A fundação de Niterói

 

A Brasiliana Fotográfica destaca 23 imagens para celebrar o aniversário de Niterói, cidade do estado do Rio de Janeiro, fundada em 22 de novembro de 1573. São registros produzidos pelos fotógrafos Antônio Caetano da Costa Ribeiro (18? – 19?), Augusto Stahl (1828 – 1877)Georges Leuzinger (1813 – 1892)Jorge Kfuri (1893 – 1965)Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897)Marc Ferrez (1843 – 1923) e por Sidney Henry Holland (1883 – 1936) Niterói foi a capital do estado do Rio de Janeiro de 1834 até 1975, quando aconteceu a fusão dos estados do Rio e da Guanabara.

 

 

Acessando o link para as fotografias de Niterói disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

 

 

O pintor Antonio Parreiras (1860 – 1937), que nasceu e faleceu em Niterói, foi tema de uma publicação da Brasiliana Fotográfica, em 17 de outubro de 2015. 

 

 

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Novos acervos: Museu da República

A Reforma Urbana do Rio de Janeiro na Coleção Família Passos

Magaly Cabral*

No município do Rio de Janeiro, o primeiro grande projeto de intervenção na configuração espacial e funcional da cidade, após a instauração da República, em 1889, se deu na gestão de Francisco Pereira Passos (1836-1913) como prefeito do Distrito Federal (1902-1906). Passos era um engenheiro experiente e foi nomeado para este cargo pelo presidente Rodrigues Alves (1848 – 1919), que governou o Brasil de 1902 a 1906. Sua missão como prefeito era bem definida: transformar o Rio em uma cidade moderna, cosmopolita e civilizada, digna de ser a capital da jovem república brasileira e atrair para cá visitantes, mão-de-obra imigrante e negócios.

A reforma urbana executada por Passos aconteceu em associação com as obras de modernização do porto do Rio de Janeiro e da construção da Avenida Central (atual Rio Branco), promovidas pelo governo federal, visando à melhoria na capacidade de escoamento e circulação de produtos, principalmente os importados. Como a capital federal era a principal consumidora desse tipo de produto e como a União tinha competência exclusiva sobre os impostos de importação, as reformas na cidade eram fundamentais para o equilíbrio orçamentário da federação.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Museu da República disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Além das alterações no traçado viário, das melhorias de infraestrutura e das novidades urbanísticas e arquitetônicas na cidade, a “Reforma Passos” também alterou costumes do carioca e suas relações com o espaço. Novas posturas municipais buscaram implementar hábitos de higiene e comportamento na população. O centro da cidade, onde até então moravam muitas pessoas de baixa renda, teve seus cortiços e estreitas vielas coloniais arrasados para se transformar num espaço de cultura, comércio, negócios e governo. A falta de moradia, por sua vez, levou ao processo de favelização dos morros. O grave problema das epidemias foi neutralizado através da vacinação obrigatória, resultando na “Revolta da Vacina” de 1904. O caráter modernizador, mas também excludente, da Reforma Passos (lembrada como “bota-abaixo”) gerou questões que até hoje se impõem quando pensamos nos processos de transformação urbana acontecidos ao longo do século XX e das primeiras décadas do XXI.

 

 

Aqui, iremos apresentar um recorte temático de 118 fotografias pertencentes à Coleção Família Pereira Passos, uma das mais importantes sob guarda do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República. Ela é formada por cerca de 5.592 documentos textuais e 1.147 fotografias, produzidos entre 1806 e 1960, pelo titular e seus familiares. A coleção faz parte do acervo do Museu da República desde 1965, quando a primeira e maior leva de documentos foi doada pela família de Pereira Passos. Em 1966, foi acrescida através de novas doações de sua neta, Maria Passos, e pela transferência de fotos até então pertencentes ao Museu Histórico Nacional, já em 1980. Essa nova contribuição do Arquivo Histórico e Institucional do Museu da República ao projeto Brasiliana Fotográfica soma-se à Coleção Canudos, registrada pela Unesco, em 2009, na categoria Memória do Mundo e já disponível ao público.

O autor da maioria das fotos aqui apresentadas é o alagoano Augusto Malta (1864 – 1957), contratado por Pereira Passos para documentar a reforma urbana. Essas fotos mostram as obras de mudança no centro da cidade e também em bairros próximos, como Tijuca, Estácio, Cidade Nova, Glória, Catete, Laranjeiras e Botafogo. As fotografias de Luis Musso, sobre a maquete do Teatro Municipal, e finalização de sua construção, também merecem destaque. Musso prestava serviços de documentação para a firma Antônio Januzzi Irmãos e cia, pertencente ao engenheiro italiano de mesmo nome, responsável pela construção da maioria dos prédios da Avenida Central, símbolo das reformas urbanas dos governos Pereira Passos e Rodrigues Alves.

 

Nesse conjunto de fotos, a maioria dos documentos destaca a região central da cidade, a principal área afetada pelas reformas de Pereira Passos. As imagens mostram uma época de tapumes, andaimes e restos de demolições pelas ruas, resgatam a memória de cenários que tiveram que desaparecer para dar lugar a novas ruas e prédios, como é o caso da Igreja de São Joaquim e do chafariz do Largo da Carioca. São lembrados também os elementos da paisagem urbana surgidos naquele momento, mas que já não existem, parcial ou inteiramente, como é o caso dos prédios neoclássicos da Avenida Central e da Avenida Beira-Mar, antes do Aterro do Flamengo.

Embora ruas e prédios pareçam ser as estrelas das fotos, podemos ver nelas a presença do carioca de então. Os operários, os elegantes passeadores das ruas, os homens que se reúnem num quiosque pra conversar e beber e as pessoas que tentam se proteger do calor com sombrinhas em meio a uma inauguração de início de obras. Por falar em pessoas, o próprio Pereira Passos aparece em várias fotos, cortando fitas, sendo homenageado ou em visita à Câmara Municipal, a mesma que permaneceu fechada nos seis primeiros meses de seu mandato, para que ele pudesse, sem obstáculos legislativos, tomar as medidas para a execução de seu ambicioso projeto.

*Magaly Cabral é diretora do Museu da República

Novos acervos: Arquivo Nacional

 

O Arquivo Nacional e a Brasiliana Fotográfica: primeiro encontro

 Claudia Beatriz Heynemann e Maria do Carmo Rainho*

Participar da Brasiliana Fotográfica representa para o Arquivo Nacional sua integração em rede a grandes acervos públicos ou privados, com os quais necessariamente sempre dialogou no campo da história da fotografia e das instituições de guarda.

 

 

Em diferentes mídias, a imagem fotográfica conservada pela instituição atingiu um público vasto e variado por meio da pesquisa realizada por seus usuários e pelos projetos de difusão como livros, mostras, exposições virtuais, sites e peças gráficas. Transformadas pelo uso e pelas intervenções realizadas existe, por outro lado, algo que é próprio a cada fotografia ou às séries, sempre sujeitas a renovadas interpretações.

Com alguns poucos daguerreótipos provenientes dos fundos Família Werneck e Família Bicalho, a fotografia oitocentista no Arquivo Nacional adquire vulto com os retratos de estúdio que inundaram o mundo todo, produzidos no Brasil por nomes como Joaquim Insley Pacheco, Joaquim Feliciano Alves Carneiro, Alberto Henschel, Guilherme Gaensly e Rodolfo Lindemann reunidos em diversos arquivos privados e na coleção Fotografias Avulsas. Esta inclui formatos como panorama, carte de visite, carte cabinet e estereogramas, numa cronologia que se estende de 1860 a 1964. Encontramos também, nesse conjunto, vistas e cenas urbanas do Brasil, como as paisagens do Rio de Janeiro por Juan Gutierrez, Marc Ferrez, Bippus e Lopes; ruas e prédios históricos da cidade de Ouro Preto, em fotos de J. Brandi; Salvador por Antônio da Silva Lopes Cardoso; e Santa Catarina por Augusto Schmidt. Somam-se ainda álbuns referentes às missões religiosas e à participação brasileira na Exposição Internacional de Filadélfia, em 1876; na Exposição Continental de 1882, em Buenos Aires; e na Exposição Universal de Paris, de 1889, aqui apresentadas.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Nacional disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Se os próprios álbuns eram dispositivos óticos que integravam o fenômeno das exposições universais, nas últimas décadas do século XIX, evidencia-se a estreita conexão entre os estereogramas e esses eventos, quando a estereoscopia se torna um dos principais meios de propagação da fotografia: em 1851, a técnica cai no gosto popular ao ser apresentada na Exposição Universal de Londres. O estereograma proporcionava ao espectador uma experiência em três dimensões, aproximando-o do real. Vidro e ferro, vitrines, produtos, países, culturas, uma sincronia que alinhava fenômenos análogos em seu esforço de síntese, como os catálogos, enciclopédias, e mesmo as viagens.

As mais antigas estereoscopias a circular no país são da década de 1850, de autoria de Revert Henrique Klumb. Depois de um período de declínio em quase todos os países, entre 1870 e 1880, ela voltou a despertar grande interesse, conhecendo seu apogeu na virada do século XIX para o XX. No Brasil este fomento teve como responsável, entre outros, o conde de Agrolongo que montou, no Rio de Janeiro, a Grande Manufatura de Fumos e Cigarros Marca Veado que distribuía figurinhas com fotografias estereoscópicas de tamanho reduzido (2,5 x 7 cm) em seus maços.

A série de estereogramas selecionadas inclui vistas do Rio de Janeiro retomando perspectivas consagradas em gravuras e aquarelas, mas que comportavam novas tomadas que começavam a desenhar outra cidade. Lembrando o caráter de grande circulação deste gênero de imagem, temos as séries produzidas para difundir a reforma do centro do Rio de Janeiro, particularmente a abertura da Avenida Central e, finalmente, retornando a uma dada origem, os estereogramas da Exposição Nacional de 1908 que destacavam o progresso dos transportes, da iluminação, dos grandes pavilhões e do elegante público afluente.

 

 

Entre os arquivos privados de homens públicos, apresentamos parte do fundo Afonso Pena que contém 445 imagens, dentre elas vistas de localidades brasileiras, em álbuns ou molduras, como Santa Bárbara, em Minas Gerais; Maceió, em Alagoas e Floresta dos Leões, em Pernambuco, estradas de ferro, obras federais, áreas assistidas pela Comissão de Açudes e Irrigação e registros de Afonso Pena com autoridades e em visita a estados brasileiros, como o Amazonas.

Um outro país, que se desenhava nos anos 1920 e 1930 com as lutas femininas pelos direitos civis, se dá a ver no acervo da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, fundada em 1922, por Berta Lutz, no Rio de Janeiro. Seus documentos fotográficos registram as ações para a conquista do voto e da emancipação das mulheres; eventos, congressos, assembleias e conferências feministas nacionais e internacionais; a atuação de Berta Lutz na defesa dos direitos da mulher; seu trabalho como pesquisadora do Museu Nacional; as sufragistas brasileiras e estrangeiras, além de homens públicos envolvidos com a causa do movimento.

Com a inserção das fotografias do Arquivo Nacional, esperamos contribuir para uma nova configuração do universo de pesquisa que a Brasiliana Fotográfica proporciona, permitindo o estabelecimento de conexões entre diferentes acervos e a análise das ocorrências de temas, fotógrafos e técnicas, entre tantos aspectos que permitem uma escrita da história da fotografia.

*Claudia Beatriz Heynemann – Doutora em História | Supervisora de Pesquisa do Arquivo Nacional

* Maria do Carmo Rainho – Doutora em História | Pesquisadora do Arquivo Nacional

Brasiliana Fotográfica: dois anos

 

O portal Brasiliana Fotográfica, uma iniciativa da Fundação Biblioteca Nacional e do Instituto Moreira Salles, completa hoje dois anos com mais de 10 milhões de visualizações e mais de 6 milhões de pesquisas realizadas. Nesse período, foram publicados 90 artigos, que fornecem um panorama da fotografia no Brasil desde as suas origens no século XIX até as primeiras décadas do século XX.

Ainda em seu primeiro ano, no blog do portal, tivemos uma publicação de relevância histórica: a presença de Machado de Assis (1839 – 1908) na fotografia da Missa Campal pela comemoração da abolição da escravatura (de autoria de Antonio Luiz Ferreira), realizada em 17 de maio de 1888, no Campo de São Cristóvão, com a presença da princesa Isabel. A descoberta foi saudada em outra publicação do blog pelo historiador José Murilo de Carvalho.

Os curadores Sergio Burgi, do Instituto Moreira Salles, e Joaquim Marçal, da Fundação Biblioteca Nacional, contribuíram ao longo desses dois anos com artigos sobre acontecimentos históricos como a Guerra de Canudos e a história da fotografia médica no Brasil, e também trabalharam no sentido de viabilizar, juntamente com a equipe da BN Digital, a participação de instituições nacionais e internacionais no portal, quais sejam: o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, a Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha e o Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, de Leipzig, Alemanha.

As próximas instituições que vão aderir a essa plataforma colaborativa são o Arquivo Nacional (ainda esta semana), o Museu da República e a Casa de Oswaldo Cruz – Fiocruz. Mais à frente, esperamos trazer o Museu Histórico Nacional e a Fundação Casa de Rui Barbosa – entre outras instituições que já manifestaram interesse.

Acessando o link para uma seleção de fotografias publicadas ao longo desses dois anos na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Vários fotógrafos, alguns já muito conhecidos pelo público e outros menos explorados, foram temas de nossas publicações, dentre eles Augusto Malta  (1864 – 1957)Georges Leuzinger (1813 – 1892)Jean Victor Frond (1821 – 1881)José Augusto Fidanza (c. 1847 – 1903)José Baptista Barreira Vianna (1860-1925)Marc Ferrez (1843 – 1923)Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) e Valério Vieira (1862 – 1941). Seus perfis são sempre acompanhados por galerias de suas fotografias disponíveis no acervo da Brasiliana Fotográfica e por cronologias biográficas. Essas cronologias são elaboradas a partir de uma extensa pesquisa na bibliografia disponível e também na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional – com os links para as notícias da época em que os fatos ocorreram. A Brasiliana Fotográfica também abordou assuntos como os teatros, as praias, as igrejas, as salas de cinema e os carnavais de antigamente.

Um dos objetivos do portal é divulgar mais questões ligadas à preservação digital, um assunto que toca não apenas às instituições de memória, mas a todos aqueles que produzem imagens digitais em seu dia a dia sem, no entanto, cuidar de sua preservação. Uma iniciativa já tomada nesse sentido foi a publicação do artigo Desafios e alternativas para a preservação digital, de autoria do professor Rubens Ribeiro Gonçalves da Silva, doutor em Ciência da Informação, pesquisador e professor titular do Instituto de Ciência da Informação, da Universidade Federal da Bahia. Embora esta seção ainda não tenha sido devidamente implementada, esperamos que isto ocorra ainda este ano.

Os itens mais acessados pelos leitores nesses dois anos foram as fotografias Missa campal celebrada em ação de graças pela Abolição da escravatura no Brasil, de Antonio Luiz Ferreira; Índios Botocudos, de Walter Garbe; A Família Imperial reunida, de Alberto Henschel; Índios da Tribo Carajás, de autoria desconhecida; e Avenida Central, atual avenida Rio Branco, de Marc Ferrez.

A Brasiliana Fotográfica convida todos para acessar o portal, que ora conta com cerca de 3 mil e 700 fotografias, e publica semanalmente novos artigos em seu blog, além de ser periodicamente atualizado com novos registros. O endereço é https://brasilianafotografica.bn.gov.br

 

 

 

 

Uma homenagem aos 452 anos do Rio de Janeiro: o Corcovado e o Pão de Açúcar

 

A beleza e a vocação exibicionista fez do Rio de Janeiro personagem constante de muitas fotografias desde o século XIX, quando, em 1843, o abade Conte chegou à cidade trazendo um daguerreótipo (Jornal do Commercio, 17 de janeiro de 1843, na primeira coluna). Na data de aniversário de sua fundação, a Brasiliana Fotográfica presta uma homenagem à cidade maravilhosa com uma seleção de registros dos morros do Corcovado, onde fica o Cristo Redentor, e do Pão de Açúcar, onde, desde 1912, funciona o bondinho. São seus principais pontos turísticos e marcas registradas da cidade. As imagens são de autoria de Alberto Henschel (1827 – 1882), Antonio Caetano da Costa Ribeiro, Augusto Malta (1864 – 1957), Augusto Stahl(1828 – 1877), F. Antunes, Georges Leuzinger (1813 – 1892), Jorge Kfuri (1892/3? – 1965), José Augusto de Paiva Meira, José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925), Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897), Marc Ferrez (1843 – 1923), Revert Henrique Klumb (c. 1826 – c. 1886), Thiele, do aviador Sidney Henry Holland (1883 – 1936) e da firma LTM.

 

 

Acessando o link para as fotografias do Corcovado e do Pão de Açúcar disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

 

Um dos mais importantes símbolos e pontos turísticos do Rio de Janeiro e do Brasil, o Cristo Redentor é um dos maiores e mais famosos monumentos em estilo art déco do mundo. Localizado no morro do Corcovado, a 710 metros de altitude, a estátua tem 38 metros de altura e pesa 1.145 toneladas. Foi inaugurada pelo presidente Getulio Vargas (1882-1954) e por Pedro Ernesto (1884-1942), interventor do Distrito Federal (Diário de Notícias, 13 de outubro de 1931 e O Cruzeiro, 17 de outubro de 1931).

 

Em 27 de outubro de 1912, foi inaugurado um caminho aéreo no Rio de Janeiro, entre a Praia Vermelha e o Morro da Urca, que se tornaria o mundialmente famoso Bondinho do Pão de Açúcar (Careta, 5 de outubro de 1912). Alguns dias antes, houve uma visita da imprensa às obras (Correio da Manhã, 10 de outubro de 1912). Em 1º de dezembro, foi inaugurada a iluminação elétrica no caminho aéreo (Jornal do Brasil, 1º de dezembro de 1912, na última coluna). O bondinho no segundo trecho, entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar, numa extensão de 750 metros e 396 metros de altura, começou a funcionar no dia 18 de janeiro de 1913, completando a ligação até o alto do pico do Pão de Açúcar (O Paiz, 19 de janeiro, na quarta coluna).

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Outros artigos publicados na Brasiliana Fotográfica em comemoração ao aniversário do Rio de Janeiro

A fundação do Rio de Janeiro, publicado em 1º de março de 2016, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro de Juan Gutierrez, publicado em 1º de março de 2019, de autoria de Maria Isabel Ribeiro Lenzi, Doutora em História pela UFF e historiadora do Arquivo Histórico do Museu Histórico Nacional ; e de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

A Praça Paris no aniversário do Rio de Janeiro, publicado em 1º de março de 2023, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

O Rio de Janeiro nos cartões-postais da Papelaria e Typographia Botelho, publicado em 1° de março de 2024, de autoria de Andrea C.T. Wanderley, editora e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

São Paulo sob as lentes do fotógrafo Guilherme Gaensly (1843 – 1928)

A Brasiliana Fotográfica homenageia os 463 anos de São Paulo, a maior cidade da América do Sul e a quarta maior do mundo, com imagens produzidas pelo suíço Guilherme Gaensly (1843 – 1928). Ele nasceu em Wellhausen, cantão de Thurgau, e foi para Salvador, na Bahia, aos 5 anos de idade. Em 1871, após um período de aprendizado no ateliê de Alberto Henschel (1827 – 1882) na capital baiana, estabeleceu-se como fotógrafo. Destacou-se como retratista e como fotógrafo de paisagens urbanas e rurais. Em 1882, Rodolpho Lindemann (c. 1852 – 19?) tornou-se seu sócio e, em 1894, a próspera empresa Gaensly & Lindemann abriu uma filial em São Paulo, onde Gaensly foi morar.

 

 

Foi o autor de importantes registros do estado e da cidade de São Paulo, vendidos como fotografias em papel albuminado e colotipias impressas na Suíça e comercializadas em álbuns. Foi o mais importante divulgador da nova imagem do estado como líder do Brasil.

 

“As imagens de Gaensly foram fartamente utilizadas pelas primeiras publicações ilustradas, oficiais ou não, num contexto promocional, interessadas em divulgar a imagem do Estado de São Paulo no plano internacional. Gaensly, de sua parte, veicularia amplamente sua produção através dos cartões postais…Se, por um lado, enquanto fotógrafo proprietário de um esta belecimento comercial as vistas urbanas e rurais se incluíam em sua atividade profissional constituindo-se no seu meio de vida, por outro, ele colaborou definitivamente para a construção da imagem oficial da cidade: aquela idealizada pelas elites e pelo Estado, a imagem de uma cidade que se “apresentava” moderna através de estilos “neoclássicos”.

Boris Kossoy in Realidades e ficções na trama fotográfica, 2002

 

 

Ao lado de seu contemporâneo Marc Ferrez (1843 – 1923), Gaensly foi provavelmente o fotógrafo mais publicado em postais no Brasil. Em 1899, a empresa The São Paulo Railway, Light and Power Company, o contratou como fotógrafo oficial, função que exerceu até 1925, três anos antes de sua morte. Na ocasião, a presença da Light representava a modernização da área urbana e dos serviços da cidade.

 

Acessando o link para as fotografias de São Paulo produzidas por Guilherme Gaensly, disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

“Essa documentação, assinada por um fotógrafo plenamente maduro e no auge da carreira, possui particular importância já que Gaensly valia-se ainda da tecnologia e do olhar estético característico da fotografia do final do século XIX, o que lhe permitiu conferir peculiar qualidade a seus registros, fazendo-os mesmo transcender os aspectos estritamente técnicos das imagens que sabia capturar com extremo rigor formal e poder de síntese”.

Catálogo da Exposição comemorativa da doação do Acervo Brascan ao IMS –

Guilherme Gaenly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan, p.10)

 

Apesar de nunca ter sido o fotógrafo oficial de São Paulo, como foi Augusto Malta (1864 – 1957) no Rio de Janeiro, Gaensly foi o autor de uma abrangente obra sobre a capital paulista nas primeiras décadas do século XX, o que o coloca nessa posição. Ele e Militão Augusto de Azevedo (1837 – 1905) são considerados os fotógrafos que mais cultuaram São Paulo. Gaensly fotografou a cidade em plena transição para a modernidade, tendo registrado todos os aspectos urbanos da nova metrópole que surgia. Registrou a inauguração dos bondes elétricos que substituíram as carroças, o Jardim da Luz, a agitação do comércio na região do entorno da Praça da Sé, o crescimento da avenida Paulista, além de palacetes, chácaras, edifícios públicos, igrejas, escolas, teatros e hospitais. Essas vistas de São Paulo foram comercializadas em álbuns impressos na Suíça a partir de fotografias em papel albuminado e de colotipias. Fotografou também a chegada de imigrantes italianos em Santos e em São Paulo. Dentre os prêmios que recebeu, está uma medalha de prata conquistada na Exposição Universal de Saint Louis, em 1904.

 

 

“Guilherme Gaensly foi sem dúvida o fotógrafo que mais aproximou o seu trabalho das necessidades e exigências do ideário republicano de progresso social e material. Dedicado e ativo nas primeiras décadas do século passado, produziu uma visão da metrópole emergente com requinte e elegância, buscando interpretá-la como um espaço urbano harmonioso; uma memória que não ultrapassa o estritamente fotográfico, mas que hoje se evidencia como um dos principais fios condutores da história da cidade”

Rubens Fernandes Junior, in Guilherme Gaensly, 2011

 

Cronologia de Guilherme Gaensly  (1843 – 1928)

 

 

1843 – Em 1º de setembro (provavelmente), nascimento de Wilhelm (Guilherme) Gaensly, em Wellhausen, cantão de Thurgau, na Suíça, fronteira com a atual Alemanha, filho de Jacob Heinrich ( c.1804 – 1868) e Anna Barbara Kin (c. 1813 – 1895). Teve 4 irmãos: Ferdinand (c. 1837 – 1915), Frederick (c. 1838 – 1902), Julia (c.1848 – 1936) e Alaine (c.1852 – ?). Nesse mesmo ano, seu pai veio para o Brasil, repetindo a experiência de primos e irmãos, chegando em Salvador, em 19 de setembro.

1848 – Em julho, chegada de Anna Barbara com os filhos Ferdinand, Frederick e Guilherme em Salvador, na época a segunda cidade mais populosa do Brasil – a primeira era o Rio de Janeiro.

1850/1851 – Criação do Bahia Fremden Kirschhof, o Cemitério dos Estrangeiros. Os pais e irmãos de Gaensly estão enterrados lá, na área dos protestantes.

1868 – Morte de Jacob Heinrich em 4 de janeiro. Alberto Henschel (1827 – 1882) anuncia a técnica da marfimographia, a contratação de novos profissionais e a iminente abertura de uma filial da Photographia Allemã em Salvador, na Bahia (Jornal de Recife, edição de 21 de julho de 1868, quarta e quinta colunas, no pé da página). Em algum momento entre a inauguração do ateliê e 1871 Gaensly trabalhou para Henschel.

Década de 1870 – Segundo Kossoy, durante essa década, Gaensly também foi associado ao fotógrafo alemão Joseph Schleier (1827 – 1903), que havia chegado em Salvador em 1851.

1871 – Após um período de aprendizado no ateliê de Henschel, situado na rua da Piedade, 16 (Jornal da Bahia, 16 de setembro de 1871), Gaensly estabeleceu-se como fotógrafo na firma Maison Gaensly & Lange (segundo Kossoy, Waldemar Lange), com a colaboração de Karl Gustaff ( c. 1837 – 1872), alemão que também havia prestado serviços para Henschel. Provavelmente, a Maison Gaensly & Lange ficava na Estrada do Manguinho.

1874 – Segundo Geraldo da Costa Leal em Um cinema chamado saudade (1997), nessa época, o europeu Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?) já trabalharia com Gaensly.

1875 – No Jornal da Bahia de 29 de agosto de 1875, na página 3, de 31 de agosto, na página 4, e de 4 de setembro, na página 4, foram publicadas propagandas da Photographia do Commercio, de Gaensly, na Ladeira de São Bento, 1. A propaganda foi publicada outra vez em 14 e 19 de abril de 1876 no mesmo jornal.

Novo estabelecimento

montado com todo o gosto

Photographia do Commercio

Guilherme Gaensly

1- Ladeira de S. Bento – 1

na localidade que ocupava a I.l.L. M. Sociedade Recreativa

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1876 – Segundo Kossoy, Gaensly anunciou seu estabelecimento, a Photographia do Commercio, no Largo do Teatro, 1, no Jornal da Bahia, de 20 de junho de 1876.

1877 – Foi agraciado com 3 medalhas pelo Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1881 – Participou da grande mostra da Biblioteca Nacional, Exposição de História do Brasil, que reunia integrantes do acervo da instituição e também da coleção de dom Pedro II (1825 – 1891) e do barão Homem de Mello (1837 – 1918). Apresentou 28 fotografias de quadros a óleo de pessoas públicas como o padre Antônio Vieira (1608 – 1697) e o conde de Cavalleiros (1750 – 1807). Expôs também vistas da Bahia produzidas provavelmente durante a década de 1870 com o alemão Joseph Schleier (1827 – 1903) (Anais da Biblioteca Nacional, 1881 – 1882, volume 2, nas páginas 141814191421149515011542154415451546155215541555155815661571157215741575157615781579158115821583158915911592 e 1597).

A presença de Schleier no catálogo da Exposição de História do Brasil parece confirmar a associação entre ele e Gaensly. As imagens são do Terreiro de Jesus com a cathedral e Faculdade de Medicina (antigo colégio dos jesuitas). Segundo Ricardo Mendes, “Considerando a abrangência do trabalho de Gaensly ao registrar a cidade de Salvador, não teria sentido a inclusão de imagens de locais tão conhecidos, a não ser que se tratasse de uma associação efetiva. De J. Schleier existem poucas referências, além de raras imagens no acervo da Biblioteca Nacional e dos Instituto Geográfico e Histórico da Bahia”.

Nesse ano o endereço de seu ateliê mudou para Largo do Teatro n° 92 – ao lado do Teatro São João – local que anos depois ficaria conhecido como Praça Castro Alves. O estúdio, um grande sobrado, era, provavelmente, também a residência de Gaensly.

Gaensly e Rodolpho Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?), futuramente seu sócio e cunhado, fotografaram a inauguração do segundo trecho da Estrada de Ferro Central da Bahia, entre São Félix e Tapera, atual Taperi (Diário de Pernambuco, 1º de janeiro de 1882, na última coluna).

1882 – Informava-se ao público novas mudanças e melhorias na Fotografia premiada de Guilherme Gaensly, que além de ateliê fotográfico funcionava também como uma galeria de seus trabalhos e anunciava  “a melhor coleção de vistas dos pontos mais bonitos da capital e subúrbios. Chama especial atenção para os retratos de tamanho natural pela câmara solar, retocados por um hábil artista de Paris”. O retoque deveria ser uma referência ao acabamento de fotopintura. (Diário de Notícias, 1 de janeiro de 1882).

Gaensly apresentou “excelentes trabalhos photographicos” na exposição dos 10 anos do Imperial Liceu de Artes e Ofícios (Diário de Pernambuco, 28 de outubro de 1882, na última coluna).

Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

Admitiu como ajudante Frederico Francisco Lindemann (c. 1852 – 19?), que no final dessa década tornou-se seu sócio.

1883 –  Foi publicado um anúncio do ateliê fotográfico de Gaensly, com a denominação Photographia Gaensly, na Praça de Castro Alves (Diário de Notícias, 4 de abril de 1883).

“O conhecido e acreditado photographo Gaensly” registrou o grupo que estava presente ao lançamento da pedra fundamental para as obras do primeiro engenho central da companhia Bahia Central Sugar Factories, um empreendimento do engenheiro britânico Hugh Wilsonorganizador da Companhia Anônima da Imperial Estrada de Ferro Central da Bahia (Jornal do Commercio, 3 de junho de 1883, na primeira coluna).

Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1884 – Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1885 – Foi agraciado com uma medalha do Imperial Liceu de Artes e Ofícios da Bahia.

1888 - Em 5 de maio, Guilherme casou-se com Ida Itschner (c.1863 – 1933), na residência dos pais da noiva, João Jacob Itschner e Elisabet Wolf Itschner. Teve como testemunhas seu sócio, Rodolfo Lindemann, e um de seus irmãos, Frederick. A cerimônia foi celebrada pelo pastor A.L. Blackford, um dos fundadores da igreja presbiteriana no Brasil.

Rodolfo Lindemann havia se casado com a irmã de Guilherme, Alaine, em 23 de abril, no ateliê fotográfico dele e de Guilherme, tendo como testemunhas os irmãos de Gaensly, Frederick e Ferdinand.

Rodolfo Lindemann havia se casado com a irmã de Guilherme, Alaine, em 23 de abril, no ateliê fotográfico dele e de Guilherme, tendo como testemunhas os irmãos de Gaensly, Frederick e Ferdinand.

gaensly

Acervo IMS

1889 – Rodolpho Lindemann, do ateliê Gaensly & Lindemann, foi premiado na Exposição Universal de Paris, no Campo de Marte, com uma medalha de bronze com quadros fotográficos da Bahia e de Pernambuco.

1891 – Gaensly embarcou rumo à Europa no paquete alemão Rosário (Diário de Notícias, 14 de janeiro de 1891, na penúltima coluna).

O casal Guilherme e Ida Gaensly embarcou no paquete alemão Mondevidéu rumo a Santos (O Paiz, 2 de julho de 1891, na última coluna).

1892 – Foi noticiado que o beco ao lado do ateliê fotográfico de Gaensly & Lindemann, na praça Castro Alves, em Salvador, havia se tornado um “mictório” (Jornal de Notícias, 28 de maio de 1892, na primeira coluna).

1893 – O casal Guilherme e Ida Gaensly embarcaram no paquete alemão Olinda rumo à Europa (Gazeta de Notícias, 9 de julho de 1893, na última coluna).

1894 – Inauguração da filial da firma Gaensly & Lindemann, em São Paulo, na rua XV de Novembro, 28, onde se concentrava o comércio de alto padrão na capital. Gaensly foi chefiar a sede paulista e Lindemann permaneceu em Salvador. A firma baiana teve seu nome alterado para Photographia Cosmopolita. Tudo indica que a crescente concorrência em Salvador e a queda do desempenho da economia baiana devido à seca foram as causas da abertura do ateliê em São Paulo.

Entre 1894 e  1897, editou a série de grandes estampas fotográficas de São Paulo.

O ateliê fotográfico Gaensly & Lindemann foi o responsável pela produção de um quadro com os retratos de todos os arcebispos da Bahia. Foi organizado por iniciativa de Olavo de Freitas Martins, um dos fundadores do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. “O trabalho artístico do systema photogravura foi executado pelo artista sr. Rodolpho Lindemann, ficando perfeito”. A matéria também informava que a sede paulista do ateliê Gaensly & Lindemann estava produzindo um quadro com os retratos dos arcebispos de São Paulo (Jornal de Recife, 24 de outubro de 1894, na quinta coluna).

As edições de 1894 e 1895 do livro São Paulo, de Gustav Köenigswald, foram ilustradas com as primeiras séries de vistas da capital paulista produzidas por Gaensly.

1895 – Aos 82  anos, faleceu em Salvador a mãe de Gaensly, Anna Barbara.

1896 – Anúncio em francês da Photographia Gaensly & Lindemann, com os endereços em São Paulo – rua Quinze de Novembro,28 – e em Salvador – Largo Castro Alves, 92 (Almanach, 1896).

Elogio à fotografia Otto de bicicleta, produzida pelo ateliê Gaensly & Lindemann, exposta na casa de música do sr. Luiz Levy, na rua Quinze de Novembro, em São Paulo (A Bicycleta, 12 de julho de 1896, na primeira coluna).

O fotógrafo Juan Gutierrez (c. 1860 – 1897) anunciou que Gaensly e Lindemann haviam cedido “gentilmente” a ele o seu “magnífico atelier” na rua Quinze de Novembro, 28, na capital paulista. Gutierrez estava expondo suas fotografias no salão da Associação Comercial (O Commercio de São Paulo, 24 de novembro de 1896, na quinta coluna).

No periódico paulista A música para todos, exemplar de dez.1896 / jan.1897, foi anunciada a Photographia Gaensly & Lindemann recomendada aos nossos assinantes. No mesmo anúncio,  foi também noticiada a exposição de mais de cinquenta fotografias do ateliê na redação da revista.

1898 – Foi comercializado o álbum “Colleções de 27 cartões com vistas da Cantareira, Jardim Publico, Quartel de Policia, Serra de Santos, Fazendas de Café, Poços de Caldas, Escola Normal de Campinas, Estação de Campinas, Largo de São Bento, Largo do Palacio, Ypiranga e outros”, cartões postais impressos por Victor Vergueiro Steidel (1868 – 1906). Não foi apresentada a autoria das imagens, mas foram, muito provavelmente, baseadas em fotografias de Gaensly, de Paulo Kowalsky e de Marc Ferrez(1843 – 1923). O fotógrafo Kowalsky teria atuado em São Paulo entre 1891 e 1897.

Para a Escola Politécnica, o estúdio Gaensly & Lindemann produziu o quadro de formatura da turma de Engenheiros Geógrafos.

1899 – Gaensly & Lindemann presentearam o Correio Paulistano com “uma bella collecção de bilhetes postais contendo vistas dos principais edificios e dos logares mais pitorescos” de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de agosto de 1899, na última coluna). Seria sua primeira série de postais, Lembrança de São Paulo.

Gaensly & Lindemann anunciaram o envio da Grande Collecção de Vistas de São Paulo para a Exposição Universal de Paris de 1900.

Em abril, foi constituída em Toronto, por um grupo de investidores canadenses estimulados por empresários paulistas a The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited.  Em 17 de junho, a empresa obteve autorização para funcionar no Brasil e logo em seguida iniciou seus trabalhos no país.

Gaensly foi contratado pela companhia e foi seu principal fotógrafo até 1925. Com equipamentos de grande porte (negativos em vidro 24 x 30cm), passou, então, a documentar os trabalhos da empresa, produzindo registros das transformações urbanas de São Paulo, causadas por obras de implantação de linhas de bonde elétrico, de iluminação pública, imagens de casas de máquina e interiores de oficinas de manutenção, além de fotografias da construção de barragens e das hidrelétricas da Light no estado. A primeira fotografia produzida por ele para a Light foi das obras da rua 25 de março, em 5 de julho.

 

 

1900 – Terminou a sociedade entre Gaensly & Lindemann, em São Paulo, e Gaensly passou a atuar sozinho na Photographia Gaensly (Alkmanak Lammert, 1901). No mesmo Almanak, consta o ateliê Gaensly & Lindemann, em Salvador.

Produção da segunda série de postais, também denominada Lembrança de São Paulo, dessa vez apenas com a assinatura de Gaensly. A terceira série deve ter sido editada logo em seguida.

1901 – Foi noticiado que a Photographia Gaensly & Lindemann de Salvador havia fotografado uma criança natimorta e hermafrodita, que estava despertando a curiosidade da população e de médicos, dentre eles o professor  de medicina legal, Nina Rodrigues (1862 – 1906) (Diário do Maranhão, 31 de outubro de 1901, na última coluna sob o título “Criança fenomenal”).

1902 - As imagens publicadas no primeiro Relatório de Diretoria da Light dirigido aos acionistas no exterior foram baseadas em fotografias de Gaensly e Lindemann, produzidas especificamente para a empresa ou para o álbum Lembrança de São Paulo, editado pelo Instituto Politécnico de Zurique e impresso em colotipia.

O estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann continuava funcionando em Salvador (Almanak Laemmert, 1903).

1903 - Para “auxiliar a propaganda do café” na Exposição de Saint Louis (1904), Gaensly começou a documentar as instalações e a  lavoura cafeeira da colônia americana em Santa Bárbara (Correio Paulistano, 6 de dezembro de 1903).

Enviou ao Correio Paulistano uma coleção de dez cartões-postais coloridos e 50 em planotipia (Correio Paulistano, 26 de abril de 1903, na primeira coluna).

1904 – Gaensly entregou “as vistas produzidas no interior da exposição (Saint Louis) e as dos mapas do café” (Correio Paulistano, 12 de fevereiro de 1904, na primeira coluna).

Gaensly integrou uma comitiva que visitou a Ilha dos Búzios, parte do Arquipélago de Ilhabela, onde seria instalada uma colônica correcional. O conhecido fotógrafo Gaensly tinha a tarefa de tirar vistas dos trechos mais pitorescos e menos conhecidos dos Búzios e das histórias do fortes coloniais de Bertioga, São Sebastião e Villa Bella. Dentre vários, também estavam na expedição o escritor e engenheiro Euclides da Cunha (1866 – 1909), autor de Os Sertões, e o pintor Benedito Calixto (1853 – 1927), além de autoridades como o secretário do Interior de São Paulo e o chefe de polícia (Correio Paulistano8 de agosto de 1904, na quarta coluna, e 12 de agosto de 1904, na última coluna).

Anúncio da Photographia de Guilherme Gaensly, antiga Gaensly & Lindemann. A propaganda seria publicada diversas vezes durante 1904 e 1905 (Correio Paulistano, 1º de novembro de 1904, na sétima coluna). Foi contemporâneo dos fotógrafos húngaro José Wollsack (1847 – 1927), do austríaco Otto Rudolf Quaas (c. 1862 – c. 1930) e do brasileiro Valério Vieira (1862 – 1941).

 

 

Na Exposição Mundial de Saint Louis, realizada entre 30 de abril e 1º de dezembro de 1904,  Gaensly ganhou medalha de prata na categoria “Photographia” (Almanak Laemmert, 1905).

O estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann continuava funcionando em Salvador (Almanak Laemmert, 1905).

1905 - Entre 1905 e 1907, nas notas fiscais da Photographia Gaensly existem muitas referências a serviços de reproduções de mapas para a Comissão Geográfica e Geológica.

Início das atividades da Rio de Janeiro Railway, Light and Power Company Limited e contratação do fotógrafo Augusto Malta (1864 – 1957).

Foi publicada uma fotografia de autoria de Gaensly da festa do Club da Guarda Nacional, realizada no Jardim da Luz, em 26 de julho de 1905 (Revista da Semana, 20 de agosto de 1905).

c. 1905 – Gaensly editou uma série no formato postal, que ficou conhecida como a série A, com cinquenta imagens. Foi produzida com uma técnica de impressão que resultava numa melhor visualização, próxima ao da cópia fotográfica.

1906 - Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da Secretaria de Agricultura de São Paulo (Correio Paulistano, 1º de novembro de 1906, na última coluna).

Foi elogiada como magnífica a fotografia do quadro da turma de graduandos da Escola de Farmácia de Ouro Preto, produzida por Gaensly (O Pharol, 11 de dezembro de 1906, na sexta coluna, sob o título “Municípios”).

Último registro do funcionamento do estúdio fotográfico Gaensly & Lindmann, em Salvador, no Almanak Laemmert, 1906.

1907 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da secretaria de Agricultura de São Paulo (Commercio de São Paulo, 22 de novembro de 1907, na primeira coluna).

1908 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento das secretarias do Interior e da Agricultura de São Paulo (Commercio de São Paulo12 de janeiro de 1908, na primeira coluna, 26 de fevereiro, na quinta coluna8 de maio, na terceira coluna Correio Paulistano, 30 de outubro de 1908, na sexta coluna e 15 de dezembro de 1908, na última coluna).

Participou da Exposição Nacional e obteve a medalha de ouro na seção de “Photographia” (Commercio de São Paulo, 27 de novembro de 1897, na quarta coluna, sob o título “Notas e Notícias”, e Almanak Laemmert, 1909).

1909 – Guilherme Gaensly estava na folha de pagamento da secretaria de Agricultura de São Paulo (Correio Paulistano, 13 de julho de 1909, na penúltima coluna).

1910 – Iniciou a produção de um novo conjunto de 50 imagens de São Paulo no formato postal, posteriormente conhecida como a série B.

1911 - O naturalista Hermann von Ihering (1850-1930), que dirigiu o Museu Paulista entre 1894 e 1916, pediu à Diretoria de Terras, Colonização e Imigração um coleção de fotografias dos núcleos coloniais “ultimamente tiradas pelo dr. Gaensly” (Correio Paulistano, 29 de abril de 1911, na segunda coluna).

Uma coleção de fotografias de Guilherme Gaensly foi um dos prêmios da rifa organizada por artistas em prol das vítimas de uma inundação ocorrida em Santa Catarina e no Paraná (O Paiz, 18 de dezembro de 1911, na última coluna)

c. 1912 – O ateliê de Gaensly mudou-se para a rua Boa Vista, 39 (Almanak Laemmert, 1913).

1915 - Foi publicada no jornal Germania, da comunidade alemã, em 15 de junho de 1914, uma propaganda do ateliê do fotógrafo na rua Boa Vista, 39.

1917 – Gaensly prestou serviços à Prefeitura de São Paulo (Correio Paulistano, 4 de dezembro de 1917, na última coluna).

1922 – Fotografou os participantes do Sínodo Presbiteriano Independente reunido em São Paulo em 24 de maio, um importante evento da igreja presbiteriana. A imagem foi publicada na edição de 2 de março de 1922 na capa do jornal O Estandarte e encontra-se arquivada no Centro de Documentação e História Reverendo Vicente Themudo Lessa.

1925 – Gaensly deixou de trabalhar para a The São Paulo Railway, Light and Power Company Limited.

1927 –  Último registro do funcionamento de seu ateliê na rua Boa Vista, 39, no Almanak Laemmert de 1927.

1928 – Guilherme Gaensly morreu em 20 de junho de pneumonia, em São Paulo.

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

Fontes:

BURGI, Sergio;DIETRICH, Ana Maria;MENDES,Ricardo. Imagens de São Paulo – Gaensly no acervo da Light 1899 – 1925, organização Vera Maria de Barros Ferraz. São Paulo:Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, 2001.

Catálogo da Exposição comemorativa da doação do Acervo Brascan ao IMS – Guilherme Gaenly e Augusto Malta: dois mestres da fotografia brasileira no Acervo Brascan. Rio de Janeiro: Instituto Moreira Salles, 2002

FERREZ, Gilberto; NAEF, Weston J.. Pioneer Photographers of Brazil, 1840-1920. New York: Center for Inter-American Relations, 1976.

HANNAVY, John. Encyclopedia of Nineteenth-Century Photography. New York:Taylor and Francis Group, 205.

KOSSOY, Boris. Dicionário histórico-fotográfico brasileiro: fotógrafos e ofício da fotografia no Brasil (1833-1910). São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2002. 408 p., il. p&b.

KOSSOY, Boris. Origens e Expansão da fotografia no Brasil: século XIX. Rio de Janeiro:Funarte, 1980.

KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. São Paulo : Ateliê Editorial, 2002.

KOSSOY, Boris. São Paulo, 1900. Rio de Janeiro:Editora Kosmos, 1988.

KOSSOY, Boris; FERNANDES JUNIOR, Rubens;SEGAWA, Hugo. Guilherme Gaensly. São Paulo:Cosac Naify, 2011.

LAGO, Bia Corrêa do;LAGO, Pedro Corrêa do. Os Fotógrafos do Império. Rio de Janeiro: Capivara, 2005. 240p.:il

LIMA, Solange Ferraz de. São Paulo na virada do século. As imagens da razão urbana: a cidade nos álbuns fotográficos de 1887 a 1919. São Paulo:Universidade de São Paulo, 1995.

OLSZEWSKI FILHA, Sofia. A fotografia e o negro na cidade de Salvador, 1840 – 1914. Salvador:EGBA, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1989.

Revista Carta Capital

Site da Enciclopédia Itaú Cultural

Site do Instituto Moreira Salles

TEIXEIRA, Cid. Professores de daguerreotipia: eles deixaram a Imagem do Senhor-de-Engenho e Sinhazinhas. Jornal da Bahia, 10 e 11 de novembro de 1963.

TURAZZI, Maria Inez. Poses e trejeitos: a fotografia e as exposições na era do espetáculo: 1839/1889. Prefácio Pedro Karp Vasquez. Rio de Janeiro: Funarte. Rocco, 1995. 309 p., il. p&b. (Coleção Luz & Reflexão, 4). ISBN 85-85781-08-4.

VASQUEZ, Pedro. Mestres da fotografia no Brasil: Coleção Gilberto Ferrez. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 1995.

Para a elaboração dessa cronologia foi realizada uma ampla pesquisa em inúmeros jornais da Hemeroteca da Biblioteca Nacional.

Ipanema pelas lentes de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

A Brasiliana Fotográfica homenageia Ipanema, um dos mais emblemáticos bairros do Rio de Janeiro, com uma seleção de registros de autoria do fotógrafo amador, o comerciante português José Baptista Barreira Vianna (1860-1925), que chegou ao Rio de Janeiro, em 1875. Deixou como legado dois álbuns com 98 fotografias em cada um, que atualmente pertencem ao acervo do Instituto Moreira Salles, uma das instituições fundadoras do portal. Um dos álbuns traz imagens de paisagens, prioritariamente, da Tijuca e de Ipanema, produzidas entre 1897 e 1905; o outro, cenas de família, retratos e vistas de interiores, no período entre 1897 e 1907. Essas fotografias são importantes documentos da virada do século no Rio de Janeiro.

 

 

Barreira Vianna trabalhou no comércio e abriu uma loja de produtos importados da Europa no Largo da Carioca. Com a esposa, Laura Moreira, e seis filhos, vivia no tradicional bairro da Tijuca. Possuía um espírito progressista e tinha como hobbies a marcenaria e a fotografia. Com um amigo fotógrafo, Sr. Mendes, produzia imagens com sua máquina, uma Eastman Kodak. No final da década de 1890, comprou um terreno do loteamento de José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, exatamente na esquina das atuais avenida Vieira Souto e rua Francisco Otaviano, ao lado de onde seria construído, mais tarde, o Colégio São Paulo. A residência da família Barreira Vianna, cujo projeto e construção ficou a cargo do arquiteto italiano Raphael Rebecchi (18? – 1922), foi a primeira na praia e uma das primeiras de Ipanema. Uma curiosidade: Rebecchi, fundador da empresa Rebecchi & Cia, foi o vencedor do projeto contemplado com o 1º prêmio do concurso de fachadas da avenida Central, tendo projetado cinco edificações e construído outras quatro na referida avenida durante a reforma do prefeito Pereira Passos (1836 – 1913) (O Malho, 2 de abril de 1904).

Barreira Vianna possuía uma oficina – que ficava ao lado da casa – onde construiu uma miniatura de bondinho elétrico, que corria em trilhos que ficavam no jardim e atravessava uma ponte sobre um lago. Anos depois, devido a problemas financeiros, ele vendeu a casa para o conde Modesto Leal.

 

 

Acessando o link para as fotografias de José Baptista Barreira Vianna disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Cronologia de José Baptista Barreira Vianna (1860 – 1925)

 

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José Baptista Barreira Vianna. Autorretrato, c. 1900. Rio de Janeiro, RJ / Acervo do IMS

 

1860 – Nascimento de José Baptista Barreiros, em Vianna do Castelo, em Portugal.

1875 - Chegou ao Brasil com seu irmão, José Lourenço. Ele se fixa no Rio de Janeiro e emprega-se no comércio. Seu irmão estabeleceu-se em São Paulo. Por ter nascido em Vianna do Castelo, José Baptista Barreiros foi chamado por seus amigos da colônia portuguesa de Vianna. Adotou o apelido como sobrenome e também mudou seu sobrenome de Barreiros por Barreira, passando a chamar-se José Baptista Barreira Vianna.

1884 - Casou-se com Laura Carlota Moreira (O Apóstolo, de 9 de março de 1884, na última coluna). Tiveram seis filhos: Maria Alice, João Jorge, Henriqueta, Rita, José e Lívia.

1887 - Solicitou um seguro de vida à empresa New York Life Insurance Company (Jornal do Commercio, de 10 de julho de 1887, na terceira coluna).

Década de 1890 – Durante essa década, a família Barreira Vianna residia na rua Santa Carolina, na Tijuca. José tinha como hobbies a marcenaria e a fotografia. Com um amigo fotógrafo, Sr. Mendes, produzia imagens com sua máquina, uma Eastman Kodak. Adquiriu um terreno do loteamento do Barão de Ipanema, na esquina das atuais Francisco Otaviano e Vieira Souto.

1891 - Tornou-se um dos membros do conselho fiscal do Banco Incorporador (Diário do Commercio, de 15 de fevereiro de 1891, na sétima coluna e em anúncio de 16 de fevereiro).

Integrava a diretoria da Companhia Manufactora e Importadora de Calçado Brasil como tesoureiro (Gazeta de Notícias, de 21 de fevererio de 1891).

Firmou um contrato comercial de uma empresa de importação situada na rua General Câmara, número 72, em sociedade com Manoel Cândido de Azambuja, Francisco dos Santos Romano e Miguel de Magalhães Fonseca (Jornal do Commercio, de 14 de março de 1891, na terceira coluna, sob o título “Contratos Commerciaes”).

1894 -  Firmou um contrato de um comércio de armarinho com Manoel Cândido de Azambuja, Francisco dos Santos Romano e Miguel de Magalhães Fonseca (Jornal do Commercio, de 6 de junho de 1894, na sétima coluna).

Foi noticiado o aniversário de sua esposa, Laura Vianna (O Paiz, de 23 de setembro de 1894, na terceira coluna).

 

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José Baptista Barreira Vianna. D. Laura, esposa de José Baptista Barreira Vianna, c. 1900. Rio de Janeiro, RJ / Acervo IMS

 

1895 – Participou de um abaixo-assinado apoiando a medida da gerência da empresa New York Life Insurance Company em relação a um projeto de lei discutido na Câmara dos Deputados sobre companhias estrangeiras de seguro atuantes no Brasil (Cidade do Rio, de 21 de agosto de 1895, sob o título “Segurados da New York”, na segunda coluna).

1896 – Foi para a Europa com sua esposa e um filho, no paquete francês Brésil (Jornal do Brasil, de 16 de março de 1896, na terceira coluna).

Voltou para o Brasil, no paquete francês Chili (A Notícia, de 6 de setembro de 1896, na última coluna sob o título “Visita”).

Foi eleito um dos suplentes da Sociedade Portugueza de Beneficência (Liberdade, 23 de dezembro de 1896, sob o título “Sociedade Portugueza de Beneficencia, na quarta coluna).

1897 – A diretoria da Sociedade Portugueza de Beneficência tomou posse e Barreira Vianna foi um dos suplentes (Cidade do Rio, 29 de março de 1897, na sexta coluna).

Firmou um contrato com Francisco dos Santos Romano para o comércio de material de construção (O Paiz, de 25 de abril de 1897, na segunda coluna).

Integrou o grupo da colônia portuguesa que se organizou para oferecer um navio de guerra à Portugal como parte das comemorações do quarto centenário do descobrimento do caminho marítimo para as Índias (Jornal do Brasil, de 15 de novembro de 1897, na terceira coluna, sob o título “Grande subscripção patriotica portugueza“).

1899 – Já estava morando com a família na casa de Ipanema, cujo projeto e construção foram do arquiteto italiano Raphael Rebecchi (18? – 1922). Foi a primeira casa da praia e uma das primeiras do bairro. Dos dois lados da casa, havia duas construções onde ficavam as dependências dos empregados, a lavanderia e uma oficina. São dessa época as fotografias que produziu das áreas internas e externas da residência. Embora a eletricidade não houvesse chegado à Ipanema, a casa possuía eletricidade produzida por um gerador movido por motor à explosão alimentado por acetileno.

1900 – Firmou um contrato com Viríssimo Barbosa de Souza, Luiz José Monteiro e José Antônio Teixeira Barroso para o comércio de sabão na Praia de São Cristóvão, números 5 e 7 (O Paiz, de 21 de agosto de 1900, na terceira coluna).

Em 29 de dezembro,  falecimento do pintor João Baptista Castagneto (1862 – 1900), de quem José Baptista Barreira Vianna era muito amigo. Também fazia parte de seu rol de amizades o pintor João Baptista da Costa (1865 – 1926), que era professor de pintura de seus filhos.

1900 a 1903 – Do moinho de vento, que pertencia à propriedade e puxava água do sub-solo para a lavagem externa da casa, Barreira Vianna produziu fotografias do Leme, de Copacabana, do Arpoador, de Ipanema, do Leblon, da Gávea e da Lagoa.

1902 – Foi um dos escolhidos pela Associação Comercial do Rio de Janeiro para compor uma comissão para discutir os problemas gerados pela multiplicidade de taxas cambiais (Jornal do Commercio Retrospecto Commercial, edição de 1902, na primeira coluna).

1906 – Foi um dos patronos da conferência que John R. Mott (1865 – 1955) proferiu na Associação dos Empregados do Commercio. Mott iria presidir, em São Paulo, a Convenção Nacional da Associação Cristã dos Moços, aberta em 19 de julho de 1906 (Gazeta de Notícias, de 19 de julho de 1906, na sétima coluna).

1909 – Firmou um contrato com Theophilo Rufino Bezerra de Menezes, Carlos Frederico Oberlaender e José Pinto de Almeida para o comércio de sal na rua da Gamboa, números 193 e 795 (O Paiz, de 7 de aogosto de 1909, na terceira coluna).

1925 – Foi noticiado o falecimento de Barreira Vianna, que na época morava na rua João Alfredo, número 31. Ele foi enterrado no Cemitério Francisco Xavier (O Paiz, 4 de julho de 1925, na sexta coluna). Foi anunciada sua missa de 30º dia (Jornal do Brasil, 2 de agosto de 1925, na quinta coluna).

 

Um pouco da história de Ipanema

 

José Antônio Moreira Filho (1830-1899), o barão e conde de Ipanema, comprou, em 1878, do tabelião e empresário Francisco José Fialho (1820? – 1885) um lote de terras que ia desde a atual rua Barão de Ipanema até o atual Canal do Jardim de Alah. Criou, então, um novo bairro, que batizou de “Villa Ipanema”, em homenagem a seu pai, o primeiro barão e conde de Ipanema, o paulista João Antônio Moreira (1797 – 1879). O nome Ipanema significa em tupi água ruim e foi inspirado por uma das propriedades do barão, em Minas Gerais.

A Villa Ipanema foi inaugurada, em 15 de abril de 1894, pelo barão e por seu sócio José Silva com a presença do prefeito Henrique Valladares, que no mesmo dia inaugurou a ampliação das linhas de bonde da empresa de Ferro Carril do Jardim Botânico, da Praça Malvino Reis, atual Serzedelo Correia, até a ponta da Igrejinha, que era a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, erguida no século XVIII e derrubada em 1918, próxima à rua Francisco Otaviano (Gazeta de Notícias, 16 de abril de 1894, terceira coluna). Em 26 de abril de 1894, foi assinada a ata de fundação definitiva do bairro Villa Ipanema, com a presença do então prefeito Henrique Valadares e do barão e conde de Ipanema, que lançou, em seus terrenos, um enorme loteamento, berço do que é ainda hoje um dos bairros mais valorizados da cidade do Rio de Janeiro. No princípio, foram abertas 13 ruas, uma avenida e duas praças no areal sem valor, tomado por pitangueiras, cajueiros e araçazeiros. Até hoje essas vias são as mais importantes artérias do bairro. Entre elas, a avenida Vieira Souto e as ruas Prudente de Moraes e Visconde de Pirajá, essa última batizada inicialmente de Vinte de Novembro. Ipanema conservou a denominação de vila até a década de 20. Apesar de alguns autores considerarem outras datas, o dia 26 de abril de 1894 é a data mais aceita como marco de referência da fundação do bairro. Ipanema tornou-se, ao longo do século XX, reduto de artistas, intelectuais, jornalistas e boêmios, um dos símbolos do comportamento de vanguarda, exportando a moda e os costumes cariocas para o resto do país.

Ipanema tornou-se, ao longo do século XX, reduto de artistas, intelectuais, jornalistas e boêmios, um dos símbolos do comportamento de vanguarda, exportando a moda e os costumes cariocas para o resto do país.

 

Acessando o link para as fotografias do bairro de Ipanema disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Destacamos uma fotografia produzida por Marc Ferrez ( 1843 – 1923), em torno de 1895.

 

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica

 

Para a elaboração desse post, a Brasiliana Fotográfica baseou-se em diversos periódicos pesquisados na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, no depoimento deixado por um dos netos de Barreira Vianna, que tinha 9 anos quando ele faleceu; no site da Multirio, na dissertação Avenida Central: arquitetura e tecnologia no início do século XX, de Sandra Zagari-Cardoso; e também no artigo A cidade em direção a Copacabana e Ipanema: transição para a modernidade, publicado no blog do Instituto Moreira Salles na ocasião da abertura da exposição Rio, primeiras poses – Uma visão da cidade a partir da chegada da fotografia – 1840 – 1930, realizada entre 28 de fevereiro de 2015 e 28 de fevereiro de 2016.

 

*Esse artigo foi ampliado em 18 de junho de 2019.

Novos acervos: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro

No mês de seu aniversário de um ano, a Brasiliana Fotográfica está apresentando ao longo de abril os acervos das novas instituições que se integraram ao portal. Dessa vez, apresentamos o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro com um artigo de sua diretora, Beatriz Kushnir.

 

Esforços de resgate: a recuperação da informação de parte das fotografias furtadas do arquivo Malta

Beatriz Kushnir*

O Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ) aceitou com entusiamo o convite para integrar a iniciativa pioneira desenvolvida pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pelo Instituto Moreira Salles (IMS), que resultou no portal Brasiliana Fotográfica. Para tal, selecionamos, neste primeiro momento, 112 imagens, que foram gentilmente digitalizadas pelo IMS. Setenta já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica e as demais poderão ser acessadas até o fim de abril.

Esse conjunto espelha alguns critérios de escolha. Um deles é o estético: os eventos e locais registrados, como o Largo da Carioca, as ressacas na Praia de Copacabana, a Ilha de Paquetá e as obras em Bonsucesso. Outro é a autoria: as imagens são dos Malta – Augusto e seus filhos Aristógiton e Uriel. Este segundo critério de escolha refere-se ao olhar que as capturam, apontando para o seu contratante: o Poder Público.

Acessando o link para as fotografias do acervo do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

Enquanto fotógrafo oficial da então Prefeitura do Distrito Federal, Augusto Malta (1864 – 1957) exerceu a função entre 1903 e 25 de agosto de 1936, sendo nomeado para um cargo até então não existente, pelo prefeito Francisco Pereira Passos (30/12/1902 – 14/11/1906). Suas atividades ficaram subordinadas à Diretoria Geral de Obras e Viação da Prefeitura.  Aristógiton Malta veio auxiliar o pai a partir de 1925 e substituiu-o quando ele se aposentou, convocando o irmão Uriel Malta, a partir de 1937, para ajudá-lo.

Durante a gestão do interventor Adolpho Bergamini (24/09/ 1930 a 21/09/1931), mais precisamente a partir de 13 de abril de 1931, conforme o Decreto nº 3.489, a Diretoria Geral de Obras e Viação transformou-se na Diretoria Geral de Engenharia, de modo que Augusto Malta foi igualmente  incumbido de organizar todo o arquivo fotográfico, incluindo os serviços por ele executados. Isto acarretou a transferência do acervo para o então Arquivo Geral do Distrito Federal(1).

A escolha destas 112 fotografias levou em consideração ainda outro componente, certamente o principal aqui: elas foram pinçadas de um universo de 1.500 negativos identificados a partir de 2013 e cujas imagens podem corresponder a uma parcela dos originais furtados em junho de 2006. Isto só foi possível a partir de diversas iniciativas de mapeamento, controle, tratamento técnico e arquivístico do extenso acervo custodiado, do qual destacamos os negativos do Fundo Secretaria Geral de Educação e Cultura, ora em tratamento.

Infelizmente, o AGCRJ foi vítima daquele furto, em junho de 2006. Assim como ocorreu em diversas outras instituições do país,  segundo a Polícia Federal, é possível que a subtração de imagens já ocorresse há muito mais tempo. A ausência de instrumentos de controle do acervo em depósito, como constatei ao assumir a Direção-Geral desta instituição, em abril de 2005, e as iniciativas para empreendê-los – como o Portal Augusto Malta, no ar desde 2008 -, podem apontar para o que tenha ocorrido. Se não existia controle e o estávamos construindo, uma última investida ousada foi realizada para retirar itens “desejados” no âmbito privado. Tema sempre doloroso para as instituições, os furtos devem ser publicizados e enfrentados para serem solucionados (2).

Em sua maioria, as fotografias aqui selecionadas são oriundas de negativos, alguns de segunda geração, e que nos permitiram reaver parte das informações furtadas, tendo por marco final o ano de 2006. O empenho para localizar vestígios do que se perdeu, permitiu esses primeiros achados. E a partir deles, se desencadeou a prospecção em outros conjuntos documentais em depósito no AGCRJ. Neste sentido, a mensagem que a Instituição quer afirmar é a demonstração do compromisso do Arquivo da Cidade em reconquistar os registros ora considerados perdidos, em virtude da ação privatizadora e destruidora de acervos públicos e, por consequência, da memória da eterna cidade-capital  do Brasil.

Assim, este conjunto incial de imagens do AGCRJ que você poderá consultar no portal Brasiliana Fotográfica é a demonstração de uma equipe engajada em dar um sinal positivo a esta instituição, após uma fatalidade. Imagens que se acreditavam perdidas, porque furtadas, podem ser novamente admiradas e consultadas por retornarem ao lugar de patrimônio de todos nós!

Notas:

(1) Refiro-me a seguinte obra: ARQUIVO GERAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO. Administração Pública Municipal: a estrutura e os titulares: da Comissão de Intendência à Prefeitura do Rio (1889-2012). Idealização de Beatriz Kushnir e Coordenação de Sandra Horta. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro/ Secretaria Municipal da Casa Civil/ Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2014, p. 45. Publicação eletrônica em e-book: <http://www.rio.rj.gov.br/ebooks/revista/>.

(2) KUSHNIR, Beatriz. “Da manchete à notinha de canto: os furtos do patrimônio público, a privatização dos acervos do cidadão”. Museologia e Patrimônio, vol.II, nº1, jan.-jun./2009, pp. 9-21. Disponível em http://revistamuseologiaepatrimonio.mast.br/index.php/ppgpmus/article/viewFile/42/22>.

 * Beatriz Kushnir é a Diretora-Geral do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
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Augusto Malta. Praia do Russell, 1904. Rio de Janeiro / Acervo do AGCRJ

Novos acervos: Leibniz-Institut fuer Laenderkunde, Leipzig

A Brasiliana Fotográfica completa um ano e, ao longo do mês de abril, vai divulgar os novos acervos que passam a integrar o portal. O primeiro deles reúne um conjunto de 460 imagens do Brasil produzidas até 1900, que pertence ao acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde.  Mediante convênio, o conjunto foi incorporado ao acervo do Instituto Moreira Salles por meio da digitalização das fotos em alta resolução. Já estão disponíveis na Brasiliana Fotográfica 216 fotografias do conjunto, as restantes estarão no portal até o final do ano. O Leibniz-Institut für Länderkunde, sediado na cidade de Leipzig, reúne o mais importante acervo de fotografia brasileira do século XIX  na Alemanha, em especial pelas imagens reunidas na coleção Stübel.

 

 

São imagens da fauna, da flora, de paisagens, de cidades, de índios, de igrejas, de escravos e de vários outros temas produzidas por diversos fotógrafos, dentre eles Alberto FrischAlberto Henschel, Carlos Dhein, Felipe Augusto Fidanza, Franz Keller, Georges Leuzinger, Joaquim Insley Pacheco, Marc Ferrez e também de fotógrafos ainda não identificados.

 

 

O geólogo alemão Moritz Alphons Stübel (1835 – 1904) viajou, entre 1868 e 1877, pela América do Sul com o também geólogo Wilhelm Reiss (1838 – 1908), que retornou um ano antes para a Alemanha. Stübel formou uma importante coleção de fotografias, composta originalmente por quase duas mil imagens. A Collection Alphons Stübel, a maior coleção de fotografias sul-americanas do século XIX, até agora conhecida, da Alemanha – e provavelmente da Europa – está preservada no Leibniz-Institut für Länderkunde.

 

 

Acessando o link para as fotografias do acervo do Leibniz-Institut für Länderkunde disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Uma breve história do Leibniz-Institut für Länderkunde

 

O Leibniz-Institut für Länderkunde foi fundado em sua forma atual em 1992, mas seu início remonta ao ano de 1896, quando o Museu de Etnologia de Leipzig fez uma exposição da coleção do geólogo Alphons Stübel. Em 1907, esse museu tornou-se o Museu Regional de Geografia. A partir de 1930, o museu também passou a ser um instituto de pesquisa. Sob a direção do geógrafo e cartógrafo Edgar Lehman, o Instituto Alemão Regional de Geografia passou a ser o Instituto de Pesquisa de Geografia da República Democrática da Alemanha. Em 1976, passou a se chamar Instituto de Geografia e Geoecologia. Foi extinto e reinaugurado em 1º de janeiro de 1992 como o Instituto Leibniz Regional de Geografia.

Diamantina, Chichico Alkmim (1886 – 1978) e Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987)

A Brasiliana Fotográfica homenageia Diamantina, cidade mineira fundada em 6 de março de 1831, com uma seleção de imagens produzidas no século XIX e nas primeiras décadas do século XX. As fotografias do século XIX são de autoria de Augusto Riedel e foram produzidas durante uma expedição pelo interior do Brasil acompanhando a comitiva de D. Luis Augusto Maria Eudes de Saxe Coburgo Gotha e por seu irmão D. Luis Philippe, em 1868.

Os registros produzidos entre as décadas de 1910 e 1950 são do mineiro Chichico Alkmim (1886 – 1978), autodidata e pioneiro da fotografia em Diamantina. A gestão do acervo do fotógrafo, de 5.549 negativos de vidro, foi transferida para o Instituto Moreira Salles, em 2015. A obra de Chichico, que compreende imagens da arquitetura diamantinense, sua religiosidade, costumes, ritos e retratos de seus habitantes, é uma das principais referências da memória visual de Minas Gerais. Foi o mestre do fotógrafo Assis Horta(1918 – 2018), mineiro de Diamantina, que se tornou conhecido por registrar a classe trabalhadora na era Vargas.

Além disso, a Brasiliana Fotográfica oferece a seus leitores a crônica Encanto de Diamantina, do poeta e escritor mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902 – 1987), publicada no Jornal do Brasil, de 19 de outubro de 1972 (Jornal do Brasil, 19 de outubro de 1972, última coluna).

 

“Encanto de Diamantina”

Carlos Drummond de Andrade

De Diamantina se pode dizer o que em Diamantina se diz musicalmente no famoso tim-tim:

Quem não gosta dela,

de quem gostará?

Quem, conhecendo Diamantina, será capaz de não gostar de Diamantina? Mesmo não conhecendo: ouvindo falar. Pois, entre outras excelências, povo de Diamantina é povo que canta, e isto significa riqueza de coração. Canta, sem necessidade de festival de canção, essa psicose do grito que já começa a invadir cidades mineiras.

À noite, depois do batente – é Aires da Mata Machado Filho que informa – há sempre um barzinho aberto a pessoas de temperamento melódico. Finda a libação mais ou menos discreta – o que depende antes do frio do que da vontade – os cidadãos saem para a rua, providos de violão, clarineta, saxofone, flauta. Saem “cantando à toa”. Pelo prazer de cantar. Depois é que se lembram, aniversário de Fulano? Então vamos lá? Vamos. Em frente à janela fechada de Fulano – fechada, parece, deliberadamente, para o gosto de abrir-se às lufadas de música – a turma bate um castelo. Pode ser noite alta, olha lá a janela se abrindo feliz. Havendo modinha, Diamantina ignora o sono. Acabada a cantoria, pensam que os seresteiros vão dormir? Aí começa a segunda parte, mais íntima, de ternura ou dor-de-cotovelo: eles se dispersam, mas em direção a outras janelas, atrás das quais dormem (ou esperam) suas respectivas amadas. Nesse deambular já de madrugada, os seresteiros voltam a encontrar-se, cruzando os caminhos do sentimento. Assim é a noite em Diamantina: música por todos os lados, abrindo janela e alma, entre o chão e os sobrados. E, em boa parte, música de tradição local, obra de compositores e poetas diamantinenses, conhecidos ou anônimos, que desafiam o tempo.

O peixe-vivo, marca de Diamantina, que cobre vasta região mineira, conta-nos o mesmo Aires, foi enriquecido de trovas feitas no Rio de Janeiro, por volta de 1939. Manuel Bandeira fez quatro, a primeira delas aproveitada, com variante, na Lira dos Cinquent´anos:

Vi uma estrela tão alta,

Vi uma estrela tão fria.

Estrela, por que me deixas

sem a tua companhia?

Vinícius de Morais fez duas por conta própria, e uma de parceria com Pedro Nava. Este, por sua vez, compôs duas e mais uma quintilha. Ouçamos Nava:

Dom Diniz, o rei poeta,

derrotou a mouraria

para merecer um pouco

dessa tua companhia.

E Carlos Sá, cearense-mineiro:

Vivo alegre na tristeza

vivo triste na alegria,

no desejo e na saudade

dessa tua companhia.

Mas Diamantina não é apenas serenata e coreto. Como nas boas cidades antigas de Minas, tem tesouro escondido, como por exemplo “duas garrafas de ouro e três chifres de diamante”, e quem cavar junto ao córrego Pururuca, atrás do quartel do III BP, é capaz de encontrá-los: segredos de padre, à espera de decifrador. Lendas, festas religiosas e populares que teimam em resistir na medida do possível à descaracterização universal da sociedade mercantil. Igrejas antigas de fino acabamento artístico, sobrados que a gente desejaria ver em pé para sempre, não vá o progresso arrasá-los. Diamantina enfrenta o problema da industrialização. Precisa criar riquezas outras além das que derivam do temperamento amável de seus filhos. Lá se fala agora em incentivos fiscais, energia elétrica, e até já se exporta a flor da sempre-viva para outros países.

Que Deus conserve Diamantina gostosa, musical e hospitaleira depois que subir nas asas do chamado desenvolvimento. É o voto que faço depois de ler Dias e Noites em Diamantina, livro que o bom Aires acaba de publicar corajosamente em edição de autor, e tão chamativo, tão cheio de graça e apelo sensorial, que dá vontade de sair correndo, e:

_ Rápido, uma passagem para Diamantina, mas de ida só, porque eu fico por lá!

 

Acessando o link para as fotografias de Diamantina disponíveis na Brasiliana Fotográfica, o leitor poderá magnificar as imagens e verificar todos os dados referentes a elas.

 

Pequeno histórico de Diamantina

A formação de Diamantina está ligada à exploração de diamante e de ouro.  Foi  Jerônimo Gouvêa que, a partir da descoberta de uma grande quantidade de ouro nas confluências do Rio Piruruca e do Rio Grande, deu início à ocupação do território. O povoado, então denominado Arraial do Tejuco, começou a ser formado nas primeiras décadas do século XVIII, sempre seguindo as margens dos rios que eram garimpados. Aos poucos foi surgindo o conjunto urbano de Diamantina. O Arraial do Tijuco emancipou-se do município do Serro, em 1831, e passou a se chamar Diamantina.

Uma das cidades históricas mais conhecidas e visitadas do Brasil, Diamantina, o Portal do Vale do Jequitinhonha, é  também o ponto inicial da Estrada Real, que levava ouro e diamantes até Paraty, no Rio de Janeiro. A cidade conserva o casario colonial, as edificações históricas e as igrejas seculares. Em 1938, o conjunto arquitetônico de seu centro histórico foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e, em 1999,  recebeu da Unesco o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Além do patrimônio construído, a cidade possui um rico patrimônio natural e cultural, com uma marcante tradição religiosa, folclórica e musical.

Foi em Diamantina, na época Arraial do Tijuco, que a escrava alforriada Chica da Silva (c. 1732-1796) viveu. É também a cidade natal do ex-presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek (1902-1976).

 

Publicações relacionadas a Chichico Alkmim:

 

Família, texto de Silviano Santiago sobre uma fotografia de autoria de Chichico Alkmim

O anfitrião de Chichico, por Elvia Bezerra.

O retratista de Diamantina, por Manya Millen

 

Andrea C. T. Wanderley

Editora-assistente e pesquisadora do portal Brasiliana Fotográfica