um dos prêmios sorteados pelo semanário O Tico-Tico seriam retratos da Photographia Guimarães (O Tico-Tico, 9 de fevereiro de 1916).

Após longos anos na Europa, José Ferreira Guimarães voltou a dirigir seu estabelecimento fotográfico no
Rio de Janeiro (A Noite, 5 de agosto de 1916, quinta coluna).

 

 

 

1917 – Foi anunciado que o segundo andar da Photographia Guimarães poderia ser alugado para dentista ou negócio de luxo. O prédio, que possuia elevador, foi referido como aristocrático (Jornal do Brasil, 28 de julho de 1917, quarta coluna). Nesse mesmo ano, foi anunciado que A Photographia Huebner & Amaral havia reaberto em 11 de setembro, na rua da Assembleia, 100, antigo endereço da Photographia Guimarães (Jornal do Commercio, 9 de setembro de 1917).

1919 - Neste ano, Maria Aparecida, uma sobrinha neta de sua esposa, foi residir com eles, na França.

1921 – O sobrinho neto de sua mulher, Benedito Junqueira Duarte (1910 – 1995), viajou para Paris, tornando-se discípulo de Guimarães. Posteriormente, Benedito trabalhou na Seção de Fotografia do Departamento de Cultura de São Paulo a convite de Mário de Andrade (1893 – 1945), além de ter sido sócio-fundador do Foto Cine Clube Bandeirante.

1924 – José Ferreira Guimarães faleceu na França, em 30 de janeiro, provavelmente, de infecção pulmonar. Foi enterrado no cemitério de Bois Colombe.

 

**Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Fontes:

AULER, Guilherme, sob o pseudônimo de Ricardo Martim, em dois artigos publicados na Tribuna de Petrópolis. Petrópolis, 1º e 8 de abril de 1956.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

DUARTE, Benedito J. José Ferreira Guimarães, fotógrafo da Corte Imperial. O Estado de São Paulo. São Paulo, 4 dez, 1977 (Suplemento Cultural).

FERNANDES JUNIOR, Rubens. B.J. Duarte Invenção e modernidade na fotografia documental.

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 248 p. (História da fotografia no Brasil, 1).

Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002.

KOSSOY, Boris. Origens e expansão da fotografia no Brasil : século XIX. Prefácio Boris Kossoy. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. 128 p.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho: Companhia Internacional de Seguros: Ed. Index, 1985. 243 p.

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

Um fotógrafo inglês na Bahia: Benjamin Robert Mulock (18/06/1829 – 17/06/1863)

 

Entre 1º de novembro de 1859, quando chegou ao Brasil, e abril de 1862, quando voltou à Inglaterra, o fotógrafo e engenheiro inglês Benjamin Robert Mulock (1829 – 1863) documentou a construção da estrada de ferro da Bahia a São Francisco, uma das primeiras do Brasil, cuja primeira seção foi inaugurada em 28 de junho de 1860. Vinte e sete dessas fotografias, que narram a história da construção da ferrovia, e também 32 imagens da cidade de Salvador e do interior da Bahia, atribuídas a Mulock, foram presenteadas a d. Pedro II pelo empreiteiro da obra, o engenheiro civil inglês John Watson (1816-1890), por volta de 1861.

Mulock é considerado um dos mais interessantes e expressivos paisagistas urbanos da fotografia oitocentista no Brasil, onde trabalhou, na Bahia. Um grande panorama fotográfico de Salvador, produzido por ele, a partir do Forte do Mar, entre 1859 e 1861, é uma das mais importantes fotografias da cidade no século XIX. Com muita nitidez, veem-se os principais prédios da capital baiana, cuja série de vistas de sua autoria é um importante e excelente registro de imagens de Salvador. A produção de Mulock é marcada por um caráter racional decorrente, talvez, de sua formação de engenheiro. Seus conhecimentos nessa área o habilitavam, em suas fotografias relativas à estrada de ferro, a escolher as melhores perspectivas e a reconhecer os elementos indispensáveis para uma documentação fotográfica útil para futuras construções ferroviárias.

Segundo Pedro Vasquez, seu estilo antecipou a abordagem direta que viria a ser adotada no século XX, a straight photography (a fotografia direta)(1), levada ao paroxismo da depuração e impacto pelo norte-americano Walker Evans (1903 – 1975).

Ainda sobre o estilo de Mulock, Weston J. Naef (1942 – ) e Gilberto Ferrez (1908 – 2000) comentaram no livro Pioneer photographers of Brazil: 1840-1920:

Em suas cenas urbanas, Mulock cultivava um estilo totalmente desprovido de artifícios derivados das convenções artísticas tradicionais. Ele gostava de posicionar sua câmara bem no meio da rua, como se qualquer ponto de vista fosse bom o bastante, mas ainda assim sua composição possui uma intensa coerência visual baseada numa construção estritamente fotográfica, de tal forma que seria difícil produzir a mesma imagem a partir de qualquer outro meio de expressão‘.

 

 

Acessando o link para as fotografias de autoria de Benjamin Robert Mulock disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pouco antes da chegada de Mulock ao Brasil, o italiano de origem alsaciana Augusto Stahl (1828 – 1877) realizou uma série de registros da construção de outra estrada de ferro, a Recife-São Francisco, em 1858. O fotógrafo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928) foi contemporâneo de Mulock e muitas das vistas produzidas pelos dois da capital baiana eram bastante parecidas.

 

Breve perfil e cronologia de Benjamin Robert Mulock

A vida familiar de Benjamin Mulock foi bastante conturbada devido à insanidade de seu pai, o irlandês Thomas Samuel Mulock (1789 -1868), que se casou com Dinah Mellard (1794-1845), em 7 de junho de 1825. Seus irmãos foram Thomas Mellard Mulock (1827 – 1847), que estudou pintura com William Holman Hunt (1827 – 1910), fundador, em 1848, juntamente com Dante Gabriel Rossetti (1828 – 1882) e John Everett Millais (1829 – 1896), do grupo artístico Irmandade Pré-Rafaelita; e Dinah Maria Mulock Craik (20/04/1826 – 12/10/1887), que se tornaria uma famosa poeta e romancista. Durante sua vida, Benjamin trabalhou como fotógrafo e engenheiro, tendo morado em diferentes cidades da Inglaterra, na Austrália, no País de Gales, no Brasil e na Rússia. Tentou casar-se e também buscou obter uma estabilidade financeira, o que nunca conseguiu. Em 1863, foi internado por suas tendências suicidas, fugiu do hospital, foi atropelado e faleceu em 17 de junho do mesmo ano.

1829 – Benjamin Robert Mulock nasceu em 18 de junho, no condado de Staffordshire, na Inglaterra, filho do pregador evangélico dublinense Thomas Samuel Mulock (1789 – 1869), um fanático religioso de origem humilde, e da inglesa Dinah Mellard (1794-1845), órfã de um próspero industrial do ramo de curtumes. Eles haviam se casado em 7 de junho de 1825. Benjamin foi o mais novo entre seus irmãos Thomas Mellard Mulock (1827 – 1847) e Dinah Maria Mulock Craik (20/04/1826 – 12/10/1887).

1830 - Seu pai, Thomas Samuel Mulock foi, pela primeira vez, internado no Stafford County Lunatic Asylum, hospital para doentes mentais, onde ficou do dia 1º ao dia 10 de maio.

1831 - Thomas Samuel Mulock perdeu sua paróquia e a família foi viver em Newcastle-under-Lyme.

1832 - Em 2 de dezembro, o pai de Benjamin, que devido a seu temperamento era conhecido como Moloch Sangrento, uma alusão a um demônio da tradição cristã e cabalística, foi internado de novo no Stafford County Lunatic Asylum, onde permaneceu sete anos.

Nos últimos anos dessa década, Dinah Mellard, mãe de Benjamin, fundou, com a ajuda de sua filha, uma pequena escola em Newcastle-under-Lyme.

1839 –  Com a morte da avó materna de Benjamin, a família Mulock herdou algum dinheiro.

Em 31 de dezembro, seu pai deixou o Stafford County Lunatic Asylum.

1840 - A família foi para Londres, onde passou a ter uma vida mais confortável. Moravam em Earls Court Terrace. Benjamin começou a estudar piano e concertina. Entre esse ano e por volta de 1845, quando Dinah, a mãe, faleceu, os Mulock tiveram uma vida cultural interessante. Thomas Samuel tornou-se amigo de Charles Mathews, gerente do Covent Garden, que convidava constantemente os Mulock para ocuparem uma frisa no teatro. Conviveram com atores, comediantes, e escritores, como George (1804 – 1878) e Maria Lovell (1803-1877), também atriz; a poeta Eliza Leslie (1787 – 1858), e o editor Samuel Carter Hall (1800 – 1889).

1842 – Sua mãe começou a apresentar problemas de saúde.

1843 – Benjamin começou a se interessar por Engenharia Civil.

1844 – Sua mãe e sua irmã voltaram temporariamente para o condado de Staffordshire, provavelmente na esperança de que a saúde da mãe melhorasse.

 

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O pai de Benjamin, Thomas Samuel Mulock, c. 1823. Fotografia publicada no livro The Mellards and Their Descendants, 1915.

 

1845 – Em Londres, Benjamin, seus irmãos e mãe foram abandonados pelo pai, em 21 de março de 1845, Sexta-Feira da Paixão.

Sua mãe, Dinah Mellard Mulock, faleceu em 3 de outubro. Thomas Samuel tentou se reaproximar da filha Dinah.

1846 – Por motivos financeiros, seu irmão Thomas teve que abandonar seus estudos de pintura e passou a trabalhar como capitão de navios. Ele havia estudado pintura com William Holman Hunt (1827 – 1910), que fundou, em 1848, juntamente com Dante Gabriel Rossetti (1828 – 1882) e John Everett Millais (1829 – 1896), o grupo artístico Irmandade Pré-Rafaelita.

1847/ 1848 /1849 - Em Londres, morte de seu irmão, Thomas, em 12 de fevereiro de 1847, após uma queda do navio em que faria sua segunda viagem como capitão da Marinha Mercante.

Benjamin vivia com sua irmã, Dinah, em alojamentos nas cercanias de Tottenham Court Road, e estudava no University College London latim, matemática e filosofia natural como preparação para a Engenharia. No século XIX, a filosofia natural englobava o estudo da astronomia, cosmologia, geologia, física e quimíca.

Dinah completou 21 anos e recebeu sua parte do trust de sua mãe. Ela escrevia contos e poemas que vendia para revistas, jornais e para os anuários de moda de Lady Blessington (1789 – 1849), além de percorrer editoras fazendo contatos. Em 1849, Dinah, publicou seu primeiro romance, The Ogilvies.

1850 – Benjamim completou 21 anos, recebeu sua parte do trust de sua mãe e foi para a Austrália. Desse ano até 1853, estabeleceu uma criação de ovinos e participou da corrida ao ouro no país.

1854 – Entre esse ano e 1855, Mulock retornou à Europa para tratar um problemas nos olhos, na Suíça e em Marienberg, na Alemanha.

1855 - Alistou-se na Army Works Corps e serviu como engenheiro em uma ferrovia durante a guerra da Criméia, conflito que ocorreu entre 1853 e 1856, na península da Criméia, no mar Negro, ao sul da Rússia e nos Bálcãs.

1856 – Retornou à Inglaterra, em julho, e entrou para o Liverpool Public Offices Engineers Department. Como engenheiro, trabalhou para os Correios de Liverpool. Em torno dessa época, Mulock tornou-se um fotógrafo autodidata.

Nesse ano, sua irmã publicou John Halifax. No período em que escreveu o livro, foi sustentada por Benjamin.

Seu pai voltou a ser internado no asilo de doentes mentais do condado de Stafford, onde permaneceu até 1860.

1857 - Em 31 de março, foi lançada a pedra fundamental da ferrovia da Bahia ao São Francisco, que ligava Salvador a Alagoinhas, a primeira da Bahia. Os planos da obra foram levantados pelos engenheiros civis ingleses Henrique Law e John Blount e sua execução contratada a John Watson (1816-1890), que dela encarregou o engenheiro H. Vignoles (1793 – 1875) (Diário de Pernambuco, 14 de abril de 1857, na segunda coluna sob o título “Bahia”, e Jornal do Commercio, 11 de março de 1858, na quarta coluna). Na época, o presidente da província da Bahia era o desembargador João Lins Vieira Cansansão de Sinimbú (1810 – 1906), presente na cerimônia do lançamento da pedra fundamental da obra.

1858 – Benjamim vivia em Liverpool e sua irmã, Dinah, foi morar com ele.

 

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Os irmãos Dinah e Benjamin Mulock, em 1858, no Jardim de Linacre Grange, em Bootle, cidade próxima a Liverpool. Fotografia publicada no livro The Mellards and Their Descendants, 1915.

 

1859 – Dinah e Benjamin mudaram-se para Londres e foram viver em Wildwood Cottage, perto de Hampstead, uma área rural da cidade. Entre fins de 1858 e 1859, Benjamin trabalhou como fotógrafo para John Jabez Edwin Paisley Mayall (1813 -1901), profissional famoso por sua produção de fotografias no formato cartões de visita da rainha Victoria (1819 – 1901). No período que se dedicou à fotografia, provavelmente entre 1858 e 1862, Benjamin sofreu doenças de pele decorrentes do uso de produtos químicos no processo fotográfico.

Benjamin embarcou no paquete inglês Oneida, que partiu de Southampton, e chegou ao Brasil em 1º de novembro, onde ficou até 1862. Teria sido contratado na França, onde aprimorava seus conhecimentos de fotografia, pela firma empreiteira do engenheiro civil inglês John Watson (1816-1890), para documentar a construção da estrada de ferro da Bahia ao São Francisco. Segundo o site Salvador Antiga, teria escrito sobre a Bahia: Eu nunca vi um lugar que me agradasse tanto à primeira vista. A Cidade alonga-se pela Baía, de forma crescente. A orla é alta e as casas erguem-se umas sobre as outras, misturando-se com a vegetação dominada por bananeiras e coqueiros, tudo tão verde.

 

 

1860 - Duas fotografias de sua autoria produzidas na Bahia foram publicadas na Illustrated London News, fundado em 1842 e primeiro jornal ilustrado semanal do mundo.

Em uma carta enviada por sua irmã, Dinah, a ele, em 4 de setembro, ficava evidenciada sua tendência à melancolia: Você trabalhar de modo silencioso e constante apesar das dificuldades, tenho orgulho disso, mas quando você se esfalfa de modo descuidado e inútil, e então fica irritado e vê as coisas de modo melancólico, bem, isto me preocupa bastante, eu admito.

c. 1861 – Em torno desse ano, vinte e sete fotografias da construção da ferrovia e também 32 imagens da cidade de Salvador e do interior da Bahia foram presenteadas a d. Pedro II pelo empreiteiro John Watson.

1862 – Em abril, deixou o Brasil e voltou para a Inglaterra, onde passou a viver com sua irmã, Dinah, em Hampstead.

1863 –  Em janeiro e fevereiro, trabalhou em Swansen, cidade no País de Gales, como engenheiro. Em abril, Benjamin retornou à Inglaterra e voltou a morar com sua irmã em Hampstead, em Londres.

Benjamin começou a dar sinais de melancolia. Sua irmã, que cuidou dele, tinha medo que ele cometesse suicídio. Em 7 de junho, foi internado na clínica para doentes mentais do Dr. Harrington Tukes, em Hammersmith, Londres. Fugiu cinco dias depois e foi atropelado, tendo morrido dos ferimentos em 17 de junho (Weekly Freeman’s Journal, 27 de junho de 1863).

Segundo o artigo Mrs. Craik, da escritora escocesa Margaret Oliphant (1828 – 1887), publicado em 1887,  na Macmillan’s Magazine, seria impossível penetrar suficientemente nas linhas da reticência vitoriana para descobrir se o problema de Benjamin era com o álcool, com o ópio ou instabilidade mental; ele aparecia e desaparecia, era muito falado, ternamente recebido pela irmã, causando nela ansiedade; rejeitado pelos amigos dela, mas nunca por ela.

1865 - Casamento de Dinah com George Lillie Craik  (1798–1866), escritor e crítico literário escocês.

1869 – Morte de seu pai, Thomas Samuel Mulock.

1887 – Morte de Dinah Maria Mulock Craik, em 12 de outubro.

 

 

(1) Fotografia direta – Straight photography – O conceito foi  usado para caracterizar uma vertente da fotografia moderna surgida nos Estados Unidos nos anos 1910. O termo foi definido, no texto Um Apelo em Favor da Fotografia Direta, do poeta e crítico de arte Sadakichi Hartmann (1867 – 1944), publicado na revista American Amateur Photographer, em março de 1904. Refere-se a imagens feitas pelo contato direto da câmera com a realidade, sem intervenções no laboratório ou na cópia, enfatizando a noção de fotografia como expressão subjetiva. Alguns dos expoentes da fotografia direta foram Alfred Stieglitz (1864 – 1946), Anselm Adams (1902 – 184), Edward Weston (1886 – 1958)  e Paul Strand (1890 – 1976).

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

ANDRADE, Joaquim Marçal (org.). A coleção do imperador: fotografia brasileira e estrangeira no século XIX. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1997. 71 p.

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CRAIK, Dinah Mulock. John Halifax, Gentleman. Canadá: Broadviews Edition, 2005

HANNAVY, John. Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography. Inglaterra: Taylor & Francis Group, 2008

ERMAKOFF, George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

FERREZ, Gilberto. A fotografia no Brasil: 1840- 1900. Prefácio Pedro Karp Vasquez. 2. ed. Rio de Janeiro: Funarte, 1985. 248 p. (História da fotografia no Brasil, 1).

FERREZ, Gilberto. Bahia: velhas fotografias 1858/1900. Apresentação Katia Queirós Mattoso. 2. ed. Rio de Janeiro: Kosmos, 1999. 199 p., il. p&b.

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KASTAN, David Scott (editor). The Oxford Encyclopedia of British Literature. Oxford: Oxford University Press, 2006.
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LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

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OLIPHANT, Margaret. Mrs. Craik, in Macmillan’s Magazine. 57, 1887.

READE, Aleyn Lyell. The Mellards and Their Descendants. London: 1915.

Site Benjamim R. Mulock, photographer

Site Enciclopédia Itaú Cultural

Site Family Search – Entrada de Passageiros na Bahia

Site Grace’s Guide to British Industrial History 

Site Illustrated London News

Site National Art Gallery

Site Online Archive of California

Site Salvador Antiga

Site Tapas Project

Site Taylor & Franis Online

Site The J. Paul Getty Museum

SPINOLA, José. Benjamin Mulock – O fotógrafo da velha Bahia. eBook Kindle, 2019

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

VASQUEZ, Pedro Karp. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Tradução Bill Gallagher. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995. 272 p.

Abram-Louis Buvelot (Suíça, 03/03/1814 – Austrália, 30/05/1888)

Suíço, nascido em Morges, o pintor e fotógrafo Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888), chegou ao Brasil, em 1835, e foi, com seu associado, o francês Prat (? – 1852), o primeiro fotógrafo no Brasil a receber o real patrocínio de um monarca quando, em 8 de março de 1851, d. Pedro II autorizou o uso das armas imperiais na fachada do estabelecimento fotográfico Buvelot & Prat, na rua dos Latoeiros, no centro do Rio de Janeiro. Buvelot pintou, sob encomenda da imperatriz dona Teresa Cristina, uma paisagem de floresta brasileira, que foi exibida na Exposição Geral de Belas Artes de 1846. A obra agradou muito a d. Pedro II, que o agraciou com o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Rosa, em 1847 (Diário Novo, 22 de março de 1847, na segunda coluna). A imperatriz dava de presente a suas irmãs em Nápoles, Paris e Viena quadros de Buvelot.

 

 

Buvelot foi aluno do pintor suíço Marc Louis Arlaud (1772 – 1845), na Escola de Desenho de Lausanne, de Jean-George Volmar (1769 – 1831), em Berna, e do francês Camille Flers (1802 – 1868), em Paris. Este último havia passado uma temporada no Rio de Janeiro, onde trabalhou como cozinheiro, pintor e bailarino.

Em  Salvador, sua primeira residência no Brasil, Buvelot foi professor de pintura. Em 1840, passou a morar no Rio de Janeiro e produziu vistas, cenas de costumes urbanos da cidade que estão no álbum litográfico Rio de Janeiro Pitoresco, realizado com o pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877) e publicado em fascículos entre 1942 e 1945, ano em que foi publicado, na íntegra, pela Heaton & Rensburg. Foi o primeiro álbum de gravuras impresso no Brasil (de que se tem notícia até hoje) e possuía 18 pranchas com dezenas de imagens litografadas, dentre elas registros da Ladeira de Santa Teresa e Santa Luzia, do Chafariz do Aragão, do Largo do Paço, além de cenas de escravizados e de outros personagens da cena carioca.

Entre 1840 e 1852, participou de todas as exposições da Academia Imperial de Belas Artes, exceto nos anos de 1842, 1845 e 1851. Fundou, em torno de 1845, um estabelecimento fotográfico na rua dos Latoeiros, 36 (atual Gonçalves Dias), tornando-se um dos primeiros profissionais da daguerreotipia no Rio de Janeiro. A oficina de Buvelot prestou diversos serviços para a Casa Imperial, dentre eles a produção de retratos de d. Pedro II, dona Teresa Cristina e de sua filha, a princesa Isabel, que integram a Coleção de Dom Pedro de Orleans e Bragança. Com seu associado, Prat, realizou, em 1851, uma série de daguerreótipos de Petrópolis – todos desaparecidos. Estiveram na cidade entre 25 de fevereiro a 1º de março e entre 9 e 15 de abril para fotografar aspectos da então colônia imperial e receberam da mordomia imperial 2:595$000. Foram pagos 92$000 ao Hotel Suíço de Francisco Gabriel Chifelli e ao colono Davi Heiderich pelo aluguel de carros que os transportou do Porto da Estrela a Petrópolis. Esses daguerreótipos estão desaparecidos. Segundo o historiador Guilherme Auler (1914-1965), alguns foram descritos por d. Pedro II em um dos manuscritos que estão no Arquivo da Casa Imperial. Seriam a descrição dos registros do palácio, ainda não concluído; do Hotel Suíço, da serraria, da residência do ministro da Rússia, além de aspectos da rua do Imperador e da rua Dona Francisca, dentre outros. Auler levantou a hipótese dessas fotografias terem sido ofertadas a Dona Francisca, a Princesa de Joinville que semestralmente recebia de maneira oficial, com correspondência da Mordomia da Casa Imperial ao Ministro brasileiro em Paris, caixas de doce de abacaxi, farinha de mandioca, feijão preto, barril de aguardente, caixas de goiabada e sementes de quiabo… A feijoada recordava o Brasil. E se havia o cuidado de remeter tais coisas, para o culto da saudade, certamente um daguerreótipo representava muito mais (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). 

Em 1852, Buvelot retornou à Suíça, onde tentou, sem sucesso se estabelecer como fotógrafo. Em 1865, fixou-se na Austrália, onde tornou-se um dos maiores pintores paisagistas do país. Entre 1866 e 1882, contribuiu com paisagens em várias exposições nacionais e internacionais. Faleceu em 30 de maio de 1888.

Em uma carta enviada em 1877 para um de seus amigos mais próximos, o pintor francês Eugene Girardet (1853 – 1907), refletindo sobre as circunstâncias de sua vida e seu envelhecimento, Buvelot escreveu:
Apenas uma faculdade persiste em força total e esta é um sentimento pela natureza que unido a um coração sempre jovem para amar e valorizar aqueles que escolheu…me faz encontrar um charme na vida.

Cronologia de Abram-Louis Buvelot (1814 – 1888)

 

 

1814 – Nascimento de Abram-Louis Buvelot, em 3 de março, em Morges, na Suíça, segundo filho de François-Simeon (? – 1848), funcionário do Correio, e de Jeanne-Louise-Marguerite Heizer (? – 1856), diretora escolar. Tinha um irmão, Eugene-Jean-Louis-Henri (c. 1820- 1852), gravador e litógrafo. A família Buvelot havia se estabelecido em Morges em 1677, onde chegou como refugiada protestante da cidade de Condé-en-Barrois, na França.

1830 – Em dezembro, Buvelot deixou sua cidade natal, provavelmente para estudar na Escola de Desenho de Lausanne, dirigida pelo pintor suíço Marc Louis Arlaud (1772 – 1845), que havia sido aluno do célebre pintor francês Louis David (1748-1825).

1834 – Provavelmente, deixou a Suíça e passou alguns meses em Paris, onde foi aluno do pintor francês Camille Flers (1802 – 1868). Flers havia vivido no Rio de Janeiro entre 1821 e 1823.

1835 - Buvelot chegou em Salvador, na Bahia, onde deu aulas de pintura. Seu tio, François Buvelot (1777 – ?) possuía uma plantação de café no estado entre 1825 e 1842. Buvelot permaneceu em Salvador até 1840 e os quadros que pintou da cidade, intitulados Vista da Bahia e Vista das Fortalezas da Entrada da Bahia, além de um retrato de Minerva Candida d’Albuquerque, o destacou entre as famílias europeias abastadas que viviam na Bahia.

1839 – Anunciou ao público ter aberto uma casa onde desenhava paisagens, retratos de todos os tamanhos e tudo quanto diz respeito a essa arte (Correio Mercantil, 9 de fevereiro de 1939, na segunda coluna).

1840 – Anunciou com o pintor francês Louis Auguste Moreau (1818 – 1877) aulas de desenho e pintura na rua Direita do Palácio, nº 65 (Correio Mercantil, 29 de janeiro, na segunda coluna, e 4 de fevereiro de 1840, na segunda coluna).

Em outubro, chegou ao Rio de Janeiro, a bordo do patacho Minerva. Três dias depois, compareceu à Polícia e no livro de legitimação de passaportes identificou-se como Luis Buvelot, suíço, solteiro, 27 anos, retratista. Como a maioria dos imigrantes, viveu um tempo no Hotel Pharoux, e depois teve várias moradias, dentre elas na ruas do Rosário, do Cano, Santa Teresa e Ourives (Jornal do Commercio, 31 de outubro de 1840, na terceira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). 

Em dezembro, participou da III Exposição Geral de Belas Artes com duas paisagens representando a praia de Santa Luzia e o Saco da Gamboa com o cemitério inglês (Jornal do Commercio, 16 de dezembro de 1840 e Diário de Pernambuco, 13 de janeiro de 1841, na primeira coluna). Na ocasião, Zeferino Ferrez (1797 – 1951), pai do fotógrafo Marc Ferrez, foi condecorado.

1841 – Foi anunciada a venda de uma litografia de Heaton & Rensburg representando a coroação e a sagração de d. Pedro II, quando ele se apresentou ao povo na varanda Largo do Paço, baseada em um desenho do pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877) e Buvelot. Estava à venda nas lojas de Georges Leuzinger (1813 – 1892) e Laemmert, dentre outras (Jornal do Commercio, 4 de agosto de 1841, na segunda coluna).

Participou da Exposição Geral de Belas Artes com quadros representando a Lagoa Rodrigo de Freitas e Botafogo (Jornal do Commercio, 6 de janeiro de 1842, na terceira coluna).

1842 – Foi publicado o primeiro número do Rio de Janeiro Pitoresco com seis estampas de vistas e figuras desenhadas por Buvelot e pelo pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877). Estava à venda nas lojas de Georges Leuzinger (1813 – 1892) e Laemmert (Jornal do Commercio, 24 de março de 1842, na terceira coluna).

Embarcou no navio Bom Sucesso, rumo a Vila Viçosa e Campos (Jornal do Commercio, 17 de novembro de 1842, na última coluna).

1843 - Em novembro, Buvelot casou-se com a parisiense Marie-Félicité Lalouette (1816 – ?), filha de Nicolas-Joseph e Appaline-Rosalie Piquet, meses depois do nascimento de Jeanne-Louise-Sophie, única filha do casal, em 24 de fevereiro.

Ele e o pintor cearense José dos Reis Carvalho (1800 – 1872) ganharam medalha de ouro na Exposição Geral de Belas Artes.

1844 – A imperatriz dona Teresa Cristina, que havia chegado ao Rio de Janeiro, em 3 de setembro de 1843, comprou todos os quadros de Buvelot expostos na Exposição do Rio de Janeiro: Cemitério Inglês na Gamboa, Vista do Convento de Santo Antônio, Canto do Beco do Cairu, Vista da Cidade do Rio de Janeiro observado do Andaraí Pequeno e Vista de Nossa Senhora da Glória observada dos aquedutos. O recibo, no valor de 300$000, de 1º de fevereiro de 1844, encontra-se no Arquivo da Casa Imperial. (Jornal do Commercio, 23 de fevereiro de 1844, na primeira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot participou da Exposição Geral de Belas Artes com quatro quadros: Vista da cidade e da Baía observada da Fábrica de Rapé, no Andaraí; Vista da passagem da Boa Vista observada do mesmo lugar; Vista do Corcovado e da Lagoa Rodrigo de Freitas observada da Boa Vista da Gávea;Vista de Botafogo observada do caminho novo da praia Vermelha (Jornal do Commercio, 21 de dezembro de 1844, na primeira coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

c. 1845 – Fundou seu estabelecimento fotográfico, na rua dos Latoeiros (atual rua Gonçalves Dias), tornando-se um dos primeiros profissionais da daguerreotipia no Rio de Janeiro.

1845 – Foi publicado pela Heaton & Rensburg o álbum litográfico Rio de Janeiro Pitoresco, realizado por Buvelot e pelo pintor francês Louis Auguste Moreaux (1818 – 1877). Reunia três séries de gravuras realizadas desde 1842 (Anuário do Museu Imperial, 1960).

Consta dos livros de fevereiro da mordomia imperial um recibo no valor de 500$000 para o pagamento de uma vista da Lagoa Rodrigo de Freitas, de autoria de Buvelot (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Francisco Buvelot, provavelmente François Buvelot, o tio de Louis Buvelot, partiu para a França, na barca francesa Emile (Jornal do Commercio, 20 de junho de 1845, na última coluna).

1846 – Era o professor de desenho do Colégio de São Pedro de Alcântara (Jornal do Commercio, 18 de outubro de 1846, na segunda coluna).

Pintou, sob encomenda da imperatriz dona Teresa Cristina, uma paisagem de floresta brasileira, Vista de mato virgem, que foi exibida na Exposição Geral de Belas Artes de 1846. Pelo quadro, foram pagos 300$000 conforme recibo de 4 de dezembro de 1846 existente no Arquivo da Casa Imperial (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1847D. Pedro II o agraciou com o título de Cavaleiro da Imperial Ordem do Rosa  pelo mesmo decreto que tornou Grandjean de Montigny (1776 – 1850) Oficial da mesma Ordem (Diário Novo, 22 de março de 1847, na segunda coluna).

Apresentou uma aquarela na Exposição Geral de Belas Artes (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1848 – Apresentou seis pinturas na Exposição Geral de Belas Artes: Vista de uma casa nas Laranjeiras, Vista de uma choupana, Vista do caminho dos aquedutos, Vista de uma casa em Catumbi, Vista da Gávea observada da Lagoa; e Vista das Laranjeiras (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1848 a 1951 – Seu estabelecimento, intitulado Louis Buvelot  foi anunciado na seção de “Pintores e Retratistas” do Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro de 1848, 1849, 1950 e 1951. Em 1951, foi anunciado também na seção de “Daguerreótipos”, no mesmo endereço, mas intitulado Officina de Buvelot, 6, & Prat, r. dos Latoeiros, 36.

1849 – Em 30 de novembro, a Família Real pagou a Buvelot  544$000 pela realização de 19 retratos e pelo fornecimento de 20 estojos de daguerreótipos (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot foi saudado como o artista que melhor sente e executa a natureza do Brasil, na Exposição da Academia de Belas Artes. Ele apresentou duas vistas (Correio Mercantil, 18 de dezembro de 1849, na terceira coluna).

1850 – Uma conta de 404$000 de retratos de d. Pedro II foi paga pela mordomia imperial, em setembro. A partir dessa informação, o historiador Guilherme Auler concluiu que o retrato do imperador que se encontra no Palácio do Grã-Pará é de autoria de Buvelot & Prat e sua data é 1850 (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Em uma crítica às obras apresentadas na Exposição da Academia de Belas Artes, foi escrito: as paisagens do sr. Buvelot não podem ser mais naturais! Lamentamos que esse homem não seja brasileiro ou ao menos lente de paisagem da academia, que a esse respeito está muito mal servida… Ele apresentou duas aquarelas (Gazeta Mercantil, 17 de dezembro de 1850, na segunda coluna e Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

1851 – Buvelot e Prat estiveram em Petrópolis entre 25 de fevereiro a 1º de março e entre 9 e 15 de abril para fotografar aspectos da então colônia imperial e receberam da mordomia imperial 2:595$000. Foram pagos 92$000 ao Hotel Suíço de Francisco Gabriel Chifelli e ao colono Davi Heiderich pelo aluguel de carros que os transportou do Porto da Estrela a Petrópolis. Esses daguerriótipos estão desaparecidos. Segundo o historiador Guilherme Auler, alguns foram descritos por d. Pedro II em um dos 114 manuscritos que estão no Arquivo da Casa Imperial. Seriam a descrição dos registros do palácio, ainda não concluído; do Hotel Suíço, da serraria, da residência do ministro da Rússia, além de aspectos da rua do Imperador e da rua Dona Francisca, dentre outros. Auler levantou a hipótese dessas fotografias terem sido ofertadas a Dona Francisca, a Princesa de Joinville que semestralmente recebia de maneira oficial, com correspondência da Mordomia da Casa Imperial ao Ministro brasileiro em Paris, caixas de doce de abacaxi, farinha de mandioca, feijão preto, barril de aguardente, caixas de goiabada e sementes de quiabo… A feijoada recordava o Brasil. E se havia o cuidado de remeter tais coisas, para o culto da saudade, certamente um daguerreótipo representava muito mais  (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Foi o primeiro fotógrafo no Brasil, com seu associado Prat, a receber o real patrocínio de um monarca quando, em 8 de março de 1851, d. Pedro II autorizou o uso das armas imperiais na fachada do estabelecimento fotográfico Buvelot & Prat.

 

 

1852 – O estabelecimento fotográfico foi anunciado no Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro como Officina Imperial de Buvelot, 6, & Prat, r. dos Latoeiros, 36.

Apresentou  um quadro na Exposição Geral de Belas Artes (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Buvelot retornou à Suíça por motivos de saúde, provavelmente havia contraido malária. Porém, no livro Famous Australian Artists, de Lois Hunter, publicado na Austrália, em 2003, foi mencionado que o motivo real de Buvelot ter deixado o Brasil teria sido a pressão pública devido a um escândalo desencadeado por um caso que ele teria tido com uma estudante. Algumas fontes informam que o ano foi 1851.

Viveu entre julho de 1852 e dezembro de 1853 em Vevey, Vaud, onde tentou, sem sucesso, se estabelecer como retratista.

1853 - Em dezembro, mudou-se com Marie-Felicité e sua filha Jeanne-Louise-Sophie (1844 – ?) para Lausanne. 

1854 – Foi com o artista austríaco Ferdinand Krumholtz (1810 – 1878), que ele havia conhecido no Rio de Janeiro, para Calcutá, na Índia, onde tentaram as carreiras de pintor e fotógrafo.

1855 - Buvelot teria ido para a Escócia antes de voltar à Suíça (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957). Começou a trabalhar como desenhista na Escola de Design em La Chaux-de-Fonds, Neuchâtel. Permaneceu na cidade com sua mulher e filha até setembro de 1864. Nesse período, contribuiu inúmeras vezes em exposições organizadas pela Sociedade dos Amigos das Artes de Neuchâtel.

1856 – Participou da Exposição de Berna com a pintura de uma paisagem.

Pela última vez a Oficinna Imperial Buvelot & Prat foi anunciada no Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro. O último anúncio  publicado no Correio Mercantil e Instrutivo, Político, Universal foi publicado em 21 de janeiro de 1956, na terceira coluna.

1857 – A oficina foi anunciada no Auxiliador da Administração do Correio da Tarde de 1857.

1859/1860 – Buvelot participou da Exposição Geral de Belas Artes de 1859 e de 1860 (Revista Popular, janeiro a março de 1861).

1864 – Buvelot trabalhou em um comitê que estabeleceu o Museu de Belas Artes em La Chaux-de-Fonds.

Segundo informação do dicionário de Emmanuel Bénézit (1854 – 1920), Buvelot teria voltado ao Brasil durante esse ano (Jornal do Brasil, 2 de junho de 1957).

Em setembro, deixou sua família em La Chaux-de-Fonds e, dois meses depois, partiu de Liverpool para a Austrália acompanhado de Caroline-Julie Beguin (? – 1902), que havia sido sua colega como professora de francês na Escola de Design de La Chaux-de-Fonds. Viveram juntos até a morte de Buvelot, em 1888.

1865 – Chegou em 18 de fevereiro em Melbourne, em Vitória, estado da Austrália, onde comprou um estúdio fotográfico na rua Bourke, nº 92.

1866 – Mudou-se para a rua La Trobe, nº 88 e retomou sua carreira de pintor. Caroline-Julie dava aulas de francês para ajudá-lo a se estabelecer como artista em Melbourne. Tornou-se conhecido, recebeu diversos prêmios, tendo-se notabilizado por suas paisagens. Entre 1866 e 1882, contribuiu com paisagens em várias exposições nacionais e internacionais. Segundo o crítico de arte do jornal australiano Argus, James Smith, ele reproduzia integralmente as paisagens australianas nas mais diversas técnicas: aquarelas, óleos e crayons.

1868 - Inscreveu-se para ser o instrutor das aulas de arte na Galeria Nacional de Vitória, sem sucesso. Dois anos depois, o austríaco Eugen von Guerad (1811 – 1901) foi designado para o cargo.

1869 – Em torno desse ano sua reputação como o principal pintor das paisagens da colônia australiana estava firmada.

Foi professor de desenho de paisagens na Escola de Design de Artisan, em Carlton, subúrbio de Melbourne.

Os quadros Winter morning near Heidelberg and Summer afternoon, Templestowe foram adquiridos pela Biblioteca Pública, como parte dos preparativos da Coleção Australiana para a Galeria Nacional de Vitória.

1870 / 1874 – Serviu no comitê da Academia de Artes de Vitória e também participou de exibições do grupo.

1873 –  O casal Buvelot mudou-se para o cottage Ma Retrait, na rua George, em Fitzroy, um subúrbio de Melborne.

1884 - Devido a problemas na visão e nas mãos, deixou de pintar.

1888 – A Academia de Belas Artes do Brasil adquiriu uma paisagem de Buvelot (Brasil. Ministério do Império, 1888).

Buvelot faleceu, em 30 de maio, na Austrália. Foi enterrado no cemitério de Kew, onde foi construído um memorial em sua homenagem.

1890 – Seu quadro, Vista da Gamboa, participou da Exposição Geral de Belas Artes de 1890 (Catálogo da Exposição Geral de Belas Artes de 1890).

1894 – A Galeria Grosvenor da Galeria Nacional de Vitória passou a chamar-se Galeria Buvelot.

 

Foster e  Martin. Retrato de Louis Buvelot, c. 1883

Foster e Martin. Retrato de Louis Buvelot, c. 1883 / La Trobe Picture Collection, Biblioteca de Vitória, Austrália

 

1953 – Integrou a mostra A Paisagem Brasileira até 1900, organizada por Rodrigo Melo Franco de Andrade (1898 – 1969) para a II Bienal de São Paulo.

1961 – Na Biblioteca Estadual da Guanabara, foi um dos pintores expostos na mostra O Rio na Pintura Brasileira.

1962 – Foi um dos artistas da mostra Pintura Australiana: colonial, impressionista e contemporânea, realizada em Perth e em Adelaide, na Austrália.

1976 – Integrou a exposição Arte Australiana nos 1870s, em Melbourne e em Sidney, na Austrália.

1977 - Integrou a exposição Aspectos da Paisagem Brasileira: 1816-1916, no Museu Nacional de Belas Artes.

1982 – Integrou a mostra 150 Anos de Pintura de Marinha na História da Arte Brasileira, realizada no Museu Nacional de Belas Artes.

1983 - Integrou a exposição Arcádia Australiana, em Sidney, na Austrália.

1992 – Integrou a mostra Natureza: Quatro Séculos de Arte no Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Acesse as obras de Buvelot disponíveis no acervo da Brasiliana Iconográfica.

Fontes:

AULER, Guilherme. O Paisagista e Retratista Buvelot, Jornal do Brasil, 2 Junho de 1957, Rio de Janeiro.

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CAMPOFIORITO, Quirino. História da pintura brasileira no século XIX. Prefácio Carlos Roberto Maciel Levy. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1983. 292 p., il. p&b. color.

COLMAN, Anne. Buvelot, the Migrant Artist. Interpreting New Worlds in Brazil and Australia. Austrália: La Trobe Journal, 2005.

ERMAKOFF , George. Rio de Janeiro 1840 – 1900 – Uma crônica fotográfica. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2006.

FREIRE, Laudelino. Um século de pintura: apontamentos para a história da pintura no Brasil de 1816-1916. Rio de Janeiro: Fontana, 1983. 677 p.

FOREL, M. F. Louis Buvelot, Peintre Vaudois. Gazette de Lausanne, 31 de março de 1906.

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Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional

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LAGO, Pedro Corrêa do. Brasiliana Itaú: uma grande coleção dedicada ao Brasil / curadoria da coleção: Pedro Corrêa do Lago, Ruy Souza e Silva. Rio de Janeiro: Capivara, 2009.

LEVY, Carlos Roberto Maciel. Exposições gerais da Academia Imperial e da Escola Nacional de Belas Artes: período monárquico, catálogo de artistas e obras entre 1840 e 1884. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1990. 317 p. / v.1

MELO JUNIOR, Donato. Buvelot no Brasil i (apontamentos 1963) e Buvelot no Brasil ii (novos apontamentos à guisa de adendo 1986). Boletim do Museu Nacional de Belas Artes. Rio de Janeiro, 5 (13–5): 9–15, jan.-dez. 1986. il.

PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Texto Mário Barata, Lourival Gomes Machado, Carlos Cavalcanti et al. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. 559 p.

RAPPAPORT, Helen. Queen Victoria: A Biographical Companion. Santa Barbara, California:ABC – CLIO Biographical Companions, 2013.

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TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro Karp. O Brasil na fotografia oitocentista. São Paulo: Metalivros, 2003.

VASQUEZ, Pedro Karp. Dom Pedro II e a fotografia no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 1985.

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Registros da Guerra do Paraguai (1864 – 1870)

Registros da Guerra do Paraguai (1864 – 1870) *

 

 

A Brasiliana Fotográfica traz para seus leitores registros de aspectos da Guerra do Paraguai, o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul. Sua iconografia fotográfica é escassa, apesar da importância do evento e do fato de que na época já existia um bom número de fotógrafos atuando no continente. Porém, segundo o historiador André Toral: O registro fotográfico da guerra do Paraguai contra a Tríplice Aliança (1864-1870) foi, em termos gerais, uma continuidade do tipo de fotografia que se fazia na época. Mas foi, também, mais do que isso. A cobertura in loco e a força do assunto trouxeram maneiras inovadoras de se representar o conflito, o que colaborou para a constituição de uma linguagem fotográfica com características próprias em relação à pintura ou gravura do período dedicadas à guerra.

 

Acessando o link para as fotografias de aspectos da Guerra do Paraguai disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Guerra do Paraguai abriu um lucrativo mercado para os fotógrafos itinerantes. Eles retratavam os soldados tanto nos acampamentos como em casa, antes da partida, tirando-os do anonimato, dando a eles um rosto, o que aumentava o custo humano dos combates. Os registros ainda não eram publicados nos jornais, devido à falta de arcabouço técnico, mas circulavam de mão em mão a partir de álbuns vendidos ao público. As capitais dos países envolvidos no conflito e algumas das províncias foram visitadas por esses profissionais, que também registravam os locais e seus costumes.

As imagens do acervo do portal sobre o assunto são de autoria de Agostinho Forni, de Carlos Cesar, do estúdio Bate & CA, de Frederico Trebbi, de José Ferreira Guimarães (1841 – 1924), de Luiz Terragno (c.1831-1891) e de outros fotógrafos ainda não identificados. Retratam aspectos de várias cidades como Assunção, Humaitá, Lambaré e Luque; a batalha de 18 de julho, casas de militares como os generais José Antônio Correia da Câmara (1824-1893) e Joaquim Andrade Neves (1807 – 1869), a casa de Elisa Lynch (1835 – 1886), mulher do presidente do Paraguai, Francisco Solano Lopez Filho ( 1827 – 1870); acampamentos militares, igrejas, estações de ferro e hospitais, dentre outros. Há também uma fotografia do quadro Passagem de Humaitá, do pintor Victor Meirelles (1832 – 1903), produzida por José Ferreira Guimarães (1841 – 1924).

 

 

A Guerra do Paraguai, primeiro conflito a receber uma cobertura visual na imprensa sul-americana e um de seus assuntos preponderantes entre 1864 e 1870, foi um importante marco da fotorreportagem no Brasil, tema central da tese de doutorado A Semana Illustrada e a guerra contra o Paraguai: primórdios da fotorreportagem no Brasil, de autoria de Joaquim Marçal de Andrade, um dos curadores do portal Brasiliana Fotográfica. Diversas ilustrações de episódios da guerra e de alguns de seus participantes foram publicadas. A litografia propiciava a reprodução de fotografias, daguerreótipos e pinturas levando as imagens da guerra a um público maior. No início do conflito ainda não havia tecnologia capar de realizar a reprodução direta da fotografia pela prensa, então as fotografias foram largamente utilizadas como base para as ilustrações produzidas pelos litógrafos e publicadas pela imprensa.

O engenheiro militar, historiador, teatrólogo e músico Alfredo Maria Adriano d’Escragnolle Taunay (1843 – 1899), futuro visconde de Taunay, título que recebeu de D. Pedro II em 6 de setmbro de 1889, participou da cobertura da Guerra do Paraguai. Integrou as expedições militares entre 1865 e 1867 e entre 1869 e 1870 e seus escritos circularam na Semana Ilustrada. Parte dos textos jornalísticos do visconde de Taunay foram reunidos por Affonso Taunay (1876 – 1958) na coletânea Recordações de Guerra e de Viagem. Entre suas obras está o clássico A Retirada da Laguna, sobre um dos episódios da Guerra do Paraguai, quando a tropa brasileira, adoecida por beribéri, cólera e tifo foi forçada a se retirar sob os constantes ataques da cavalaria paraguaia.

 

taunay

Destacamos no periódico Semana Illustrada, do alemão Henrique Fleuiss (1824 – 1882), edição de 10 de setembro de 1865, as publicações de ilustrações da Batalha Naval de Riachuelo e de dom Pedro II e do duque de Saxe em traje de campanha.

 

 

Segunda antropóloga Lúcia Stumpf que em 2019 defendeu a tese de doutorado Fragmentos de Guerra: Imagens e Visualidades contra a Guerra do Paraguai (1865-1881):

Além de sua importância histórica, a guerra contra o Paraguai se apresenta como um estudo de caso muito interessante para pesquisas de cultura visual… Isso porque a eclosão da guerra coincidiu, no Brasil, com o auge do desenvolvimento de novas tecnologias óticas e de impressão, que impactavam as artes e a indústria, no que chamamos, em referência ao famoso ensaio de Walter Benjamin, de era da reprodutibilidade técnica.

Grande parte da documentação fotográfica do conflito constitui-se por de cartes-de-visite de generais, soldados, governantes e outros envolvidos na guerra, produzidos entre 1864 e 1870. A guerra rendeu aos fotógrafos uma nova clientela de militares. Eram fotografados nos ateliês de suas cidades antes de irem para os combates.

Durante a Guerra do Paraguai, em 1865,  d. Pedro II  esteve no Rio Grande do Sul e foi retratado pelo fotógrafo italiano Luiz Terragno (c. 1831 – 1891 ), um dos fotógrafos pioneiros do Rio Grande do Sul.

 

 

Terragno fotografou, entre 1865 e 1867, outros personagens envolvidos no conflito como o Conde d´Eu (1842 – 1922) e o Duque de Saxe (1845 – 1907). Algumas dessas fotos e outras também de autoria de Terragno, de vistas de Porto Alegre, foram exibidas na Exposição de História do Brasil realizada pela Biblioteca Nacional e aberta por Pedro II, em 2 de dezembro de 1881, dia em que o monarca completava 56 anos. A exposição foi um dos mais importantes eventos da historiografia nacional.  Foi organizada por Benjamin Franklin de Ramiz Galvão (1846 – 1938), diretor da Biblioteca Nacional de 1870 a 1882.

O conde d´Eu (1842-1922), marido da Princesa Isabel (1846 – 1921), assumiu a chefia das tropas, em 1869, substituindo Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803 – 1880).

 

 

Bartolomeu Mitre (1821 – 1906) foi presidente da Argentina durante a Guerra do Paraguai.

 

 

Um pouco sobre a Guerra do Paraguai

 

Travada entre o Paraguai e a Tríplice Aliança, – cujo tratado foi assinado em 1º de maio de 1865 entre o Brasil, a Argentina e o Uruguai -, a Guerra do Paraguai ocorreu entre 1864 e 1870 e foi, como já mencionado, o maior conflito armado internacional ocorrido na América do Sul.  O Uruguai estava em guerra civil e cidadãos brasileiros foram perseguidos e tiveram suas fazendas atacadas. Apesar dos esforços do Brasil, da Argentina e da Inglaterra para pôr fim à crise, com representantes reunindo-se tanto com o presidente Aguirre e o chefe da rebelião, Venâncio Flores, a guerra civil continuou, e com ela os ataques aos brasileiros. Em agosto, o governo brasileiro ameaçou intervir militarmente no Uruguai e o Paraguai protestou. O Uruguai rompeu relações com o Brasil, que invadiu o país em 12 de outubro de 1864. Como retaliação, o Paraguai sequestrou, em 12 de novembro de 1864, o vapor brasileiro Marquês de Olinda, que havia partido de Buenos Aires, em 3 de novembro, e transportava o novo presidente do Mato Grosso, o coronel Frederico Carneiro de Campos (1800 – 1867).

O presidente do Paraguai, Francisco Solano Lopez Filho ( 1827 – 1870), declarou guerra ao Brasil em 13 de dezembro de 1864 e, à Argentina, em 18 de março do ano seguinte. O conflito, durante o qual cerca de de 280 mil paraguaios, na época a metade da população do país, e 120 mil soldados argentinos, uruguaios e brasileiros morreram, terminou em 1870, com a vitória da Tríplice Aliança e com a destruição do Paraguai. A origem do conflito é motivo de divergência entre historiadores, mas algumas de suas causas foram as questões de fronteiras entre os países, rivalidades históricas e a navegação nos rios platinos.

No Campo da Aclamação, atual Praça da República, foi construído um monumento, o Templo da Vitória, um pavilhão de madeira onde foi celebrada, em 10 de julho de 1870, o Te Deum em comemoração ao término da Guerra do Paraguai, com a presença de dom Pedro II e de outros membros da família real e de ministros do império. A data foi escolhida devido à chegada de dom Pedro II, cinco anos antes, à cidade de Uruguaiana, local da primeira rendição paraguaia.

A construção do templo teria que ser feita rapidamente e como os cofres públicos estavam depauperados foi criado um impoto extraordinário para financiá-la. A obra e sua concepção foram de Fachinetti e a decoração das ruas do entorno foram entregues ao escritório de arquitetura ligado a Pietro Bosisio, genro do ministro da Fazenda, o visconde de Itaboraí (A Reforma, 17 de maio de 1870, sugunda coluna). Anteriomente, havia se informado que a obra havia ficado a cargo do próprio Bosisio (A Reforma, 15 de maio de 1870, quarta coluna). O empreendimento foi muito criticado e ele foi apelidado na imprensa como o templo de papelão, já que apesar de uma aparência sólida, o edifício foi feito com papelão, lona, gesso e sarrafo. A missa foi um fiasco, com cerca de 200 pessoas nas arquibancadas quando cerca de 8 mil convites haviam sido enviados pelo ministro da Guerra. No mesmo mês de sua inauguração foi desmanchado (A Reforma, 10 de julho de 1870, primeira coluna e quarta coluna); Diário do Rio de Janeiro, 11 de julho de 1870, quarta coluna; A Reforma, 12 de julho de 1870, primeira coluna; Correio Nacional, 13 de julho de 1870, primeira colunaA Reforma, 29 de julho de 1870, segunda coluna; e A Reforma, 31 de julho de 1870, terceira coluna).

 

 

Na edição do Correio Nacional de 13 de julho de 1870, há uns versos sob o título “Cousas do Crispim”, onde foram comentados os eventos envolvendo o Templo da Vitória.

 

Links para outras publicações da Brasiliana Fotográfica sobre conflitos:

A Revolta da Armada

Guerra de Canudos pelo fotógrafo Flavio de Barros

Lampião e outros cangaceiros pelas lentes de Benjamin Abrahão

 

Acesse a reportagem A Guerra do Paraguai vista por um pintor suíco, de Theofilo Andrade, publicada na revista O Cruzeiro, 14 de abril de 1971.

Acesse o artigo Edoardo de Martino, pintor dos tempos de guerra, publicado na Brasiliana Iconográfica em 19 de julho de 2021.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

* O texto desse artigo foi atualizado em 18 de maio de 2020.

 

Fontes:

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ANDRADE, Joaquim Marçal Ferreira de. História da fotorreportagem no Brasil. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

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